Por Débora Morales*
De acordo com previsões da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 70% da população mundial viverá em áreas urbanas até 2050. Esse crescimento da urbanização resulta em uma pressão significativa sobre a habitação, transporte, sistemas de energia e demais infraestruturas. Iniciativas de cidades inteligentes que produzam avanços em tecnologia de sensores, Internet das Coisas (IOT), computação em nuvem, rede e ciência de dados são consideradas fundamentais para oferecer soluções à urbanização global.
Essas tecnologias podem beneficiar qualquer área urbana que busque usar dados para otimizar operações, como as ruas, que são a força vital das cidades. Elas desempenham funções econômicas e sociais e representam o domínio público do que é consumido ativa e passivamente, dependendo de como está estruturada. O processo de planejamento desses espaços públicos influencia fortemente a evolução das regiões.
As chamadas ruas inteligentes procuram combinar elementos tradicionais do domínio público com sistemas ciberfísicos para fornecer serviços aprimorados, por meio do uso da rua pelas partes interessadas. O grau da inteligência é derivado da aplicação de dados em tempo real obtidos por sensores físicos e virtuais; da interconexão entre diferentes serviços e tecnologias dentro da área urbana; da inteligência da interpretação dos dados e do processo de visualização deles e da otimização das operações resultantes dessa análise.
Existem soluções e aplicações de tecnologias digitais para melhorar e tornar as ruas mais inteligentes e, assim, podem aumentar a acessibilidade dos cidadãos. Como o mobiliário urbano responsivo, que usa tecnologia inteligente para tornar as ruas mais fáceis para pessoas com diferentes tipos de deficiência, incluindo mobilidade reduzida, baixa visão ou cegueira. Isso consiste em sinais digitais e sistemas de beacon instalados ao longo da rua que podem disponibilizar mensagens de áudio com informações, tempo de travessia mais longos e iluminação pública mais forte, que são ativados por meio de smartphones quando os usuários se aproximam de um item responsivo.
As ruas inteligentes também podem ceder à comunidade ações locais para melhorar a sustentabilidade ambiental e apoiar a conscientização e a educação por meio de inovação tecnológica. O exemplo disso está na lixeira inteligente, uma solução para coletar embalagens vazias e aumentar as taxas de reciclagem com um sistema de recompensas. As lixeiras são dispositivos de Internet das Coisas capazes de classificar e compactar os recicláveis automaticamente, com sensores que controlam o nível de enchimento de cada lixeira. Esses sensores conseguem registrar dados em tempo real sobre o nível de preenchimento. O processamento e gerenciamento são feitos via aplicativo, melhorando a gestão de tempo e eficiência dos funcionários da coleta. Assim como o sistema de recompensa por pontos que podem ser trocados por descontos em lojas e cafés na rua onde essa solução esteja instalada, em um incentivo à reciclagem.
Os sensores monitoram a qualidade do ar, som e vibração, água parada, microclima, tráfego, bem como outras atividades na via. Isso pode ser usado para informar e auxiliar em decisões para reduzir a poluição e aumentar a eficiência energética.
A Internet das Coisas promete uma ampla gama de infraestrutura verde, incluindo postes de luz inteligentes com iluminação eficiente e detecção ambiental; bancos inteligentes alimentados por energia solar e híbrida, que servem como pontos de carregamento para smartphones e e-bikes e postos de publicidade; pavimentação inteligente que coleta energia cinética para alimentar iluminação, entre outros serviços.
Uma rua permeada por tecnologias digitais irá gerar uma quantidade significativa de dados a partir dos objetos inteligentes no espaço e interações ativas e passivas do usuário com esses materiais. Medir e informar os impactos das intervenções na rua inteligente ajudam a tomar melhores decisões sobre a alocação de recursos, assim como comunica o progresso aos formuladores de políticas e à comunidade, construindo, portanto, apoio político e comunitário para financiamento de futuros projetos.
*Débora Morales é mestra em Engenharia de Produção (UFPR) na área de Pesquisa Operacional com ênfase a métodos estatísticos aplicados à engenharia e inovação e tecnologia, especialista em Engenharia de Confiabilidade (UTFPR), graduada em Estatística e em Economia. Atua como Estatística no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI).
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