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Combate ao terrorismo após 11 de setembro: incertezas e desafios

João Alfredo Lopes Nyegray*

Faz 20 anos que acompanhamos, principalmente pela televisão, o maior ataque terrorista da história contemporânea. Pela primeira vez, um atentado era transmitido ao vivo para os olhos assustados de um mundo que seria profundamente transformado pelo que testemunhava naqueles momentos. Sejam pelos aviões atingindo as torres, pelas pessoas desesperadas se jogando dos andares mais elevados ou pelo desabamento final do World Trade Center, o 11 de setembro de 2001 foi, antes de mais nada, um acontecimento com imenso valor simbólico. O país que se consagrou como a grande potência mundial após a Primeira Guerra assistira o último ataque em seu território 60 anos antes, em Pearl Harbor, durante a Segunda Guerra.

A partir de então, o fenômeno do terrorismo acabou ganhado cada vez mais atenção da mídia, dos especialistas em segurança e da comunidade internacional. Os grupos terroristas e suas nomenclaturas se multiplicaram nos noticiários. Al-Qaeda, ISIS, Boko Haram, El Shabab, Taliban. A sensação de insegurança em todo o planeta cresceu. Nunca saber o alvo do próximo ataque modificou a forma como muitos países tratam seus orçamentos nessa área.

Mesmo depois de duas décadas da Guerra ao Terror, uma pergunta ainda segue sem resposta: afinal, o que é terrorismo? Se considerarmos como intenção do terrorismo causar medo, podemos identificá-lo já na Antiguidade – quando Nero ateou fogo em Roma; na Idade Média – com a Santa Inquisição, ou mesmo na Idade Contemporânea – na chamada “fase do terror” no decorrer da Revolução Francesa. A partir da década de 1960, o IRA, o ETA e outros grupos iniciaram seus atos num contexto revolucionário ou separatista. Hoje, com grupos como a Al-Qaeda, o objetivo não parece ser separar um país em vários outros, mas sim causar medo, pânico e gerar mudanças de conduta na população afetada. É triste reconhecer que as vítimas do terror não são apenas aquelas atingidas pelo ato em si, mas todas as demais que passam a viver em um permanente estado de pânico e angústia.

Por isso, atacar alvos supostamente terroristas não é a solução e tem uma eficácia limitada. E, por mais que essas organizações sejam combatidas, nunca há certeza da eliminação ou não de um grupo – vide o próprio Taliban, de volta ao comando do Afeganistão depois de ter sido dado por vencido pelo governo de George W. Bush. Os Estados Unidos prenderam e torturaram dezenas de inocentes nas prisões de Guantánamo, em Cuba, e de Abu-Ghraib, no Iraque, sob a égide de combater o terror. Como é possível combater o terror com ainda mais terror? Terroristas não vestem a mesma farda e não defendem sua pátria de nascimento. São combatentes motivados por ódio.

Numa das regiões mais afetadas pelo terrorismo hoje, que vai do norte da África até regiões da Ásia menor, vivem cerca de 500 milhões de pessoas. Cidadãos que sofrem com a miséria, a fome e outras privações. Não seria mais inteligente, portanto, investir no desenvolvimento dessa região? A melhor maneira de combater o terrorismo é melhorando a qualidade de vida dessas pessoas e lutando contra a ignorância.

Ao longo dos 20 anos de invasão do Afeganistão, os Estados Unidos tentaram reconstruir algumas partes do país. Para isso, investiram mais de US$ 1 trilhão, principalmente nas áreas militar e energética. Enquanto isso, o Taliban engrossava suas próprias fileiras. Nos últimos dias de ocupação, apoderou-se inclusive de armamentos deixados para trás pelas tropas americanas e está, hoje, em melhores condições de equipamentos do que estava há 20 anos.

João Alfredo Lopes Nyegray, doutorando em estratégia, professor de Geopolítica e Negócios Internacionais na Universidade Positivo.
Divulgação

Se as lições deixadas por essas duas décadas ainda não parecem ter sido devidamente absorvidas, falar sobre essa complexa rede de fatores com as novas gerações é um passo fundamental para esse entendimento. Nos últimos anos têm sido incontáveis os casos de jovens – em especial europeus – que abandonam suas famílias, seus lares e todo seu conforto para seguir grupos radicais em diversas regiões do mundo. A internet e as tecnologias de comunicação aproximaram o mundo e permitiram que as utilizassem para difundir ideias – sejam elas radicais ou não. O terrorismo, o radicalismo e as saídas fáceis para problemas complexos costumam ser atraentes para mentes ainda em formação. O diálogo, a reflexão e a tentativa de compreensão do mundo que nos cerca, e que está cada vez mais próximo de nós, é cada vez mais indispensável.

*João Alfredo Lopes Nyegray, doutorando em estratégia, professor de Geopolítica e Negócios Internacionais na Universidade Positivo.

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