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COLISEU TROPICAL, o livro de Viegas Fernandes da Costa como um soco duro, fértil e impactante, nesses tenebrosos tempos pandêmicos do fascista necrobrasilis S/A.

Silas Corrêa Leite

“Houve um tempo em que as vidas não estavam escritas” – A Cidade Transparente – Ana Alonso Javier Pelegrin Pere Ginard.

Se “A literatura é uma oferta de espaço”, como bem disse Georges-Arthur Goldschmidt, o livraço COLISEU TROPICAL de Viegas Fernandes da Costa, impactante, feroz e voraz a palo seco, nos assaca de cara, como um soco, a nos remeter, por exemplo, a Kafka:  “De modo geral, acho que devemos ler apenas os livros que nos cortam e nos ferroam. Se o livro que estivermos lendo não nos desperta como um golpe na cabeça, para que perder tempo lendo-o, afinal de contas? Para que nos faça feliz, como você escreveu? Meu Deus, poderíamos ser tão felizes assim se nem tivéssemos livros; livros que nos alegram, nós mesmos também poderíamos escrever num estalar de dedos. Precisamos, na verdade, de livros que no toquem como um doloroso infortúnio, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido expulsos do convívio para as florestas, distantes de qualquer presença humana, como um suicídio. Um livro tem de ser o machado que rompe o oceano congelado que habita dentro de nós.” (Citação de Kafka, no livro História da leitura, Steven Roger Fischer, p. 285).

-Um livro que bem registra os meandros de nossos enfurnamentos datados a pensar, sentir, registrar, como em Pound, dando testemunho de nosso tempo. Que livro! Sem orelhas escritas, mas com orelhas vazadas, sem prefácio, porque bem caberia a nos representar um pré-fóssil, e o livro deita falatório em prosa retumbante, assustadora, tipo uma no cravo e outra na ferradura. Ai de nós! Ai de nossos desterros íntimos arrolados em páginas de rompantes e insurgências letrais. Pura pólvora em átomos, tons, palavras, parágrafos e selfgrafias.

-Pensei em citar uma ou outra página aqui, clarear aqui um ou outro texto, mas, depois pensei: leiam e creiam.  Se dizem que o diabo mora no desfecho, aqui o estertor mora nos parágrafos, e o Viegas deita e rola azedumes, fermentações, impertinências e assim registra sua sensibilidade feito faca cega na manteiga azeda desses dias terríveis, em que escrever é preciso, sobreviver não é preciso.

-Viegas Fernandes da Costa nasceu no ano de 1977 em Blumenau (SC) e atualmente mora em Nossa Senhora do Desterro (cidade também conhecida pelo nome de Florianópolis) onde leciona História no Instituto Federal de Santa Catarina. É autor dos livros: Sob a luz do farol (crônicas, 2005), De espantalhos e pedras também se faz um poema (poemas, 2008), Pequeno álbum (contos, 2009), Sob a sombra da Tabacaria (poemas, 2015) e agora Coliseu tropical (poemas, 2021). Seu livro Sob a sombra da Tabacaria recebeu o Prêmio Catarinense de Literatura. Possui textos literários publicados em diversos periódicos como Revista Cult, Relevo, Ô Catarina!, Cronópios entre outros, além de antologias.

Ao ler o livro COLISEU TROPICAL, veio-me à mente a canção que diz que a faca é cega, mas ainda corda. E acorda. E insta, procede e detona.  Viegas destila, in, Ruído Manifesto: 

“Vamos matar os meninos duas vezes. Ensinar-lhes matemática e a escrever. Aprenderão a contar balas e a rascunhar epitáfios.

Para isto servirão os meninos.

As meninas deitarão nas camas. Seus corpos aprenderão a gemer duas vezes, da dor e do fingido. Os brutos perfumados tomarão seus seios duros entre seus dedos moles.

Para isto servirão as meninas.

Nas escolas tomarão lições de continência cristã. Domados, aguardarão chegar o reino dos céus. Vestidos de carvão e fuligem, recitarão catecismos em escolas partidas.

Para isto servirão as escolas”.

(in: Revista Eletrônica Ruído Manifesto).

-Sentiu o baque? Pegou pesado? Os jabs de Viegas são assim, na fuça. Um livro perigoso, contundente, assustador, intrigante, por isso já nasce a fórceps um clássico na desnatureza dos pensares e sentires, bem labirinto e absinto.

-Leiam e saiam de si. Periga ler. Bonito, assustador e quase um coice no ego, as narrativas vão abrindo corações e mentes, pois, como diz a balada que a Gal Costa entoou em alto e bom som, “… é preciso estar atento e forte/Não temos tempo de temer a morte”.

-No site da editora paranaense, Claudecir De Oliveira Rocha apresenta o autor de Coliseu Tropical, Viegas Fernandes da Costa:

“Em Coliseu Tropical, Viegas Fernandes da Costa reúne alguns dos seus melhores poemas sobre a atualidade. Dono de uma verve afiada que consegue captar e poetizar, de forma contestadora, a realidade brasileira e, como um flâneur que observa os vários problemas dela, denuncia a injustiça e a desigualdade social, o sofrimento das pessoas mais pobres e como são vítimas de um sistema que perpetua a pobreza, a miséria, etc. Poemas bastante atuais que desafiam o leitor comum de poesia, são poemas epigramáticos que transitam na prosa, na crônica urbana, no microconto poético e no aforismo, que, por sua vez, nos lembram de grandes poetas como Mário Quintana, Manoel de Barros, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira, além da verve amarga de um Álvaro de Campos, a persona de Fernando Pessoa. Mas Viegas tem estilo próprio, um modus operandi incisivo e sintético de que se utiliza para compor seu manifesto contra a superficialidade e o artificialismo da sociedade moderna, fazendo um contraste temporal do espaço entre o passado e o presente. Poemas que, como como bisturis, expõem nossas vísceras, as injustiças e desigualdades urbanas, as mazelas e a violência cotidiana estampadas com total indiferença nos jornais de sangue, pois nossa hipocrisia faz apenas maquiar a realidade, transformar pessoas que morrem todos os dias em números sem rostos, sem identidades, índices vazios de vida, vidas trancafiadas em contêineres, além da nossa indiferença sobre questões ecológicas. Viegas faz tudo isso de uma maneira que nos leva a contemplar a própria beleza do poema, as lembranças da relação do homem com a natureza, um mundo mais simples e mais humano, até mesmo um deus mais humanizado, além das coisas boas que guardamos na memória(…)”.  

-Por essas e outras, bravo Viegas. Estupendo Coliseu Tropical.

-Leiam as vísceras. Salve-se quem puder.

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Silas Corrêa Leite, de Itararé-SP, reside em São Paulo-SP, E-mail: poesilas@terra.com.br – Poeta, professor, jornalista comunitário, conselheiro em Direitos Humanos e Cidadania. Autor, entre outros, de CAVALOS SELVAGENS, em co-edição da Editora Kotter (PR) e LetraSelvagem (SP), no prelo.

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Box do livro:

https://kotter.com.br/loja/coliseu-tropical-viegas-fernandes-da-costa/

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