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Olimpíada verde: o legado sustentável de Tóquio 2020

Alexandre Nicoletti Hedlund e Alysson Nunes Diógenes*

Os jogos olímpicos e paralímpicos são forjados na superação dos desafios e no legado para as futuras gerações. Porém, engana-se quem pensa que os desafios se limitam às práticas esportivas, pois, em essência, os jogos sempre procuraram promover a união entre os povos e celebrar a paz. Enquanto atletas e equipes buscam impor novos recordes olímpicos, os países que sediam os jogos também procuram superar seus antecessores na implementação de novas tecnologias e, mais recentemente, na defesa da sustentabilidade. Por essa razão, Tóquio 2020 se apresenta como a olimpíada mais sustentável da história.

O uso crescente de novas tecnologias impôs uma nova marcha para as sedes olímpicas, desde o uso da internet (Barcelona 1992) até a computação em nuvem e a inteligência artificial (Tóquio 2020). Com relação à sustentabilidade, é preciso destacar Londres 2012, que levantou essa bandeira ao propor critérios de construção sustentável para as sedes olímpicas, entre outros feitos exemplares em relação ao meio ambiente. No entanto, sofreu críticas ao não garantir o controle sobre a poluição e pela baixa utilização de energias renováveis.

Em 2016, os jogos do Rio de Janeiro avançaram na temática a partir de três eixos: Planeta, Pessoas e Prosperidade, reforçando compromissos firmados desde a Rio-92. Contudo, medidas como o turismo sustentável e o combate à exploração infantil, que garantiriam o lugar mais alto do pódio da sustentabilidade, foram ofuscadas pelas críticas diante dos problemas socioambientais presentes no Brasil.

Agora, os olhos do mundo se voltam para Tóquio, que apresenta medidas que focam em carbono neutro, desperdício zero, coexistência entre cidade e natureza, diversidade, parcerias e equidade. Mais que isso, o Japão compartilha com as olimpíadas outra característica relevante: ser ponte entre passado e futuro. Com o tema “A esperança ilumina nosso caminho”, a olimpíada iniciou na metade de 2021 após ter sido adiada por um ano devido à pandemia da covid-19. O Japão foi um dos países mais tecnológicos do século XX e é promissor na defesa de medidas sustentáveis para o século XXI.

A tocha olímpica, por exemplo, é feita de alumínio e possui na composição 30% de material reciclado a partir de metal originado de moradias temporárias que abrigaram vítimas do terremoto do leste do Japão, em 2011. Da mesma forma, o combustível da tocha é o hidrogênio, que emite apenas água como resultado de sua combustão.

Os organizadores lançaram um outro slogan: “Sejam melhores, juntos – pelo planeta e pelas pessoas.” Seguindo os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), o Japão deseja fazer uma olimpíada com emissão zero de poluentes. Para isso, um dos incentivos é o uso de modais movidos a eletricidade, como patinetes, ônibus, trens e carros elétricos. Lembrando que a energia gerada naquele país, similarmente ao Brasil, é predominantemente hidrelétrica – de nada ajudaria ao meio ambiente usar eletricidade advinda da queima de combustíveis fósseis.

Além disso, cerca de cinco mil medalhas foram feitas a partir de celulares – que possuem placas de metais como cobre e zinco – e os pódios, de plástico, dos mesmos celulares. E qual a origem dos celulares? De uma campanha que o governo local fez para que a população doasse celulares que não eram utilizados em casa. Foram arrecadadas 79 mil toneladas de aparelhos eletrônicos. E o resultado pode ser, de fato, uma olimpíada verde.

Aproveitando o diálogo proposto aqui, podemos pensar na sustentabilidade como uma maratona, que exige planejamento e disciplina para que seus resultados possam se concretizar. Os desafios ambientais devem incluir agendas de luta pela igualdade de gênero, respeito à diversidade, condições de vida digna, economia circular e redução de consumo, entre outras. O tempo provará o legado sustentável de Tóquio, mas, desde logo, é um convite para que o espírito olímpico possa ser compartilhado em busca de um mundo melhor, juntos.

*Alexandre Nicoletti Hedlund, advogado, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR), é professor do curso de Direito e do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (UP).

*Alysson Nunes Diógenes, engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Mecânica (UFSC), é professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (UP).

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