A origem da festa de Corpus Christi decorre de dados de diversas significações. Neste dia, a Igreja professa a fé no Santíssimo Sacramento e vem se tornando cada vez mais comum a prática de fazer a celebração coincidir com campanhas de solidariedade.
Por Guido Boufleur *
Na quinta-feira, após a solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja celebra a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, festa comumente chamada de Corpus Christi. A motivação litúrgica para tal festa é o louvor à Eucaristia, fonte de vida da Igreja. Desde o princípio de sua história, a Igreja devota à Eucaristia um zelo especial, pois reconhece neste sinal sacramental o próprio Cristo, que continua presente, vivo e atuante em meio às comunidades cristãs. Celebrar Corpus Christi significa fazer memória solene da entrega que Jesus fez de sua própria vida, para a vida da Igreja, no compromisso de levar esta Boa Nova para todos os fiéis.
Na Idade Média, o costume de celebrar a missa com as costas voltadas para o povo, foi criando certo mistério em torno da Ceia Eucarística. Os fiéis queriam saber o que estaria acontecendo no altar, entre o padre e a hóstia. Para evitar interpretações de ordem mágica e sobrenatural, a Igreja foi introduzindo o costume de elevar a hóstia consagrada para que os fiéis pudessem vê-la. Este gesto foi testemunhado pela primeira vez em Paris, no ano de 1200. Entretanto, foram as visões de uma religiosa agostiniana, chamada Juliana, que historicamente deram início ao movimento de valorização da exposição do Santíssimo Sacramento.
Em 1209, na diocese de Liége, na Bélgica, essa religiosa começa a ter visões eucarísticas, que se vão suceder por um período de quase trinta anos. Nas suas visões ela via um disco lunar com uma grande mancha negra no centro. Esta lacuna foi entendida como a ausência de uma festa que celebrasse festivamente o sacramento da Eucaristia.
Quando a sugestão decorrente das visões da religiosa chegou ao bispo, ele acabou por acatá-la, e em 1246, na sua diocese, celebra-se pela primeira vez uma festa do Corpo de Cristo. Seja coincidência ou providência, o mesmo bispo vem a tornar-se, posteriormente, o Papa Urbano IV, que estende a festa de Corpus Christi para toda Igreja, no ano de 1264.
No entanto, a difusão desta festa litúrgica só será completa no pontificado de Clemente V, que reafirma sua significação no Concilio de Viena (1311-1313). Alguns anos depois, em 1317, o Papa João XXII confirma o costume de fazer uma procissão com o Corpo Eucarístico de Jesus, pelas vias da cidade, costume testemunhado desde 1274 em algumas dioceses da Alemanha.
O Concílio de Trento (1545-1563) vai insistir na exposição pública da Eucaristia que, além de manifestar publicamente a fé no Cristo Eucarístico, era uma forma de lutar contra a tese que negava a presença real do Cristo na hóstia consagrada.
Atualmente a Igreja conserva a festa de Corpus Christi como momento litúrgico e devocional do Povo de Deus. O Código de Direito Canônico confirma a validade das exposições públicas da Eucaristia e propõe que, especialmente, na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, haja procissão pelas vias públicas (cf. cân. 944).
A procissão geralmente termina com uma concentração em algum ambiente público, onde é dada a solene bênção do Santíssimo Sacramento. Hoje, nos ambientes urbanos, as comunidades continuam expressando sua fé Eucarística, adaptando a visibilidade pública da Eucaristia ao contexto local. De mais a mais, em atenção ao sentido da Eucaristia como partilha, vem se tornando cada vez mais comum a prática de fazer a celebração coincidir com campanhas de donativos, geralmente na forma de agasalhos e/ou alimentos para instituições e/ou famílias necessitadas de uma assistência especial.
* Padre Guido Boufleur, da diocese de Santo Ângelo é pároco em Cinquentenário (RS). Publicado no facebook do autor.