Ciência e Tecnologia

A Engenharia como antídoto para o desemprego

José Manoel Ferreira Gonçalves*

 

A debandada da Ford com suas fábricas do Brasil escancarou um dos grandes problemas, cada vez mais crônico, de nossa economia: o desemprego entre a mão-de-obra qualificada. Mercedes-Benz, Sony e diversas outras empresas baseadas em tecnologia já haviam anunciado o fim de suas respectivas unidades fabris, engrossando as estatísticas desanimadoras sobre a oferta de postos de trabalho na indústria.

 

Segundo a CNC, Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o Brasil perdeu 17 estabelecimentos industriais por dia nos últimos cinco anos. Em 2020, a indústria atingiu o menor nível de participação no PIB brasileiro em toda a história –apenas 11,2%. É a chamada desindustrialização. Especialistas da CNI, Confederação Nacional da Indústria, defendem que já estamos vivendo uma segunda onda desse processo desde meados da década passada.

 

A oferta de subsídios e outras medidas macroeconômicas adotadas pelo Brasil nos últimos anos não surtiram efeito. Há tempos o governo peca ao optar por essa forma primária de se fazer presente na briga global por competitividade. Subsídios são apenas um entre muitos outros fatores – mais sólidos – que atraem investimentos, tais como a já citada mão-de-obra qualificada, geolocalização, um forte mercado consumidor, sistema tributário moderno e estabilidade jurídica.

 

O Brasil é um país continental, que no passado recente exigiu notáveis esforços de infraestrutura e engenharia para se integrar e crescer. Voltar a investir nessas iniciativas, em grandes projetos de transporte, energia, saneamento e logística, é o caminho para termos uma nova era de desenvolvimento.

 

Àqueles que acreditam que o Estado não tem condições de assumir esse papel de indutor de investimentos, é preciso contrapor que o país possui, sim, os recursos que poderiam ser investidos em infraestrutura, como a poupança interna, a balança comercial positiva e nossas bilionárias reservas cambiais.

 

Com relação aos técnicos e engenheiros, eles são resilientes e estarão prontos para contribuírem, voltarem a ser protagonistas de um Brasil vibrante e gerador de oportunidades.

 

Algumas das possibilidades que saltam aos olhos e que estão aguardando a vontade política de nossos governantes para gerar empregos:

 

Ferrovias – há no país 8.534 km de ferrovias abandonadas, 51.530 km de ferrovias planejadas e apenas pouco mais de 10.000 km de ferrovias ativas – ou precariamente ativadas. Toda essa malha aguarda um projeto sério de investimento para voltar a funcionar, inclusive como opção ao transporte de cargas e passageiros, reduzindo a dependência do país do modal rodoviário. O investimento anunciado com as duvidosas prorrogações de concessões que só interessam a poucos representa uma migalha do enorme potencial do setor ferroviário.

 

Indústria petrolífera – temos tecnologia de águas profundas pioneira. Além da Petrobras, há cerca de 5 mil empresas privadas criadas em torno da indústria do óleo & gás.

 

Indústria aeronáutica – apesar do momento delicado para o transporte via aérea, o país possui seu próprio Vale do Silício em torno da Embraer, e é altamente competitivo nessa área.

 

Tecnologia agrícola – envolve milhares de pesquisadores e é responsável por inúmeros avanços de repercussão mundial (em São Paulo, o governador parece estar disposto a desmantelar esse nicho de excelência).

 

O próprio Instituto Butantã, que nos enche de orgulho no combate à pandemia, é outro exemplo:  criado em 1901, é o maior produtor de vacinas do Hemisfério Sul.

 

Em resumo: sem projeto nacional de desenvolvimento, não há empregos. Sem engenheiro, não há desenvolvimento sustentável!

 

 

*José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro, jornalista, advogado, professor doutor, pós-graduado em Ciência Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, integrante do Engenheiros pela Democracia e presidente da Ferrofrente

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