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A obrigatoriedade da Filosofia no Ensino Médio

*Antonio Djalma Braga Junior

Antonio Djalma Braga Junior, doutor em Filosofia, é professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo.
Divulgação

Era o ano de 2005, primeira semana de faculdade. Nossos professores do curso de Filosofia estavam otimistas porque no Paraná havia começado um movimento forte pela volta da obrigatoriedade da Filosofia e da Sociologia nos currículos do Ensino Médio de todo o estado, o que resultou na lei estadual 15.228 de 2006 (2 anos antes da lei nacional). Essa foi uma vitória que coroava décadas de luta e que se vislumbrava com um desafio ainda maior: organizar o currículo, a proposta pedagógica e capacitar professores habilitados para essas disciplinas. Novos cursos de Filosofia surgiram, investimentos em concursos públicos foram realizados e materiais didáticos foram produzidos.

Porém, tudo isso parece ter sido em vão: o mesmo pioneirismo do Estado do Paraná que preconizou a volta da Filosofia e Sociologia no Ensino Médio, agora volta para retirá-la sutilmente dos currículos, inserindo no lugar disciplinas como Educação Financeira e Empreendedorismo. Mas qual a importância da Filosofia em nossas vidas? Em que sentido a experiência do filosofar pode ajudar a transformar um país como o Brasil? Quando pensamos na importância da Filosofia, talvez muitas pessoas tenham dificuldades de formular uma definição para ela e, muito provavelmente, pensará que ela não faz falta à sua vida, uma vez que pelo fato de vivermos sem conseguir defini-la, já seria argumento suficiente para desprezá-la. No entanto, os grandes problemas do mundo são objetos de estudos da Filosofia e é ela que fornece a base para podermos pensar em alternativas e soluções a esses problemas. Não fosse o constante exercício filosófico, ainda estaríamos com leis baseadas em preceitos como os de Hamurabi (olho por olho e dente por dente) e estaríamos ainda apedrejando mulheres adúlteras em praças públicas; não veríamos perspectiva para conter a pandemia de Covid-19; não conseguiríamos pensar em estratégias globais que impactassem positivamente os problemas ambientais que enfrentamos na atualidade, como o aquecimento global e o desmatamento.

Sem essa capacidade de indagar e questionar (capacidades próprias do saber filosófico) os problemas do mundo, nossa perspectiva de vida seria desastrosa, ainda que possa haver pessoas pensando que viver sem questionar (como ignorantes) seria muito melhor. O simples fato de não verbalizarmos o nome Filosofia nessas questões, não implica na ausência dela. Pelo contrário, onde há um questionamento, uma indagação, uma problematização, ali cresce e floresce o saber filosófico. É por isso que tudo se torna (ou pode se tornar) objeto de estudo da Filosofia, desde um simples “por que ainda hoje as pessoas continuam desmatando?”, ou “por que um governo insiste em tratar Covid-19 com Cloroquina?”, até em questões do tipo “como devemos agir para diminuir o aquecimento global?”.

Nesse sentido, a obrigatoriedade da Filosofia nos currículos atende duplamente aos questionamentos no início desse texto: não apenas resgata a importância da Filosofia em sua perspectiva disciplinar no Ensino Médio, como também nos leva a refletir sobre a importância que ela possui nos problemas que enfrentamos atualmente no Brasil e no mundo. Em vez de retirarmos dos currículos, deveríamos estar investindo ainda mais em infraestrutura e condições de trabalho dos professores, para que a Filosofia, como uma disciplina que problematiza e conduz os estudantes à compreensão dessa dupla função, possa conduzi-los ao encontro de soluções simples e viáveis que realmente podem transformar a nossa sociedade brasileira.

 

Antonio Djalma Braga Junior. Filósofo e Historiador. Doutor em Filosofia. É professor na Universidade Positivo.

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