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AVALIAÇÃO QUALITATIVA E SUAS PRÁTICAS

Relação para uma aprendizagem eficiente

 

Dilma Oliveira Sousa Pereira[1]

Resumo

O presente artigo tem como finalidade suscitar reflexões acerca da avaliação qualitativa, proporcionando uma reflexão para uma aprendizagem eficiente, revelando os objetivos da mesma de modo a amparar essa prática tornando-a mais comum possível. Para tanto, aponta-se as ideias de autores como: Souza (2004), Gleidi (2002), Neto (1998), Perckis (2002), dentre outros. Busca-se que este trabalho aponte informações relevantes que proporcione um novo olhar das pessoas perante a avaliação quantitativa, fazendo-as refletir sobre o uso das técnicas da mesma, de modo que gere ensino mais completo, inclusivo e duradouro, fazendo do aluno não somente um participante, mas sim um sujeito de toda sua história na trajetória da vida.

Palavras-chave: Avaliação. Quantitativa. Aprendizagem. Discente.

INTRODUÇÃO

No decorrer do tempo, o termo avaliar foi utilizado como mesmo significado de estimar-se. Isso ocorreu profundamente nos anos de 1940 devido ao aperfeiçoamento das ferramentas de medida em educação, especialmente na criação e aplicação das mesmas. Na década de 60, a palavra avaliação tornou a aparecer, com destaque na literatura especializada, devido a grupos de estudo organizados nos Estados Unidos, na intenção de avaliar os novos programas educacionais, tendo a avaliação da aprendizagem seus princípios e características no campo da Psicologia. O termo avaliar voltou a destacar-se na esfera da avaliação curricular, e posteriormente nas demais áreas, tais como na avaliação do processo ensino-aprendizagem.

Olhando pelo lado educacional, quando se comenta em examinar e mensurar a ênfase reincide na cognição de informações ou em aptidões específicas. Quando se utiliza a palavra avaliar, está, no entanto se referindo não somente aos aspectos quantitativos da aprendizagem, mas também aos qualitativos, abrangendo tanto a cognição de conhecimento e informação originados dos conteúdos curriculares, quanto as habilidades, atitudes, interesses, tradições de estudo e ajustamento pessoal e social dos alunos.

A avaliação é um preceito de influência de qualidade pelo qual se pode estabelecer a cada etapa do processo ensino e aprendizagem, se este está sendo diligente ou não, e ocorrência negativa, indicar que transformações devem ser perpetradas a fim de assegurar sua eficácia, antes que seja tarde demais. A avaliação é um procedimento ininterrupto e sistemático, complacente, comparativo, agregativo, informativo e global, que deixa avaliar o conhecimento dos envolvidos. Assim, ela não pode ser esporádica nem improvisada, mas ao contrário, deve ser frequente e elaborada, promovendo um retorno e permitindo a recuperação imediata quando for necessário. Ela não tem um fim em si mesmo, mas é sempre um meio, um recurso, e como tal, deve ser usada.

No julgamento da aprendizagem, o educador não deve consentir que os resultados das avaliações cíclicas, na maioria das vezes de caráter classificatório, sejam muito valorizados em razão de suas observações diárias, de caráter diagnóstico. O educador que trabalha numa dinâmica interativa, tem noção ao longo de todo o ano, da participação e produtividade de cada discente.

A razão da avaliação é fruto de uma caminhada longa, sendo que seus pontos fracos ainda se revelam como forma de controle e de autoritarismo por variadas gerações sobre o determinado aluno. Na maioria das escolas a prática mais comum ainda é um registro em modo de nota, processo que não possui as qualidades necessárias para revelar o processo de aprendizagem, tratando-se de uma contabilização de resultados. Quando se armazena de tal forma, em método de notas, o resultado alcançado pelo aluno fragmenta-se assim como o processo de avaliação e introduz-se uma burocratização que leva à perda do sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem.

A avaliação deve estar envolvida e empenhada juntamente com a instituição escolar e esta deverá colaborar no procedimento de formação do modo, da consciência e da cidadania, passando pelo desenvolvimento da informação, fazendo com que o discente entenda o mundo em que vive, para além de usufruir dele, estando apto a modificá-lo, quando for condizente.

O método como se pondera é essencial para a materialização do projeto educacional de toda organização de ensino, é ela que demonstra aos discentes o que o educador e a escola valorizam. Enquanto a avaliação conservar-se atrelada a uma pedagogia ultrapassada, a evasão ocorrerá, e o aluno, o cidadão, o povo permanecerá preso a uma minoria, que analisa a elite intelectual voltada para valores materiais. Transformar esse entendimento se faz urgente e imprescindível, basta romper com padrões estabelecidos pela própria história; alterar a avaliação significa alterar também a escola, se os objetivos são educação e transformação não resta alternativa senão discorrer um novo método de avaliar, quebrando paradigmas, contemplando o qualitativo, descobrindo a essência e a totalidade do processo educativo, mudando nossa concepção e construindo uma nova escola.

  1. PROCESSO AVALIATIVO ATUALMENTE

A avaliação é presente no cotidiano de todos. É determinada em um procedimento de ponderação e tomada de decisões, a partir de determinadas escolhas.  Para tal, não se usa notas nem considerações, em que se avalia e realiza alternativas que se concretizarão em transformações ou ações que forem indispensáveis. Isso acontece desde as mais simples decisões, como por exemplo, qual vestimenta utilizar,  até  as  mais  importantes,  como  o  caminho  a ser trilhado.

Na educação formal, a avaliação ou julgamento também é uma  constante,  seguindo  toda  a  vida  do  discente,  mas,  neste  sentido,  ela  se  diferencia. Revela-se por meio de notas  ou conceitos,  quando  o  estudante  não  é  o  sujeito  da  sua  própria  avaliação,  já que, geralmente,  sofre  o  processo  avaliativo,  sendo  que  nem  continuamente  a atitude  de  avaliar  está  relacionada  a  uma  transformação  de  desempenho  ou  ações  por  parte  do  educador  ou  do  educando. A  lei  de  Diretrizes  e  Bases  da  Educação  antecipa  que  educando  precisará  ser   estudado  de  maneira  consecutiva  e  constante,  aproveitando  o  aspecto  qualitativo  sobre  o  quantitativo  da  aprendizagem.

As  perspectivas  qualitativas  apresentam-se  ao  mesmo  acontecimento a  ser  mensurado,  controlado  e  seguido. A  primeira  diz  em considerações  ou  notas  a  intensidade  com  que  atributos  da  segunda  se  manifestam  no  fenômeno  mensurado.  Na realidade, a avaliação  qualitativa  confere significado  e  esclarece  a quantitativa,  conforme. SOUZA (2004, p.99).

O instrumento  qualitativo,  que  tem de  ser  presente e atuante  nos  resultados da  avaliação, suporta  diversas interpretações pelos  educadores,  comprometendo  o  que  foi  determinado  por  lei.  Como  esclarece  GLEIDI (2002, p.59),  observar instrumentos  qualitativos  do  desempenho do aluno  não  é  o  mesmo que  considerar  suas ações  e  comportamentos  na  escola.  Seria  alarmado admitir  um  discente porque  ele se comporta bem, colabora e  se esforça,  mesmo  que  ele  não  tenha  alcançado  as  condições  mínimas  para  a  próxima  série. GLEIDI (2002) afirma ainda que,  avaliar  sob  o instrumento  qualitativo  significa  analisar   e  interpretar de  modo  consistente  as  manifestações  do  aluno,  o que  vai  muito além  dos  sinais  de  simples de matemática  que  o  aluno  recebe  pelas  suas  ações  ou  da  pontuação  atingida   em suas  atividades  de  aprendizagem.

 A  avaliação  qualitativa,  compreendida  como  a  definição  da  condição  de  compreensão  do  estudante,  de acordo com  uma  determinada  área  de  conhecimento,  tanto  pode  ser  arranjada  em  relação às  suas  ações  como  em  relação  às  suas  possibilidades  intelectuais,  ministrando  os  subsídios  imprescindíveis  para  o  prosseguimento  do  processo  educativo.  Assim, se  essas  decorrências  fossem  debatidas  com  os  discentes  e  juntos  procurassem  soluções  para  os  problemas  encontrados  nos  dois  aspectos,  estaria  diante  do  recurso  ideal,  em que  o  estudante,  por meio   da  reflexão,  seria  o  sujeito  do  próprio  processo  educativo. É óbvio  que  em  um  determinado  momento  a  avaliação  terá  de  revelar,  por meio  de significados  ou  notas,  o  que  o  estudante  aprendeu,  mesmo que  esse  não  seja  a sua  principal  finalidade.

Distante do imaginado, o que se compreende,  na  maioria  das  instituições,  é  que  prevalece  na  avaliação  o  instrumento  quantitativo,  no  qual, por meio  de  notas  ou  conceitos,  o  estudante  é  aprovado  ou  não.  Assim,  segundo PERCKIS (2000, p.45),  a  atitude  avaliativa  é usada  com o objetivo  de  classificar  e  não  de diagnosticar,  quando  na  realidade,  a avaliação  de  valor  deveria  permitir  uma  nova  tomada  de  decisão  sobre  o  artifício  avaliado. No  papel  classificatório,  o julgamento  se  decompõe  em  um  aspecto  estático que  limita  o  crescimento, enquanto  que,  no papel  diagnóstico,  ela  se  constitui  em  um  momento  dialético  no  processo de  avançar  no  desenvolvimento  da  ação  e  do  crescimento,  rumo  à autonomia  e  à  competência.  Para  o  instrumento  qualitativo,  são  protegidos  alguns  pontos   que  o  discente  vai  poder  se  realizar  as  atividades e  se  mantiver  ações  adequadas  para uma  sala de  aula,  como  por  exemplo  permanecer-se  calado  durante  a  explicação,  não  se  levantar  da  cadeira,  não  usar  vestimenta que não condiz com o ambiente,  entre outras atitudes.

Julgar apenas a partir do instrumento  quantitativo,  a  princípio,  pode  levar  o educador  a  sentir-se  mais  confiante  em  relação  ao  fato  de  estar  sendo  equitativo e imparcial  ao  avaliar,  uma vez que  à   noção  de precisão  que  providenciam as  notas  obtidas  em  testes  e  provas. No entanto,   para  PERCKIS (2000, p.52):   em  função   da  justiça  da  precisão  o  educador nunca foi  tão  errado.  Isso  devido,  de acordo com o autor,   à  medida que  os alunos  realizam  suas  atividades,  elas  efetivam  muitas  conquistas,  refletem  sobre  as  suas  hipóteses,  debatem  com  os  pais  ou  companheiros,  explicam  suas   alternativas,  enfim,  o  aprendizado  é  um  processo  vivo  que  a  compreensão  efetiva  da  testagem  não  consegue  abarcar,  já que  não leva em conta a  significância  do  intercâmbio entre os próprios estudantes e entre  eles  e  o  educador,  bem  como  da  argumentação e .da reflexão conjunta.

Mesmo que  essa seja a  prática  que  prevalece  na  maioria das escolas, há muitos educadores  que se  incomodam  com  a  possibilidade  de  serem  errados  ao  avaliar e na tentativa  de transformar. Esclarecem  quais  as finalidades  a serem  conseguidas,  informam  quais  os  discernimentos  que  utilizarão  como  parâmetro  de  avaliação,  exigem  do  estudante  na  mesma  forma  em  que  proporcionam  subsídios  para  a  aprendizagem,  debatem  com  eles  as  implicações  alcançadas  e  procuram  juntos  formas  de  superar  as  dificuldades, através de  novas  oportunidades  como,  por  exemplo,  trabalhos  extras  ou  recuperação  paralela — tudo  em relação ao  aspecto cognitivo; mas como isso fica em relação às  atitudes  e à .disciplina?  Muitas  são as  lamentações  dos  educadores em  relação  a  esses instrumentos,  ou  melhor,  à  falta  deles,  sendo  que  a  solução  adequada  não  parece  clara. (GUARDY; KAHEL, 2003).

A instituição escolar tenta dominar a indisciplina utilizando a punição, seja por meio de notas, recriminações verbais e escritas ou até mesmo suspensões, o que não vem se revelando competente como forma de recurso, considerando os problemas crescentes  nesse  instrumento,  em  grande  parte  das  escolas.  É claro que esse controle não é tarefa simples, se   levado em conta o  contexto  em  que  estão  inseridos  docente e discente. São, em média, quarenta alunos em sala de  aula,  sendo  que  na grande maioria,  indisciplinados, inquietos,   e  até  hostis.  Essa conduta, que antes era somente  dos  adolescentes,  o que  é  compreensível  na  sua  faixa  etária, atualmente  se  estende  tanto  para  as  primeiras  séries  como  para  o  ensino  secundário. 

NETO (1998, p.89) comenta, do mesmo modo, a  circunstância  de  estudantes e educadores,  quando diz que  o  toque  da  campainha  não  é  satisfatório  para  abrandar  os  discentes.  Diversas vezes, o uso da voz alta  ´r  imprescindível  para  que  se consiga  iniciar  a aula,  e  as  interrupções  provocadas para  diminuir  a  bagunça  formam  um  ritual  que  se  tornou  um  ato  pedagógico. Perante dessa  situação,  na  qual  o  educador  explana  e não é  compreendido,   fala  e não  é  ouvido,  se  determina  um  desequilíbrio:  as  relações  se  desfazem,  e  o desentendimento  passa  a  ser  normal, caracterizando  o  nosso  tipo de escola  como  desumana e estressante.

 Inúmeras  vezes,  a  instituição escolar  não  possui  qualidades  físicas  de  proporcionar  atividades  variadas  e  estimulantes,  parecidos àquelas com que o estudante está  acostumado  no  seu  cotidiano,  como  computador, televisão, celular  e  internet.  Então,  o  quadro  e  piloto lhe semelham  por  demais  cansativos.  Alguns  encaram  dificuldades familiares  e,  inúmeras  vezes,  não estão habituados  a assumir responsabilidades  e  a  respeitar regras  de  comportamento. Agregando-se a isso, o educador tem um programa a ser   cumprido,  uma  carga  de  trabalho  às  vezes,  desumana,  não  tem  tempo  de  refletir  sobre  a  sua  atuação  profissional,  assim  como  não  tem  tempo  para  aprimorar-se  profissionalmente. Só esses já  são  ingredientes  suficientes  para  gerar  conflitos  em  sala  de  aula. 

Nesse  sentido, é  admissível  compreender a problemática  do  educador   em  refletir  com  os estudantes  sobre   o  que  acontece  na  aula,  mesmo  porque essa  não é uma  prática  comum  na  maioria das  escolas, e  é  conformidade  que  o desenvolvimento  de  costumes  e  ações  é  comprometimento  da  família.  Assim, a saída é castigar e, quando todas as penalidades forem esgotadas,  transfere-se  o aluno de  escola  e  tudo  começa  outra  vez,  sem que haja  uma  mudança  no comportamento  do  aluno  ou  da  escola.

  • OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO QUALITATIVA

Para assegurar qualidade formal do processo educativo, a avaliação qualitativa procura saber, para mudar:

  1. Até que questão a didática é reconstrutiva, no contexto específico de mobilizar o estudante a ser o sujeito central do processo educativo;
  2. Até que questão o educador é adequado de manejar e produzir conhecimento, para poder estabelecer o mesmo processo no aluno;
  3. Até que questão, a avaliação da performance do estudante privilegia o processo reconstrutivo próprio, e não aula, prova e cola;
  4. Até que questão as ajudas didáticas que facilitam a ação reconstrutiva estão presentes e são efetivados na própria escola (biblioteca, videoteca, material didático próprio, eventos mobilizadores como feiras de ciência, ambientes de pesquisa, laboratório, experimentação etc.);
  5. Até que questão a instituição escolar é atualizada em termos de conhecimento e apreende desempenho competente nos alunos e professores;
  6. Até que questão saber raciocinar e compreender a aprender estão contemporâneos na prática escolar dos estudantes.

Por ser assunto qualitativo, o aperfeiçoamento é particularmente duro, além de conjeturar inovações por vezes penosas, sobretudo no professor. É necessário que ele mesmo saiba recuperar conhecimento e se mantenha atualizado constantemente, assumindo como papel fundamental nortear o mesmo processo reconstrutivo no aluno. Haverá aula, mas é expediente instrumental.

A comunicação da informação é essencial, mas é insumo. Importante será transformar o sistema de avaliação, extrapolando os cuidados em torno da aula como espetáculo, para assegurar que o estudante consolide a competência formal de manejo e reconstrução de conhecimento. É necessário motivá-lo a investigar, a desenvolver com mão própria, a argumentar e a contra argumentar, a procurar informação com autonomia e reconstruí-lo, a ler criticamente de modo sistemático, e assim por diante. Ajudas oriundas da instrumentação eletrônica podem ser muito úteis. Será, também, relacionado colocar testes de conhecimento, em pontos estratégicos do fluxo escolar (por exemplo, ao terminar a 4ª série, a 8ª série), tendo como objetivo a segurança que a competência formal prevista no currículo se efetive. O investimento na qualidade do educador, tanto em termos de atualização permanente, quanto de valorização socioeconômica, é considerado a peça-chave da qualidade.

3 – AVALIAÇÃO QUALITATIVA E APRENDIZAGEM

A avaliação qualitativa ambiciona extrapolar à quantitativa, sem exonerar ou deixar pra trás esta. Compreende que, no ambiente educativo, os procedimentos são mais proeminentes que os resultados, não fazendo jus à realidade, se diminuída somente às manifestações empiricamente mensuráveis. Estas são mais simples de manusear metodologicamente, uma vez que o conhecimento científico sempre privilegiou o tratamento medido da realidade, prosseguindo, por ocasiões, de modo incisivo em algumas disciplinas sociais, como a economia e psicologia. Porém, não se pode contemporizar a limitação metodológica a uma pretensa redução do real. Este é mais complicado e compreensivo do que sua face empírica. A avaliação qualitativa adoraria chegar até à face qualitativa da realidade, ou pelo menos de se aproximar dela (DEMO, 2011).

Qualidade não se demonstra espontaneamente em informações, porque não é exatamente o lado numérico da coisa, mas pode revelar-se disfarçadamente por meio de indicadores, pretexto pelo qual o tratamento quantitativo sempre pode ser pertinente. Um exemplo prático, podemos averiguar pelo teor qualitativo do que seria uma educação de qualidade. No linguajar técnico, utiliza-se de expressões quantitativas, como anos de estudo (escolaridade). Seguindo transcorreria que o analfabeto não tem educação, enquanto o indivíduo com ou mais anos de estudo (formação superior incompleta ou completa) teria a educação de qualidade. Pode haver, por certo, alguma verdade nisso, mas apenas alguma.

Analisando mais precisamente, o sentido de educação de qualidade inclui benefícios não quantitativas fundamentais, como fino trato, atenção, solidariedade, ética, cidadania, que já não dependem necessariamente de anos de estudo. O indivíduo sem educação poderia, neste contexto, ser bem educado, como pode ao mesmo tempo ser o sábio em comunidade simples ou entre índios, enquanto o educador de universidade poderia comparecer como figura ignóbil da sociedade, se, por exemplo, fosse mal feitor ou tentasse se impor aos outros pela via da truculência.

O acontecimento presente estar amarrado, na sociedade, dos canais de participação, dentre os quais: métodos participativos de programa no Estado, coordenação da comunidade civil (sindicatos, partidos, cooperativas, associações, comunidades entre outros.), facilidades de acesso para educação básica como ferramenta essencial ao exercício da cidadania, cultivo da identidade cultural, conquista de direitos fundamentais, e assim por diante. A incerteza desses canais expressa a crueza de nossa pobreza política. Uma avaliação qualitativa dedica-se a perceber tal problemática, para além dos levantamentos quantitativos usuais, que por isso não deixam de ter sua importância. (DEMO, 2011)

Não existe motivo para se polemizar contra demonstrações quantitativas, de método empírico e estatístico, a não ser que o diagnóstico se tome empirista Isto é, existe toda uma contestação entre aplicação empírica da realidade e redução empirista não faz nenhum mal a qualquer avaliação qualitativa vir secundada por dados quantitativos, até porque estes são inevitáveis. Saber entender densidade oportuna e esfera da qualidade não significa reincidir no obscurantismo que nega qualquer significância a análises quantitativas ou que se esconde de modo diletante e incompetente por trás de uma locução ambígua e dispersa, pretensamente qualitativa.

Tem de se compreender que caminhamos ainda muito pouco nesse sentido, mesmo porque a formação em si não beneficia o depoimento qualitativo. Discernir acerca de dignidade humana, de dignidade social, de compromisso público é um tanto curioso, ainda que no interior de nossas ações sempre deparemos com tais preocupações. Quando se busca aprimorar as condições materiais de vida da população pobre, não objetiva somente a elevação da quantidade de renda disponível, mas igualmente a noção de qualidade de vida. De maneira geral, emerge também a ideia de direitos da cidadania, uma qualidade tão relevante, quanto gigantesco.

A própria confusão da dificuldade aconselha que se prossiga com cautela e consciência crítica, para não atrapalhar a profundidade à afoiteza amadorística. Não é aconselhável também imaginar que a tudo e sempre somente caiba avaliação qualitativa, mesmo onde não se trata de uma questão de qualidade. O que está em prática na avaliação qualitativa é especialmente a qualidade política, isto é, a arte da sociedade de se conduzir, a criatividade cultural que revela em sua história e espera para o futuro, a capacidade de inventar seu espaço próprio, traçando sua própria trajetória, sua autopromoção, sua autodeterminação, dentro dos condicionamentos objetivos. Certamente interessa também a qualidade formal, desde que no seu devido lugar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se assegurar, atualmente, que a escola suporta, como norma, de todos as dificuldades, em especial a instituição pública. Não prepara e possui de quantidades mínimas, sendo mal conservada, pouco provida, sem ajudas assistenciais, entre outros. Nela compreende-se pouco e mal, de tal sorte que arduamente se pode assegurar que a capacidade formal seja realidade. Também nas instituições privadas, no qual o desempenho essencial é bem mais evidente, a didática de se decorar todo conteúdo domina o processo, e produz, em grande maioria, estudantes “robóticos”. Passam no vestibular, para poderem estudar melhor e de graça, mas de forma alguma se preparam para os acontecimentos da vida.

De acordo com a qualidade política, a própria realidade do falho escolar majoritário fala por si. Em vez de ambiente essencial da equalização de propriedades, a instituição escolar continua seletiva, no qual em num primeiro instante contra os pobres, e, posteriormente, contra os que são menos aptos a lembrar de matéria. O retrocesso mais comprometedor do país está no retardamento em educação e informação. Se quiser ter e fizer chance de formação, necessita resolver este problema de vez. A avaliação qualitativa contribui para desvendar a dificuldade e recomendar recursos que ultrapassam expressões quantitativas, e atingem a essência da competência humana histórica em termos de construção do conhecimento e realização da cidadania.

O debate crítico dos objetivos e valores da escola é possivelmente o expediente mais seguro para desenvolver o processo de desenvolvimento da capacidade política, colocando sempre sob o crivo da consciência e da procura incessante as finalidades da educação e do conhecimento. Faz parte da qualidade política não considerar apenas um lado dos termos, imolando a qualidade política à formal – como se autoridade técnica exonerasse democracia, ou a qualidade formal à política – como se sistema de ideias suprisse conhecimento.

É imprescindível impedir corporativismos, democratismos, assim como reações autoritárias e ambiências tecnicistas. Assim como a planta se conhece pelos frutos, a qualidade política e avaliação qualitativa podem inúmeras vezes, ser mais facilmente apercebida posteriormente, quando os estudantes deixaram a escola e estão na vida. Percebe-se, então, se estão de fato preparados. Ainda assim, é essencial que toda escola saiba monitorar o desenvolvimento da qualidade política de seus discentes, tendo como objetivo que a formação à cidadania é sua razão maior de ser.

REFERÊNCIAS             

DEMO, P. Avaliação da aprendizagem. São Paulo: Figura simples, 2011.

GUARDY, E.; KAHEL, A. Avaliação Qualitativa São Paulo: Editora Senac, 2003.

GLEIDI, S. Os instrumentos para Avaliação Qualitativa. Coleção Interface. Rio de Janeiro: VHG, 2002.

NETO, J. Avaliação Qualitativa e os seus envolvidos: a prática diária. São Paulo: JKP, 1998.

PERCKIS, G. L. Uma abordagem sobre Avaliação Qualitativa. Curitiba, São Luís: 2000.

SOUZA, E. Avaliação Qualitativa e suas perspectivas. São Paulo: Brasiliense, 2004.


[1] Dilma Oliveira Sousa Pereira – Graduada em Pedagogia (Universidade do Estado da Bahia – UNEB), Especialista em Pedagogia Escolar (Faculdade Internacional de Curitiba – FCINTER) e Mestranda em Educação Interamericana (Universidade Interamericana).

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