Milena dos Passos Lima*
Checar a autoria, data, origem da informação, bem como a credibilidade da fonte. Tudo isso está sempre ao alcance de um clique para quem recebe – e compartilha – fake news. Basta pesquisar no Google o título da mensagem acompanhado da palavra “boato”. Facilmente a pessoa vai encontrar conteúdos que podem confirmar se a informação contida no material é verdadeira ou falsa. E por que as pessoas resistem em fazer isso? Diversos fatores e números respondem a essa pergunta.
A alta taxa de analfabetismo no Brasil (11,5 milhões de pessoas, segundo o IBGE) faz com que as pessoas estejam suscetíveis a receber uma informação, não compreendê-la corretamente e repassá-la apenas por não saber interpretar um texto. Dados da Kaspersky mostram que 16% dos brasileiros desconhecem completamente o termo fake news e 62% não sabem reconhecer uma notícia falsa. Os últimos números do Pisa mostram ainda que apenas 2% dos estudantes brasileiros são capazes de compreender textos longos, lidar com conceitos abstratos e estabelecer distinções entre fato e opinião, com base em pistas implícitas relativas ao conteúdo ou fonte das informações.
Seria fácil ficar aqui apenas apontando as causas pelas quais as fake news se tornaram uma das maiores pragas da era moderna. Mas é mais produtivo destacar como essa batalha deve ser travada. Afinal, como saber identificar – sem precisar recorrer ao Google – que um discurso, apesar de atraente, pode ser mentiroso? Como diferenciar uma informação falsa de outra verdadeira? Isso só é possível com o desenvolvimento de senso crítico e da capacidade de analisar situações complexas.
E só conseguiremos que gerações inteiras sejam capazes de desenvolver esse tipo de competência a partir do momento que treinarmos nossas crianças e jovens para exercitarem o domínio da leitura e da escrita. Não por acaso, a BNCC já incluiu a abordagem na grade curricular brasileira, o que deverá permitir a construção de uma aprendizagem sobre o que é e como se produz a informação, com o objetivo de combater a desinformação. Leitores mais críticos estarão mais preparados para evitar as armadilhas das fake news.
A escola deve oferecer uma preparação que permita ao aluno analisar situações complexas, que desenvolva a capacidade de olhar uma informação e fazer uma interpretação correta, de enxergar o que está por trás dessa notícia, o que ela reflete, qual a influência do contexto, da cultura local e a quem ela interessa. Um dos desafios da Educação como um todo é garantir que o aluno adquira a capacidade de ter diferentes olhares sobre um mesmo assunto e, para isso, precisamos envolver todas as áreas do conhecimento.
E para que a Educação consiga formar cidadãos com independência e senso crítico para decidir sobre o consumo de qualquer tipo de informação, esse trabalho precisa ser iniciado desde cedo, já na infância. A Educação Midiática deve ser introduzida nas escolas já nos níveis iniciais de ensino. O ideal é trabalhar essa abordagem em todos os níveis, promovendo uma construção – permeada tanto pela análise dos meios de comunicação, das diferentes mídias, como também por um aprendizado mediado pela tecnologia.
A reforma do Ensino Médio vem para somar esforços nessa batalha, tornando possível fazer um trabalho ainda mais aprofundado. O Novo Ensino Médio amplia o tempo mínimo do estudante na escola de 800 para 1.000 horas anuais e define uma nova organização curricular, mais flexível, e ainda oferece diferentes possibilidades de escolhas aos estudantes, os Itinerários Formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional. Por isso mesmo, é tão importante que essa reforma seja implantada o quanto antes pelas escolas. Numa guerra na qual a falta de educação midiática significa a perda de oportunidades e participação social para milhares de alunos, não se pode perder tempo.
* Milena dos Passos Lima é coordenadora editorial do Sistema Positivo de Ensino.