METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE BIOLOGIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Aline Mendonça Santana[1]
Jader Luís da Silveira[2]
Patrícia Ferreira Santos Guanãbens[3]
RESUMO: Este trabalho apresenta uma revisão de literatura que teve o objetivo de investigar sobre a utilização de metodologias ativas na disciplina de Biologia, a partir de análise da literatura disponível em artigos científicos em base de dados de periódicos indexados. Os estudos específicos encontrados para a PBL no ensino de Biologia representam no máximo, 1,8% dos trabalhos publicados. Os resultados apontam poucos estudos acerca das metodologias ativas no ensino de Biologia e evidenciam a pertinência de implementá-la.
Palavras-chave: Metodologias ativas, PBL, Ensino de Biologia, Literatura, Ensino de Ciências.
ABSTRACT: This work presents a literature review that aimed to investigate the use of active methodologies in the discipline of Biology, based on an analysis of the literature available in scientific articles in the database of indexed journals. The specific studies found for PBL in the teaching of Biology represent a maximum of 1.8% of the published works. The results point to few studies about active methodologies in the teaching of Biology and show the relevance of implementing it.
Keywords: Active methodologies. PBL. Biology teaching. Literature. Science teaching.
1. INTRODUÇÃO
Sempre existiu muita discussão em torno da formação docente. Entender como ensinar a ser professor não constitui-se tarefa fácil, bem como não se tem uma receita de bolo para isso. Carvalho & Gil-Pérez (2011) afirmam que a atividade de um professor vai muito além do ato de ministrar aulas, e a formação não é uma simples soma de preparação científicas e cursos gerais de educação, como se pensava. Para Krasilchick (1987), o professor precisa de liberdade de ação quanto à forma de ensinar e necessita de estímulo para mudar seu comportamento em sala de aula.
O ensino têm sido foco de inúmeras pesquisas, e é comum nestas, quando se aborda a prática docente, o levantamento de questões negativas ligadas à profissão docente. São listados vários problemas, os mais comumente apontados são ligados ao ambiente de trabalho, falta de estrutura e material, desvalorização dos professores, falta de interesse dos alunos e falta de apoio da sociedade em geral (SILVA, 2019).
Quanto ao ensino de ciências, além dos problemas do ensino em geral já citados, são observados outros obstáculos ao processo de ensino-aprendizagem. Dentre os mais abordados na literatura temos: preparação deficiente dos professores, o conteúdo programático dos guias curriculares, má qualidade dos livros didáticos, falta de laboratórios, falta de material para aulas práticas, obstáculos criados pela administração da escola e sobrecarga de trabalho (ANDRADE e MASSABNI, 2011).
As queixas que antes se referiam apenas a deficiências na área metodológica ampliaram-se para abranger a formação dos profissionais em relação ao conhecimento das próprias disciplinas, levando à insegurança em relação à classe, à baixa qualidade das aulas e à dependência estreita dos livros didáticos (KRASILCHIK, 1987). Outro agravante é que o professor de Ciências tem sido, de acordo com a história, exposto a uma série de desafios, inclusive tendo que acompanhar as descobertas científicas e tecnológicas, firmemente manejadas e implantadas no cotidiano, e tornar os avanços e teorias científicas compatíveis aos alunos do ensino fundamental, disponibilizando-as de forma acessível (LIMA, VASCONCELOS, 2006).
- METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE BIOLOGIA
Assumir uma postura didática que tenha sentido para o aluno recomenda a utilização de uma grande variedade de linguagens e recursos. É necessário trabalhar os conteúdos de maneira que estes tenham seu ponto de partida no cotidiano dos alunos e professores, o que permitirá que o aluno decida e escolha melhor como cidadão. Conteúdos que afluam para assegurar aos estudantes a compreensão dos conceitos fundamentais da Biologia.
Nessa busca, várias metodologias foram sendo propostas e estudadas ao longo do tempo. O ensino chamado tradicionalista se confunde com a própria instituição do ensino formal. Embora, segundo Leão (1999), a escola tradicional tenha sofrido inúmeras transformações ao longo de sua existência, ela resiste ao tempo.
As teorias da educação que nortearam a escola tradicional confundem-se com as próprias raízes da escola tal como a concebemos como instituição de ensino” e que a escola tradicional continua existindo de modo semelhante ao que foi no seu início (LEÃO, 1999).
Mizukami (1986) descreve o ensino tradicionalista como uma abordagem que não se fundamenta implícita e explicitamente em teorias empiricamente validadas, mas numa prática educativa. É uma forma de ensino centrada no professor e nela o adulto é considerado como um homem acabado, pronto. Já o aluno é considerado como um adulto em miniatura que precisa ser atualizado, sendo o papel do professor transmitir conhecimentos. Além disso, nessa abordagem a escola seria o único local onde se dá o aprendizado e este pode ser adquirido e acumulado.
A abordagem tradicional do ensino parte do pressuposto de que a inteligência é uma faculdade que torna o homem capaz de armazenar informações, das mais simples às mais complexas. Nessa perspectiva é preciso decompor a realidade a ser estudada com o objetivo de simplificar o patrimônio de conhecimento a ser transmitido ao aluno que, por sua vez, deve armazenar tão somente os resultados do processo (LEÃO, 1999).
Várias pesquisas no campo do ensino têm estudado a viabilidade desse tipo de ensino e questionado sua adequação aos padrões de ensino exigidos pela atualidade. Outras metodologias ou abordagens de ensino surgem como forma de contrapor o ensino tradicional, humanista, sócio cultural, comportamentalista, cognitivista/construtivista. Sendo esta última, mais evidente nos estudos mais recentes.
Proposta inicialmente por Jean Piaget, segundo Mizukami (1986), o processo educacional tem um papel importante ao provocar o desequilíbrio cognitivo e mental do aluno a fim de ser capaz a construção progressiva das noções e operações. É importante respeitar cada etapa do desenvolvimento dos discentes e reconhecer a aprendizagem como sendo mais que um produto do ambiente, das pessoas ou de fatos que são externos ao aluno. O conhecimento, segundo essa abordagem é considerado uma construção contínua e a relação professor-aluno é de cooperação para o processo de ensino aprendizagem.
Leão (1999) ressalta que o construtivismo não é um método nem uma técnica, esse novo paradigma de ensino é uma postura frente à aquisição de conhecimento. Becker (1993) coloca que nessa concepção nada está pronto, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. É uma “interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, como mundo das relações sociais” (BECKER, 1993. p.88).
Inspirados por esses novos paradigmas de ensino construtivistas/ cognitivistas surgem as chamadas metodologias ativas. Andrade e Campos (2005), relatam que a metodologia ativa é um processo de ensino-aprendizagem no qual o aluno é colocado como protagonista e o professor assume um papel de suporte. Assim, a autonomia do aluno é estimulada de forma que ele seja capaz de construir o próprio conhecimento. Para Andrade e Massabni (2011), o professor continua a ser o responsável por direcionar o aluno, mas sempre permitindo que ele faça descobertas que colaborem para sua formação. Desse modo, os momentos de estudo se prolongam muito além dos horários das aulas, de uma maneira integradora e estimulante para o aluno.
Entre os tipos de metodologias ativas estão: a “aprendizagem baseada em projetos”, onde os alunos construam seus saberes de forma colaborativa, por meio da solução de desafios; a “aprendizagem baseada em problemas”, baseada na resolução de casos e na interdisciplinaridade. Outro tipo de metodologia é a “gamificação”, que usa jogos e desafios em situações de sala de aula; a “sala de aula invertida”, técnica que mistura a experiência digital e de sala de aula. Por fim, ainda há a “aprendizagem entre pares”, baseada no trabalho coletivo e colaborativo de duplas; e “storytelling”, que por sua vez, técnicas de criação narrativa (COLLOR, 2019).
Nesse tipo de ensino o aluno é colocado como protagonista da sua aprendizagem e o professor assume o papel de instrutor do caminho a ser percorrido, dando aos discentes as ferramentas para que eles se desenvolvam cognitivamente. Além disso, o ensino ativo zela pela formação do cidadão além da formação acadêmica, pensando as relações dos discentes com o mundo em que estão inseridos (BORGES et al 2014).
Entre as metodologias ativas mais estudadas estão o Aprendizado baseado em problemas, do inglês Problem-based learning (PBL); Ensino por Investigação (EI); e Demonstração de aulas interativas (ILD). Essas metodologias didático-pedagógicas centram-se no aluno e, nos últimos 30 anos, vêm sendo aplicadas em escolas e existem inúmeras pesquisas que testam sua eficiência no campo da psicopedagogia. O que varia entre essas metodologias é sua forma de aplicação mas todas visam um objetivo comum que é fazer com que o estudante utilize seus conhecimentos prévios e busquem desenvolver estes e aprender novos através de atividades práticas e interativas (BORGES et al 2013; FELICETTI et al 2012; BARREIRO, 1992). Diante desses pressupostos, esse trabalho busca em periódicos e bases de dados de dissertações e teses pesquisas que utilizaram essas metodologias ativas no ensino de Biologia.
Tendo em vista que a aprendizagem baseada em problemas abordado em temas de Biologia na Educação Básica, em especial no Ensino Médio, é um tema pouco discutido no meio acadêmico e científico, tem-se a justificativa do presente trabalho de revisão bibliográfica. Além disso, o trabalho poderá contribuir para o preenchimento dessa lacuna existente na literatura frente a abordagem desse tema.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
A presente revisão de literatura foi realizada com o objetivo de entender a utilização de metodologias ativas na disciplina de Biologia, a partir de análise minuciosa da literatura disponível em artigos científicos e em base de dados de periódicos indexados. Para tanto, foram apontadas as vantagens da aplicação de metodologias ativas frente a metodologias tradicionais, buscando os resultados de trabalhos com a aplicação da PBL em Biologia; bem como apontar a eficiência da implantação da metodologia PBL na disciplina de Biologia no ensino médio, segundo as publicações.
A pesquisa bibliográfica é conceituada por Pizzani et al (2012) como uma revisão da literatura sobre as principais teorias que norteiam o trabalho científico, essa pesquisa é denominada levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica. Em outras palavras, é uma busca por determinado assunto em livros, periódicos, artigo de jornais, sites da Internet ou outras fontes.
A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos (SEVERINO 2002).
A busca ocorreu no contexto das metodologias ativas no ensino de Biologia, por meio de artigos, dissertações e teses publicadas entre o ano de 2000 até o primeiro semestre de 2020. As buscas foram feitas nas plataformas de pesquisa online: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD).
Os descritores utilizados para consulta às bases de dados online foram feitas em ordem crescente dos termos “metodologias ativas”; “metodologias ativas no ensino”; “metodologias ativas no ensino de Biologia”; “PBL”. Realizou-se um levantamento das quantidades de trabalhos realizados dentro de cada espectro, caracterizando a pesquisa como quantitativa, mas também com um detalhamento dos trabalhos do último descritor analisando-os de forma qualitativa.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na amostra coletada, observou-se que os trabalhos que possuem como objeto de estudo básico, o uso das metodologias ativas é bastante vasto, com diversos tipos de estudos. Contudo, quando se trata de trabalhos com estudos específicos sobre o ensino de Biologia ainda é pouco estudado, contando com poucos resultados nas bases pesquisadas.
Na base de dados da SciELO, é possível perceber que os trabalhos que abordam o tema são recentes, de forma que a maioria das pesquisas foram realizadas na última década. As palavras-chave “PBL”; “Metodologias ativas”; e “Metodologias ativas no ensino” foram as que mais retornaram resultados. Entretanto, “Metodologias ativas no ensino de ciências” e “Metodologias ativas no ensino de Biologia”, juntas resultaram em apenas 12 resultados, como mostra o quadro 1. Conforme o quadro 1, o resultado para “Metodologias ativas no ensino de Biologia”, especificamente trouxe um resultado (0,15% do total) e nenhum título. Tal percentual retrata o pequeno volume de pesquisas sobre o tema, quando comparado com os outros descritores.
Quadro 1 – Número de produções no Portal Periódicos SciELO
SCIELO | |||||
Palavra chave | Total | Título | 2020-2010 | 2009- | Mais antigo |
PBL | 250 | 36 | 193 | 57 | 1992 |
PBL no ensino | 75 | 0 | 57 | 18 | 2003 |
Metodologias ativas | 185 | 43 | 168 | 17 | 1999 |
Metodologias ativas no ensino | 133 | 07 | 120 | 13 | 1999 |
“Metodologias ativas no ensino” | 5 | 1 | 5 | 0 | 2010 |
Metodologias ativas no ensino de ciências | 11 | 2 | 11 | 0 | 2010 |
Metodologias ativas no ensino de Biologia | 01 | 0 | 1 | 0 | 2018 |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020
O Portal de Periódicos da CAPES foi a base que mais retornou resultados para as palavras-chave pesquisadas. De acordo com o quadro 2, “PBL” levou a 25.682 resultados, porém as palavras-chave “Metodologias ativas no ensino de ciências” e “Metodologias ativas no ensino de Biologia” trouxeram 26 resultados. O resultado para “Biologia”, em específico, representa 0,01%, conforme o quadro 2 e nenhum título. Os trabalhos são recentes, contudo encontra-se achados no ano de 1974, o que pode levar a entender que a pesquisa e uso da PBL no ensino faz parte do universo de educadores desde a década de 70, uma época sem a presença de tecnologias, internet e demais ferramentas presentes no cotidiano atual.
Quadro 2 – Número de produções no Portal Periódicos CAPES
PERIÓDICOS CAPES | |||||
Palavra chave | Total | Título | 2020-2010 | 2009- | Mais antigo |
PBL | 25.682 | 4.621 | 16.665 | 9.017 | 1974 |
PBL ensino | 281 | 24 | 221 | 60 | 1995 |
PBL ensino de ciências | 8 | 0 | 5 | 3 | 2008 |
Metodologias ativas | 855 | 119 | 743 | 112 | 1994 |
Metodologias ativas no ensino | 481 | 61 | 440 | 41 | 1999 |
Metodologias ativas no ensino de ciências | 22 | 1 | 22 | 0 | 2010 |
Metodologias ativas no ensino de Biologia | 4 | 0 | 4 | 0 | 2012 |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020
O Portal BDTD também traz resultados importantes e mais abrangentes que as bases anteriores em relação ao tema estudado. Os resultados das pesquisas “Metodologias ativas” e Metodologias ativas no ensino” foram os maiores, com 478 e 420 no total de cada palavra chave, respectivamente, conforme o quadro 3. “Metodologias ativas no ensino de ciências” revelaram sete títulos e um total de 280 resultados. Tratando-se especificamente do ensino de Biologia, foram retornados dois títulos e 32 citações no total, que faz representar 1,8% de todas as palavras-chave usadas, como pode ser visualizado no quadro 3. Observa-se ainda que os trabalhos são bastante recentes, de forma que o encontrado mais antigo refere-se ao ano de 2002. Os termos são mais abrangentes e com um número de resultados semelhantes para cada descritor. Percebe-se ainda que as pesquisas nesse assunto se deram em maior parte em nível de mestrado, pois os números de dissertações superam os de teses em todas as palavras-chave.
Quadro 3 – Número de produções no Portal Periódicos BDTD
BDTD | |||||||
Palavra chave | Total | Título | 2020-2010 | 2009- | Mais antigo | Dissertações | Teses |
PBL | 243 | 21 | 198 | 45 | 2002 | 179 | 64 |
PBL ensino | 217 | 11 | 178 | 39 | 2002 | 162 | 55 |
PBL ensino de ciências | 157 | 2 | 134 | 23 | 2002 | 121 | 36 |
Metodologias ativas | 478 | 98 | 462 | 16 | 2004 | 380 | 98 |
Metodologias ativas no ensino | 420 | 60 | 410 | 10 | 2004 | 333 | 87 |
Metodologias ativas no ensino de ciências | 280 | 7 | 273 | 7 | 2004 | 226 | 54 |
Metodologias ativas no ensino de Biologia | 32 | 2 | 29 | 3 | 2004 | 25 | 7 |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020
Barros, Santos e Lima (2017) relatam que a ideia de uma prática pedagógica inovadora é um ponto de partida para o desconhecido, representando, muitas vezes, uma ameaça ao posto conquistado. Somente por meio de uma prática reflexiva, crítica e comprometida pode-se promover a autonomia, a liberdade, o diálogo e o enfrentamento de resistências e de conflitos. Eles perceberam também através dos estudos que “as perspectivas das metodologias ativas são predominantes em relação as experiências aplicadas em disciplinas ou atividades de ensino e assistência. Tais experiências são motivadas por interesses pessoais e institucionais, empenhando os docentes na aplicação de inovações pedagógicas”.
Frantz, Marques, Nunes e Marques (2018) relacionaram o uso das metodologias ativas com o as tecnologias digitais. Eles aplicaram atividades que envolvessem o ensino híbrido com a utilização do recurso tecnológico Moodle no ensino de física. Através do estudo os autores notaram que “a experiência vivenciada por meio da prática com ensino híbrido propiciou um processo de construção do conhecimento em rede, por possibilitar a diversidade de ferramentas para a construção do mesmo”.
Silva, et al (2015) discutem o uso do PBL e das metodologias ativas no ensino de saúde e propõem o uso de uma nova metodologia ativa, o ciclo de discussão de problemas (CDP). Eles explicam a metodologia que é inspirada no PBL mas contem 12 passos. As conclusões que eles chegaram foram que “O emprego de abordagens pedagógicas inovadoras tem sido imperativo diante da necessidade de formar profissionais aptos a atender às exigências de um mundo em permanente processo de transformação”.
Cacho, et al (2016) fazem um relato de experiência da metodologia ativa “Exame Clínico Objetivo Estruturado” (do inglês Objective Structured Clinical Examination – Osce). Os sujeitos dessa pesquisa foram 29 estudantes do sétimo período do curso de Fisioterapia. As conclusões dos autores foram que “a metodologia Osce aplicada à avaliação do “saber fazer” na prática fisioterapêutica nos três níveis de atenção à saúde possui confiabilidade interexaminador de satisfatória a excelente, podendo ser um método útil para o processo avaliativo da formação profissional em saúde”.
Gomes, et al (2010) analisaram cinquenta questionários que correspondem a 100% do universo pesquisado, preenchidos ao término do curso pelos estudantes da disciplina Políticas Públicas de Saúde Mental no primeiro semestre de 2007. Segundo os autores, “foi possível proporcionar ao estudante do curso de graduação dos Centros de Ciências da Saúde (CCS) e de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) aprendizagem e vivências no campo das Políticas Públicas de Saúde, especificamente na área da saúde mental, por meio do uso de estratégias pedagógicas que valorizam o ensino centrado no estudante e sua capacidade de construir conhecimento com autonomia”.
Segura e Kalhil (2015) apresentaram as características e os passos para a aplicação de três estratégias baseadas na Metodologia Ativa. A aplicação dessas estratégias no Ensino de Ciências visa promover uma aprendizagem integrada no contexto do cidadão pronto para enfrentar os desafios do cotidiano. Cada etapa tem sua importância, mas dentro do processo cognitivo de aprendizagem, a dimensão atitudinal torna o estudante capaz de desenvolver as habilidades necessárias para tornar-se competente na área de interesse. Por fim, a investigação dessas estratégias no ensino de ciências, dentro de sala de aula, torna-se importante para a produção do conhecimento científico e para o fortalecimento da cultura científica na Educação.
Segundo MARÍN, et al (2017), na metodologia de aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem orientada por projetos ou na pesquisa escolar, identifica-se que os recursos desempenham papel fundamental, principalmente os recursos naturais in vivo que correspondem aos seres vivos e ecossistemas do território, assim como o contexto no qual esses recursos estão inseridos e os diferentes recursos que auxiliam aos alunos a coletar e registrar informações em aulas de campo. As experiências apresentam caminhos a serem explorados no ensino da biodiversidade no contexto brasileiro, abrindo assim as portas para aprofundamento em pesquisa no assunto.
Segundo Guerra e Teixeira (2016), os resultados encontrados evidenciam que quando as metodologias ativas foram implantadas, as notas dos discentes do curso de Ciências Contábeis já vinham historicamente caindo ano após ano. A partir da adoção das metodologias ativas de ensino, percebemos que, mesmo sem o aumento das notas, elas vieram ganhando maturação ao longo do período, talvez pela evolução ou pela maturidade dos professores, dos discentes ou dos responsáveis pelos treinamentos para que as atividades ativas fossem repassadas nas salas. Descobriu-se que, embora a nota dos discentes reprovados tenha caído com as aulas dadas com a metodologia ativa, a diferença média das notas dos aprovados para os reprovados também caiu.
Silva e Souza (2019) relatam a necessidade de se trabalhar a temática ambiental de forma contextualizada para que se possa proporcionar ao aluno o entendimento sobre a relevância do estudo acerca das questões do ambiente independente do curso de formação que tenha sido de sua escolha, sabendo que o ambiente sempre exercerá influência sobre a vida das pessoas, direta ou indiretamente. A discussão dos acidentes trazidos possibilitou o esclarecimento das dúvidas acerca dos conteúdos ensinados nas aulas teóricas e, a partir dos questionamentos dos alunos, foram abordadas questões interdisciplinares sobre tema estudado, bem como foi possível a troca de experiências e conhecimentos entre os próprios grupos de alunos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As produções encontradas na literatura científica, apontam que implementar essa metodologia é uma possibilidade de integrar o uso de variados recursos tecnológicos à prática pedagógica. Percebe-se que os estudos referentes à aplicação específica no ensino de Biologia ainda são incipientes e pesquisas acerca das potencialidades dessa metodologia para o ensino da citada disciplina são pertinentes.
A implementação da PBL no ensino de Biologia pode ser vista como uma ferramenta com alto potencial de melhoria no processo de ensino-aprendizagem, levando o discente a participar efetivamente do processo como protagonista e agente construtor do conhecimento, bem como fazer do docente, um sujeito mediador da aprendizagem, que faz o aluno aprender, valorizando as vivências e experiências. Tal implementação pode ser executada de diferentes formas, como a utilização de materiais didáticos formais, vídeos, jogos, práticas e as tecnologias da comunicação e informação.
Sabendo-se da importância das metodologias ativas, dos seus benefícios, da possibilidade de efetivação bem sucedida do processo de ensino-aprendizagem, a PBL deve ser mais aplicada pelos educadores atuantes no ensino de Biologia (ANDRADE e CAMPOS, 2005). Além da aplicação, cabe aos próprios educadores e pesquisadores, desenvolverem outros trabalhos nesse sentido, a fim de enriquecer a literatura, mesmo sabendo que a mesma já desenvolve trabalhos contemporâneos, buscar novos instrumentos potencializadores da PBL e até mesmo fazer novas descobertas.
Sabendo-se que esse trabalho não pretende esgotar o assunto e diante da incipiência de estudos específicos da aplicação de metodologias ativas para o ensino de Biologia, faz-se necessário outras pesquisas que buscam revisar na literatura, conhecer tal aplicação e suas ferramentas de acordo com as devidas especificidades do tema, além da devida aplicação prática para comparar quais os potenciais benefícios da utilização desses instrumentos.
REFERÊNCIAS
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[1] Pós Graduanda em Docência com Ênfase em Educação Básica pelo IFMG Campus Arcos
[2] Pós Graduando em Docência com Ênfase em Educação Inclusiva pelo IFMG Campus Arcos
[3] Orientadora da Pós Graduação em Docência no IFMG Campus Arcos