ESTÁGIO X SALA DE AULA: A DESAFIADORA FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Eliane Cristina Vieira*
Pós-Graduanda em Docência – IFMG
Resumo:
Este estudo apresenta uma reflexão crítica sobre a dicotomia entre a formação acadêmica nos cursos de licenciatura e a prática do egresso nas salas de aula. A pesquisa utiliza como viés o estágio supervisionado por haver uma forte tendência deste se tornar um território de conflitos entre professores e estudantes, tanto pelo choque com a realidade da escola, quanto pelo isolamento e desarticulação entre a Universidade e o professor orientador na escola. Neste sentido, o estudo contribui para ampliar a discussão sobre a eficiência dos cursos de licenciatura no que se refere a transferência dos conteúdos teóricos para a ação pedagógica no ensino Básico. O estudo tem como objetivo identificar a contribuição do Estágio Supervisionado na formação do professor da Educação Básica e refletir sobre a eficiência da transferência dos conteúdos acadêmicos à prática do professor egresso do curso de licenciatura. Para isso, serão propostos dois questionários a serem aplicados a docentes regentes de aula e licenciandos. Os dilemas dos profissionais da educação fazem parte da sua prática e são vividos pelos graduandos durante o estágio supervisionado, fazendo deste momento de experiência, um espaço privilegiado de aprendizagem e que, portanto, deve ser alvo de reflexão dos cursos de Pedagogia.
Palavras-chave: Estágio; Formação de Professores; Conflitos.
STAGE X CLASSROOM: THE CHALLENGING TEACHER EDUCATION IN BASIC EDUCATION
Abstract:
This study presents a critical reflection on the dichotomy between academic training in undergraduate courses and the practice of graduates in the classroom. The research uses the supervised internship as a bias as there is a strong tendency for it to become a territory of conflicts between teachers and students, both because of the shock with the reality of the school, as well as for the isolation and disarticulation between the University and the advisor teacher at the school. In this sense, the study contributes to broaden the discussion on the efficiency of undergraduate courses with regard to the transfer of theoretical content to pedagogical action in Basic education. The study aims to identify the contribution of the Supervised Internship in the formation of the Basic Education teacher and reflect on the efficiency of the transfer of academic contents to the practice of the teacher who graduated from the undergraduate course. For this, two questionnaires will be proposed to be applied to teachers conducting classes and undergraduates. The dilemmas of education professionals are part of their practice and are experienced by undergraduates during the supervised internship, making this moment of experience a privileged space for learning and, therefore, should be the subject of reflection in Pedagogy courses.
Keywords: Internship; Teacher training; Conflicts.
- INTRODUÇÃO
A elaboração deste trabalho busca apresentar reflexões e elementos teóricos relacionados aos dilemas, conflitos e desafios vivenciados pelos discentes de Pedagogia em formação inicial que se dá durante a realização do estágio supervisionado. Busca também, analisar as dificuldades enfrentadas pelos Docentes iniciantes da Educação Básica e o desafio de articular e gerir as situações desafiadoras do cotidiano, utilizando os saberes adquiridos na Universidade.
Por muito tempo, a formação de professores esteve ligada à concepção de responder aos problemas da educação com as teorias e técnicas científicas, colocando-as em prática somente no final dos cursos de graduação, em segundo plano. Segundo Dias e André (2009,p.1) “(…) não era dada atenção especial à formação de professores para a prática de ensino concreta e real nas escolas”, englobando apenas o conteúdo universal que acreditavam que a prática, apenas remodelava ou reproduzia práticas estabelecidas por professores mais experientes, e que não permitia a construção de novos saberes nos profissionais em início de carreira. Restava, portanto, à universidade apresentar as teorias que, posteriormente, iriam servir para aplicar na prática, isso quando o profissional já estava em exercício na carreira. (DIAS; ANDRÉ, 2009).
Ainda hoje, acreditamos que o maior problema na formação de professores está em fazer da teoria e da prática, segmentos indissociáveis, revelando a sua importância na formação de qualidade. Para Tardif (2004) apud Dias e André (2009,p.2) ” o modelo aplicacionista, o qual é apresentado na maioria dos cursos de formação de professores, estabelece primeiramente, as disciplinas teóricas para posteriormente, serem aplicadas na prática, ou seja, nos estágios obrigatórios”. Nesse modelo, o fazer para aprender em todo o processo de formação é impraticável, além de ignorar os saberes já existentes, concebidos pelos alunos em suas vivências.
Por outro lado, a formação do professor para atuar na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental também é preocupação constante nas discussões acadêmicas. Atualmente, os cursos de licenciatura preparam o professor para a educação básica, porém, é o curso de Pedagogia que assume a responsabilidade em formar esse profissional para a docência na educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental, conforme instituído na LDBEN/96 e nas Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia (DCNs).
O estágio supervisionado na Educação Infantil ganha importância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9.394/96), já que nela a Educação Básica é ampliada, incorporando a Educação Infantil, que passa a ser entendida como a sua primeira etapa. Partindo do pressuposto de que o Art. 62 da Lei n. 9.394/96 preconiza que a formação de docentes para atuar na Educação Básica será feita em nível superior e que a Resolução CNE/CP n. 1/2006, ao estabelecer as Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia, estabelece a docência também na Educação Infantil, o estágio nessa etapa de ensino torna-se obrigatório e necessário.
Com a aprovação da Lei n. 11.274/2006, as crianças com 6 anos de idade, que antes frequentavam a Educação Infantil, passaram a frequentar o primeiro ano do Ensino Fundamental. Assim, os estagiários irão atuar com crianças de 0 a 5 anos de idade e, por essa razão, precisam ter um conhecimento teórico para refletir sobre a prática que irão vivenciar.
Bassedas, Huguet e Solé (1999, p. 20), afirmam que “todos nós temos, em algum momento de nossa vida, uma relação próxima com crianças pequenas. Essa relação ocorre por motivos diversos e proporciona-nos diferentes níveis de conhecimento do mundo infantil”. Bassedas, Huguet e Solé (1999, p. 20), afirmam que “todos nós temos, em algum momento de nossa vida, uma relação próxima com crianças pequenas. Essa relação ocorre por motivos diversos e proporciona-nos diferentes níveis de conhecimento do mundo infantil”.
Pensar no estágio como um momento de circularidade das disciplina, significa não permitir barreiras entre os conhecimentos adquiridos ao longo do curso , não dissociando teoria da prática, buscando sempre o conhecimento aprendido em outras disciplinas para referir e melhorar sua aplicação.
De acordo com Lück o acadêmico precisa entrar em um circuito estabelecendo um sentido de integração consigo mesmo e dele para com a realidade, uma verdadeira ciranda de conscientização. Significa dizer que a circularidade está ligada ao diálogo com as disciplinas e a prática do estágio, interação do conhecimento e realidade.
Para intervir na realidade com consistência teórica é preciso buscar subsídios em todas as disciplinas; conhecer conteúdos importantes que possibilitem compreender melhor a criança que frequenta a Educação infantil, pois essa já possui conhecimentos provenientes de outros grupos sociais.
Portanto, mais importante do que conhecer os conteúdos que deverão ser ensinados, é conhecer como são as crianças que irão estudá-las; Entender porque o conhecimento teórico e a formação continuada são indispensáveis para o profissional da educação; Ter em mente que a garantia de qualidade na educação infantil vai muito além da construção do conhecimento, pois ela deve atingir a reflexão sobre a prática… e isso é muito trabalhoso! Por meio do Estágio Supervisionado o estagiário é “convidado” a refletir sobre as práticas vivenciadas, e assim reconstruir conceitos e ações.
O professor tem um papel extremamente relevante na garantia da qualidade do trabalho realizado nas instituições de Educação Infantil. Cabe lembrar que a formação exigida para o profissional que atua com crianças de 0 a 5 anos é “(…) a mesma daquele que trabalha nas primeiras séries do Ensino Fundamental: nível superior em curso de licenciatura, admitindo-se como formação mínima a oferecida em nível médio na modalidade normal” (BRASIL, 2006, p.32).
Hoje a criança ingressa muito cedo na Educação Infantil, esse fato ocorre pela necessidade da família ter que trabalhar e pela mudança de pensamento da sociedade atual em relação à educação das crianças pequenas. Isso nos faz pensar na necessidade da formação continuada e na garantia de que essas ações desenvolvidas na Ed. Infantil sejam de fato educativas. Contudo, os cursos de capacitação não garantem uma formação satisfatória, é preciso uma formação contínua.
Assim, a qualidade na Educação Básica vai além do conhecimento teórico. Uma construção que deve ser feita com formação teórica e prática, “ exigindo do professor uma capacidade de adaptação de decisões estratégicas inteligentes para intervir nos contextos” (NÓVOA,1991,p.74).
Logo, o professor é responsável pela melhoria do desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, não devendo ser um mero reprodutor de modelos, mas um profissional que utiliza seu conhecimento para desenvolver propostas pedagógicas eficientes.
A formação do professor contribui de maneira significativa para o avanço na qualidade da Ed. Infantil/Básica. O estágio supervisionado é também, uma oportunidade de formação continuada, pois possibilita a reflexão da prática com o conhecimento teórico.
Durante o Estágio Supervisionado os graduandos veem a oportunidade de aprender e compreender o significado da docência. Além disso, podem despertar um olhar reflexivo para o cotidiano da escola (seu funcionamento, a estrutura física, ter contato com a sala de aula, quem são os alunos de hoje, como funciona a gestão da escola, como se dar a relação ensino/aprendizagem e como é ser professor hoje), numa sociedade em constantes transformações e como essas transformações vêm interferindo na escola.
Podemos dizer que, o estágio supervisionado da licenciatura em Pedagogia caracteriza-se como um contexto totalmente novo para alguns graduandos e com isso cheios de dilemas e desafios, na medida em que durante a maior parte do curso de licenciatura ficam distante do contexto escolar. No entanto, o estágio nos dá a certeza que teoria e prática devem caminhar juntas, possibilitando reflexões a cerca da profissão docente e na construção da identidade profissional de educador. Nesse sentido, Selma Pimenta (2004) fala da importância do estágio supervisionado para os futuros educadores e graduando já experientes no magistério.
O estágio supervisionado para os alunos que ainda não exercem o magistério pode ser um espaço de convergência das experiências pedagógicas vivenciadas no decorrer do curso e, principalmente, ser uma contingência de aprendizagem da profissão docente, mediada pelas relações historicamente situadas. (…) O profissional do magistério que se vê diante do estágio supervisionado em um curso de formação docente precisa, em primeiro lugar, compreender o sentido e os princípios dessa disciplina, que, nesse caso, assume o caráter de formação contínua, tendo como base a ideias de emancipação humana (PIMENTA, 2004, p. 102- 126).
Partindo do pressuposto de que a dimensão prática deve ser considerada na formação inicial de professores, entendemos que o Estágio Curricular, se bem fundamentado, estruturado e orientado, configura-se como um momento relevante na perspectiva curricular do processo de formação prática dos futuros professores.
Dando continuidade nessa linha de reflexão de PIMENTA, a autora ressalta a importância e o papel fundamental do estágio supervisionado na formação docente, visto que possibilita ressignificar os saberes, reflexões sobre a profissão da docência e a construção de sua identidade. Além disso, proporciona a formação contínua não somente do profissional experiente, mas do homem como ser histórico-cultural e eterno aprendiz.
No entanto, vale ressaltar que o período de estágio supervisionado é cheio de surpresas, desafios, acontecimentos e algumas dificuldades. Nesse contexto de aprendizagem, pesquisa, troca de experiências e formação contínua, os discentes se deparam com alguns dilemas tais como a relação/distanciamento
da teoria e prática; os saberes docentes; a construção da identidade profissional. Os dilemas dos profissionais da educação, assim como em outras profissões fazem parte do cotidiano do exercício da profissão e são vividos pelos graduandos durante o estágio supervisionado.
Conflitos, Dilemas, Reflexões
Dentro da grade curricular dos cursos está à disciplina Práticas Pedagógicas do Ensino Fundamental. O estágio supervisionado, que se caracteriza por colocar o aluno em contato com a prática visando estabelecer relações entre a teoria e prática. O Estágio de Licenciatura também é componente curricular obrigatório nos cursos de licenciaturas, é uma exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9394/96), tornando-se um momento de construção, de reflexão, de troca de saberes com a comunidade escolar. É uma atividade que precisa ser realizadas pelos discentes, nos futuros campos de atuação profissional, onde os estudantes devem fazer a leitura da realidade, o que exige competências para “saber observar, descrever, registrar, interpretar e problematizar e, consequentemente, propor alternativas de intervenção” (PIMENTA, 2001, p. 76) e de superação.
Ao iniciar o estágio supervisionado do curso de pedagogia, os graduandos têm a ansiedade de estar em contato com a escola, com seu ambiente de trabalho, atravessar a ponte da academia para a realidade da sala de aula, e com isso, colocar em prática a relação entre teoria e prática. Nesse sentido, Selma Pimenta (2004), diz que uma das finalidades do estágio é propiciar ao aluno/professor uma aproximação com a profissão que atuará, possibilitando dialogar a partir da prática com as teorias e saberes adquiridos.
No entanto, esse encontro entre a teoria (os estagiário) e a prática (o exercício da profissão) nem sempre é amigável, pois os graduandos chegam à escola com os conhecimentos adquiridos na academia prontos para colocar em prática, organizados nos planos de aulas, no projeto de intervenção, nas orientações do professor orientador, conhecimentos adquiridos na academia ao longo do curso e a expectativa daquele momento. Encontra a escola e salas superlotadas, alunos ansiosos pelo novo e os professores, muitas vezes, “dando graças” pela chegada dos graduandos, pois ficarão longe da rotina de sala de aula durante o período da regência de estágio. Por outro lado, também enfrentam a hostilidade de professores inseguros que desprezam a participação do estagiário na construção do saber, limitando-o às pequenas atividades, demonstrando indiferença e desinteresse em agregá-lo à equipe. Chamamos a isso de “Segregação Intelectual”.
Nesse contexto, também há professores desmotivados e desacreditados com a profissão, que na primeira oportunidade desmotivam o estagiário, falando das suas angústias e decepções para com a Educação. Por outro lado, há aqueles que, apesar do cansaço, falam do orgulho e prazer de lecionar e da satisfação do fazer docente, mesmo com as dificuldades existentes, afirmam que é a profissão que escolheram.
O estagiário no exercício da profissão, vive os dilemas entre a teoria e prática, em especial, no que se referem as quais elementos, quais teóricos, qual linha de pensamentos pretende seguir, quais metodologias serão mais apropriadas para determinados assuntos ou alunos. Neste período, muitas perguntas surgem a exemplo: “como devo atuar com essa turma?”; “será que seremos aceitos pelos alunos?”; “com que tipo de pessoas vamos trabalhar?”; “qual é o tipo de realidade dessas crianças?”. Então, o pedagogo em formação deixa de perceber o outro, suas especificidades, o espaço físico, a acessibilidade, a prática social, a cultura da localidade, a maneira como a escola se mobiliza para resolver os problemas, seja ele de caráter disciplinar, coletivo ou individual, suas regras, a relação entre professor e alunos, a relação entre os demais atores da escola e os alunos.
São muitas as variantes e os desafios da escola na contemporaneidade. O estagiário se não estiver atento e sensível a estas diversidades de informação poderá perder a oportunidade de aprender um pouco mais sobre esse processo tão dialético que é a educação.
Além disso, cortar o vínculo com o que foi planejado na universidade em determinado momento, torna-se mais um dilema, pois ele foi preparado para desenvolver e aplicar os conhecimentos adquiridos na graduação.
Intui-se que tanto o professor quanto o pedagogo em formação deve se tornar um bom pesquisador em sala de aula. A pesquisa na sala com os alunos servirá para o educador, como um termômetro que lhe indicará em qual momento sua metodologia está falhando ou não está funcionando para todos os alunos. Quanto a ser um “pesquisador”, teóricos como Nóvoa (2002, 2009), Veiga (2002) Pimenta (2001), compartilham a ideia de que durante o estágio o docente adote sua prática como objeto de constante investigação no intuito de melhorá-la, de transformá-la e de se transformar no próprio processo de ação-reflexão-nova ação.
O estágio se caracteriza por colocar o aluno em contato com a prática visando estabelecer relações entre a teoria e prática. Segundo Selma Pimenta (2004) não é um momento de receitas prontas ou imitação de modelos, mas de reflexão sobre as situações da sala de aula, é um momento de pesquisa. No estágio, as inquietações vivenciadas durante todo o curso vêm à tona é nesse momento que aparecem os dilemas, os quais muitas vezes é difícil escolher entre múltiplas possibilidades, a melhor ação ou atitude para atuar em determinada situação.
Podemos trazer vários elementos das contribuições do estágio, entretanto a experiência não vai ensinar ninguém a ser professor, entretanto apresenta elementos discursivos, dinamização de outros saberes e a indignação que pode ser o propulsor de subsidiar um educador com um diferencial a mais, um professor pesquisador. A vivência com seus alunos, os problemas apresentados na escola, os dilemas vivenciados pelos professores ou pedagogo em formação, toda essa experiência pode desencadear uma pesquisa.
Segundo Selma Pimenta,
Nessa perspectiva, a pesquisa é componente essencial das práticas de estágio, apontando novas possibilidades de ensinar e aprender a profissão docente, inclusive para os professores formadores, que são convocados a rever suas certezas, suas concepções do ensinar e do aprender e seus modos de compreender, de analisar, de interpretar os fenômenos percebidos nas atividades de estágio. Assim o estágio torna-se possibilidade de formação contínua para os professores formadores (PIMENTA, 2004, p. 114).
Nesse sentido, um professor pesquisador é de suma importância para um melhor desenvolvimento do seu trabalho, fundamental para o aperfeiçoamento da prática. Nesse processo a ação reflexão gera uma ação reflexiva. Para Nóvoa (Apud, CARDOSO, 2008) o professor é um profissional dotado de competência para produzir conhecimento sobre o seu trabalho que permitindo-lhe uma retroalimentação, uma reflexão crítica a ponto de serem reformulados os conteúdos durante o processo de sua formação (NÓVOA, 2002, p.22).
Além disso, para o teórico “[…] O trabalho de formação deve estar próximo da realidade escolar e dos problemas sentidos pelos professores. É isto que não temos feito”. (NOVOA, 2009, p. 23).
Entende-se então que o estágio não é um minicurso preparatório para estudantes de licenciatura, não é uma reafirmação de nossa escolha de curso, ele vai muito, além disso, é por meio da regência que poderemos refletir nossa práxis e perceber se conseguimos alcançar nossos objetivos quanto o ato de educar que esperamos ter e é vivenciando o estágio que os futuros professores podem aprender com os profissionais da área que já atuam há mais tempo.
Portanto, diante do que foi visto, percebe-se que todo graduando de Pedagogia passa durante o seu processo de formação por muitas aprendizagens e dilemas e desafios. Conforme menciona Pozo (2002, p, 60), “aprender implica mudar os conhecimentos e os comportamentos anteriores”. É necessário abraçar o novo conhecimento para que possamos obter um estágio cheio de bons significados e de aprendizado consistente e duradouro.
- PLANEJAMENTO DIDÁTICO E METODOLÓGICO
Durante o estágio supervisionado, os graduandos veem a oportunidade de aprender e compreender o significado da docência. Além disso, podem despertar um olhar reflexivo para o cotidiano da escola (seu funcionamento, a estrutura física, ter contato com a sala de aula, quem são os alunos de hoje, como funciona a gestão da escola, como se dar a relação ensino/aprendizagem e como é ser professor hoje), numa sociedade em constantes transformações e como essas transformações vêm interferindo na escola.
Portanto, para melhor compreendermos a experiência sob o olhar destes graduandos, estruturamos o planejamento didático e pedagógico que contempla os seguintes tópicos:
- Pesquisa Exploratória com a aplicação de questionário,
- Entrevistas com professores iniciantes da Educação Infantil (2 a 5 anos de docência) e estagiários iniciantes na Instituição,
- Coleta e compilação de dados, análise e conclusão,
- Estagiários: sugestões para implementação de minicursos com temas diferenciados, diversificados e específicos com o intuito de aperfeiçoamento e capacitação dos futuros professores. Contemplará um calendário anual, cronograma mensal com divisão de carga horária com conteúdos direcionados aos egressos já em seu primeiro ano de estágio na instituição.
Dessa forma, ao seguir esses passos, o docente terá informações suficientes para analisar e refletir sobre a formação docente dos estudantes de cursos de licenciatura. A título de exemplo, foram elaborados dois questionários norteadores para guiar essa investigação. A Figura 1 ilustra o questionário a ser respondido pelos estudantes e a Figura 2 representa o questionário a ser respondido pelo docente.
Figura 1 – Questionário 1
Figura 2 – Questionário 2
- RESULTADOS e DISCUSSÕES
Em alguns cursos de licenciatura, a teoria e a prática representada pelo estágio supervisionado apresentam-se fragilizadas no que diz respeito à sua eficiência. A teoria dissociada da prática continua sendo criticada, apesar da legislação acenar para uma ênfase da prática.
Teoria e prática na maioria das vezes não se encontram e os estudantes, em seus estágios, identificam na intuição a fonte das estratégias pedagógicas, porém, não conseguindo estabelecer o vínculo entre esta sua intuição e os conhecimentos teóricos aprendidos durante sua formação universitária.
Figura 3 – Estágio Supervisionado
*Fonte: Extraído trabalho acadêmico Universidade do Estado da Bahia – UNEB Departamento de Ciências Exatas e da Terra Campus II, Portfolio Licenciatura em Ciências Biológicas, Caroline Cerqueira Maciel, Alagoinhas, BA 2010
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O período de estágio supervisionado é cheio de surpresas, desafios, acontecimentos e algumas dificuldades. Nesse contexto de aprendizagem, pesquisa, troca de experiências e formação contínua, os graduandos se deparam com alguns dilemas tais como a relação/distanciamento da teoria e prática; os saberes docentes; a construção da identidade profissional.
Os dilemas dos profissionais da educação fazem parte da sua prática e são vividos pelos graduandos durante o estágio supervisionado, fazendo deste momento de experiência, um espaço privilegiado de aprendizagem e que, portanto, deve ser alvo de reflexão contínua dos cursos de Pedagogia.
- REFERÊNCIAS
ANDRÉ, M.; DIAS, H. A incorporação dos saberes docentes na formação de professores. Revista Brasileira de Formação de Professores, América do Norte, p. 1-14, 2009.
BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na educação infantil. Porto Alegre: ARTMED, 1999.
BURIOLLA, M. A. F. O Estágio Supervisionado. Editora Cortez, 2009.
LÜCK, H. Ação Integrada: Administração, Supervisão e Orientação Educacional. Editora Vozes, 2011.
NÓVOA, A. A formação contínua de professores: realidades e perspectivas. Aveiro: Universidade de Aveiro, 1991.
NÓVOA, A. Professores: Imagens do futuro presente. Educa, Lisboa, 2009.
PIMENTA, S.G.; SOCORRO, M. L. O estágio e a formação inicial e contínua de professores. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2010.
PIMENTA, S. G. Formação dos profissionais da educação: visão crítica e
perspectivas de mudança. Educação & Sociedade, Campinas, n. 68, p.239-277, 1999.
POZO, J.I. Aprendizes e mestres A Nova Cultura da Aprendizagem. Instituto de psicologia, Universidade Autônoma de Madri. Editora Artmed, 2002.
ROMANOWSKI, J.P. Formação do Professor da educação infantil e do anos iniciais do ensino fundamental. Curso de Pedagogia, 2007.
TARDIF, M. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários. Revista Brasileira de Educação. ANPED, n. 13, p. 5-24, 2000.
______________________________________________________________
* Graduada em Pedagogia pela UNISANTA-Universidade Santa Cecília e Graduada em Relações Públicas pela PUCC-Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Especialista em Marketing pelo INPG-Instituto Nacional de Pós-Graduação e Graduando em Formação Docente pela IFMG-Instituto Federal de Minas Gerais. E-mail: elianevieira1462@gmail.com