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Ansiedade na Educação em Tempos de Pandemia COVID-19

Ansiedade na Educação em Tempos de Pandemia  COVID-19

 

Valéria Leite Clementino do Nascimento [[i]]

Valdecira Aparecida da Silva Moreira[[ii]]

 

Valéria Leite Clementino do Nascimento – Psicóloga- Especialista em Avaliação Psicológica, psicóloga da Secretária Municipal de Educação e Cultura-Colorado do Oeste-SEMEC – leripsipaulo@gmail.com

Resumo: Este estudo trata de um tema atual, “Ansiedade na Educação em Tempos de Pandemia COVID-19”. O artigo em questão tem por objetivo refletir como pais e educadores têm lidado com a ansiedade em período de pandemia/isolamento social. A pesquisa tem abordagem qualitativa e baseia-se em um estudo bibliográfico e pesquisa de campo, recorrendo-se a observações e conversas com professores e pais para análise pertinentes ao tema em investigação. As questões que nortearam este trabalho foi: a pandemia, o isolamento social contribuiu com a elevação de ansiedade e déficit de atenção nos alunos? Pais e educadores estão no mesmo barco? Existem alternativas para amenizar a ansiedade? Os resultados evidenciaram que ansiedade é um tema que deve ser discutido por pais e educadores, qualidade de vida interfere diretamente na qualidade de aprendizagem dos alunos.

 

Palavras-chave: Ansiedade; Pandemia; Educação.

Abstract: This study deals with a current theme “Anxiety in Education in Times of Pandemic COVID-19”. The article in question aims to reflect how parents and educators have dealt with anxiety in times of pandemic / social isolation. The research has a qualitative approach and is based on a bibliographic study, and field research, using observations and conversations with teachers and parents for analysis relevant to the topic under investigation. The questions that guided this work were: did the pandemic, social isolation contribute to the increase in anxiety and attention deficit in students? Are parents and educators in the same boat? Are there alternatives to alleviate anxiety? The results showed that Mental Health is a topic that should be discussed by parents and educators, quality of life directly interferes with the students’ learning quality.

Keywords: Anxiety; Pandemic; Education.

Introdução

Valdecira Aparecida da Silva Moreira – Mestra em Ciências da Educação/UDS; Professora Nível III SEDUC/RO. valdeciracolorado@hotmail.com

Para elucidar as indagações que levaram a produção do presente artigo, as pesquisadoras recorreram a estudo bibliográfico, participação em Seminário Saúde Mental ocorrido nos dias 21 a 25 de setembro 2020 com palestrantes: psicóloga, psiquiatra, entre outros, pesquisa de campo, diálogo com professores e pais.

         Pesquisas na internet evidenciam que em março de 2020, a educação pública e privada no Brasil entrou em regime de isolamento social em virtude da pandemia provocada pelo COVID–19. Momento no qual desencadeou ansiedade, estresse, sofrimento em milhares de estudante em todo o país.

         A partir de março, início de abril de 2020, os profissionais da educação no Brasil, somado aos estresses e ansiedade vivenciados em decorrência do isolamento social tiveram que aprender em tempo recorde como usar as tecnologias digitais com excelência. Como preparar e ministrar aulas remotas, como lidar com as angústias e ansiedades. Veja:

Podemos dizer que o que iria talvez ocorrer na educação em uma década acabou acontecendo de forma “emergencial” em um, dois ou três meses. Os professores estão aprendendo mais do que nunca a criar aulas online, testando, errando, ajustando, se desafiando a cada dia (BEHAR, 2020, s/p).

Aliado ao novo aprendizado digital os professores também tiveram que aprender a como orientar as famílias, os alunos a aliviarem suas tensões a se acalmarem. E como aproveitarem o momento para conhecerem melhor seus filhos, a dialogarem mais, a encontrar novas alternativas e a estreitarem laços de solidariedade antes adormecidos em muitas famílias.

Segundo dados da Ipsos, quatro em cada dez brasileiros (41%) têm sofrido de ansiedade como consequência do surto do novo coronavírus.  No entanto a grande preocupação é que o brasileiro tem se preocupado pouco com a saúde mental.

Ansiedade e sobrecargas de informações

            A vida moderna oferece inúmeras fontes de informações, as tecnologias digitais disponíveis com uso sem controle e ausência de atividades físicas, brincadeiras, recreação, provoca sobrecarga muito grande.

         Para Busato, (2017) a ansiedade é uma reação do organismo que envolve processos psicológicos, físicos, mentais e hormonais e que ocorre diante da necessidade de uma adaptação a um evento ou situação importante.

            Em Carta aberta aos pais, o psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury(2015), no livro Ansiedade como enfrentar o mal do século para filhos e alunos alerta pais e educadores sobre a importância do brincar e as armadilhas em decorrência à sobrecarga de informação provocada pela vida moderna.

Temos saturado nossos filhos e alunos de atividades, jogos, cursos, computadores, internet, videogames, celulares e horas a fio de televisão. É uma geração que não tem tempo para brincar, se aventurar, se interiorizar e muito menos para lidar com frustrações e elaborar suas experiências (CURY, 2015, p. 181)

         O autor na obra acima citada alerta sobre os perigos desenfreados de acúmulos de informações. Segundo o autor os pais e professores se preocupam com conhecimento em diversos componentes curriculares básicos exigidos nas escolas, no entanto não se empenham com a mesma dedicação a “funções não cognitivas” que determinarão o sucesso profissional, social e emocional dos filhos.

         Em tempos de pandemia os professores relatam que é comum ver filhos, alunos se queixarem de cansaço, dores de cabeça, dores musculares, dificuldades para dormirem, intolerância e déficit de memória. O que é incomum são os pais e professores se perguntarem quais os fatores que estão levando as crianças a esse estado de sofrimento e como resolver o problema.

         Nesse ínterim Cury aborda: “Várias são as causas dessa síndrome coletiva. Entre elas, o excesso de atividades, o uso intenso de celulares e internet, os jogos de videogames sem limites e, em destaque, o excesso de informações.”

         Cabe aos pais, o controle das atividades diárias das crianças pequenas, organizar rotinas com espaço para a ludicidade e o diálogo em família. Sobre como diminuir os excessos dos conteúdos, em período de pandemia Celso Antunes (2020) entende que cabe essa função a equipe docente que deve pensar sempre nos conteúdos imprescindíveis e os complementares e, dessa forma, priorizar o `bem saber ́ que o `muito memorizar ́ e, dessa forma, acreditar que uma escola e/ou família que `bem educa ́ vale bem mais que outra que abriga a ingênua suposição de que o bastante vale mais que o essencial.

            Antunes(2020) em: celsoantunes.com.br/editorial/ afirma que parece ser necessário propor, no lar e na escola, uma educação dos sentidos, desenvolvendo estratégias que mais parecem brincadeiras em que se estimula o paladar, olfato, tato, visão e audição.

         São ações que aparentemente parecem simples, no entanto caso não sejam estimuladas podem desencadear nos alunos crises de ansiedades e déficit de atenção. O simples fato de chamar os filhos para auxiliar em pequenas tarefas domésticas junto aos pais, pode fazer a diferença entre adulto saudável emocionalmente e pessoa com alto nível de irritabilidade e despreparo para a vida em sociedade.

         É na família, por meio de pequenas ações que se constroem virtudes necessárias para o sadio convívio na sociedade.

As armadilhas provocadas pelo excesso do uso das tecnologias digitais na educação em tempo de pandemia

            Os docentes relatam a preocupação com qualidade do controle dos pais em relação ao uso da tecnologia pelas crianças. Pelo fato dessas ainda não terem maturidade suficiente para filtrarem os lixos tecnológicos da internet e a falta de controle dos pais que acreditam que os filhos estão o dia todo fazendo tarefas escolares, sem realizar monitoramento nos celulares e computadores dos filhos.

         Na entrevista concedida ao jornal ‘O Globo’, Cury alerta para os problemas provocados pelo uso excessivo de mídias digitais, na qual ele chama de “mendigos emocionais”. O ser humano não sabe mais lidar com o tédio e a solidão, porque está intoxicado digitalmente.

         As palavras de Augusto Cury, se confirmam apenas ao observar as atitudes da maioria dos jovens, adolescentes e crianças que não conseguem ficar 24 horas longe dos celulares. Para o autor a síndrome de intoxicação digital faz com que as pessoas sintam um vazio existencial se não estiverem conectadas.

         Essa alerta nos conduz a uma reflexão, enquanto pais e educadores, o que estamos fazendo com nossas crianças? Quantas horas por dia separamos para o lazer em tempos de isolamento social e quando digo lazer pode ser o simples fato de assistir em família um filme, preparar uma comida e degustá-la em família a simples conversa, sem compromisso, conversar por conversar.

         Gohn (2020) faz uma alerta aos pais e educadores sobre como proceder em tempos de pandemia, isolamento social sem provocar tantas incertezas, angústias e sofrimentos em nossos pequenos.

Segundo Gohn (2020) há a possibilidade da aplicação da educação não formal em tempos de coronavírus e a partir dessa prática cria-se com os alunos uma leitura do mundo. Voltada para a reflexão, compreensão e resolução de problemas cotidianos, sendo positiva na formação e construção da cidadania, em qualquer nível social, possibilitando ganhos na inclusão social e civilizacionais.

Em tempos de crise o ideal é rever valores, se reinventar, aproveitar o tempo para aprender e principalmente se reorganizar.

Considerações finais

          As ansiedades docentes são decorrentes de diversos fatores entre eles a mudança de local de trabalho, a falta do contato físico com os alunos, somado a estes fatores ainda tem o medo do contágio da doença.

Além do medo de contrair a doença, a COVID-19 tem provocado sensação de insegurança em todos aspectos da vida, da perspectiva coletiva à individual, do funcionamento diário da sociedade às modificações nas relações interpessoais (Lima et al., 2020; Ozili & Arun, 2020)

         Vale lembrar que em tempos de pandemia, estamos todos na mesma tempestade, mas não estamos no mesmo barco, ou seja, os professores ainda estão conseguindo trabalhar home office, fato que promove o aumento da ansiedade, pois por diversas vezes este provoca a sensação do “já que estou trabalhando em casa deveria dar mais atenção a minha família”, no entanto o trabalho em casa aumentou, os docentes levam horas e horas preparando atividades e orientado as famílias e alunos, somando as incertezas do que será que estou no caminho certo? Da dor da parda de um amigo, aluno, parente ou conhecido que perdeu a luta para o vírus, perda sim do direito de sair de casa, de receber carinhos dos alunos, do olho no olho na hora de ensinar e tantos outros direitos já adquiridos pelo exercício da profissão.

         Do outro lado os pais, alguns com jornada dupla, com medo de estar trazendo contaminação para dentro de seus lares, do desemprego, da dor e sofrimento de perder amigo, parentes, conhecidos pelo contágio do vírus. Somando ao fato de que antes as crianças estavam na escola, poderiam trabalhar na certeza de que estavam bem cuidadas, protegidas. Agora sozinhos em casa e ou na companhia de irmãos, a incerteza de como eles estão, provoca inúmeras crises de angústia e ansiedade nos pais, que muitas vezes em um ato involuntário descarregam toda uma carga emocional nos professores, que precisam de cautela, calma, sanidade para administrar a situação.

         Portanto é preciso repensar a frase estamos todos no mesmo barco, porque seguramente estamos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco.

         As pesquisas levam a crença de que não existe vida saudável sem atividades física e sem organização que é possível em tempos de pandemia, isolamento social ter vida saudável e aprender muito a cada dia de forma tranquila sem sofrimento. E que ansiedade, estresse podem e devem ser tratados, que atitudes simples tais como falar sobre o assunto pode levar a alternativas viáveis e de simples aplicabilidade, aliviar tensões e resolver ou amenizar as crises de ansiedade.

         A ansiedade é própria do ser humano, no entanto a alerta ocorre no sentido de que existe um nível tolerável, quando ela começa a provocar doenças físicas, baixo rendimento, insônia, déficit de atenção é hora de procurar ajuda.

         Pesquisas na internet apontam técnicas simples que podem amenizar os transtornos provocados pela ansiedade, meditação, exercícios de respiração, exercícios físicos, alimentação e o próprio contato social para expor os sentimentos. Quando se trata de casos mais graves de ansiedade existe a necessidade de ajuda profissional.

 

 Referências Bibliográficas

 

ANTUNES, Celso. Disponível em: http://www.celsoantunes.com.br/editorial. Acesso em 13/09/2020.

CURY, Augusto, sobre a pandemia: “oportunidade para reinventar” 23 de junho de 2020 Extraído de O Globo, Adaptado por Comunhão https://comunhao.com.br/augusto-cury-isolamento-social-pandemia/.

Busato, P., Garbin, R. R.; Santos, C. N.; Paranhos, L. P.; Rigo, L. Influência da ansiedade materna na ansiedade infantil frente ao atendimento odontológico: estudo transversal.Sao Paulo Med. J.,vol.135, n.2, p.116-122, 2017

 

BEHAR, Patricia  Alejandra. O Ensino Remoto Emergencial e a Educação a Distância. In:  Jornal da Universidade . Secretaria de Comunicação Social da UFRGS. Disponível em: https://www.ufrgs. br/jornal/o-ensino-remoto-emergencial-e-a-educacao-a-distancia/. Acesso em: 06/08/2020

FAUSTINO, Lorena Silva e Silva; RODRIGUES SILVA E SILVA, Tulio Faustino. EDUCADORES FRENTE À PANDEMIA: DILEMAS E INTERVENÇÕES ALTERNATIVAS PARA COORDENADORES E DOCENTES. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 3, n. 7, p. 53-64, aug. 2020. ISSN 2675-1488.

GOHN, M. G. “Educação não formal: Direitos e aprendizagens dos cidadãos (ãs) em tempos do coronavírus”. Humanidades & Inovação, vol. 7, n. 7, 2020.

IPSOS- Pesquisa sobre ansiedade durante a pandemia  www.ipsos.com/ipsos-mori/en-uk/public-opinion-covid-19-coronavirus-pandemic. Acessado em 20/09/2020

 

Lima, C. K. T., Carvalho, P. M. M., Lima, I. A. S., Nunes, J. A. V. O., Saraiva, J. S., Souza, R. I., … Rolim Neto, M. L. (2020). The emotional impact of coronavirus 2019-Ncov (new Coronavirus Disease). Psychiatry Research 287, e112915. https://doi.org/10.1016/j.psychres.2020.11291

Ozili, P., & Arun, T. (2020). Spillover of COVID-19: impact on the global economy. SSRN Preprints . https://doi.org/10.2139/ ssrn.3562570

 

 

[[i]]Psicóloga- Especialista em Avaliação Psicológica, psicóloga da Secretária Municipal de Educação e Cultura-Colorado do Oeste-SEMEC –  leripsipaulo@gmail.com

[[ii]]Mestra em Ciências da Educação/UDS, Pedagoga, Especialista em gestão escolar, Inclusão na EJA, Mídias na Educação, Métodos e Técnicas de Ensino, pós graduanda em Gestão Pública MBA-IFRO;Professora Nível III SEDUC/RO.  valdeciracolorado@hotmail.com

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