SPEED READING: UMA ANÁLISE SOBRE AS TÉCNICAS DE LEITURA NA FORMAÇÃO DO LETRAMENTO DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA EEEFM MOACYR CARAMELLO, DE CHUPINGUAIA, RO
Patrícia Berlini Alves Ferreira da Costa*
Resumo: Esse artigo trata sobre a técnica de leitura dinâmica, Speed Reading, mais especificamente do método Wood, e sua possível contribuição para a formação do letramento dos alunos do 1º ano, do Ensino Médio, da EEEFM Moacyr Caramello, de Chupinguaia/RO. O principal objetivo desse trabalho é mostrar a funcionalidade da técnica e seus resultados a partir da prática pedagógica. Para isso, realizamos com os discentes 50 testes a fim de comprovar se o método funciona na construção da aprendizagem do aluno.
Palavras-chave: Técnica; Leitura dinâmica; Método Wood; Aluno.
Abstract: This article is about the dynamic reading technique, Speed Reading, more specifically the Wood method, and its possible contribuition to the formation literacy of the students in junior year, of the High School, at Moacyr Caramello, of Chupinguaia/RO. The main goal of this work is to show the technique’s functionality and results from the pedagogical practice. For this, we conducted 50 tests with students in order to comprove if the method works in the construction of the student’s learning.
Keywords: Technique; Dynamic Reading; Wood Method; Student
Introdução
Comenta-se, com frequência, a respeito das dificuldades de leitura e de interpretação de texto de muitos alunos dos 1º anos do Ensino Médio, da EEEFM Moacyr Caramello, de Chupinguaia/RO. Diante disso, ao fazermos uma análise do contexto atual, percebemos que essa problemática parte de um déficit na trajetória escolar do aluno desde as séries iniciais. Nesse sentido, em face da realidade, pensamos em uma proposta de intervenção no ensino de Língua Portuguesa através da prática pedagógica do professor de Linguagem.
De fato, ao examinarmos alguns estudos relativos a estratégias de leitura e interpretação de texto, verificamos, no decorrer da história norte-americana e posteriormente brasileira, o surgimento de algumas técnicas, conhecidas como: dinâmica de leitura, leitura rápida ou speed reading. Técnicas que foram aprimoradas na intenção de melhorar a velocidade e a produtividade leitora da geração do século XX e XXI.
Em razão disso, o método Wood, por exemplo, muito usado na década de 50, criado pela professora Evelyn Wood, proporcionou a muitos leitores da época o aumento de sua velocidade e absorção de bastante conhecimento em um período curto de tempo. Método esse que foi utilizado pelos membros do governo de John Kennedy, presidente dos EUA, por volta de 1961.
Em virtude da atual situação educacional brasileira, alguns professores universitários rebatem a ideia de que haja alguma maneira de se abstrair conhecimento por intermédio de uma técnica de leitura cujo método é o uso de um cronômetro para mensurar quantas palavras o indivíduo lê por minuto. Isso porque trata-se de uma prática pedagógica que se utiliza da memorização para concursos e vestibulares – o que de fato afetaria a assimilação de conhecimento a longo prazo. Ora, eis aqui um questionamento: Será que a leitura dinâmica funciona?
Recentemente, tal tópico foi publicado em livro, cujo título: Leitura dinâmica e aprendizagem, pelo professor de inglês Geraldo Caravantes, que inspirado por uma matéria na revista O Cruzeiro sobre o presidente Jhon Kenned e suas habilidades com a leitura, colocou-se em teste na escola Evelyn Wood Reading Dynamics obtendo resultados satisfatórios. Com ele, o professor de Língua Portuguesa e Literatura Paulo Lebur fez uma parceria de destaque na publicação da teoria partindo do processo de ensino e aprendizagem.
Pensando nisso, projetamos colocar o método Wood em teste com os alunos do 1º anos do E.M da EEEFM Moacyr Caramello a fim de melhorar o índice de leitores em qualidade, produtividade e absorção de informações, para as atividades extraclasses a curto prazo. Do ponto de vista educacional, percebe-se a relevância de um estudo que se coloque em prática os testes de leitura dinâmica no intuito de averiguar sua funcionalidade e a sua contribuição para a formação do letramento. Será possível o aluno se tornar letrado a curto prazo?
Hipoteticamente, o aluno que se utiliza da técnica de leitura dinâmica tende a aumentar a velocidade de palavras lidas por minuto dando ênfase a sua produtividade estudantil. Entretanto, aquele que não se faz uso de estratégias tende a levar um tempo maior para a realização de suas atividades visto que a técnica de leitura dinâmica contribui para a sua organização textual.
Pressupondo tal situação, a produtividade do aluno pode não só variar conforme sua organização como também a produção dos trabalhos extraclasses pode variar de acordo com a técnica de leitura escolhida por ele. Ainda, o aumento na qualidade de leitura do estudante pode ser divergente conforme o uso adequado da técnica e sua rotina de aplicação bem como a absorção desse conteúdo pode ser divergente de acordo com o grau de leitura no qual o aluno se encontra – o que supostamente formaria o letramento dos alunos em tempos diferentes.
Assim, é de grande valia para a comunidade escolar e científica, que sejam analisadas a funcionalidade da técnica de leitura dinâmica, além de constatar a utilização dos métodos de leitura para o aumento da produtividade estudantil e para formação do letramento.
A leitura dinâmica como técnica
Segundo o maratonista Alberto Dell’Isola[1] (2010), no início do séc. XX houve uma explosão editorial estimulando muitos leitores a lerem mais livros em menor espaço de tempo. Dessa forma, surgiram os cursos de leitura dinâmica deixando para trás a leitura convencional com os vícios de vocalizações e subvocalizações. Pode-se afirmar que os pioneiros que deram origem a esse tipo de leitura foi a Força aérea norte-americana. Para o autor,
Naquela época, alguns técnicos táticos observaram que, durante o voo, um certo número de pilotos estava tendo dificuldades em distinguir os aviões aliados e inimigos, durante o combate. Essa inabilidade trazia tanta desvantagem para os Estados Unidos que psicólogos e pedagogos da Força Aérea norte-americana começaram a investigar possíveis soluções para esses problemas. Após bastante pesquisa, esses estudiosos desenvolveram uma máquina chamada taquitoscópio. O taquitoscópio é uma máquina bem simples, capaz de projetar diversas imagens em uma tela, uma após a outra, com intervalos de tempo bem definidos (DELL’ISOLA, 2010, p.17).
Dessa forma, Dell’Isola (2010) explica que para verificar a capacidade dos pilotos em discernir os tipos de aeronaves, eram projetados em uma tela aviões aliados e inimigos em um intervalo de tempo grande. Gradativamente, as imagens diminuíam o tamanho e o intervalo de tempo era reduzido conforme cada projeção. Logo, após um período de treinamento, os cientistas descobriram que os pilotos conseguiam identificar em 15 centésimos de segundo até a menor das aeronaves na tela. Com a mesma técnica, treinamento e equipamento, os cientistas começaram a utilizar a leitura para a projeção de palavras absorvendo que os indivíduos eram capazes de identificar até quatro palavras, simultaneamente, em centésimos de segundos. Foi assim que surgiram os primeiros indícios de cursos para a leitura dinâmica.
De acordo com o recordista (DELL’ISOLA, 2010, p.18), esses “cursos geralmente ofereciam ao aluno um gráfico onde eram anotados seus progressos”. Assim, quando se trata de eficiência, era oferecida aos alunos uma escala de palavras organizadas em um eixo; um aluno que lia inicialmente 200 palavras por minuto, após o treinamento, lia até 400 palavras. No entanto, no decorrer dos treinamentos muitos alunos ficavam insatisfeitos e retornavam ao modelo de leitura tradicional cuja velocidade era a mesma de anteriormente.
Por outro lado, Dell’ Isola (2010) afirma que pesquisadores descobriram pessoas cuja leitura entre 200 e 400 palavras por minuto eram feitas sem qualquer esforço; somente pela motivação de os alunos participarem de um treinamento de leitura. Isso quer dizer que a velocidade para ler um conjunto de palavras nada tinha a ver com o taquitoscópio. Apesar desses avanços na literatura,
Foi apenas no final dos anos 50 que seria desenvolvido um método realmente prático de leitura dinâmica. Evelyn Wood, professora e pesquisadora, passou a investigar o motivo pelo qual algumas pessoas, naturalmente, liam bem mais rápido do que as outras. Desse modo, ela passou a buscar técnicas que a possibilitassem ler mais rápido. No entanto, os relatos dos leitores dinâmicos naturais não eram muito úteis: grande parte deles não sabia como eram capazes de ler tão rápido (DELL’ISOLA, 2010, p.18).
Certa vez, Wood, enquanto limpava os livros de sua biblioteca, percebeu que seus olhos seguiam os toques de sua mão trazendo certa suavidade ao tocar as páginas dos livros. Logo, a professora usou dessa percepção para utilizar uma das mãos como método de leitura dinâmica. Dessa forma surgiu o método Wood. “Evelyn também foi a responsável pela criação do termo speed reading, termo utilizado nos países de língua inglesa para se referirem a leitura dinâmica” (DELL’ISOLA, 2010, p. 18).
Ao destacar o speed reading como método de leitura rápida, Maurício Brum publicou uma reportagem na revista: Superinteressante, datada do dia 4 de julho de 2018, cujo relato apresenta a habilidade de leitura do presidente americano Jonh F. Kenned ao absorver uma grande quantidade de informações em poucos minutos o que justificaria o seu sucesso político. Tanto em Harvard quanto na eleição de 60, Kenned apresentou-se mais veloz que seus colegas ao se empenhar na aprendizagem por meio da leitura.
Logo, quando JFK entrou no governo americano, o repórter (2018) ressalta que o presidente revelou ao público seus métodos de leitura rápida atraindo várias pessoas para investirem em seu currículo profissional através de técnicas speed reading; a leitura dinâmica estava associada a qualquer indivíduo ser bem-sucedido. Entretanto, “nem todos eram capazes de fazer aquilo naturalmente” (BRUM, 2018, p.1).
Estima-se que JFK fosse capaz de ler em torno de mil palavras por minuto, o que o colocaria entre os 1% da população mundial que efetivamente consegue superar a média de uma pessoa adulta relativamente habituada à leitura — entre 250 e 300 palavras por minuto, dependendo da complexidade do texto e do tema abordado nele. Kennedy sabia disso e, para treinar os membros de seu gabinete em uma habilidade que para ele vinha de berço, contratou uma professora especializada no assunto: Evelyn Wood, a precursora dos cursos de leitura dinâmica que existem hoje (BRUM, 2018, p. 1).
De acordo com as pesquisas de Maurício Brum (2018), Evelyn Wood interessou-se pelo tema, década de 50, ao notar que um dos integrantes da banca examinadora de seu curso de mestrado leu sua dissertação de 80 páginas em alguns minutos. Admirada, resolveu usar um cronômetro para marcar o tempo de leitura de seu avaliador percebendo assim que ele era capaz de ler aproximadamente 2,5 mil a cada minuto.
Fluente em técnicas de leitura dinâmica, Wood foi em busca de pessoas com a mesma habilidade de seu examinador encontrando 53 delas. Usou de questionários e entrevistas para caracterizar os métodos de cada sujeito. Por meio dos resultados obtidos, criou um curso para as pessoas que já possuíam o hábito de leitura. Vale lembrar que, mesmo o método speed reading ter se popularizado através dos estudos de Wood, o pioneiro no assunto foi o oftalmologista Louis Émile Javal que, em 1880, fez uma pesquisa sobre a movimentação dos olhos enquanto se lê um livro; cujo estudo do francês serviu de fundamentação teórica para o desenvolvimento do método Wood.
Segundo a reportagem (BRUM, 2018. P. 1) o “presidente dos EUA, lia mil palavras por minuto e contratou uma professora especializada em leitura dinâmica para treinar os membros de seu gabinete”. Foi quando contratou Evelyn Wood. De acordo com os estudos de Brum (2018), por causa disso,
Sua escola, a Evelyn Wood Reading Dynamics, fundada em 1959, tornou-se um negócio milionário após a fama conquistada pela colaboração com Kennedy: nos anos seguintes, o curso já tinha mais de 150 franquias nos Estados Unidos. Evelyn, que faleceu em 1995, foi presença constante na Casa Branca mesmo nos governos após JFK. Richard Nixon também enviou 35 membros de seu gabinete para aprender com ela, e, nos anos 1970, o presidente Jimmy Carter recebeu aulas particulares ao lado de sua filha, chegando a registrar uma média de 1,2 mil palavras lidas por minuto (BRUM, 2018, p. 1).
Em 1960, a técnica de leitura rápida chegou ao Brasil. Entretanto, somente em 1968, professores formados pelo método Wood começaram a introduzir nas Universidades e escolas particulares aulas referentes a speed reading. Nesse sentido, Maurício Brum (2018) relata que a PUC do Rio de Janeiro foi a pioneira no oferecimento do curso de leitura dinâmica tendo suas aulas ministradas pela psicanalista Malvine Zalcberg. Logo, foram ampliadas para dez cursos somente no Rio de Janeiro expandindo-se para as demais localidades brasileiras cogitando-se assim a possibilidade de tornar tais métodos obrigatórios em todas as Universidades do Brasil – um projeto que foi, no entanto, arquivado.
Apesar da repercussão, alguns estudiosos, no campo da literatura, não compartilham da mesma opinião sobre a funcionalidade da leitura dinâmica enquanto técnica – visto que ela faz uso da velocidade para absorção de conhecimento. Sob essa perspectiva, cabe aqui um questionamento: Será que a técnica de leitura dinâmica contribui para a formação do letramento?
Pressupondo que o processo de aprendizagem pode variar conforme a escolha da técnica de leitura dinâmica ou sua rotina de aplicação, hipoteticamente a formação do aluno, no ramo do letramento, também pode divergir. Isso porque supondo a maneira com que ele se organiza ao fazer a leitura para desenvolver seus trabalhos extraclasses ou então o nível de leitura no qual o aluno se encontra, pode influir na aquisição do conhecimento.
Materiais e métodos
Atualmente, o método Wood é colocado em prática por pessoas interessadas em aumentar sua velocidade temporal na intenção de absorver o máximo de informações possíveis em um curto período de tempo a fim de passarem em concursos ou vestibulares. Isso é o que nos intriga sob o propósito de compreender se os estudantes com dificuldades na leitura conseguem apropriar-se de tal técnica para melhorar seu nível de letramento e absorção de conhecimento a longo prazo.
Apesar do impacto, de âmbito tanto norte-americano quanto brasileiro, alguns professores de Universidades apontam a técnica de leitura dinâmica como algo negativo para o processo de ensino aprendizagem; por isso a necessidade de se colocar em prática os métodos de leitura rápida, através de intervenção pedagógica, para um estudo que avalie sua eficiência e eficácia.
De acordo com Regina Zilberman “O exercício da leitura é o ponto de partida para o acercamento à literatura” (ZILBERMAN, 2003, p.20), entretanto, acercamento esse que não foi estimulado pela escola e agora, já no Ensino Médio, utilizaremos da técnica de leitura dinâmica para aperfeiçoar a leitura dos alunos da EEEFM Moacyr Caramello a fim de garantir-lhes grandes avanços em um espaço curto de tempo. Para isso, fizemos uma avaliação diagnóstica com os alunos do 1ºA (turma única), do Ensino Médio noturno, e, posteriormente, selecionamos 10 alunos dos 35 que possuem grandes dificuldades na leitura e na interpretação de texto.
Logo após a aplicação da avaliação diagnóstica, fizemos uma reunião com os 10 alunos selecionados para explicar a eles como se daria o processo de aprendizagem pelo método Wood, o que, de fato, é o método Wood e como funciona. Todos os alunos se colocaram à disposição para participarem da aprendizagem por meio da técnica de leitura dinâmica, além de contribuírem para os possíveis resultados. Ainda, limitamos os testes a 50 textos trabalhados em pares. A cada semana aplicamos 2 textos totalizando 25 semanas de prática. Cada texto variou entre 25 a 50 linhas. Os textos variaram também em gênero. Do outro lado da página do texto havia a quantidade de 10 questões de múltiplas escolhas. Para a leitura de cada texto foi usado um cronômetro que marcava o tempo em um minuto. Sempre que o tempo acabava, era pedido aos alunos que assinalassem no texto a linha na qual haviam parado a leitura. Depois disso, eles viravam a página e respondiam as questões. Para a análise dos resultados, comparamos o primeiro e o último texto de cada aluno, fizemos uma nova avaliação diagnóstica e uma entrevista. Os encontros aconteceram nas terças e nas quintas-feiras.
Resultados e discussão
Terminado o processo, afirmamos que de 10 alunos selecionados para a aplicação da técnica Speed Reading destacaremos aqui 4 alunos a fim de análise de dados. Isso porque, durante o projeto, 2 alunos desistiram da escola, 1 aluno pediu transferência, e 3 alunos faltaram mais que 50% dos encontros – o que, de fato, interfere na análise dos resultados. Por uma questão ética, chamaremos os alunos de Aluno 1, aluno 2, aluno 3 e aluno 4. Dividimos a análise dos resultados em 5 escalas de 10 textos.
Na primeira escala de 10, percebemos que, entre os textos 1 e 5, a preocupação dos alunos estava em ler a maior quantidade de palavras em menor tempo – isso dificultou a absorção de conhecimento a curto prazo para desenvolverem as questões propostas ao final de cada texto. De 10 questões, os números de acertos dos alunos não passaram de 3. Eles leram a média de 70 a 100 palavras por minuto de um texto com 280 palavras. Levando em consideração que as questões de múltipla escolha contemplam os textos em sua totalidade, verificamos que os erros dos alunos estão relacionados a compreensão e a forma com que o conhecimento é absorvido, pois das 10 questões propostas, pelo menos 5 das respostas estavam entre as 100 primeiras palavras. Logo, do texto 1 ao 5, entre um aluno e outro, o resultado foi relativo. Não houve progresso.
Entretanto, do 6º ao 10º texto, os alunos se acostumaram com a didática de aplicação da técnica de leitura dinâmica – o que os deixou mais confortáveis para desenvolverem a leitura dos textos e responderem as questões. Mesmo assim, o número de acertos não ultrapassou de 3 em uma escala de 10. Somente o aluno 2 acertou 4 questões. Ainda, os alunos permaneceram na velocidade de leitura entre 70 a 100 palavras por minuto; isso de um texto com 280 palavras. As respostas das 4 primeiras questões estavam entre as 100 primeiras palavras. Não houve progresso significativo.
Na segunda escala de 10, aumentamos de 280 para, em média, 400 palavras em cada texto. A dinâmica de leitura foi a mesma. Usamos o cronômetro para marcar o tempo em um minuto. No verso de cada texto foram propostas 10 questões de múltiplas escolhas. Podemos dizer que os alunos melhoraram a quantidade de palavras lidas por minuto. De 100 palavras lidas totalizamos entre 100 e 120 com exceção do aluno 2 que leu, no máximo, 130 palavras. No entanto, o número de acertos não teve um aumento significativo variando entre 4 a 5 acertos por teste. Já passado 20 testes, a partir de um diálogo com a professora de Linguagem, foi mencionado por ela que as dificuldades dos alunos na leitura e na interpretação de texto não obtiveram uma melhora significativa.
Na terceira escala de 10, permanecemos com textos em média de 400 palavras. Nessa etapa, destacamos o aluno 2 que passou a ler 150 palavras por minuto e permaneceu com o número de 5 acertos durante o processo. Os demais continuaram na média de 130 palavras por minuto, variando entre 3 e 4 acertos. Na quanta escala de 10, aumentamos a quantidade de palavras nos textos, de 400 para 500 palavras. O tempo cronometrado foi o mesmo. Os alunos 1, 3, e 4, variaram entre a quantidade de 130 e 150 palavras lidas por minuto, enquanto o aluno 2 passou de 150 para 165, em média, de palavras lidas por minuto. Quanto ao número de acertos, o aluno 2 se manteve na média de 5 e os demais permaneceram na média de 4 acertos. Com isso, verificamos que a velocidade na qual uma pessoa lê não está relacionada à absorção de conhecimento. Os alunos progrediram em velocidade de leitura, mas não em compreensão do texto. De fato, o cérebro leva um tempo para absorver e internalizar o conhecimento.
Por fim, na quinta escala de 10, os textos permaneceram com a mesma quantidade de palavras, 500 em média. Todos os alunos permaneceram na velocidade de leitura anterior e nenhum deles avançaram para seis acertos. Quando entrevistamos a professora de Linguagem sobre a aprendizagem dos alunos, ela destacou o rendimento do aluno 2 que obteve pequenos avanços na leitura e na interpretação de texto. Já os demais não obtiveram melhoras na aprendizagem.
Ao final do processo, quando comparamos o primeiro e o último texto dos 4 alunos, observamos que os avanços na dinâmica de leitura estão relacionados mais a velocidade do que à absorção de conhecimento. Dessa forma, a variação de palavras lidas por minuto foi de 70 a 165; isso de um texto com 500 palavras. Os números de acertos das questões não ultrapassaram de 5. Entre os números de acertos estão as respostas de questões com conteúdos visuais e com grau de dificuldade leve, já que o grau de dificuldade das questões ia aumentando gradativamente, como: datas, nomes de lugares e obras literárias, por exemplo. Assim, verificamos que a absorção de conhecimento se deu a curto prazo, de modo visual.
De fato, depois do teste de número 50, fizemos uma avaliação diagnóstica com 30 questões. Nela, repetimos algumas questões referentes a datas, a nomes de lugares, correspondentes àquelas que estavam entre os acertos dos testes anteriores. Os alunos erraram muitas delas. Isso demonstrou que o método Wood foi eficiente no aumento da velocidade e na absorção de conhecimento à curto prazo, embora com pouca eficácia, já que a velocidade de leitura e números de acertos não ultrapassaram a um número X.
Na entrevista, posterior aos testes, fizemos aos alunos a seguinte pergunta: Qual foi o impacto da técnica de leitura dinâmica na sua aprendizagem. O aluno 1 respondeu que achou interessante a dinâmica da atividade, mas que não surtiu efeitos nas suas notas, além de continuar com dificuldade na interpretação de texto. Por outro lado, o aluno 2 disse que encarou a atividade como um desafio de competição, logo, passou a treinar a leitura em casa como textos semelhantes aos que estavam sendo propostos. Ainda, afirmou uma pequena melhora nas suas notas. Já o aluno 3 disse que não percebeu diferenças, mas que gostou da atividade e que iria continuar praticando. Por fim, o aluno 4 mencionou que suas notas não evoluíram e que nada adianta melhorar a velocidade da leitura se não houver compreensão de texto.
Considerações finais
Dessa forma, ao se pensar na leitura dinâmica dentro contexto escolar, como prática pedagógica, para os alunos do 1º ano do E.M, da EEEFM Moacyr Caramello, de tal modo: considerável e relevante, depreende-se que tal técnica não funcionou como catalisador para mudanças no hábito de leitura a fim de impactar a formação do letramento e a construção da aprendizagem.
Foram seis meses de prática cuja técnica comprovou que a qualidade da leitura e os avanços na interpretação de texto partem de uma construção. Dessa forma, em virtude da resposta do aluno 2, ao mencionar seus treinamentos em casa com textos similares aos dos testes, além de seus progressos, mesmo que poucos, percebemos o seguinte clichê: para aprender a ler é só lendo, a escrever é só escrevendo e a interpretar é só interpretando. Incentivo que acontece através do contato do aluno com as leituras de diferentes gêneros – o que deveria ser feito desde as séries iniciais.
Não há como não se preocupar com a qualidade de leitura dos alunos do 1º ano do Ensino Médio, da EEEFM Moacyr Caramello, cuja experiência traz um déficit desde a trajetória escolar dos discentes. De fato, a caracterização de bons textos a priori não deve ser única e exclusiva dos letrados, mas de todo universo acadêmico. Entretanto, por muitas vezes, independente da graduação, uma porcentagem dos alunos chega às Universidades com baixo índice de leitura; não interpretam os textos, leem com baixa velocidade, entre outros aspectos. Por isso a importância de se fazer um processo de intervenção, ainda no início do Ensino Médio, mas não com a técnica de leitura dinâmica. Pode ser que o método Wood funcione para alunos que já possuam uma bagagem intelectual e literária construída, desde a sua formação primária, ou para àqueles que precisem assimilar uma quantidade significativa de conteúdo a curto prazo a fim de concursos e vestibulares, mas não para internalizar conhecimento e, portanto, letrar-se.
Referências
BRUM, Maurício. Comportamento – Aprenda mais em menos tempo. Superinteressante. Publicado em 4 de julho de 2018. Acesso em 22 de março de 2020 no link https://super.abril.com.br/comportamento/aprenda-mais-em-menos-tempo/
DELL’ISOLA, Alberto. Treinamento e prática de leitura dinâmica. São Paulo: Universo dos livros, 2010.
ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel Theodoro da Silva. Literatura e Pedagogia: Ponto e Contraponto. Porto Alegre: Mercado Alegre, 2003.
COSTA, P.B.A.F
* Formada em Letras e Pedagogia pela Universidade Federal de Rondônia. Pós-Graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UNINTER. Pós-Graduada em Língua Brasileira de Sinais pela Faculdade de Santo André – Vilhena/RO. Orientadora Educacional no Instituto Federal de Rondônia.
[1] Recordista latino-americno de memorização.