RAFAEL IZIDORO MARTINS NETO*
LILIAN GOMES CAMPOS**
Resumo
O presente estudo se faz em analisar junto ao público de uma cidade do Centro-Oeste de Minas Gerais a possibilidade de abertura de um novo empreendimento farmacêutico no município. O texto refere-se a uma pesquisa de cunho qualitativa, onde, foram entrevistados 126 pessoas por meio de um formulário eletrônico entre os dias 04 e 09 de agosto de 2020. Pode-se concluir que a inserção de uma nova farmácia no município estudado teria boa aceitação, demanda e novos consumidores. Verifica-se também, que o comportamento de compra de produtos e serviços está inteiramente ligado aos extratos sociais e pessoais de ordem de cada consumidor.
Palavras-chave: Empreendedorismo, Consumidores, Farmácia, Mercado.
Abstract
The present study is under analysis with the public of a city in the Midwest of Minas Gerais the possibility of opening a new pharmaceutical enterprise in the municipality. The text refers to a qualitative research, in which 126 people were interviewed using an electronic form between August 4 and 9, 2020. It can be concluded that the insertion of a new pharmacy in the studied city would have good acceptance, demand and new consumers. It also appears that the behavior of purchasing products and services is totally linked to the social and personal extracts of each Consumers.
Keywords: Entrepreneurship. Consumers. Drugstore. Market.
INTRODUÇÃO
O Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo. Anualmente são contabilizados milhares de negócios criados a fim de realizar algum desejo pessoal (SEBRAE, 2005).
O País é considerado uma potência mundial em se tratando do mercado farmacêutico, ocupando o sexto lugar no ranking global de maiores consumidores de medicamentos. Este fato pode ser atribuído ao envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2060 a população acima dos 60 anos deve chegar a 58,4 milhões de pessoas (CFF, 2016).
A legislação federal através da lei 13.021 de 08 de agosto de 2014, conceitua o estabelecimento farmacêutico como:
Uma unidade de prestação de serviços destinada à assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva, na qual se processe a manipulação e/ou dispensação de medicamentos magistrais, oficinais, farmacopeicos ou industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos e correlatos (BRASIL, 2014).
Em se tratando de um estabelecimento farmacêutico, de acordo com dados do Conselho Federal de Farmácia (CFF), existem atualmente 87.794 Farmácias e drogarias privadas registradas. Destas, 37.432 estão localizadas na região Sudeste e 9.843 se encontra no Estado de Minas Gerais (CFF, 2018).
Investir no ramo farmacêutico pode trazer bons resultados financeiros. Segundo dados do IQVIA o arrecadamento do setor farmacêutico no Brasil foi de R$ 215,6 bilhões de reais no ano de 2019, ainda foi constatado que neste ano houve um crescimento de 10% do mercado farmacêutico, acima dos anos anteriores que ficaram entre 4% a 8% (LEONARDI; MATOS, 2019).
De acordo com Instituto de Ciências, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), os medicamentos ainda são os produtos mais comprados em uma farmácia/drogaria, porém é visível o crescimento do consumo de itens de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria, levando em consideração que os estabelecimentos farmacêuticos estão cada vez mais diversificados, podendo oferecer ao consumidor uma maior variedade de produtos (ICTQ, 2018).
Os pontos mais importantes que podem levar os consumidores até um estabelecimento farmacêutico são: Tratar ou prevenir alguma doença e a estética. O aumento do consumo nos últimos anos pode ser justificado por um maior poder de compra das classes C, D e E, e também pelo consumo do público feminino, sendo que as mulheres inseridas nestes grupos não consomem somente medicamentos como também outros produtos como os dermocosméticos (SANTOS, 2019).
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Continuada (IFEPEC), em parceria com o Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT) no ano de 2019 no Brasil, constatou que 64,95% dos entrevistados escolhem comprar em um estabelecimento farmacêutico levando em consideração o quesito “preços mais baixos” e 24,50% afirmam que a localização é um fator influenciável na hora da escolha. Outro ponto importante da pesquisa foi sobre os medicamentos. 75,45% dos clientes afirmaram a troca de um medicamento de marca por um genérico por este possuir um preço mais baixo e 24,55% não realizam a troca. O objetivo da pesquisa era verificar Comportamento do Cliente na Farmácia e foi realizada com quatro mil clientes brasileiros (REVISTA DA FARMÁCIA, 2019).
Assim, o objetivo do presente estudo se faz em analisar junto ao público de uma cidade do Centro-Oeste de Minas Gerais a possibilidade de abertura de um novo empreendimento farmacêutico no município. Como objetivos secundários, está analisar o perfil consumidor dos entrevistados, seu comportamento de compra e suas preferências com relação a um empreendimento farmacêutico.
METODOLOGIA
O presente estudo refere-se a uma pesquisa qualitativa. A forma qualitativa é aquela empregada quando se busca entendimento sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para comprovar teorias, hipóteses e modelos já existentes (LAKATOS; MARCON, 2007).
Para conhecer o perfil do cliente que possa vir a ser um consumidor de produtos de um novo empreendimento farmacêutico, foi desenvolvido um questionário, com objetivo de buscar entendimento sobre alguns comportamentos pessoais e suas potenciais mudanças. Entre os dias 04 e 09 de agosto de 2020, foram entrevistados 126 pessoas por meio de um formulário eletrônico, onde de forma clara e prévia foi descrito o objetivo da pesquisa e quais fatores seriam abordados, também foi explicado que não haveria nenhum benefício, tampouco prejuízo a quem se dispôs a participar.
A participação foi limitada apenas a pessoas residentes no municipio estudado, sendo estes, o público-alvo, e pessoas com maior potencial de informações e opiniões acerca do tema abordado, sendo também os mais beneficiados com a abertura de um novo comércio em sua cidade.
Para análise e tratamento dos dados foi utilizado um programa de excel para tabular e tratar questão a questão dos dados coletados para a pesquisa. Através dessas informações foi possível articular os resultados que serão apresentados na próxima seção.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para conhecer melhor o perfil dos respondentes, foram realizadas perguntas de aspecto como características básicas, estratos sociais e comportamento de compra. A questão número um, é sobre gênero, onde 93 respostas (73,8%), são do sexo feminino e 33 respostas (26,2%), são do sexo masculino. Na questão dois, o objetivo era conhecer o grau de escolaridade dos respondentes. 35 pessoas (27,8%) atualmente estão cursando o ensino superior e ainda não terminaram, 32 respondentes (25,4%), estão na pós graduação, 28 (22,2%) possuem ensino superior, 26 (20,6%) possuem o ensino médio, quatro (3,2%), o ensino médio incompleto e apenas um (0,8%) ainda não terminou o ensino fundamental. Não houve resposta para classificação do ensino fundamental completo.
Dentro da faixa etária pesquisada, obteve-se as seguintes respostas. 44 pessoas (34,9%) possuem idade entre 18 e 25 anos, 30 (23,8%) estão entre 26 e 35 anos de idade, outras 49 pessoas (38,9%) entre 36 e 60 anos de idade e três pessoas (2,4%) estão acima de 60 anos. Nenhum respondente desta pesquisa possui menos de 18 anos. Outro aspecto abordado foi quanto a renda familiar total baseada no número de pessoas residentes no núcleo familiar. Para 43 pessoas (34,1%) respondentes recebem até dois salários mínimos por mês. 66 pessoas (52,4%) recebem entre dois e quatro salários mensais, 13 (10,3%) entre seis e oito salários e somente quatro respondentes (3,2%) recebem acima de oito salários mínimos.
As próximas perguntas são voltadas para o perfil consumidor e potencial de compras de cada respondente, onde esta diretamente ligado com as necessidades de se conhecer a familiaridade com o negócio. Assim, na questão seis, foi perguntado a frequência com que cada pessoa compra medicamentos. Para 71 respostas (56,3%) é um hábito pouco frequente. 48 pessoas (38,1%) isso ocorre duas ou três vezes ao mês. Para 3 participantes (2,4%) existe uma compra pelo menos uma vez por semana. Também para 3 pessoas (2,4%), esse número pode ser frequente entre três e cinco vezes na mesma semana. Ainda, três pessoas (2,4%) disseram que nunca compraram remédios.
Para tecer um pouco mais a discussão e aprofundar o conhecimento sobre esses respondentes, a questão sete abordou fatores de ordem que os participantes consideravam importantes para que fosse realizado a compra de seus medicamentos em uma farmácia. Nessa questão, cada entrevistado poderia marcar até três alternativa como positivos para essa aquisição. Então, para o item baixo preço dos medicamentos, 84 pessoas (66,7%) pontuaram o item como importante no ato da compra. Já o requsito bom atendimento foi lembrado por 97 respostas (77%). A condição de pagamento foi um item lembrado para 27 pessoas (21,4%). Outro aspecto bastante escolhido foi a qualidade dos produtos. Para 87 pessoas (69%) foi pontuado como importante. A marca e opção de entrega ao domicilio foi demarcado por 15 pessoas (11,9%). A indicação do produto foi um fator de ordem para 7 entrevistados (5,6%) e para finalizar a localização foi considerada como prioridade para 19 pessoas (15,1%).
Outra pergunta coletada, foi sobre qual tipo de medicamento a pessoa compra com maior frequência. O medicamento genérico foi o mais selecionado, alcançando 96 respostas (76,2%). 15 pessoas (11,9%) descreveram remédios de marcas famosas como prioridade na compra. Os manipulados foram lembrados por sete participantes (5,6%), enquanto apenas três pessoas (2,4%) compram produtos fitoterápicos. Apenas cinco entrevistados (4%) compram outros tipos de remédios e seus similares.
Outro aspecto econômico abordado, foi para conhecer a média geral de gasto que cada participante exerce durante o més com a área farmacêutica. Para 24 pessoas (19%), esse valor é menor do que R$ 20,00 reais ao mês. 47 entrevistados (37,35) gastam em média entre R$ 20,00 e R$ 50,00 reais com medicamentos no mês. 28 pessoas (22,2%) vão além e consomem entre R$ 50,00 e R$ 100,00 reais. Para 18 respondentes (14,3%) esse número é ainda maior, acima de R$ 100,00 reais ao mês. E em uma escala de gasto excessivos estão outros nove entrevistados (7,1%) que consumem muito além destes valores mensurados.
As questões do número 10 ao 12 do questionário são de teor bastante pessoal e influente para o testemunho do fator comportamento de compra. Na questão 10, foi perguntado se o entrevistado realizava alguma pesquisa de preço, antes de realizar sua compra de algum medicamento. Para 89 pessoas (70,6%) a resposta foi sim, realizam pesquisa no mercado antes de comprar o produto, e 37 pessoas (29,4%) não costumam pesquisar por produtos e preços nas farmácias antes de comprar. Na questão 11, cada entrevistado deverias avaliar a possibilidade de que se fosse lhe oferecido um novo, com preço maior, porém com garantias de qualidade e de origem natural, se ele consideraria a possibilidade de compra. Para 60 pessoas (47,6%) a resposta foi sim, para outros 60 participantes (47,6%) responderam que não, e seis entrevistados (4,8%) responderam que talvez considerariam essa questão em uma futura compra.
Ainda na ideia de algo novo, foi perguntado aos entrevistados sobre a possibilidade de surgir uma farmácia nova na sua cidade, com produtos diferentes, acessíveis, de qualidade, informações modernas, se isso o permitiria que ele trocasse de farmácia. 54 respostas (42,9%) desenharam para que sim, poderiam trocar de farmácia, outros 62 entrevistados (49,2%) optaram por um talvez, e apenas 10 pessoas (7,9%) não fariam essa troca mesmo com essas alternativas apontadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentro dos resultados alcançados e dados coletados, a opinião expressa de todos os participantes deste estudo, pode-se concluir que a inserção de uma nova farmácia no município estudado teria boa aceitação, demanda e novos consumidores.
As informações coletadas confirmam também que as pessoas partem de pressupostos básicos que influenciam seu comportamento de compra, e a mudança desse comportamento, sempre está relacionada ao seu perfil pessoal e social. Fatores de ordem como o custo do produto, benefício, a alternativa para aquele produto, são representatividades maiores a uma classe social, enquanto fatores como atendimento, entrega, localização, e até mesmo orientação são substâncias potenciais que influenciam na compra ou não de um produto.
A área de saúde como um ramo empreendedor é sem dúvida rentável em algumas aplicações, vista que são demandas essenciais a sobrevivência, mas o comportamento de compra de produtos e serviços está inteiramente ligado aos extratos sociais e pessoais de ordem de cada ser humano, o que pode modificar suas percepções e escolhas na hora de avaliar um produto.
Uma questão limitante com relação a pesquisa, refere-se a não condição de aplicação dos questionários e a abordagem direta e pessoal ao público-alvo, visto a pandemia enfrentada no município estudado. Sugere-se para outros estudos, uma abordagem mais ampla com relação a outros tipos de empreendimentos farmacêuticos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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*Rafael Izidoro Martins Neto (e-mail:rafael.izidoro18@hotmail.com); Bacharelado em Administração IFMG campus Bambuí; Pós-Graduação em Docência IFMG campus Avançado Arcos.
**Lilian Gomes Campos (e-mail:liliangomescampos19@gmail.com); Graduanda em Farmácia – FASF Luz/MG.