Por: Nair Lúcia de Britto
Meu pai nasceu no Rio Grande do Norte, no município de Ceará-Mirim. Um município localizado a 28 km da cidade de Natal. Segundo pesquisa, foi criado em 1767, sendo que seus primeiros habitantes foram os índios potiguaras. O contato deles com o mundo ocidental foi através do comércio de pau-brasil com os franceses e holandeses. Na opinião do escritor José de Alencar o nome Ceará teve origem na expressão tupi “Cêará” que significava “canta o papagaio”.
Com a colonização do Brasil, o município foi ocupado por portugueses. A terra era boa para cultivo e ali surgiram as primeiras lavouras e pequenas criações de gado.
Não conheci meus avós paternos, mas pelo nome deles (Manoel Francisco do Nascimento Britto e Tereza Angélica Britto) acredito termos descendência portuguesa. Soube por minha mãe que meus avós eram muito ricos, mas meu pai nunca mencionava sobre esse fato, não se gabava e nem tampouco tirou nenhum proveito dessa riqueza, porque deixou tudo o que lhe pertenceria à irmã caçula, a fim de protegê-la.
A irmã do meu pai chamava-se Anunciada de Britto Pinheiro; e era uma pessoa maravilhosa. Ele tinha apenas quatro anos de idade e sua irmã, dois; quando ficaram órfãos e a guarda das crianças passou para as mãos de um tutor, que já tinha vários filhos. Entre seus irmãos de criação, meu pai se afeiçoou mais à Lígia e ao Ernesto Maranhão.
O afeto mais profundo e especial, porém, era pela “irmã de sangue”, como ele dizia.
Separou-se dela quando saiu de casa para trabalhar e estudar em São Paulo aos doze anos de idade.
Só voltou a ver a irmã 42 anos depois. Nesse meio tempo trocavam cartas com frequência. Ela morava num sítio, em Recife. Junto com as cartas mandava-nos, pelo correio, cajus e doces feitos com as frutas do sítio, que ela adorava.
“Só falta meu legítimo irmão vir aqui saborear essas mangas deliciosas…” Mas meu pai nunca pôde ir até lá! Ela casou-se, mas logo ficou viúva,, com um filho: meu primo Jorge. Meu pai se casou com minha mãe, Nair, e teve uma filha, que sou eu.
O reencontro dos dois irmãos foi na nossa casa, em São Vicente. Um momento muito emocionante e inesquecível na minha memória. Uma das maiores alegrias do meu pai.
Meu pai, um homem simples que lutou pela vida sozinho e tão criança. Trabalhou duramente em São Paulo, sempre com honestidade. Era um poeta, um orador, um amante da Literatura e também gostava de escrever.
Dele eu só recebi bons exemplos. Por isso quando alguém me apresentava: “Essa é a filha do Britto…” Eu me sentia, me sinto e sempre me sentirei muito orgulhosa. Porque:
Britto, para mim, é sinônimo de dignidade!
Ao Senhor, meu Pai, da filha que jamais o esquecerá.