Utilização de museus virtuais no ensino: o que dizem os professores
Carolina Tibiriçá Argôlo*
Gabriel de Oliveira Soares**
Resumo: Considerando que documentos oficiais como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) preveem a utilização de tecnologias digitais de informação e comunicação nas práticas escolares para produzir conhecimentos, esse trabalho objetiva verificar percepções de professores quanto à inserção desses no ambiente escolar. Foi constatado que 100% dos participantes consideraram que a utilização de museus virtuais em sala de aula poderia contribuir no ensino e na aprendizagem dos estudantes.
Palavras-chave: Ensino; Recursos Educacionais; Museus Virtuais; Educação Básica.
Abstract: Considering that official documents such as the Common National Curriculum Base (BNCC) provide for the use of digital information and communication technologies in school practices to produce knowledge, this work aims to verify teachers’ perceptions regarding their insertion in the school environment. It was found that 100% of the participants considered that the use of virtual museums in the classroom could contribute to the teaching and learning of students.
Key-words: Teaching; Educational Resources; Virtual Museums; Basic Education.
Introdução
Considerando o avanço das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC’s) em nossa sociedade e a inserção dos mesmos no ambiente escolar, esse estudo tem como objetivo analisar a inclusão das mídias digitais na prática pedagógica de professores através da análise de dois museus virtuais como possibilidade para o ensino, em especial o ensino na disciplina de História; como também, verificar a percepção de professores quanto à inserção destes no ambiente escolar.
Hoje, devido ao alcance dos meios de comunicação em massa, a informação e o conhecimento estão em todos os lugares, não somente na escola. Dessa forma, cabe à essa instituição o papel de orientar o aluno a administrar essas novas informações para que possa aplicá-las no seu dia-a-dia, buscando interagir com este mundo globalizado.
Assim, um professor que se propõe a fazer o uso das mídias precisa? conhecer as potencialidades pedagógicas de cada tecnologia a fim de incluí-las no processo de ensino/aprendizagem.
Além disso, a partir da incorporação das TDIC’s na escola, a prática pedagógica poderá tornar-se gradativamente enriquecedora, tendo em vista que os alunos terão a oportunidade de conhecerem outras realidades diferentes das suas, contextualizarem melhor aquilo que estão aprendendo, além de serem instigados a obterem mais informações sobre o tema abordado. Ou seja, o uso da TDIC’s permitirá ao aluno desenvolver sua criatividade e o seu senso crítico.
Uma das possibilidades emergem na incorporação dessa TDIC’s em sala de aula, principalmente para os professores da disciplina de História, é a inserção de museus virtuais no ambiente de ensino, tendo em vista que esses permitem que o aluno tenha um contato com o patrimônio histórico lá preservado, constituindo uma identidade coletiva que é fundamental para a formação de uma consciência política e prática da plena cidadania.
Pinto (2009, p. 277) afirma que “para além do seu papel como guardião de patrimônio, o Museu pode constituir um ambiente de aprendizagem de enorme potencial, permitindo o uso dos objetos como fontes históricas e a sua interpretação como evidências do passado”.
O Conselho Internacional de Museus, o ICOM, define Museu como uma,
instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquiri, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade” (IBRAM, 2018, p.13).
Podemos assim dizer que o museu é um instrumento de inclusão cultural e social para a população em geral. E, com a propagação dos recursos tecnológicos, surgiram os museus virtuais que difundem os testemunhos materiais utilizando os recursos interativos. Estes recursos apresentam uma excelente oportunidade de aprendizagem informal e educativa em ambientes virtuais.
Dessa forma, levando em consideração o exposto, esse trabalho tem como objetivo verificar percepções de professores quanto à inserção dos museus virtuais no ambiente escolar. Para tal, propôs-se um questionário a dezenove professores, analisando as respostas destes a perguntas abertas e fechadas.
Ensino de história no século XXI
Diante dos novos paradigmas da Educação para o século XXI, percebemos que se faz necessária uma mudança no ensino da disciplina de História. Os aspectos conceituais devem ponderar os factuais, favorecendo a criticidade, a abstração, a compreensão do processo histórico e das relações entre os fatos. A metodologia de seu ensino deve buscar propiciar aos alunos a compreensão do próprio processo de produção do conhecimento histórico.
As instituições de ensino brasileiro necessitam reavaliar e reformular métodos e estratégias no ensino de História, tornando essa disciplina contextualizada, levando os alunos a terem uma visão crítica sobre o processo histórico. O foco da escola deve estar em disputar o interesse dos alunos em aprender, estimulados a serem críticos e a proporem soluções para problemas enfrentados, desenvolvendo seu raciocínio.
Segundo Conceição Cabrini (1994), o professor de História precisa ser alguém que entenda de história, não no sentido de que sabia tudo o que aconteceu com a humanidade, mas que sabia como a história é produzida e que, consiga ter uma visão crítica do trabalho histórico existente (p. 23).
Sendo assim, o professor de História deve desafiar o aluno a questionar, a refletir e elaborar seus próprios conceitos sobre determinado tema. A fim de colaborar no resgate do verdadeiro papel da História na sociedade, é apontada a utilização das mídias nas práticas pedagógicas. Afinal, as tecnologias fazem parte do cotidiano de todos nós. As instituições de ensino, portanto, não podem ignorar a influência que as mídias têm na sociedade atual. Este é o momento de conhecer e aplicar novas formas de ensinar, de aprender, de se relacionar com o conhecimento e com o mundo.
Para Valente (2002, p. 50) o avanço tecnológico atual e a internet são um impulso para o uso da tecnologia de computadores para um entendimento mais amplo de educação e da consciência de sermos cidadão do mundo.
No contexto deste mundo tecnológico e globalizado, a escola precisa rever os seus conceitos, quebrar paradigmas e mudar a maneira de abordar e de produzir conhecimento. As TDIC’s podem efetivamente ser incorporados no âmbito escolar, proporcionando aos alunos uma nova forma de aprender, contribuindo na formação de cidadãos críticos que consigam resolver os problemas de seu contexto.
Diante dessa nova concepção de ensino que se consolida, o professor não exerce mais o papel de um transmissor e detentor do conhecimento, mas sim atua como um mediador e facilitador da aprendizagem, buscando priorizar a comunicação da aprendizagem a comunicação, o diálogo, a interação, a construção do conhecimento e humanização das tecnologias. Para tanto, ele necessita conhecer as especificidades de cada mídia, a fim de explorar a suas potencialidades pedagógicas em relação à aprendizagem, orientando o uso das mídias de forma significativas e adequadas ao contexto da sala e à realidade da escola.
Em se tratando do uso da informática aplicada à educação, o uso do computador como instrumento de ensino possibilita a introdução de praticamente qualquer área do conhecimento em todos os momentos do processo de ensino e aprendizagem.
Nessa lógica, o professor deve ter conhecimento dos potenciais educacionais do computador e que deve ser capaz de alternar atividades não informatizadas de ensino aprendizagem com atividades que usam o computador. Essas atividades podem ser usadas apenas para transmitir informações para o aluno, como também para criar condições para o aluno construir seu conhecimento em ambientes de aprendizagem que utilizem a informática.
Através do uso da internet, o aluno pode conectar-se com o mundo, criando a consciência de que não há fronteiras para o conhecimento, pois ela apresenta uma gama de possibilidades que permite ao internauta “tecer” suas próprias relações, percorrer seu próprio caminho, interagir, praticar a autoria etc.
Com a disseminação das mídias, é crescente o uso de tecnologias digitais dentro do contexto escolar. Os ambientes virtuais de aprendizagem, dentre eles, os museus virtuais, oferecem aos professores a oportunidade de possibilitar aos alunos o aprendizado por experimentação, tendo em vista que o aluno poderá movimentar-se, ouvir, ver e manipular os objetos, como se estivesse no mundo real. Ao entregá-los na pratica pedagógica busca-se uma aprendizagem global, critica e contextualizada. A experiência com museus virtuais leva o aluno a transcender o tempo e o espaço, aproximando-o de realidades desconhecidas e distintas.
Nessa perspectiva, podemos afirmar que os objetivos educacionais dos museus podem ser facilitados e/ou acelerados pelas tecnologias digitais, pois estas permitem que as atividades interativas sejam realizadas a partir dos objetos expostos.
Fazendo uso da realidade virtual dentro do contexto dos museus virtuais de História, é possível fazer simulações e interações com as obras, visitas pelas galerias, entre outras atividades, que de outra forma seriam inacessíveis. Estas viagens virtuais permitem ao internauta conhecer objetos, obras, esculturas, cenários, percebendo detalhes e interagindo com os mesmos.
Podemos assim perceber que os Museus Virtuais quando direcionados para educação contribuem de forma concreta na construção significativa do conhecimento.
Metodologia
O estudo aqui descrito é caracterizado como de cunho qualitativo, no sentido de buscar explicar o como e o porquê dos fatos ocorrerem, focando nos “fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real” (GODOY, 1995, p. 26).
Como citado anteriormente, este tem por objetivo, verificar percepções de professores quanto à inserção dos museus virtuais no ambiente escolar.
Buscando atingi-lo, foi aplicado um questionário semiestruturado disponível online com 19 professores, composto por perguntas abertas e fechadas, levando em consideração que esse instrumento de pesquisa tem por objetivo “o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas” (GIL, 1999, p. 128).
Assim, o questionário proposto constou com três blocos de perguntas: um sobre a identificação dos participantes (com itens relacionados à formação e à atuação profissional dos mesmos); um relacionado às tecnologias digitais tecnologias digitais de informação e comunicação e um terceiro, voltado aos museus virtuais.
Após a coleta dos dados, as respostas dos professores foram analisadas de forma qualitativa, trazendo dados numéricos para embasar as considerações propostas a partir do observado.
Resultados
Como citado anteriormente, o questionário proposto aos professores continha questões abertas e fechadas, e foi disponibilizado online através da plataforma Google Forms. Considerando que os museus virtuais podem ser explorados de maneira interdisciplinar e há museus de diversas áreas do conhecimento, os questionários foram enviados a professores de diferentes áreas de formação inicial: Ciências Biológicas (3 professores), Matemática (11 professores), História (5 professores) e pedagogia (2 professores com dupla formação em história e pedagogia).
Quanto ao perfil acadêmico dos professores, 31,5% possuem apenas a graduação, 15,8% possuem uma especialização e 52,7% dos entrevistados possuem o título de mestre. Já quanto à atuação profissional, 3,7% atua nos anos iniciais do Ensino Fundamental; 37% nos anos finais do Ensino Fundamental; 18,5% no Ensino Médio; 7,4% no Ensino Superior; 11,1% em cursos preparatórios para vestibulares, ENEM e outros; 3,7% atua com aulas particulares, 3,7% em área diferente da docência e o restante, 14,9% dos professores, não atua no momento.
Reconhecendo o indicado em documentos oficiais como a BNCC (BRASIL, 2018), a grande maioria dos professores reafirmaram que se faz necessário a inserção das tecnologias digitais de informação e comunicação nas práticas escolares, concordando com o uso de computadores (100%), tablets (94,7%) e celulares (94,7%) não ambiente escolar.
Entretanto, 15,7% dos entrevistados não se sentem totalmente preparados para utilizar esses recursos em aula, corroborando com a ideia de Schuhmacher, Alves Filho e Schuhmacher (2017) de que ainda há barreiras a serem superadas no uso das tecnologias de informação e comunicação na prática docente.
No terceiro bloco do questionário, perguntou-se aos professores se eles acreditavam que a utilização de museus virtuais em sala de aula poderia contribuir no ensino e na aprendizagem dos estudantes. Em ambos os casos, 100% dos docentes responderam que sim, ratificando o apontado por Marçal et al. (2005) que esses podem oportunizar o aprendizado pela experimentação, movimentando-se, ouvindo e vendo como se estivesse no mundo real.
Entretanto, ao responderem se já tinham utilizado algum museu virtual em sala de aula, 100% dos professores respondeu negativamente. Esse dado é interessante pois, dos participantes, 68,4% não conhece nenhum museu virtual disponível online e 26,31% afirma não os conhecer por não saber como explorá-los de maneira efetiva.
Dessa forma, indagou-se se esse seria uma boa temática para ser tratada em formações, tanto na inicial quanto na continuada. Do total, 94,7% dos professores respondeu que seria sim, um tema interessante.
Logo, trabalhos como este podem contribuir na socialização desses recursos entre professores de diferentes níveis de ensino e áreas de formação, auxiliando na prática docente e na aprendizagem dos estudantes.
Conclusão
A utilização do museu virtual como ferramenta de ensino-aprendizagem pode oferecer diversas oportunidades em razão do aprendizado e através do seu uso, permitindo ao educando a capacidade de questionar, de interpretar e reconhecer o objeto sacralizado no museu como um documento histórico a ser inquirido. O uso didático do museu virtual é parte do processo, reforçado, de uma maneira crítica, para que o aluno entenda o significado que existe por trás do seu acervo.
Com o elevado processo do aprimoramento tecnológico acontecendo, em extraordinária velocidade, espera-se conhecer os museus virtualmente torne-se uma prática cada vez mais interessante e frequente. E, é papel fundamental do professor instrumentalizar o aluno com os requisitos básicos para análise e compreensão desses novos lugares de memória, dentro dessa nova premissa.
Assim, a partir desse estudo, constatou-se que 100% dos professores consideravam que seria interessante incluir visitas em museus virtuais no seu trabalho, e os mesmos 100% ainda não o fez.
Dessa forma, trabalhos como esse podem dar indicativos para novas pesquisas a serem desenvolvidas, levando em conta que o uso das mídias, em especial o museu virtual, na educação, torna o processo de ensino-aprendizagem-avaliativo mais significativo e eficiente em sala de aula.
Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível em: < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2020.
CABRINI, Conceição. O ensino de História: revisão urgente. São Paulo: Brasiliense, 1994.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GODOY, Arilda Schmidt. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de Empresas, v.35, n.3, 1995. p. 20-29.
IBRAM. Caderno da política nacional de educação museal. 2018. Disponível em: <https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2018/06/Caderno-da-PNEM.pdf>. Acesso em: 08 jul. 2020.
MARÇAL, Edgar; et al. museuM: Uma aplicação de m-Learning com Realidade Virtual. 2005. Disponível em: < http://www.unisinos.br/_diversos/congresso/sbc2005/_dados/anais/pdf/arq0119.pdf>.Acesso em: 30 mar. 2020.
PINTO, Helena. O triângulo patrimônio-museu-escola: que relação com a Educação Histórica. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel. Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica. 3ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009.
SCHUHMACHER, Vera Rejane Niedersberg; ALVEZ FILHO, José de Pinho; SCHUHMACHER, Elcio. As barreiras da prática docente no uso das tecnologias de informação e comunicação. Ciênc. Educ., v. 23, n. 3, 2017. p. 563-576.
VALENTE, José Armando. A Espiral da Aprendizagem e as Tecnologias da Informação e Comunicação: Repensando Conceitos. In: JOLY, M. C. R. A. (Org). A Tecnologia no Ensino: Implicações para a Aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
Como citar esse artigo:
ARGÔLO, Carolina Tibiriçá; SOARES, Gabriel de Oliveira. Utilização de museus virtuais no ensino: o que dizem os professores. Revista P@rtes. 2020. Disponível em: <inserir o link da publicação>. Acesso em: inserir a data de acesso.
* Especialista e História Cultura do Brasil; Licenciada em História. Aluna do curso de Pós-Graduação em Docência pelo IFMG Arcos – caroltibirica@gmail.com
** Mestre em Ensino de Ciências e Matemática; Especialista em Matemática; Licenciado em Matemática. Orientador do curso de Pós-Graduação em Docência do IFMG Arcos – gsoares8@outlook.com