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As teorias do currículo: uma análise a partir da obra de Tomaz Tadeu da Silva

As teorias do currículo: uma análise a partir da obra de Tomaz Tadeu da Silva

Francielle Correia Rodrigues Silva*

Marília Alves Ferreira de Resende Araújo**

Resumo

Marília Alves Ferreira de Resende Araújo – Graduanda licenciatura e bacharelado em História pela Universidade Federal de Uberlândia, Campus Pontal. Email: mariliaalfere@live.com

A obra “Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo”, de Tomaz Tadeu da Silva, tem como perspectiva a construção de uma análise acerca das teorias do currículo, abordando diferentes aspectos que envolvem os conceitos tradicionais, críticos e pós-críticos. É essencial considerar a apresentação construída a partir de um panorama de cada conceito, ressaltando as diferentes abordagens e especificidades. O presente artigo objetiva a partir destes aspectos, construir uma análise crítica acerca das discussões colocadas pelo autor.

Palavras-chave: Ensino, Currículo, Classes Sociais, Multiculturalismo.

Abstract

Tomaz Tadeu da Silva’s “Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo” aims to construct an analysis of curriculum theories, addressing different aspects involving traditional, critical, and post-critical concepts. It is essential to consider the presentation built from a point of view of each concept, highlighting the different approaches and specificities. The goal of this article is to construct a critical analysis about the discussions by the author.

Keywords: Teaching. Curriculum. Social classes. Multiculturalism.

A obra “Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo”, de Tomaz Tadeu da Silva é dividida em duas partes, inicialmente destaca uma abordagem sobre as teorias tradicionais e teóricas críticas, expondo ao leitor as bases usadas para concepção de “currículo” e as constituições iniciais do que hoje conhecemos como “teorias críticas”. Para primeira parte da obra, Tomaz Tadeu esboça a historicidade dos estudos sobre o currículo, traz a contribuição de outros autores, como Paulo Freire, Michael Apple, Demerval Saviani, Henry Giroux, e outros. Na segunda parte do livro, o autor traça um panorama sobre as teorias pós-críticas, abordando os conceitos de identidade; alteridade e diferença; subjetividade; significação e discurso; saber-poder; representação; cultura; gênero, raça, etnia e sexualidade; e multiculturalismo. A abordagem de cada conceito é essencial para compreensão do currículo pós-crítico, bem como suas contribuições para o espaço escolar.

No decorrer do livro, Tomaz Tadeu trabalha com indagações essenciais para compreensão do currículo, partindo da problematização do mesmo, de sua história, as diferenciações entre teorias tradicionais, críticas, e pós-críticas, bem como o conteúdo a ser ensinado: o que ensinar? Como ensinar? Como essas discussões poderão contribuir para formação da identidade dos alunos? Como elas devem estar inseridas no currículo?

Francielle Correia Rodrigues Silva – Graduanda licenciatura e bacharelado em História pela Universidade Federal de Uberlândia, Campus Pontal.

O livro é um resgate da discussão essencial sobre o currículo, desde as origens, até os avanços recentes. O autor analisa todos os percursos envolvidos nesses avanços, bem como as especificidades de cada momento e conceito, mas compreende que uma única teoria ou “tendência” não pode, sozinha, esgotar toda compreensão sobre o currículo. Partindo dessa compreensão, iniciamos nosso esboço sobre a obra, discutindo as duas partes apresentadas pelo autor.

Inicialmente Tomaz Tadeu, delimita a história dos estudos do currículo. As primeiras abordagens nasceram nos Estados Unidos, com duas vertentes iniciais. Bobbitt buscava um cunho mais conservador, tinha como objetivo a homogeneização do sistema educacional e o sistema industrial, enquanto John Dewey buscava proporcionar a concepção de uma democracia liberal, com uma postura mais progressista, propondo que fosse considerada importante a vivência das crianças e jovens.

O autor coloca o ano de 1960 como fundamental para discussões entorno do currículo, visto que foi nesse momento que começaram a ser levantados questionamentos sobre às teorias mais técnicas e tradicionais, reforçando, o autor apresenta a contribuição efetiva das teorias críticas para a inversão das discussões tradicionais. Nesse momento, diversos autores contribuíram de forma efetiva para os primeiros estudos críticos sobre o currículo, como Louis Althusser, Bowles, Gintis, Bourdieu e Passeron, as obras de forma geral, abordavam a escola e o currículo por uma nova perspectiva, onde os saberes e a experiência dos alunos contavam de forma efetiva para o processo de ensino aprendizagem.

Continuando os avanços, nos anos 1970 os estudos sobre o currículo passavam a ocupar novos espaços no campo científico, tendo como primeiro marco a “I Conferência sobre Currículo”, organizada por William Pinar. A conferência trouxe como principal contribuição o surgimento de duas vertentes críticas em relação ao currículo. A base para primeira vertente, tinham como exemplo Gramsci e a Escola de Frankfurt e possuía um caráter marxista, destacando “o papel das estruturas econômicas e políticas na reprodução social” (p. 38). A segunda vertente tinha uma direção fenomenológica e hermenêutica, e destacava “os significados subjetivos que as pessoas dão às suas experiências pedagógicas e curriculares” (p. 38).

Essas novas vertentes proporcionaram abordagem mais específicas. Diversos autores discutiram o currículo partindo destes questionamentos, Tomaz Tadeu, apresenta essas discussões no decorrer de sua obra.

Inicialmente traz Michael Apple, que “procurou construir uma perspectiva de análise crítica do currículo que incluísse as mediações, as contradições e ambiguidades do processo de reprodução cultural e social” (p. 48), tendo como princípio elementos marxistas, discutindo o currículo a partir das teorias educacionais críticas. Henry Giroux trouxe o currículo como uma política cultural, “pedagogia da possibilidade” (p. 53), superando assim as teorias de reprodução, seus estudos tinham como exemplo a Escola de Frankfurt, colocando a atividade cultural e a crítica ao senso técnico, por fim, Giroux percebe o currículo como base de emancipação e liberdade, uma vez que o currículo é um espaço cultural de luta, mas Tomaz Tadeu acrescenta que Giroux se preocupa muito mais com os pontos culturais do que com os educacionais precisamente. Em contrapartida, Paulo Freire tem uma teoria evidentemente pedagógica, analisa a educação para além do que está posto, mas como deveria ser. Entende a pedagogia como uma construção entre educadores e educandos, ambos participantes da construção do currículo. Sua crítica ao currículo, está posta frente ao conceito de educação bancária, mas Paulo Freire por meio de suas abordagens, estabelece uma concepção de pedagogia pós-colonialista, com base nas definições culturais a respeito dos estudos curriculares.

Há uma concepção que coloca uma nova sociologia da educação, que percebe o currículo de forma a refletir as tradições culturais e epistemológicas a partir dos grupos subordinados. Bernstein um autor que trabalha a organização estrutural do currículo, apresenta dois modelos de organização, a coleção e o integrado. Na coleção, “as áreas e campos de saber são mantidos fortemente isolados” (p. 72), enquanto no integrado “as distinções entre as áreas de saber são muito menos nítidas e muito menos marcadas” (p. 72). Através destes estudos, o autor busca compreender como a escola atua na concepção que as diferentes classes sociais possuem de si mesmas. Bernstein aborda as relações da educação, currículo e espaço escolar ligadas ao contexto local no qual o educando está inserido, bem como resultado também dessas práticas escolar, ligadas ao currículo. Nesse sentido, Bernstein aborda também o que ele chama de currículo oculto, fundamental para teoria do currículo central “constitui-se daqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do currículo oficial explícito, contribui de forma implícita para aprendizagens sociais relevantes” (p. 78). Para o tradicionalismo o currículo oculto é responsável por garantir o bom andamento das sociedades, enquanto para as teorias críticas, ele garante o ensino conformista, obediente e individual, porém para pós-críticas ele é sim fundamental, mas reformulado, de forma a inserir discussões no âmbito de raça, sexualidade, gênero e temas fundamentais para construção social dos indivíduos.

As Teorias pós-críticas abrangem problemáticas da qual é fundamental discutir no cenário pedagógico/educacional. O currículo por sua vez aparece como ponto central a ser pensado, criticado. De tal maneira pautas como identidade e diferença, por exemplo, devem ser percebidas em âmbitos que propiciem ao aluno o sentimento de pertencimento e aproximação ao ambiente escolar e também fora dele, contribuindo para a relação entre o social do aluno.

O currículo multicultural deve se preocupar com a concepção materialista, de divisão de classes econômicas para que os processos que levam a desigualdade social desapareçam em forma de discriminação.

Quanto ao gênero, nota-se que a história sempre deu ênfase ao papel masculino como protagonista. O herói, os reis, presidentes, todos esses personagens principais da construção da história que conhecemos. O feminismo busca dentre outras reivindicações, a valorização do papel feminino como contribuinte da memória história dessas mulheres, como também identificam que os currículos eram divididos desigualmente por gênero.

A etnicidade e raça também constitui o “balaio” esquecido e ignorado das minorias excludentes do currículo escolar. Em perspectiva, o cenário do oprimido deve dar lugar ao de conquista, bravura, valorização intelectual e cultural. De modo que todos os alunos se sintam incluídos e representados na história. Ainda o contato com a cultura, costumes, vivencias partilhadas uns com os outros resultam na contribuição para a ausência da intolerância e a favor da compreensão da identidade entre eles.

Tomaz Tadeu vai além das evidências comuns do histórico dos “esquecidos”. A teoria queer traz para a discussão aspectos da sexualidade, buscando mediar os confrontos internos e externos do aluno ao se deparar com os sentimentos que fogem ao “normativo” imposto pela sociedade. A teórica queer Judith Butler ao contrário das críticas políticas em torno do conceito, tem a intenção de tornar a sexualidade menos “complicada”, difundindo a ideia de que não há necessariamente a obrigação social ou de qualquer outra espécie, de se “rotular”, uma vez que o ser humano é suscetível a todo o momento à mudanças, mudanças essas que condicionam nosso cotidiano e que ditam nossa identidade. Segundo Tomaz Tadeu: “[…] a pedagogia queer também pretende estender sua compreensão e sua análise da identidade sexual e da sexualidade para a questão mais ampla do conhecimento” P.108

Ainda analisando o currículo, o pós-modernismo crítica o saber totalizador em moldes centrais e acredita ser o saber, a mistura de culturas, estilos de vida, a mestiçagem. Para os pós-estruturalistas, “O indivíduo é o produto do saber” (p. 121), ou seja, ele é fruto das condições ao seu redor, ignorando a individualidade originária de cada ser, valorizando assim o processo de formação escolar que tem por tarefa principal fornecer as informações necessárias a evolução intelectual desses cidadãos.

Ao refletir sobre a dominação colonial sob aspecto territorial e principalmente intelectual, o pós-colonialismo teoriza a mudança do pensamento opressor, que fincou raízes profundas ao que se refere a costumes, vivências, culturas, religião e entre tantas outras que permaneceram como exemplo a ser seguido pela população em geral. No contexto educacional, a perspectiva do dominante fica ainda mais explicita ao perceber que a história contada se limita a outros agentes, as “minorias”, apenas em datas comemorativas ou apenas a passagem rápida da discussão errônea do “dia” do índio, da mulher, do negro. Muitas vezes “pintados” em singular características que não permitem o questionamento sobre questões mais amplas desses indivíduos.

A análise pós-colonialista preocupa em desfazer a relação de poder existente no currículo, do qual prevalece a história oficial e colocaram o europeu em posição de privilégio. Sendo assim o autor traz alguns questionamentos:

Em que medida o currículo contemporâneo, apesar de todas as suas transformações e metamorfoses, é ainda moldado pela herança epistemológica colonial? Em que medida as definições de nacionalidade e “raça”, forjadas no contexto da conquista e expansão colonial, continuam predominantes nos mecanismos de formação da identidade cultural e da subjetividade embutidos no currículo oficial? De que forma as narrativas que constituem o núcleo do currículo contemporâneo continuam celebrando a soberania do sujeito imperial europeu? […]  (SILVA, 2010, p.129)

Os estudos culturais juntamente ao currículo enfatizam que ambos não são neutros e que a disputa deve ser prática corriqueira para a mudança da hegemonia de diversos grupos tentam impor.

A pedagogia no currículo tem ajudado e diminuir a distância entre a escola e universidade, relacionando as duas e estabelecendo diálogos no âmbito de formação do estudante. As fronteiras ainda limitadas da escola, quase não permite que os “horizontes” sejam expandidos, motivados para além da sala de aula. Como por exemplo, o contato a teatros, cinemas, festivais, concertos e até mesmo a participação em eventos acadêmicos pensados para esse determinado tipo de público.

Assim, as teorias críticas vão além da discussão de conteúdo, mas também o ambiente, o modo, a problemática e uma série de questões que ainda estão em processo para que a educação consiga chegar o mais perto possível do ideal, ideal que levem em consideração o individual e o todo, para uma sociedade mais justa.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos e identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

* Graduanda licenciatura e bacharelado em História pela Universidade Federal de Uberlândia, Campus Pontal. Email: francielle.suiz@hotmail.com

** Graduanda licenciatura e bacharelado em História pela Universidade Federal de Uberlândia, Campus Pontal. Email: mariliaalfere@live.com

 

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