EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E COVID-19
Maria de Fátima Ayoub Tagliaferro*
Resumo
O presente trabalho objetiva analisar e refletir sobre estratégias e possibilidades de uma educação a distância durante o período de isolamento social devido a Covid-19 no Brasil, mais especificamente no Estado de São Paulo. Serão analisadas diferentes estratégias e recursos adotados para uma aprendizagem mais efetiva em uma segunda língua, considerando-se alunos de diferentes faixa etária e de escolas de Línguas e escolas públicas do estado de São Paulo. Embora haja um consenso no âmbito acadêmico de que a Educação a distância não seja a melhor forma de acesso à educação formal, faz-se necessário neste momento utilizá-la tanto em escolas públicas como particulares, sendo necessário maximizar sua eficácia.
Palavras-chave: covid-19; educação a distância; isolamento social.
Distance education and covid-1
Abstract
This paper aims to analyze and reflect on strategies and possibilities of distance education during the period of social isolation due to Covid-19 in Brazil, more specifically in the State of São Paulo. It will be analyzed different strategies and resources for a more effective learning in a second language, considering students of different age groups in language schools and public schools in the state of São Paulo. Although there is a consensus in the academic field that distance education is not the best way to access formal education, it is necessary at this time to use it both in public and private schools, and it is necessary to maximize its effectiveness
Keywords: covidd19; Distance education; social isolation.
Introdução
Em dezembro do ano 2019, a imprensa anunciou os primeiros casos de uma doença, surgida na China, causada por um vírus bastante contagioso, chamada Covid-19. Em meados de março 2020, a doença, agora considerada pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), estava presente em mais de cem países, causando muitas mortes.
Os países, então, começaram a adotar medidas de isolamento social para evitar o contágio, que sobrecarregaria os sistemas de saúde, já que segundo estudos, cerca de 13,8% dos infectados necessitariam de atendimento hospitalar.
No Brasil, especificamente no Estado de São Paulo, o governador, adotou medidas de isolamento social, suspendendo as aulas de escolas públicas e particulares gradualmente, a partir do dia 16/03/2020 e, completamente, a partir do dia 23/03/2020. Com o fechamento das escolas para conter a disseminação da Covid-19, começou-se a pensar em medidas para minimizar os danos causados aos alunos durante a suspensão das aulas.
Representantes do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação), CNE (Conselho Nacional de Educação ), FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e MEC (Ministério de Educação) se reuniram para analisar maneiras de oferecer educação a distância durante o período de recesso, a exemplo de outros países afetados pela doença.
Segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), as escolas no Brasil devem cumprir pelo menos 200 dias letivos anuais, distribuídos em dois semestres, totalizando no mínimo 800 horas.
Porém, em caráter excepcional, o governo publicou, em edição extra do Diário Oficial da União, Medida Provisória (MP) que promove ajustes no calendário escolar de 2020 (MP 934/2020). A medida vale para a educação básica e para a superior.
Pelo texto da MP, as escolas da educação básica e as instituições de ensino superior poderão distribuir a carga horária (800 horas anuais no caso da educação infantil e dos ensinos fundamental e médio) em um período diferente dos 200 dias letivos previstos na legislação. O ajuste valerá enquanto durar a emergência da saúde pública. Tanto a carga horária como o número de dias letivos são definidos pela LDB — Lei 9.394, de 1996 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/04/01/mp-ajusta-calendario-escolar-e-ano-letivo-podera-ter-menos-de-200-dias; Fonte: Agência Senado- Da Redação | 01/04/2020, 16h22.
A suspensão das aulas como medidas preventivas, obrigou as escolas particulares e públicas nos diferentes níveis de escolaridade, a adotarem algum tipo de ensino a distância para minimizar os prejuízos à aprendizagem.
Segundo Mario Sergio Cortella, professor há 36 anos na PUC-SP, autor de 48 livros, as plataformas digitais mudam o modo de pensar, mas não podem criar dependência. Não há tecnologia que modernize uma mentalidade, mas uma mentalidade moderna não recusa uma nova tecnologia quando ela é necessária.
Muitas escolas, no Brasil, ainda estão aprendendo a lidar com esta nova realidade, por um lado os professores, muitas vezes com pouco conhecimento no uso de tecnologias, por outro, os alunos, que embora tenham conhecimento de novas tecnologias, ainda não aprenderam a utilizá-las com aplicabilidade à educação. A velha discussão sobre a necessidade de o professor estar em permanente formação aplica-se em saber lidar com a tecnologia.
Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, cita a necessidade da reflexão crítica sobre a prática de hoje e de ontem, para que possamos melhorar nossa próxima prática.
Os alunos, por sua vez, têm usado as redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram e WhatsApp como ferramentas para tratar assuntos pessoais, diversão, bate papo com amigos; raras vezes como ferramenta para aprendizagem. Essa dicotomia parece ser um entrave no momento para chegar-se a uma aprendizagem efetiva neste momento de pandemia/suspensão de aulas, que afeta todas as classes sociais e diferentes faixa etária.
Há muita divergência sobre a eficácia de plataformas para atividades escolares, porém segundo o MEC (Ministério Educação), todos devem prestar atenção na qualidade dessas aulas ou atividades. Os estudantes devem receber o aprendizado adequado e correto. As escolas devem zelar pelo acompanhamento, avaliações e a participação correta dos alunos.
Ao autorizar que as aulas e atividades continuem de forma não presencial, as autoridades dos estados e municípios e as instituições particulares devem trabalhar para proporcionar o acesso de todos os estudantes ao aprendizado. Assim como a educação a distância necessita de metodologias próprias, as escolas devem adotar mecanismos próprios de fornecimento do conteúdo e acompanhamento avaliativo e da participação efetiva dos estudantes.
O presente trabalho, então, propõe-se a tratar, através de relato experiência vivida, a funcionalidade do ensino a distância, mais especificamente o ensino da Língua Estrangeira Moderna – Inglês nos deferentes níveis de escolaridade em escola de idiomas (crianças, adolescentes e adultos), e escola pública – Ensino Fundamental Anos Finais e Ensino Médio, com foco nas habilidades – speaking, reading, listening and writing.
Para exemplificar o ensino a distância, escolheu-se, entre tantos, o uso do aplicativo ZOOM.
Em 2020, o uso do Zoom aumentou 67% desde o início do ano até meados de março, quando escolas e empresas adotaram a plataforma de trabalho remoto em resposta à pandemia de coronavírus. Desde que a pandemia se intensificou, milhares de instituições de ensino mudaram para aulas para on-line usando o Zoom. A empresa ofereceu seus serviços para escolas de ensino fundamental e médio gratuitamente em muitos países.
Figura 1 – imagem ilustrativa ZOOM
Fonte : https://blog.onedirect.pt/blog-onedirect-pt/o-que-e-zoom
Acessado em 20/04/2020
Da teoria à prática: aulas com aplicativo para crianças em uma escola de línguas
Importante destacar aqui, que não se trata de propaganda deste aplicativo, e sim, um relato de experiência com seu uso, por ser fácil de manusear. O trabalho com crianças, mesmo em ambiente presencial, exige cautela ao preparar as aulas que atraiam a atenção delas, já que são propensas a se distraírem com facilidade. Então, aulas a distância, exigem um preparo e cuidado ainda maior. Antes de mais nada, é fundamental que se conheça a plataforma de trabalho com detalhes, que as aulas sejam preparadas com antecedência.
O aplicativo ZOOM apresenta diversas funcionalidades como: compartilhamento de tela – que nos permitem interagir com as crianças e apresentar vídeos pertinentes ao conteúdo em estudo; chat – usado para correção das atividades realizadas, que pode ser compartilhado com um aluno específico ou grupo de alunos; entre tantas outras funcionalidades que devem ser conhecidas pelo professor antes do início da aula, para uma aprendizagem eficaz.
A aula deve ser planejada. O tema e o objetivo da aula devem estar claros ao professor.
Ao desenvolver o conteúdo, o professor deve analisar: que recursos serão utilizados – apresentação de vídeos, textos (que podem ser compartilhados na tela – e destacados os trechos que devem ser enfatizado com caneta grifa texto), música (previamente baixadas pela internet), relacionadas ao conteúdo estudado.
Ao ter clareza dos recursos que serão utilizados, o professor minimiza alguns problemas que fatalmente ocorrerão durante a aula, já que a presença física do mestre na sala presencial é insubstituível.
Assim como na aula presencial, é necessário que se tenha uma pauta da aula, com a sequência das atividades que serão desenvolvidas. Decidiu-se por apresentar vídeos, sendo que estes deverão estar baixados com antecedência, músicas também devem estar baixadas, textos também organizados.
A avaliação da aula também deve fazer parte da aula virtual, não a avaliação formal aos alunos, mas sim a verificação da eficácia da aula e a participação dos alunos nas atividades propostas.
Importante destacar aqui a organização do tempo da aula, que deve ser pensado antes de seu preparo.
Existem algumas vantagens ao ministrar as aulas de Educação a Distância (EaD) para crianças como:
- Pais mais participativos no processo ensino aprendizagem de seus filhos/crianças. Geralmente, os pais estão presentes para auxiliar o filho/a em alguma tarefa como: recortar, colar, encontrar página do livro didático.
- Maior interação pais/professores sobre rendimento escolar de seu pupilo. Já que muitos pais não conhecem muito sobre a língua inglesa, ao serem propostos exercícios extraclasse, costumam entrar em contato com professor, e isto proporciona uma aproximação entre família do estudante e o educador.
- Maior concentração do aluno na explicação do professor, para que consiga realizar as atividades propostas com sucesso.
Em contrapartida, há muitos problemas a serem enfrentados durante uma aula virtual, tais como:
- Nem sempre os pais/responsáveis estão ao lado da criança para auxiliá-los em tarefas em que apresentem eventuais dificuldades. No caso de recortes, colagem, por exemplo, algumas crianças têm certa dificuldade por não terem coordenação motora suficiente, e a aula fica um tanto morosa.
- Alguns alunos acham que durante a aula virtual, podem sair para, por exemplo, ir ao banheiro, beber água, entre outras coisas, por entenderem que estão em casa e, portanto, podem se ausentar sem permissão.
- Adultos, ou outros familiares conversam, ou ligam aparelhos eletrônicos enquanto a criança está frequentando a aula e os ruídos atrapalham, principalmente quando a criança está realizando uma atividade de “listening”.
- Quando a escola opta pela versão “free” (gratuita), a cada 40 minutos, a transmissão encerra-se, sendo necessário que a criança entre novamente com o ID da aula e a senha. Em uma aula de 90 minutos, geralmente o aluno tem que entrar para a aula por três vezes. (Há, porém, aqui um ponto positivo: as crianças aprendem a utilizar algumas ferramentas que muitos adultos têm dificuldade).
- Alguns alunos têm problemas com a Internet lenta e a imagem ou som não são adequados.
- Alguns alunos ficam ansiosos e tendem a querer avançar para os exercícios seguintes, enquanto a maioria deles ainda não concluiu suas atividades, geralmente prejudicando o rendimento da aula, já que outros se sentem inibidos por não terem concluído suas tarefas.
As perguntas mais frequentes são:
- “Teacher”, o que tem que fazer na “next page”?
- “Teacher”, qual “book” é agora – “workbook” ou “student book”?
- “Teacher”, vai ter “homework”?
- “Teacher”, what page”?
Enfim, são muitas perguntas feitas pelos alunos ansiosos. Para minimizar estes problemas, recomenda-se que no início da aula, seja feito um “contrato pedagógico”, assim como na aula presencial, estabelecendo-se regras para que aja uma efetiva aprendizagem.
Embora haja uma ferramenta capaz de silenciar os alunos enquanto o outro fala, a melhor alternativa ainda é o estabelecimento de regras. No início da aula, deve-se colocar os nomes dos alunos em uma lista aleatória ou por outro critério, deixando claro quem responderá as perguntas pela ordem mencionada.
Outro ponto importante, é sempre indagar se estão entendendo.
- ”Students, did you understand”?
- “Is it necessary to repeat”?
- “O que deve ser feito no “exercise…”?
- “Quais são os “toys” (exemplo de conteúdo) que aprendemos “today”?
Enfim, toda aula para crianças, presencial ou por videoconferência, em escolas de línguas ou escola pública deve ser cuidadosamente planejada.
Aulas utilizando aplicativo com adolescentes em escola de idiomas
Como citado anteriormente, o uso de aplicativo/aulas EaD em escolas públicas ou privadas aconteceu repentinamente, e não somente como complemento de ensino-aprendizagem, mas sim como a principal, senão única ferramenta disponível no momento para dar continuidade à aprendizagem dos alunos.
Vimos também, que nossos alunos usam a tecnologia com outras finalidades e objetivos, e com raras exceções a utilizam como ferramenta de aprendizagem.
Diferentemente das crianças, embora a plataforma permita o compartilhamento de imagem e som, os adolescentes geralmente não gostam de mostrar seus rostos, e compartilham somente o áudio – “speaking”.
A sala de aula referente ao estudo é composta por oito alunos, sendo seis adolescentes do sexo feminino e dois adolescentes do sexo masculino, apenas duas alunas compartilham suas imagens. Faz-se necessário apontar aqui, que os alunos estão no nível avançado do estudo em língua inglesa, apresentam um bom desempenho na língua nas quatro habilidades: “Speaking”, “Reading”, “Listening” and “Writing” (fala, leitura, escuta e escrita).
Participam da aula respondendo as questões pertinentes ao conteúdo, mas necessitam de estímulo para que tenham uma participação mais efetiva na aula. A frequência nas aulas pode ser considerada satisfatória. Assim como nas aulas para crianças, há alguns empecilhos que muitas vezes, deixam uma sensação de que a tecnologia não é capaz de suprir as necessidades de aprendizagem dos adolescentes:
- Alguns “shy students” (alunos tímidos) falam baixo, talvez por receio de pronunciar errado ou entender que os colegas apresentam um melhor desempenho, se sentem inseguros. Isto também acontece em sala presencial, mas com menor intensidade.
- Frequentemente, ruídos na residência, por exemplo a televisão ligada ou presença de familiares nas proximidades em que o aluno está assistindo à aula, são ouvidos por todos e podem perturbar uma atividade de “listening” (escuta), por exemplo.
- Alguns “smart students” (alunos “espertos”) conseguem trocar atividades/respostas escritas entre eles através da ferramenta “chat” (bate-papo) clicando em enviar com privacidade aos colegas de sala, sem que o professor veja. Este procedimento não ocorre com as crianças já que elas não têm o discernimento ainda, de perceber esta possibilidade. Para minimizar este problema, é possível formular a mesma pergunta de uma outra forma, pedindo que o aluno responda oralmente, sendo então possível verificar se houve troca de informação. Vale lembrar aqui, a importância de, separadamente depois do término da aula, conversar com o aluno, explicando a necessidade de maior envolvimento nas atividades propostas. Ter uma conversa privada com o aluno faz-se necessário para que ele/ela não se sinta constrangido perante o grupo.
- Muitas vezes, a Internet apresenta um sinal fraco e a imagem aparece um pouco distorcida ou “frozen” (congelada/ parada) e o som apresenta eco, prejudicando uma atividade de “listening” (escuta).
- Na versão “free” (gratuita), para concluir a aula que tem durabilidade de 90 minutos, o aluno deve registrar-se por três vezes, a cada 40 minutos. Alguns alunos não retornam nos últimos dez minutos. Os pais são comunicados quando isto acontece para evitar futuros aborrecimentos.
Assim como em aulas para crianças, pode-se citar alguns benefícios com o uso de ferramentas tecnológicas no ensino de uma segunda língua:
- Raramente os alunos usam a língua materna na aula, respondem as questões propostas em língua inglesa. Importante aproveitar a oportunidade para ir além do assunto citado no livro didático. Uma conversa, por exemplo, sobre aulas EaD, qual a opinião deles, como se sentem fora da sala de aula presencial, quais suas expectativas.
- Há uma maior interação entre aluno/ professor, já que além das atividades propostas em sala de aula virtual, pode- se propor o envio de atividades extras, vídeos, explicações sobre gramática etc., através endereço eletrônico ou WhatsApp para complementar o conteúdo. Embora este procedimento possa ser realizado nas aulas presenciais, talvez por entender-se que as dúvidas podem ser esclarecidas presencialmente, torna-se menos comum o hábito de enviar atividades complementares ao conteúdo.
- Como não há deslocamento da residência até a escola, os alunos geralmente não se importam de ficar um pouco mais na sala virtual, concluindo alguma atividade ou até para sanar alguma dificuldade em determinado conteúdo.
- Possibilidade de gravar a aula para tirar dúvidas ou mesmo para posterior estudo.
Assim como as aulas com as crianças, presencial ou a distância, estas devem ser cuidadosamente preparadas – o tema, o objetivo da aula, os recursos que serão utilizados e a avaliação final da aula devem ser considerados no planejamento.
Também é necessário, sempre perguntar se estão entendendo.
- “Did you undestand?”
- “Is it necessary to repeat?”
Aula com alunos adultos em escola de línguas
Sabe-se que ao planejar uma aula, deve-se pensar no interesse do público alvo – crianças, adolescentes e adultos aprendem de maneira distintas e apresentam interesses diferentes para a aprendizagem. Ao planejar atividades para um determinado grupo de alunos, seja esta aula presencial ou virtual, o educador deve conhecer bem o grupo, preparando as atividades que atraiam a atenção das diferentes turmas.
Durante este período de aulas pela plataforma/EaD, adultos tendem a ter maior resistência, já que muitos deles não tem domínio com os “gadgets” (aparelhos eletrônicos). Vale ressaltar aqui, que grupo de adultos nas escolas de línguas, não são formados por faixa etária, sendo possível uma pessoa, por exemplo, de 60 anos, estar em uma sala com alunos na faixa de 20, 30,40, 50 anos.
O grupo analisado neste estudo é formado por alunos que estudam medicina, alunos interessados em trabalhar em multinacional, alunos que desejam ingressar em uma Universidade e alunos que terminaram a faculdade e desejam melhorar seus currículos, já que é sabido que a formação em uma língua estrangeira aumenta a chance da pessoa ingressar no mercado de trabalho.
Apesar das primeiras dificuldades, observa-se que após algumas aulas, os educandos estão aceitando com maior naturalidade as aulas por videoconferência, estão participando bastante das atividades propostas.
Acreditava-se que alguns alunos fossem desistir do curso, mas surpreendentemente não houve desistências.
Diferentemente dos adolescentes, não se importam de participar com áudio e vídeo, realizam as atividades extraclasse com interesse e muito raramente perdem as aulas.
Com este público-alvo, as aulas necessitam ser preparadas com muita cautela, a escolha de recursos didáticos como vídeo e músicas devem ser escolhidos e baixados com antecedência para complementar o material/livro didático. Os alunos, embora alguns deles possam saber como repassar atividades no modo privado ao colega, não o fazem.
Assim como em aulas com crianças e adolescentes, existem alguns entraves observados:
- O sinal de Internet fraco muitas vezes deixa a imagem distorcida e o áudio, algumas vezes chega com atraso ao aluno, provocando eco. Embora haja estes pequenos problemas, não prejudica o rendimento da aula.
- Ruídos externos, como aparelhos eletrônicos ligados, animais de estimação, como cachorros latindo, crianças brincando, podem interferir em atividades de “listening”.
- Na versão “free” (gratuita), o aluno deve fazer seu registro a cada 40 minutos, sendo necessário, durante a aulas que duram 90 minutos, que ele faça seu registro por três vezes. No início, isto foi um grande empecilho, já que eles demoravam muito para entrar na plataforma novamente, mas depois de algumas aulas, aprenderam como voltar rapidamente minimizando o problema – essa parte se repete várias vezes
Há pontos positivos nas aulas realizadas virtualmente:
- Adultos, de diferentes idades, aprendem a utilizar a tecnologia.
- Existem muitos recursos na barra de ferramenta que podem ser usados para chamar atenção dos alunos como: canetas para grifar trechos de textos, ou para comparar diferentes tempos verbais, pronomes, a ordem das palavras entre outras possibilidades
- As aulas pela plataforma permitiram maior interação professor/aluno, já que para complementar o conteúdo ou para tirar dúvidas na realização das atividades extraclasse, o aluno entra em contato com o professor com mais frequência.
- Existe a possibilidade de gravar as aulas e posteriormente assisti-la para sanar possíveis dúvidas.
A escola pública e aulas a distância em tempo de pandemia
Sabe-se que com o inesperado problema causado pela pandemia do coronavírus, a Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo adotou medidas para minimizar a perca na aprendizagem dos alunos, criando ensino a distância (medida adotada por praticamente toda rede de ensino no pais e mundialmente), utilizando um aplicativo chamado de Centro de Mídias São Paulo-CMSP .Canais de televisão também disponibilizam horário para apresentação das aulas
Mais de 4 milhões de alunos estão matriculados no Ensino Fundamental ou Ensino Médio em escolas da rede estadual de ensino paulista. Para atender a demanda, a Educação mantém mais de 250 mil professores atuando nas salas de aula.
Tal número exige da Secretaria da Educação um aplicativo robusto para atender a esta demanda de alunos e professores. As aulas pelo aplicativo são ministradas a distância por professores das diferentes disciplinas. Os educadores, por sua vez, devem orientar os alunos, acompanhar frequência e enviar atividades complementares através de algum tipo de mídia.
Na maioria das vezes, nem os alunos nem os professores estão preparados para frequentar um ambiente virtual de educação. O professor, que deveria estar em aprendizagem contínua, muitas vezes por comodismo ou por falta de tempo ou mesmo de oportunidade, continua usando recursos tradicionais como lousa, giz e no contexto da pandemia obrigou-se a tentar entender como chegar ao aluno, já que o proposto é que nenhum aluno deve ser excluído do ambiente de aprendizagem. Há um grande esforço por parte de todos os envolvidos com o objetivo de levar conhecimento ao aluno, mas há uma barreira muito grande.
Em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa (Ensinar exige pesquisa p.16), Paulo Freire ilustra a necessidade da busca de conhecimento, da pesquisa por parte do educador. “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo, educo e me educo. Pesquiso para conhecer e o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.” (FREIRE, Ensinar exige pesquisa, Página 16)
Há uma enorme dicotomia entre ser professor por videoconferência em uma escola de línguas, onde os grupos são formados por oito, nove, dez alunos, em que todos, ou quase todos, dispõem de uma boa rede de Internet, possibilitando uma aula totalmente interativa, com materiais didáticos preparados por instituições internacionais e ser professor passivo em uma escola estadual, enviando atividades complementares às aulas oferecidas por outros educadores. Não se trata de críticas negativas, mesmo porque todos os esforços possíveis estão sendo realizados para minimizar a ausências do ensino presencial.
Embora sabendo-se a importância da língua inglesa para aumentar a chance de se conseguir um bom emprego, no disputadíssimo mercado de trabalho, o ensino da língua inglesa em escolas públicas brasileiras é muitas vezes desvalorizado pelos educandos e também pela comunidade escolar, por razões que não serão tratadas neste trabalho, por não ser este o tema proposto Notou-se no cronograma que nas duas primeiras semanas de aulas pelo aplicativo, foi proposto somente uma aula no primeiro ano ensino médio.
Para chegar ao aluno, o professor de línguas deverá organizar um plano de aula que possa envolver as quatro habilidades necessárias ao ensino de uma segunda língua (speaking, listening, writing and reading).
Algumas estratégias podem ser úteis para se chegar a um objetivo (ou quase).
Um exemplo de um roteiro de aula:
ANO LETIVO 2020 – 1º BIMESTRE
Existe um problema neste roteiro de atividades- há alunos que não possuem sinal de Internet e não conseguiriam assistir aos vídeos nos links propostos. Neste caso, seria possível gravar um áudio para minimizar o problema. Em meio a tantos problemas e dificuldades, pode-se apontar algo positivo neste período: a “presença” muito maior dos pais na vida escolar do aluno.
Podemos dizer com bastante assertividade: nem professores, nem alunos, nem pais serão os mesmos depois da pandemia.
Professores estarão mais atentos e aprendido mais sobre as diferentes tecnologias, alunos entenderão a importância da presença do educador em suas vidas e os pais entenderão a importância de estarem presentes na vida escolar dos filhos.
Considerações finais
Com a suspensão das aulas nas redes públicas e privadas como medida preventiva ao contágio da doença covid-19, professores, alunos, pais tiveram que se adaptar com certa urgência nova rotina escolar. Pais tiveram que auxiliar os filhos pequenos a usarem computadores para as aulas por videoconferência e este procedimento aproximou-os dos filhos e dos educadores.
Professores tiveram que se adaptar e encontrar novas maneiras para chegar ao aluno de modo eficaz sendo necessário utilizar novos conhecimentos em tecnologia, tendo que pesquisar, baixar aplicativos, gravar vídeos e dar aulas virtualmente. Alunos, tão acostumados a ter o auxílio do teacher presencialmente, tem agora que ouvir a voz, ver as imagens através do celular ou computador.
Pode-se dizer que o professor na sala de aula é insubstituível. A presença, o toque, o carinho, o olhar, um gesto jamais serão substituídos por um eletronic device (aparelho eletrônico); pode-se também garantir que os conhecimentos angariados neste período tão complicado nos farão repensar na Educação com mais carinho e mais seriedade.
A tecnologia não substitui o professor, mas será uma grande aliada para sua melhoria, já que professores assumiram foram obrigados a se reciclar par chegar ao aluno.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em 21 abr. 2020.
CORTELLA, M.S. A educação e as tecnologias. Disponível em: <http://mariosergiocortella.blogspot.com/2012/12/a-educacao-e-as-tecnologias.html>. Acesso em 21 abr. 2020.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conselho Nacional de Educação esclarece principais dúvidas sobre o ensino no país durante pandemia do coronavírus. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/busca-geral/12-noticias/acoes-programas-e-projetos-637152388/87161-conselho-nacional-de-educacao-esclarece-principais-duvidas-sobre-o-ensino-no-pais-durante-pandemia-do-coronavirus>. Acesso em 31 mar. 2020.
PAVAN, N.; NICOLIELO, B. Resenha e trecho do livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire. In: Revista Nova Escola, 1 mai.2010. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1008/resenha-e-trecho-do-livro-pedagogia-da-autonomia-de-paulo-freire>. Acesso em 21 abr. 2020.
SÃO PAULO. Portal do Cidadão. Dados educacionais. Disponível em: <https://www.educacao.sp.gov.br/dados-educacionais>. Acesso em 2 mai. 2020.
ZOOM VIDEO COMMUNICATIONS. In: Wikipedia, a enciclopédia livre. Flórida. Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Zoom_Video_Communications&oldid=58019751>. Acesso em: 20 abr. 2020.
COMO CITAR: TAGLIAFERRO, M. F. A. Educação a distância e Covid-19. Revista P@rtes, 2020.