Por Gilberto da Silva
Na minha memória afetiva de criança está sempre presente o apito, ao longe, do trem. Imaginações infantis, viagens, sonhos e por consequência imaginava-me aquele senhor trabalhando para levar a locomotiva para rincões nunca conhecido.
As primeiras viagens marcadas pelo ferro, pelo aço das bitolas. Cambará – Ourinhos – São Paulo: trajetos muitas vezes demorados, oito, dez até doze horas de viagens. A primeira vez que desci na estação Julio Prestes, em São Paulo, pelas mãos do meu avô materno, inesquecível: aquele amontoado de gente nunca visto pelos olhos juvenis.
As trocas de máquinas, as mudanças nos trilhos e os sonhos de ser um maquinista. A vida e a lida nos levam para caminhos nunca dantes sonhados. Este foi só mais um sonho, sonhado acordado.
O que nunca esqueci é que ali, dentro daquela máquina, que na Grande São Paulo transportou diariamente meus sonhos, minhas dores, minhas angústias, meus amores, minhas desilusões, meus defeitos e minhas qualidades estava um ser denominado ferroviário e ao seu lado outros seres responsáveis para que tudo desse certo, mesmo nas horas em que irritados pelas demoras e atrasos, invariavelmente enlouquecíamos.
Eles e elas estão nos trilhos diariamente levando, trazendo pessoas e mercadorias para alimentar nosso corpo e nossa alma. Meus profundos agradecimentos a esses trabalhadores.