Acedriana Vicente Vogel*
Nossas crianças e jovens têm se mostrado cada dia menos tolerantes ao que eu chamo de encanto da espera, revelado aos que respeitam o percurso natural das coisas da vida. Percebido, por exemplo, por meio da beleza e do sabor de uma fruta amadurecida no pé, sem a interferência da mão humana, que não seja para protegê-la de eventuais tempestades. A natureza a expõe às intempéries, não há como evitar. Há somente como proteger, eventualmente, estando por perto – afinal, nesses momentos a planta desenvolve certa resistência e põe à prova se, de fato, plantio e cultivo foram feitos nas melhores condições. E, como presente, a colheita em tempo certo permite usufruir do perfume, do sabor, entre outros encantos da espera.
Respeitar o tempo das coisas implica no equilíbrio entre a proatividade ansiosa que elimina os encantos da espera e o simples esperar sentado. Chamo atenção para esse movimento na escola e na família. Há escolas que afirmam acelerar processos “porque a família exige”. Há algo tão distorcido nesse processo que há empresários impressionados com a quantidade de jovens que ingressam no mundo do trabalho certos de que vão sentar no primeiro dia, na cadeira de Diretor Geral. Por quê? Porque desde a educação infantil, há meninos e meninas que não estão sendo educados para o respeito ao tempo de espera, para a disciplina que exige resiliência, alteridade e acolhimento.
É difícil assistir de braços cruzados essa pressa desnecessária do ensino básico, no que tange aos aspectos cognitivos, negligenciado aspectos que são de responsabilidade da escola, por necessitar de um trabalho pedagógico, portanto intencional, entre pares, a fim de que a resiliência, a alteridade e o acolhimento, encontrem espaço fecundo, no processo de formação humana. Talvez seja esse motivo que os gráficos apontam nas pesquisas, de forma contundente, que os profissionais recém egressos das escolas são admitidos pela sua inquestionável qualidade técnica – e demitidos, em sua grande maioria, por sua extrema incapacidade de restabelecer relações sociais.
Aprendemos com os nossos pares a disciplina social da qual tanto necessitamos para conhecer nossos limites e respeitar os limites dos outros. Pois, como o sábio Paulo Freire já apontava, “ninguém chega lá, saindo de lá”. Necessitamos de paciência histórica. Entender os tempos de cada um, para não atropelá-los, nem desperdiçá-los é uma arte – e a escola é o espaço profissional da harmonização dos tempos. Talvez seja por isso que recebamos o título de professor: aquele que tem por profissão professar que já é tempo de… e, ainda, pelas relações, permitir viver a alteridade, vendo o outro como outro e não como aquele que queríamos que fosse (no seu tempo). Esse exercício permite, por sua vez, o acolhimento do outro, afugentando a tolerância. E, por último, ao acolher o outro como outro, eu me construo mais flexível, porém com princípios bem fundamentados e, a isso, damos o nome de resiliência, termo emprestado da física.
Mas, o mais mágico reservado à profissão de quem professa é o de encantador da espera, realizado por meio da dádiva de se estar sempre saindo. Afinal, quando chegarmos lá é porque já acabou o nosso tempo!
* Acedriana Vicente Vogel é diretora pedagógica da Editora Positivo