Claudemir Miranda Barboza*
Tiago Eutíquio Lemes Santana **
Renivaldo Bispo da Cruz***
Resumo:
Apresentaremos a experiência vivenciada em um grupo de mágica com matemática compostos por alunos do Atendimento Educacional Especializado (AEE), desenvolvido em uma das ações do Programa Institucional de Residência Pedagógica na escola parceira EEEFM Bernardo Guimarães no município de Cacoal – RO. O intuito de realizar essa atividade foi proporcionar aos alunos do AEE a oportunidade de serem agentes ativos no processo de ensino aprendizagem, estimulando a inclusão dos alunos que frequentam o AEE com os demais alunos da escola.
Palavras-Chave: Educação Especial; Mágica; Matemática; Residência Pedagógica
Abstract:
Presented an experience lived in a group of magic with mathematics composed for students of the Specialized Educational Attendance (AEE), developed in one of the actions of the Institutional Program of Pedagogical Residence in the partner school of EEEFM Bernardo Guimarães in the municipality of Cacoal – RO. The purpose of this activity was to offer students of ESA the opportunity to practice active agents in the teaching-learning process, encouraging the inclusion of students who attend ESA with the other students of the school.
Keywords: Special education; Magic; Mathematics; Pedagogical Residence
- Introdução
Essa experiência ocorreu na escola EEEFM Bernardo Guimarães no município de Cacoal – RO com um grupo de alunos do Atendimento Educacional Especializado (AEE) em uma das etapas do Programa Residência Pedagógica, que é um programa de cunho nacional na formação de professores e possui dentre seus objetivos o desenvolvimento de projetos que fortaleçam o campo da prática e conduzam de forma ativa a relação entre teoria e prática profissional docente.
O Programa Residência Pedagógica é dividido em três etapas: ambientação, participação e regência, sendo que na primeira o participante deve dedicar a se familiarizar com todos os espaços da escola, já a participação ocorre o primeiro contato com os alunos em uma sala de aula, auxiliando o professor no desenvolvimento de atividades e por fim a regência, etapa em que o acadêmico descobre-se, ou não, como professor.
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) foi criado para dar suporte aos alunos deficientes e facilitar o acesso ao currículo, conforme o Decreto Nº 7.611 de 17 de novembro de 2011:
Art. 3º São objetivos do atendimento educacional especializado:
I – Prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes;
II – Garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular;
III – fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e
IV – Assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino. (BRASIL,2011)
O olhar inicial para os alunos do AEE ocorreu por um mero acaso na fase de ambientação e atingiu todas as três etapas do programa, sendo que a experiência vivenciada teve como foco o III objetivo, em que na ocasião desenvolvemos materiais manipuláveis para a utilização no grupo de mágica com matemática e no presente relato descreveremos os materiais utilizados.
- Realização do Projeto
Partindo do pressuposto que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção, ou a sua construção” (FREIRE, 2011, p.24), o projeto foi desenvolvido norteados pela aprendizagem significativa, que em suma é a aprendizagem que realmente tenha sentido para o educando, de maneira que ele seja capaz de se apropriar com maior proveito dos conteúdos, segundo Ausubel:
Na aprendizagem significativa há três vantagens essenciais em relação à aprendizagem memorística. Em primeiro lugar, o conhecimento que se adquire de maneira significativa é retido e lembrado por mais tempo. Em segundo, aumenta a capacidade de aprender outros conteúdos de uma maneira mais fácil, mesmo se a informação original for esquecida. E, em terceiro, uma vez esquecida, facilita a aprendizagem seguinte – a “reaprendizagem”, para dizer de outra maneira. A explicação dessas vantagens está nos processos específicos por meio dos quais se produz a aprendizagem significativa onde se implica, como um processo central, a interação entre a estrutura cognitiva prévia do aluno e o conteúdo de aprendizagem. (AUSUBEL ,1982, p. 58)
O intuito de realizar esse projeto foi oportunizar aos alunos do AEE a aprendizagem de mágicas que envolvessem matemática e posteriormente a aplicação dessas mágicas nas turmas regulares, ação que proporcionou a esses alunos a possibilidade de serem agentes ativos no processo de ensino aprendizagem. Foram realizados encontros semanais com 2 horas de duração, sendo estes momentos dedicados a confecção de materiais, treinamento das mágicas e apresentação nas turmas regulares. No presente relato descreveremos em detalhes as mágicas mais relevantes.
2.2. Treinamento
Primeiro levamos dois desafios matemáticos encontrados no Portal do Saber[1], escolhemos os quebra-cabeças “De volta ao planeta terra” e “Desafio dos copos”, os quais construímos materiais manipuláveis com a intenção de desenvolver o raciocínio lógico matemático de forma intuitiva, que posteriormente foi direcionado para a abstração, competência que se fez necessária para o entendimento da matemática envolvida nas mágicas e possibilitou a sua realização com sucesso. No próximo encontro começamos a treina-los para fazer matemágicas descritas a seguir.
2.2.1. Soma Oculta
Precisa-se de apenas 3 dados comuns, construímos de papelão e papel cartão para ficarem maiores. O matemágico chama alguém da plateia para embaralhar e empilhar em uma única coluna os dados enquanto ele estiver de costas, depois o matemágico se vira e coloca a mão em cima dos dados para se “conectar” com eles e descobrir em questão de segundos qual é a soma das cinco faces ocultas.
Figura 1 – Materiais, treinamentos e apresentação da mágica dos dados
Fonte: Autores
Importância: Desenvolver o raciocínio lógico-matemático na busca por padrões, pois não importa o quanto seja embaralhado os dados, sempre será possível descobrir a soma das faces ocultas em questão de segundos. Tem truque: Os dados foram construídos de modo que a soma das faces opostas sempre resulte em sete, então em três dados a soma das seis faces opostas será 3×7 = 21, no entanto apenas 5 faces estão ocultas e para descobrir a soma delas faremos 21 menos a face superior do 1º dado da coluna.
2.2.4. Dinheiro no varal
Iremos precisar de uma corda (daquelas utilizadas para fazer varal) de aproximadamente 1 metro, de 12 prendedores de roupa e uma nota de 10 reais. O matemágico irá convidar alguém da plateia para participar de uma brincadeira e tentar ganhar o dinheiro. Funciona assim: a pessoa convidada irá retirar 3,2 ou 1 prendedor, depois é a vez do matemágico retirar 3,2 ou 1 prendedor. Ganha o dinheiro quem retirar o prendedor que segura a nota de 10 reais, no entanto esse deve prendedor deverá ser o último a ser retirado. “Matemágicamente” não importa quem começa a brincadeira; o matemágico sempre ganha.
Figura 2– Materiais e apresentação da mágica das cartas
Fonte: Autores
Importância: Mostrar com a matemática básica está envolvida em situações que a princípio parecem ser complexas, pois para desvendar a mágica basta saber fazer a divisão e entender o conceito de múltiplos de um número. Tem Truque: vamos por parte; como ganhar quando a pessoa da plateia começa? Iremos dividir os 12 prendedores em 3 grupos de 4 unidades:
Figura 3 – Esquema da mágica do dinheiro
Fonte: Autores
O convidado irá retirar 3,2 ou 1 prendedor, nisso basta que o matemágico retire uma quantidade que complete 4. Depois de duas retiradas de cada pessoa teremos 4 prendedores restantes e será a vez do convidado que nessa altura já terá percebido que não irá ganhar, pois se ele retirar um prendedor o matemágico retira 3, entre eles a nota de 10 reais, se ele retirar 2 o matemágico retira também 2 e ganha, e se ele retirar 3 o matemágico retira o último, aquele que prende a nota de 10 reais. Mas como o matemágico ganha quando ele começa? Por meio de uma pequena distração na plateia. Boa sorte para descobrir a segunda parte do truque.
2.3. Apresentações em sala
Em dos encontros vieram 3 alunos do grupo de matemágica, então decidimos realizar as apresentações em sala, por ser nossa primeira vez, optamos por ir na classe do 3º ano do ensino fundamental. Os alunos amarram em nos ver fantasiados de mágicos, gritaram, nos abraçaram, e se encantaram com as matemágicas. Acredito que os alunos do AEE gostaram muito de toda a atenção que receberam. Apresentamos também nos 8º anos e na turma de reforço. Para os 8º anos percebemos que seria necessário treinar mais, pois ficamos muito nervosos e como nos relatou um de nossos matemágicos: “Deu um frio na barriga”, mas são em situações como essa que iremos aprender a superar nossos medos. Uma das professoras nos afirmou que seus alunos nunca haviam visto isto (mágica com matemática) e por isso demonstraram tamanha empolgação. A professora do AEE nos falou como foi bom ver a alegria deles na torcida, principalmente na mágica do dinheiro em que um dos autores colocou uma nota de 100 reais em vez de 10 reais.
Houve um dia em que faltava apenas 30 minutos para terminar as aulas da parte da tarde e os alunos do AEE ficaram insistindo para irmos em mais uma sala, argumentamos que iríamos em outra oportunidade com mais tempo, mas não teve jeito, tivemos que ir. Na sala em questão apresentamos apenas uma mágica e nesse momento percebemos o quanto eles estavam animados por participarem desse grupo.
- Considerações Finais
Inicialmente tínhamos preconceito com os alunos da educação especial, nunca pensamos em desenvolver projetos voltado a essa área, e achávamos que eles não eram capazes de aprender. Essa experiência nos possibilitou a quebra de paradigmas e o enriquecimento da nossa bagagem de conhecimento, aprendizagem que levaremos para nossa prática docente, pois agora sabemos que os alunos do AEE possuem dificuldades, mas também potencialidades, que podem ser exploradas com o uso de metodologias diferenciadas.
Essa vivência nos possibilitou a aplicação dos conhecimentos teóricos aprendidos na disciplina de educação inclusiva em acontecimentos reais, criando dessa forma uma ponte, unindo teoria e prática, propiciando o desenvolvimento de habilidades necessárias para a realização de um ensino de qualidade.
Referências
AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo:Moraes, 1982.
BRASIL. Decreto n. 7.611, de 17 de nov. de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências, Brasília, DF, nov. 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido: saberes necessários a pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
* Professor do IFRO, Campus Cacoal – claudemir.barboza@ifro.edu.br
** Acadêmico do curso de Licenciatura em Matemática do IFRO, Campus Cacoal -tiagoeutiquio@gmail.com
*** Acadêmico do curso de Licenciatura em Matemática do IFRO, Campus Cacoal – reni.bispo@gmail.com
[1] Desafios disponível em <https://portaldosaber.obmep.org.br/index.php/modulo/lista?serie=12 >. Aceso em 19 de setembro de 2018.