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Identidades e diferenças na escola: desafios aos educadores

 Genivaldo Frois Scaramuzza*

Simone Alves Scaramuzza**

 

Genivaldo Frois Scaramuzza – Professor da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Pedagogo, Especialista em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar. Possui Mestrado em Geografia. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia – GPEA. scaramuzza1@gmail.com

Resumo: o estudo em tela pretende discutir a partir de reflexões teóricas algumas questões inerentes aos desafios posto a escola em função da presença das identidades e diferenças. Toma-se neste estudo a noção de que as identidades não se constituem em categorias fechadas, mas em produções sociais e culturais que articulados pela cultura, dão sentido aos ordenamentos vividos pelos indivíduos em determinadas circunstâncias.  

Palavras-Chave: Identidades. Diferenças. Escola. Formação de Professores.

                                                                                           

Introdução

Entendemos ser importante observar o potencial em compreender a amplitude da formação docente para as relações étnico-raciais de modo a articular o campo da formação (a profissionalidade) ao campo das teorias que buscam mostrar a construção histórica e relacional das identidades/diferenças.

Outro elemento que postulamos ser importante refere-se a discussões sobre as políticas públicas formativas em sua realidade escolar que buscam fomentar a educação das relações étnico-raciais e demais diferenças em contexto escolar. Feito essas observações, postulamos que esta reflexão parte de construções teóricas, amparadas em revisão bibliográfica que articula a temática em tela.

A questão das diferenças na escola

A escola pode ter adquirido novos posicionamentos ou funções diante das transformações que a sociedade vem sofrendo, principalmente, no modo de como as pessoas aprendem e dão significados as suas vidas. Embora seja possível falar em aprendizagens em contextos diversos, a escola ainda continua sendo o lugar privilegiado para a aprendizagem sistematizada por conteúdos, objetivos, competências e habilidades.

Atualmente, um dos elementos em debate nacional, refere-se diretamente as questões inerentes às identidades e diferenças. Essa temática potencializa discursos midiáticos, políticos e, sobretudo, curriculares. Neste sentido, as questões de identidades em contextos escolares, principalmente as formas em que docentes dos anos iniciais representam em suas concepções e práticas, imagens a respeito das diferenças constitui-se um aspecto relevante a ser observado. Tomamos como concepção de representação neste estudo, as proposições de Hall (2016), para quem, a “representação é uma parte essencial do processo pelo qual os significados são produzidos e compartilhados” (HALL, 2016, p. 31).

Simone Alves Scaramuzza É Graduada em Pedagogia pela Fundação Universidade Federal de Rondônia, Campus de Ji-Paraná, e-mail: simonescaramuzza23@gmail.com

A concepção do autor mencionado é importante porque nos permite compreender a artificialidade da representação, haja vista que se trata de uma construção histórica pelo qual o significado de nossas ações é posto em disputa no campo do poder.  Assim, a representação enquanto campo de produção de sentido possui estreita relação com a perspectiva da identidade, haja vista, que há sempre uma seleção sobre o que é incluído e o que excluído em toda posição de identidade.

A identidade nesta perspectiva, para além de uma essência, é uma permanente busca por significação, o que nos impele a compreender a forma como as identidades/diferenças se apresentam no campo da educação através das múltiplas compreensões docentes.

Ressalta-se a importância de produzir reflexões junto aos docentes que busque expressar as aproximações entre as práticas pessoais e os pressupostos conceituais que sustentam a temática das identidades/diferenças de modo a não apenas orientar políticas públicas e decisões sobre este processo, mas ampliar nossa compreensão do fator teoria/prática na formação de professores e professoras.

Refletir sobre os saberes e práticas docentes inerentes ao trabalho com as identidades/diferenças pressupõe pensar que esses profissionais conhecem os referenciais teóricos e metodológicos que possibilitam subsidiar o fazer educativo.

De forma distinta das narrativas essencialistas que fixaram a identidade e expulsaram a diferença das temáticas da alteridade, estudos como os efetivados por Hall (2011) tem buscado propor uma reflexão que mostra a artificialidade da identidade e a emergência da diferença enquanto instituição fundadora das relações sociais. Por outro lado, espera-se que os educadores e educadoras compreendam as questões inerentes as identidades/diferenças que interpelam a escola, sendo que a formação é um dos pressupostos fundamentais para superar preconceitos e anular estereótipos no espaço escolar (CATANANTE; DIAS, 2017). Neste sentido, faremos uma breve reflexão a respeito das possibilidades teóricas a serem exploradas. Em nossa percepção, seria um ganho produzir articulações entre o campo teórico da formação de professores e professoras e aqueles de ordem cultural e social que busca compreender a produção das identidades/diferenças.

Articulação entre o campo da formação de professores a as discussões sobre identidades/diferenças

Podemos dizer que o campo da cultura tem sido evidenciado como importante para pensar a constituição das identidades e diferenças. Sendo assim, a cultura tem formado a base principal das teorias curriculares em educação, principalmente porque a cultura “[…] é central para a compreensão das realidades da educação e dos currículos, bem como para entender os processos de construção das identidades/diferenças, sempre imersas em relações de poder” (BACKES, 2015, p. 111-112). Ao produzir reflexões sobre o campo cultura, alguns autores, entre eles, Hall (1997,  2011, 2016); entre outros, tem possibilitado articulações com o campo da educação na medida em que inferem reflexões sobre como a escola é um lugar de destaque privilegiado para a construção e manifestação de identidades/diferenças.

A este respeito, os postulações sugeridas de Hall  (2007), mostram que

A centralidade da cultura indica que a forma como a cultura penetra em cada recanto da vida social contemporânea, fazendo proliferar ambientes secundários, mediando tudo. A cultura está presente nas vozes e imagens incorpóreas que nos interpelam das telas, nos postos de gasolina […] a cultura aprofunda-se na própria mecânica da formação da identidade (HALL, 1997, p. 22-13).

Autores do campo da sociologia contemporânea, tais como Zygmund Bauman (2012), também empreenderam esforços para mostrar que “[…] a cultura, não obstante a peculiaridade de sua existência é uma propriedade. E toda propriedade pode ser adquirida, dissipada, manipulada, transformada, moldada e adaptada” (BAUMAN, 2012, p. 91). Essas compreensões nos fazem inferir a cultura como um campo de significação duradouro e permanente, como lugar e força que propicia a amplitude do processo de representação, tão logo de construção das subjetividades, vistas sob o signo das identidades/diferenças.

Considerando a possibilidade de potencializar reflexões sobre as identidades/diferenças, especialmente no campo da educação, Costa (2003) tem evidenciado que a “cultura persiste como um fecundo campo de novas e/ou renovadas indagações. Especialmente no que se refere às vinculações entre cultura e educação” (COSTA, 2003, p. 37). É possível compreendermos que “[…] a cultura molda a identidade ao dar sentido a experiência e ao tornar possível optar, entre as várias identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade” (WOODWARD, 2000, p. 18-19).

Podemos dizer que identidades é resultado de tramas culturais construídos em processos instáveis de representação, que “[…] atua simbolicamente para classificar o mundo e nossas relações no seu interior” (WOODWARD, 2000, p. 08). Assim,

A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito. É por meio de significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos (WOODWARD, 2000, p. 17).

No campo da educação, o tema da identidade/diferença tem sido destacado como importante, especialmente porque permite tematizar a escola como lugar para o aparecimento de inúmeras tensões que se originam nas relações culturais. Neste aspecto, podemos dizer que a compreensão sobre a forma como professores e professoras produzem em suas práticas o tema das identidades/diferenças no espaço escolar amazônico, é importante porque permite vislumbrar possibilidades formativas e curriculares.

Considerações finais

Considerando a possibilidade de melhor compreender tanto o processo formativo, como aqueles que se apresentam na escola em função da presença das diferenças, entendemos que seria um ganho vincular o campo da formação de professores e professoras ao campo de reflexão teórico e analítico das identidades/diferenças.

Podemos dizer que o conhecimento sobre as bases teóricas que sustentam as relações étnico-raciais e demais diferenças como as de gênero, geracionais entre outras, constitui-se fundamental para a prática docente, sendo um saber necessário a profissionalidade.

Compreender a forma como expressam o trabalho com as identidades/diferenças no espaço escolar por meio das contribuições de professoras e professores dos anos iniciais é um movimento urgente e necessário.

10 – REFERÊNCIAS

 

BACKES, José Licínio. Relações étnico-raciais na educação superior: processos de resistências e de subversão do currículo hegemônico/monocultural. In: NASCIMENTO, Adir Casaro; BACKES, José Licínio (Org.). Inter/multiculturalidade, relações étnico-culturais e fronteiras da exclusão. Campinas – SP: Mercado das letras, 2015.

BAUMAN, Zygmunt. Ensaio sobre o conceito de cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

CATANANTE, Bartolina Ramalho; DIAS, Lucimar Rosa. A coordenação pedagógica, a formação continuada e a diversidade étnico-racial: um desafio. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 1, p. 103-113, jun. 2017.

COSTA, Marisa Vorraber. Currículo e política cultural. In: COSTA, Marisa Vorraber (Org.). O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, 2003

HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Revista Educação e Realidade, n. 22, v.2, Jul/Dez, 1997.

HALL, Stuart. A identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2011.

HALL, Stuart. Cultura e Representação. Rio de Janeiro: Apicure, 2016.

WOODWARD, Cathyn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu Da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

 

* Doutor em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB. Professor da Universidade Federal de Rondônia – UNIR.

** Mestra em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB. Supervisora escolar no município de Ji-Paraná-RO.

Geografia. Pesq