Ariane Silva Sant’Ana Bittencourt*
Dandara Lorrayne do Nascimento**
Resumo: O cidadão para viver democraticamente precisa ser respeitado e respeitar os diferentes grupos e culturas que compõem a sociedade brasileira, que não só é formada por diversas etnias, diversos grupos sociais como também por imigrantes de vários países. Devido a todo esse processo cultural, algumas regiões brasileiras são marcadas pela discriminação social e cultural, surgindo um grande desafio para as escolas em trabalhar a Pluralidade Cultural como parte integrante da identidade nacional e reconhecer a riqueza que essa diversidade propõe, superando qualquer discriminação e valorizando os diversos grupos da sociedade. Dessa forma, foi desenvolvida uma pesquisa com objetivo de analisar como professores e alunos percebem a Pluralidade Cultural e assim expor para a comunidade escolar o quanto a diversidade está presente em todos os ambientes. Como metodologia, foram entrevistados 200 alunos e 18 professores de uma instituição de ensino que atende à comunidade desde a alfabetização até o Ensino Médio. Os resultados mostraram que esse tema nem sempre é abordado e/ou trabalhado em sala de aula e que os docentes sentem dificuldades em discutir essas diferenças com seus alunos.
Palavras chave: Pluralidade Cultural, Educação Brasileira, Pluralidade nas escolas, Cidadão.
Abstract: To live democratically, citizens need to be respected and respect the different groups and cultures that make up Brazilian society, which is not only made up of different ethnic groups, diverse social groups, but also immigrants from various countries. Due to all this cultural process, some Brazilian regions are marked by social and cultural discrimination, posing a great challenge for schools to work Cultural Plurality as an integral part of national identity and to recognize the richness that this diversity proposes, overcoming any discrimination and valuing the various groups of society. Thus, a research was developed to analyze how teachers and students perceive the Cultural Plurality and thus expose to the school community how much diversity is present in all environments. As a methodology, 200 students and 18 teachers from an educational institution that serves the community from literacy to high school were interviewed. The results showed that this theme is not always approached and / or worked in the classroom and that teachers have difficulty discussing these differences with their students.
Keywords: Cultural Plurality. Brazilian education. Plurality in schools. Citizen.
Introdução
A história ao longo dos tempos constrói a cultura, a organização social e política de um povo.
Culturalmente, o Brasil é um país muito rico, haja vista a diversidade de grupos sociais que apresenta independentemente a sua desigualdade socioeconômica que geram a discriminação e o preconceito frutificando assim a exclusão social.
Dessa forma, cabe o seguinte questionamento: “Como evitar que as desigualdades culturais se transformem em discriminação e exclusão nas escolas? ”
Quando se fala em Pluralidade Cultural no cotidiano escolar não pode incluir esta desigualdade como obstáculo para a total integração entre as culturas, pois sabe-se que o preconceito apesar de camuflado, se faz presente na sociedade impossibilitando o acesso à incorporação de novas culturas produzidas pela sociedade e participação do povo de uma maneira geral nesta manifestação coletiva do espaço público.
A sociedade brasileira é marcada pela diversidade de características de cada região, suas crenças, seus costumes, a maneira como se relacionam com a natureza forma e valores distintos.
Cardoso (2000) afirma que, não há preconceito racial que resista à luz do conhecimento e do estudo objetivo. Neste, como em tantos outros assuntos, o saber é o melhor remédio. Não era por acaso que o nazi-fascismo queimava livros.
Muitas vezes todo esse processo passa despercebido ou é descaracterizado no ambiente escolar deixando assim escapar, uma nova forma de crescimento. Todo esse descaso vem desde o Brasil colônia onde a cultura e os valores dos negros e índios eram desprezados dando lugar ao preconceito e a discriminação, tendo como consequência a exclusão.
A finalidade deste estudo é pesquisar, comprovar ou rejeitar as hipóteses sugeridas pelos modelos teóricos. A coleta de dados será feita através de textos, documentos e entrevistas, com alguns professores e alunos, sobre o assunto estudado.
A análise terá o propósito de ressaltar todas as informações relevantes sobre a Pluralidade Cultural, tendo um procedimento formal com métodos de pensamento reflexivo requerendo um tratamento científico para conhecer a realidade.
Desta forma, um dos objetivos desta reflexão é poder incentivar os docentes, os alunos e a gestão escolar na superação da discriminação e possibilitar o reconhecimento da riqueza representada.
A Pluralidade Cultural e algumas propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais
Com a evolução dos tempos de movimentos raciais e de leis federais, conforme disposto na Constituição Federal de 1988, no seu art. 5° inciso XLII, determina que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito de reclusão nos termos da lei” (BRASIL, 1998).
A escola é um espaço aberto e tem como principal papel desenvolver a problemática social, a cultura e a etnia da comunidade estudantil. Segundo Saviani (1984);
“[…] não se trata, pois, de qualquer tipo de saber. Portanto, a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e não à cultura popular.” (Saviani, p. 2.1984).
Como o tema “Pluralidade Cultural” é bastante amplo, é necessário selecionar os conteúdos para a formação histórica atual. Segundo os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) entres eles têm-se:
● A relevância sócio cultural e política considerando a necessidade e a importância da atuação da escola em fornecer informações básicas que permitam conhecer e grande diversidade sócio cultural brasileira;
● Desenvolvimento dos valores básicos para o exercício da cidadania, voltados para si e para o outro;
● Capacitar o aluno a compreender, respeitar e valorizar a diversidade sócio cultural.
Assim, os conteúdos devem ser trabalhados de modo integrado, propondo neles núcleos temáticos entrelaçados para uma aplicação recíproca (BRASIL, 1997). É necessário que haja um vínculo entre os conceitos e a realidade local para melhor compreensão dos alunos e que estes conteúdos tenham níveis de aprofundamento conforme as características regionais, locais, da escola e da sala de aula.
Dessa forma, os PCN’s citam alguns objetivos a serem desenvolvidos no Ensino Fundamental, como forma de contribuir com o ensino diante da diversidade cultural presente nas escolas. Alguns desses objetivos são:
● Reconhecer a diversidade cultural como um direito dos povos;
● Contribuir para a percepção do campo de possibilidades individuais, coletivas, comunitárias e nacionais;
● Valorizar as diversas culturas presentes na constituição do Brasil como nação;
● Valorizar o convívio pacífico e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural;
● Exigir respeito para si e para o outro;
● Repudiar toda discriminação racial, social religiosa e etc.;
● Desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem de discriminação.
Espera-se, que os conteúdos propostos sirvam de suporte para que o professor possa contemplar a abrangência do tema, adequando-os ao mesmo tempo, aos objetivos e à realidade do seu trabalho, assim como as possibilidades de seus alunos.
Neste sentido, cabe ao professor a criação de sua programação e à escola a decisão de seu projeto educativo priorizando os conteúdos conforme a especificidade do trabalho a ser desenvolvido.
Assim, os PCN’s indicam algumas abordagens a serem utilizadas em sala de aula para promover o processo de ensino e aprendizagem, diante dos diferentes grupos étnicos. Algumas dessas abordagens são:
● Dança, música, teatro, artes plásticas, escultura, arquitetura;
● Vivências socioculturais, em particular aquelas de que o aluno participe;
● Identificação representação e transmissão de símbolos de sua própria cultura;
● Respeito e valorização das diversas formas de linguagens expressivas de diferentes grupos étnicos e culturais;
● Literatura e tradição, oral e escrita;
● Relação com a natureza em diferentes culturas, em diferentes momentos históricos;
● Interesse pelas diferentes formas de produção cultural;
● Valorização do patrimônio sócio cultural.
Dessa forma, o tema oferece aos alunos oportunidades de se reconhecerem como brasileiros e como participantes do seu grupo de origem valorizando sua etnia e promovendo sua autoestima. No convívio escolar há a possibilidade de conhecimentos e vivências que apurem sua percepção de injustiça, preconceito e discriminação que possam recair sobre si mesmo. É preciso, que a escola como instituição voltada, para a formação de cidadãos, análise suas relações e seus conceitos de cidadania para reforçar os valores do assunto em vigor.
Direito à educação sem exclusão
De acordo com o art. 53º do Estatuto da Criança e do Adolescente, (Lei n.8.069, de 13 de julho de 1990):
“A criança e o adolescente têm o direito à educação visando pleno poder do desenvolvimento de sua pessoa no preparo para a cidadania, assim como igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, direito de ser respeitado pelos seus educadores direito de organização e participação em entidades estudantis, atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência e atendimento em creches.” (BRASIL, 1990).
Todas estas reflexões levam a pensar nas diversidades culturais do Brasil, nas suas desigualdades sociais tendo como consequência a discriminação e a exclusão, desafiando os educadores a conhecer as demandas das crianças, principalmente em relação à qualidade de vida. Tais demandas, ao serem reconhecidas e trabalhadas, irão satisfazer as necessidades e interesses dos alunos, o que não é fácil se forem consideradas as condições de ensino das escolas, número de alunos, espaço físico, tempo, material didático fragmentação do conhecimento em disciplinas e a supremacia do aspecto cognitivo.
Metodologia de pesquisa
Após uma extensa análise de referencial bibliográfico, realizou-se uma entrevista semiestruturada com 200 alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio e 18 professores da mesma instituição de ensino, com o objetivo de analisar como é trabalhada a Pluralidade Cultural e como os alunos são envolvidos nessa temática. As discussões foram geradas a partir das seguintes questões:
1 – Em sua opinião, qual a importância em se trabalhar a Pluralidade Cultural?
2 – Há intercâmbio cultural entre o grupo de trabalho e outros grupos, comunidades ou cidades?
3 – A discriminação e a exclusão ainda se fazem presentes em nossa sociedade. O seu grupo vive este problema?
4 – Quando você trabalha a Pluralidade Cultural, percebe algum crescimento para a prática da cidadania?
5 – Você tem conseguido algum apoio para trabalhar esta questão cultural?
6 – A família tem demonstrado que há vínculos afetivos entre pais e filhos?
Assim, diante dos resultados obtidos, as reflexões proporcionadas pela análise das entrevistas foram confrontadas com as afirmações dos autores e documentos oficiais consultados.
Resultados e Discussões
Com relação à entrevista com os alunos, foi proposta uma reflexão sobre “como ocorre o apoio à diversidade cultural no ambiente escolar?”. Com relação a este questionamento, foi constatado que 80% dos alunos (160 estudantes) não correspondem com simpatia ao trabalho dos professores, que é feito com muita cautela por falta de apoio dos gestores das políticas públicas.
Ressalta-se que a escola onde realizou-se a pesquisa foi a primeira escola construída no município e abrange desde a Fase Introdutória até o Ensino Médio, mas se tornou uma escola discriminada por acolher alunos da zona rural e de baixo nível socioeconômico, se vendo agora no dever de procurar uma maneira mais significativa para trabalhar na superação destes preconceitos que denigrem a imagem da escola.
Com relação às entrevistas com os docentes, ressalta-se que 100% dos docentes (18 professores) têm dificuldades em fazer com que os educandos se identifiquem com a cultura do outro, buscando suportes em todos os conteúdos possíveis e imagináveis, na busca do interesse, da compreensão e da aceitação de ser parte de uma sociedade que forma um todo, que entendam que uma parte por si só, nada constrói.
A bibliografia muitas vezes mostra uma realidade um pouco camuflada se comparada com o que é vivenciado dentro das escolas, das famílias e da sociedade. As autoridades conhecem e definem as Leis, mas muitas vezes não são executadas, dificultando o trabalho para se ter uma sociedade justa e igualitária.
Dessa forma, é necessário que a família faça parte integrante da vida do educando, onde haja uma troca mútua de afetividade, o que foi constatado na entrevista realizada aos professores da escola, onde os alunos se mostram arredios aos afetos e ensinamentos familiares, dificultado o trabalho dos membros da escola na busca de valores na diversidade.
Ao concluir este estudo observou-se que tanto no referencial como nas análises das entrevistas há uma busca constante de se construir uma sociedade singular trabalhando a Pluralidade cultural.
Nota-se, portanto, ao chegar nas escolas uma certa resistência em aceitar a cultura do outro como parte integrante da nossa sociedade, haja visto, ser uma sociedade exclusiva, onde o ter sobrepõe ao ser.
Conclusão
No decorrer do trabalho observou-se que a Pluralidade cultural é um desafio que exige muita dedicação e profissionalismo.
Segundo Zimmermann (2008) “A luta pela escola inclusiva, embora seja contestada e tenha até mesmo assustado a comunidade escolar, pois exige mudança de hábitos e atitudes, pela sua lógica e ética nos remete a refletir e reconhecer, que se trata de um posicionamento social, que garante a vida com igualdade, pautada pelo respeito às diferenças. ”
A escola é uma instituição responsável pela construção do sujeito enquanto cidadão. Conforme Araújo (1998) “A escola não precisa de super professores”, com conhecimentos aprofundados sobre todos os elementos constituinte de personalidade humana, mas de profissionais que abandonem o modelo de alunos homogêneos, pois a indiferenciação leva facilmente a discriminação e ao preconceito.
O grande desafio do contexto escolar é reconhecer a diversidade como parte inseparável da identidade nacional e valorizar a riqueza representada por essa diversidade cultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo na superação de qualquer tipo de discriminação e valorização a trajetória particular dos grupos que compõe a sociedade.
Nesse sentido, a escola deve ser local de aprendizagem onde o trabalho com Pluralidade Cultural se dá a cada instante, onde o aprendizado não ocorrerá por discurso e sim num cotidiano em que uns não sejam “mais diferentes “do que os outros.
Ainda é comum perceber que lugares onde deveria servir apenas para o crescimento do cidadão, há a marginalização e a exclusão por não se aceitar como forma de cultura a etnia que não seja aquela vivida pela maioria. A cidadania brasileira ainda se encontra desestruturada onde o ter sobrepõe ao ser, formando uma sociedade de grupos distintos.
É preciso abraçar a causa da inclusão sócio cultural e permitir que os educandos sejam participantes e colaboradores na construção da cidadania. Se realmente deseja-se uma sociedade justa e igualitária, sem discriminação e ou exclusão, é preciso reavaliar a maneira de como trabalhar a Pluralidade Cultural nas escolas, pois só assim haverá uma sociedade onde as partes se unirão para formação do todo.
Referência Bibliográfica
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*Graduada em Ciências Biológicas pelo IFMG.
** Mestranda em Modelagem Matemática e computacional pelo CEFET MG. 1
