Saúde

A Infecção Hospitalar Associada ao Mecanismo da Resistência Bacteriana

Jader Luís da Silveira*

Resumo

Jader Luis da Silveira Professor e Biólogo. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG. MBA Executivo em Saúde e Especialista em Análises Clínicas e Microbiologia pela Universidade Candido Mendes – UCAM. E-mail: jaderbio@outlook.com

As infecções hospitalares se relacionam com o mecanismo de resistência bacteriana. O objetivo desse trabalho é observar quais fatores levam as bactérias se tornarem resistentes e, a importância das medidas de controle e prevenção das infecções hospitalares. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre a história das infecções, descobertas, o cenário atual e a postura dos profissionais de saúde nesse contexto. Concluiu-se que profissionais e população devem ter hábitos de higiene, evitar a automedicação e usar antibióticos na dosagem correta para o controle da resistência.

Palavras-chave: Infecção, Resistência, Bactérias Hospitalares.

Abstract

Hospital infections are related to the mechanism of bacterial resistance. The objective of this study is to observe which factors lead to bacteria becoming resistant, and the importance of measures to control and prevent hospital infections. A bibliographic research was done on the history of infections, findings, the current scenario and the posture of health professionals in this context. It was concluded that professionals and population should have hygiene habits, avoid self-medication and use antibiotics in the correct dosage for resistance control.

Keywords: Infection. Resistance. Bacteria. Hospitalares.

  1. Introdução

Esse estudo tem como tema a infecção hospitalar e a relação desse processo com o mecanismo da resistência bacteriana, paralelamente esse processo pode ser amenizado com medidas de prevenção por atos de higiene e uso adequado de antibióticos.

As questões que embasaram o trabalho são:

  • Qual a relação das infecções hospitalares com o mecanismo da resistência bacteriana?
  • Quais medidas devem ser tomadas para prevenção e controle de bactérias que se tornam resistentes e do processo de infecção hospitalar?

Quando um paciente é hospitalizado, principalmente em situações críticas, como cirurgias, internações em Unidade de Tratamento Intensiva (UTI), ou casos parecidos, ocorre uma grande possibilidade desse paciente desenvolver uma infecção hospitalar. Essa infecção pode ser causada por alguma bactéria que desencadeia um mecanismo de resistência, dificultando a cura. Daí a importância de se realizar uma investigação sobre o desenvolvimento desse processo e quais medidas podem ser tomadas para o devido controle.

Eliete Batista Moura e outros traz através do Ministério da Saúde, a definição de infecção hospitalar:

O Ministério da Saúde (MS), na Portaria nº 2.616 de 12/05/1998, define infecção hospitalar como a infecção adquirida após a admissão do paciente na unidade hospitalar e que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares (ELIETE BATISTA MOURA, et al, 2007, p. 416).

Neste contexto, a investigação do processo de infecção hospitalar e como ele se relaciona com as bactérias resistentes é muito relevante para discutir, incentivar e promover atos de controle para o problema.

A metodologia utilizada para alcançar os objetivos propostos, foi uma pesquisa bibliográfica realizada através de análises minuciosas de artigos científicos publicados em base de dados especializadas.

Esse artigo foi embasado em trabalhos realizados por autores como: Da Mata Abegg e Da Silva (2011), Eliete Batista Moura e outros (2007), Fontana (2006), Nogueira e outros (2009), Oliveira e Silva (2008), Oliveira, Damasceno e Ribeiro (2009) e Santos de Queiroz (2004).

  1. Referencial Teórico

A preocupação com as infecções advindas de processos cirúrgicos ou causadas por microrganismos sempre esteve presente durante a história da humanidade.

Fontana (2006) relata que desde a Idade Média já se falava de contaminação e doenças infecciosas. No Renascimento com a criação da imprensa, possibilitou a divulgação de obras científicas, testes e experimentos realizados por cientistas da época, como vacinas e a descoberta de microrganismos.

Com o passar do tempo, houve descobertas de contaminação e infecções causadas por cirurgias. Foi descoberto também posteriormente, a importância dos cuidados com a higiene e uso de equipamentos para evitar contaminação como máscaras, luvas, jalecos, higienização correta e lavagem de mãos.

Mais tarde com o avanço da Ciência, possibilitou o conhecimento sobre os microrganismos, entre eles, as bactérias. Tais seres possuem diferentes formatos e, estão presentes nos mais variados ambientes. Podem agir de forma benéfica ou maléfica, nesse último caso, vistos como patógenas. Esses seres estão em todos os ambientes, no sistema digestório de alguns animais, inclusive o ser humano, agindo como decompositores de matéria orgânica e em hospitais ou fora deles, provocando doenças, entre elas, as infecções.

Atualmente, as infecções são um problema na realidade da saúde de todo o mundo. Existem diversos fatores envolvidos no processo que leva a uma infecção. Esses fatores envolvem desde atitudes que devem ser mudadas pela própria comunidade até os profissionais da saúde: falta de hábito de lavar as mãos, automedicação e uso abusivo de antibióticos. Além desse, é preciso considerar também os métodos invasivos realizados nas instituições de saúde como processos cirúrgicos, que pode ser considerado um meio de transmissão de infecções.

A infecção hospitalar apresenta características técnicas específicas para conseguir seu diagnóstico, podendo considerá-la como:

[…] aquela relacionada à hospitalização, assim considerada quando o período de incubação do patógeno causador da infecção for desconhecido e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da internação; ou o surgimento de qualquer manifestação clínica de infecção a partir de 72 horas após a admissão, estando o paciente com diagnóstico de infecção comunitária e for isolado um germe diferente, seguido do agravamento das condições clínicas do mesmo (NOGUEIRA et al, 2009, p. 97).

Em estudo realizado por Eliete Batista Moura e outros (2007), na UTI de um hospital público em Piauí, verificou-se que a maior parte das infecções hospitalares são as relacionadas ao trato respiratório, representando mais de 60% dos casos. A estimativa segue pelas infecções urinária, sistêmica, tegumentar e devido a ferida operatória.

Os microrganismos que tiveram maior índice de infecção hospitalar no estudo foram: Klebisiela penumoniae, Pseudomonas sp, S. aureus, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Preoteus mirabilis, Proteus sp e Stafilococus epidermidis.

Em outra pesquisa conduzida por Da Mata Abegg e Da Silva, também identificaram Stafilococus epidermidis como envolvidos em infecções hospitalares.

Os agentes infecciosos mais comumente isolados em UTIs são o Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus aureus. Staphylococcus epidermidis está presente na pele de indivíduos saudáveis ou não, e pode ser introduzido na UTI por pacientes ou membros colaboradores da saúde, causando infecções oportunistas durante e/ou após procedimentos invasivos” (DA MATA ABEGG e DA SILVA, 2011, p. 50).

Já Oliveira e Silva (2008) observam que Burkholderia cepacea ou Pseudomonas aeruginosa podem ser armazenadas em sabões, roupas e jalecos. Esse fato faz com que tais microrganismos sejam levados para o exterior do âmbito hospitalar, desencadeando uma transmissão e contaminação de outros ambientes.

O problema é muito grave, sabendo-se que determinados microrganismos conseguem sobreviver em diferentes condições e ambientes. Diante desse fato, percebe-se que as infecções hospitalares são inter-relacionadas com o mecanismo que tornam as bactérias resistentes.

O ambiente hospitalar abriga diversos tipos de microrganismos, onde várias pessoas entram em contato com outras, seja entre pacientes ou familiares. Além disso, pacientes internados realizam procedimentos cirúrgicos e de intervenção. Esse cenário possibilita às bactérias desenvolverem mecanismos de resistência frente a diferentes tipos de drogas.

As bactérias possuem a especialidade de se adaptar diante às transformações ocorridas no ambiente. Nesse contexto por exemplo, quando um antibiótico é usado sem a devida moderação, faz com que a bactéria aumente sua exposição em relação ao medicamento, como consequência cria a capacidade de se tornar resistente ao antibiótico. Esse fato explica quando se usa novamente o mesmo medicamento e não se obtém o efeito esperado, pois ocorreu a resistência bacteriana diante ao citado antibiótico.

As bactérias conseguem desenvolver formas de enzimas especializadas em fazer a inativação dos efeitos esperados dos antimicrobianos. Conforme analisado por Oliveira, Damasceno e Ribeiro (2009), quando se tem um aumento das taxas metabólicas e reprodutivas também podem desencadear o processo da resistência bacteriana. Uma bactéria pode ganhar resistência sem a necessidade de ter contato com determinada droga. Isso pode ser explicado pela mutação genética, por transferência ligada à genes, relacionada ao material genético trocado.

Oliveira e Silva (2008, p. 191) afirmam que “por ser a resistência um fenômeno complexo, esta envolve o microrganismo, paciente, agente antimicrobiano e, ambiente separadamente e/ou na sua interação.” Pacientes de todas as idades podem desenvolver o processo de infecção por microrganismos. Os grupos de riscos são os idosos e os pacientes com sistema imunológico comprometido.

Pacientes com sistema imunológico debilitado, oriundos de cirurgias ou em terapia intensiva são vistos como um grupo com grande probabilidade de adquirir infecção hospitalar causada por resistência bacteriana. Esses pacientes normalmente permanecem por um tempo maior na unidade hospitalar e são expostos a tratamentos com antimicrobianos, que por sua vez, não conseguem atingir os resultados esperados. Esses medicamentos são fracos quando comparados ao alto potencial de resistência de determinas espécies de bactérias.

A resistência bacteriana pode ter origem em diferentes processos como o uso abusivo de antimicrobianos por pessoas sem a prescrição médica, ou então falta de preocupação com as dosagens desses medicamentos quando prescritos por especialistas. Nesse processo da falta de moderação do uso de antimicrobianos, aumenta a pressão seletiva das bactérias, criando o mecanismo da resistência.

Outro ponto de grande importância que pode fazer com que as bactérias tornam-se resistentes, é a quebra de protocolos de higiene e de biossegurança pelos profissionais da saúde. Atos como não lavagem das mãos, uso de jalecos em ambienteis públicos, fora do ambiente hospitalar, acarreta para que as bactérias posso desencadear um processo de resistência e ocorrer a sua disseminação.

A trilogia representada pelo uso indiscriminado de antimicrobianos, poucas lavagens de mãos pelos profissionais da saúde e sistema imunológico fraco do paciente internado, torna a resistência bacteriana ainda mais potente, constituindo um sério problema em saúde em várias localidades do planeta.

Importante ressaltar que os riscos de ocorrência de infecções hospitalares relacionados à resistência de bactérias é muito alto.

Hospitais, especialmente, os que possuem unidade de terapia intensiva (UTI), centro cirúrgico, unidades de pediatria, berçário neonatal, clínica médica e/ou cirúrgica, em que os pacientes são tratados com antimicrobianos, representam um “habitat” que alberga bactérias que podem tornar-se resistentes àquelas drogas” (SANTOS DE QUEIROZ, 2004, p. 65).

Por isso, medidas para prevenção de casos de resistência devem ser tomadas por meio de higienização das mãos, das superfícies e instrumentos utilizados nos hospitais, conscientização da população sobre o uso inadequado da automedicação e, dos especialistas sobre a prescrição adequada de antimicrobianos de acordo com as necessidades de cada paciente. Também é fundamental a criação e manutenção de banco de dados com arquivos de pacientes que foram infectados, tipos de bactérias, período de internação e capacitação dos profissionais sobre o assunto.

Os protocolos de higiene hospitalar determinam que os objetos e artigos utilizados sejam desinfetados e esterilizados, porém devido à situações precárias da saúde pública no Brasil e outros locais, muitos utensílios são apenas desinfetados, contribuindo assim, para o aumento da gravidade do problema.

Os profissionais de saúde devem dar atenção especial quanto as lavagens de mãos. Esse ato pode ajudar a diminuir os níveis de resistência bacterianas, visando seu controle. Oliveira, Damasceno e Ribeiro (2009, p. 449) relatam que os “fatores apontados para a baixa higienização das mãos são: a falta de acesso às pias, tempo insuficiente dos profissionais, produtos que irritam a pele, desconhecimento sobre seu impacto na prevenção das infecções.” Nesse sentido, além da disponibilização de produtos para higiene das mãos, é necessário desenvolver uma orientação para os profissionais tomarem essa medida como padrão e de uso constante.

  1. Discussões

Uma medida considerada válida é a realização de exames antibiograma que determinam com clareza a quantidade de antibióticos a ser prescrito para cada paciente em específico. Com essa estratégia, os índices de uso indiscriminado desses medicamentos poderão diminuir.

Vale considerar também, o isolamento de pacientes diagnosticados com infecção hospitalar e com bactérias em alto potencial de resistência. Esse isolamento diminuirá o contato com familiares e a equipe de saúde. A circulação de microrganismos nesse caso também será diminuída.

Em muitos casos, o paciente busca no hospital um local para tratar e curar doenças, porém é nesse cenário que são abrigadas milhares de bactérias resistentes a antibióticos. Tal paciente ao se recuperar da doença que inicialmente o levou à unidade de saúde, terá no final que também tratar de alguma consequência de bactéria que se tornou resistente.

Os custos destinados às infecções hospitalares são altos. Faz-se necessário a atuação constante de comissões de combate a infecções hospitalares e na inexistência dessas, deve ser implantadas em regime de urgência. Também imprescindível a orientação e conscientização da população quanto ao uso de antibióticos, que deve ser com moderação. Outro ponto importante é a realização de hábitos simples, efetuando a lavagem e higienização das mãos constantemente durante o dia.

  1. Conclusões

Com esse trabalho foi possível observar um crescente uso de antibióticos para combate à microrganismos, em especial as bactérias. Esse uso na maior parte das vezes se dá sem o conhecimento prévio da quantidade de medicamento necessária para cada paciente em específico.

A divulgação de dados sobre infecção hospitalar ainda é muito pequena. Várias instituições de saúde não possuem comissões designadas para controle de infecções hospitalares.

Para o combate da resistência hospitalar é necessário a união da equipe hospitalar. Médicos, enfermeiros e auxiliares devem tomar consciência da importância da assepsia, da lavagem de mãos constantemente, e uso de álcool-gel. Os técnicos de laboratórios devem tomar medidas para controle da disseminação de novas espécies que podem afetar os hospitais, gestões devem ficar alertas para tomadas de decisões para o combate da resistência bacteriana.

Também pode ser necessário fazer o isolamento de pacientes portadores de microrganismo de alto potencial de resistência. O isolamento diminui o contato do paciente com profissionais e familiares, e também pode fazer com que a disseminação de bactérias seja diminuída.

Torna-se necessário também a realização de exames de antibiograma para determinar a especificidade e quantidade exata de medicamentos a ser prescrita para cada paciente. Também é de grande importância que a população e a equipe de saúde façam uso moderado de antimicrobianos.

Medidas de prevenção e precaução como medidas higiênicas, de conscientização para os profissionais de saúde e da população quanto a proliferação de bactérias e o mecanismo de resistência são iniciativas primordiais. Faz-se necessário também a criação de políticas públicas para intervenção e controle da resistência bacteriana e infecções hospitalares.

Referências Bibliográficas

DA MATA ABEGG, Patricia Terron Ghezzi; DA SILVA, Ligiane de Lourdes. Controle de infecção hospitalar em unidade de terapia intensiva: estudo retrospectivo. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, v. 32, n. 1, p. 47-58, 2011.

ELIETE BATISTA MOURA, Maria et al. Infecção hospitalar: estudo de prevalência em um hospital público de ensino. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 60, n. 4, p. 416-421, jul./ago. 2007.

FONTANA, Rosane Teresinha. As infecções hospitalares e a evolução histórica das infecções. Revista Brasileira de enfermagem, v. 59, n. 5, p. 703-706, set./out. 2006.

NOGUEIRA, Paula Sacha Frota et al. Perfil da infecção hospitalar em um hospital universitário. Revista de Enfermagem da UERJ, v. 17, n. 1, p. 96-101, 2009.

OLIVEIRA, Adriana Cristina de; SILVA, Rafael Souza da. Desafios do cuidar em saúde frente à resistência bacteriana: uma revisão. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 10, n. 1, 2008. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n1/v10n1a17.htm>. Acesso em: 10 de maio de 2018.

OLIVEIRA, Adriana Cristina; DAMASCENO, Quésia Souza; RIBEIRO, Silma MCP. Infecções relacionadas à assistência em saúde: desafios para a prevenção e controle. Revista Mineira de Enfermagem, v. 13, n. 3, p. 445-450, 2009.

SANTOS DE QUEIROZ, Neusa. A resistência bacteriana no contexto da infecção hospitalar. Texto & Contexto Enfermagem, v. 13, n. Esp, p. 64-77. 2004.

* Professor e Biólogo. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG. MBA Executivo em Saúde e Especialista em Análises Clínicas e Microbiologia pela Universidade Candido Mendes – UCAM. E-mail: jaderbio@outlook.com

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