Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini*
Tragédias permeiam a existência humana, tão certo quanto o fato de nascermos e morrermos. E atualmente, como nunca antes experenciado, temos acesso de forma quase imediata e infinitamente reproduzíveis às notícias sobre as tragédias, em diferentes fontes midiáticas, além de as revivermos nas conversas (pessoalmente ou digitalmente), tomando conta de nosso interesse.
Mas por que alimentamos este tipo de curiosidade sobre o que demonstra violência, desastres, mortes? Parece que ficamos inebriados por um impulso em buscar mais informações, até sobre os detalhes do ocorrido, numa tendência mórbida, para se aproximar do tema morte. E esta seria uma das possibilidades de vivenciar, sem necessariamente estar diretamente envolvido. A finitude da vida é um tema para o qual somos pouco preparados, muitas vezes enfrentando-o com a negação.
E a tragédia presentifica essa noção de fim de vida, gerando uma identificação de que poderia ter acontecido conosco – e vamos em busca de mais informações para nos sentirmos preparados, mantendo certo controle sobre a situação. Esta ilusão nos causa até um conforto. O noticiamento sobre as tragédias nos faz enfrentar a efemeridade de nossa existência. Portanto, conhecer o máximo sobre o que pode acontecer dá a sensação de preparo, até como forma de dessensibilização, no sentido de não causar mais tanto temor, podendo ter um efeito de descarga emocional pela comoção que a notícia possa ter causado.
Assim, ficar insistentemente revendo a cena, ou lendo sobre ela, faz com que se possa compreender o que a vida é, tendo uma função catártica. Ou seja, no caso, manter interesse, por meio de leituras, vídeos, de forma insistente sobre as tragédias, pode ter um efeito de catarse, uma espécie de etapa para elaboração sobre a ideia de morte, por exemplo. Assim, essas pessoas se sentem aliviadas, até no sentido de buscar compreender, emocionalmente, o que seja a finitude da vida. É como descarregar as emoções que incomodam e não têm muita explicação através de uma curiosidade mórbida – ouvir, falar, ler, informar-se sobre os detalhes da tragédia.
Também há que se considerar a descontextualização e a impessoalidade aplicada a algumas notícias de tragédias, que dão uma sensação de alívio ao espectador, gerando segurança ao polarizar os acontecimentos entre heróis e vilões, até no sentido de procurar julgamentos justos para estes (localizando os responsáveis, o que isenta o espectador também).
Desta forma, ao se interessar por notícias sobre tragédias, algumas pessoas se satisfariam, no sentido de vivenciarem o incompreensível, ou aquilo que causa terror, por meio do que acontece a outros, em um processo de identificação (“e se fosse comigo?”), até empaticamente, ou tomando distância (“ainda bem que não é comigo!”) e, depois, ficando até anestesiadas ao que acontece ao outro.
*Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini é psicóloga e Mestre em Psicologia da Infância e Adolescência pela UFPR. É professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo (UP) e supervisora em práticas profissionais em Psicologia Comunitária.