*Por Peter Visser
O cérebro infantil, por estar em formação, possui grande facilidade para absorver informações e assimilar conceitos. A neuroplasticidade, ou seja, a capacidade de adaptação do sistema nervoso, e a desinibição das crianças tendem a ser maiores do que as dos adultos. Soma-se ainda que, nessa fase da vida, o aparelho fonador, conjunto de órgãos e estruturas que produzem os sons da fala, também não está completamente desenvolvido e, por esse motivo, tudo o que lhes é ofertado, é absorvido sem a interferência de vícios já adquiridos.
É natural que pais e responsáveis se preocupem, já a partir dos primeiros anos de vida da criança, em desenvolver aquilo que julgam ser benéfico para ela, como a alimentação, a forma como tratar o próximo e, até mesmo, a escola em que vão estudar. É, portanto, na primeira infância o momento de plantio e cuidado com o futuro. Nesse contexto, a educação globalizada e multicultural, por meio do ensino bilíngue, é uma das sementes mais procuradas, em vista da percepção crescente de que dominar um segundo idioma, em especial o inglês, traz mais oportunidades.
Entretanto, é importante ressaltar que se entende como indivíduo bilíngue aquele que fala, pensa e raciocina em dois idiomas, navegando nesses ambientes confortavelmente, sem esforços ou traduções. No Brasil, poucas escolas oferecem essa abordagem e, mais que ensinar as normas gramaticais e um novo vocabulário, aprofundam-se em promover uma aprendizagem natural e imersiva da segunda língua. Os números da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi), por exemplo, deixam claro e revelam o longo caminho que temos pela frente: menos de 3% das escolas particulares no país oferecem esse tipo de metodologia. O resultado é que, não por menos, apenas 1% dos brasileiros são realmente fluentes em inglês e outros 4% se relacionam com a língua em estágios inferiores ao da fluência, conforme demonstra uma pesquisa do Conselho Britânico.
A questão é que o bilinguismo não envolve apenas o “aprender um novo idioma” e vai muito além. Em nível pessoal, o contato com outras culturas, desde bem pequeno, estimula a compreensão das diferenças, fazendo com que o indivíduo tenha mais consciência da parcialidade de sua própria identidade, de forma a se tornar um agente integrador no meio em que atua. O multiculturalismo, estimulado dentro das escolas bilíngues, permite às crianças trabalharem colaborativamente entre grupos de diferentes origens, respeitando e entendendo as diferenças.
Estudos realizados em 1962 por Elizabeth Peal e Wallace Lambert, da McGill University (Canadá), revelaram que crianças bilíngues tendem a demonstrar melhores resultados em testes de inteligência e concentração. E, como a escolha de pais e responsáveis sobre a primeira infância afeta diretamente o futuro da criança, o ensino de outra língua deve ser feito com cuidado, diante de pesquisas e análises, de forma a florescer satisfatória e beneficamente os pequenos em formação.
*Peter Albert Visser é diretor acadêmico da Maple Bear Brasil. Graduado pela Universidade de Waterloo, possui também mestrado em educação pela universidade de Ottawa.