A LITERATURA AMAZÔNIDA: A relação da obra literária “Órfãos do Eldorado”, de Milton Hatoum com o Samba-Enredo da Unidos de Padre Miguel “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin”
Francinei Almeida da Costa*
Resumo
O projeto de pesquisa revisou a obra literária “Órfãos do Eldorado”, do escritor amazonense Milton Hatoum com a poesia do Samba-Enredo da Unidos de Padre Miguel, “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin”. Descrevendo a Literatura em um olhar Amazônidas, registrando as semelhanças entre o romance e o gênero musical e apresentando propostas de trabalhar textos literários regionais amazônicos nas aulas de Linguística e Literatura. Constatou-se que ambos gêneros são recursos pedagógicos para ajudar os alunos compreenderem melhor textos que leem sobre a Literatura Amazônidas.
Palavras-chave: Hatoum, Samba-Enredo, Amazônidas, Textos Literários.
Abstract
The research project reviewed the literary work “Orphans do Eldorado”, by the Amazonian writer Milton Hatoum with the poetry of the United Samba of Padre Miguel, “The Eldorado Submerged: Delirium Tupi-Parintintin”. Describing the Literature in an Amazonian look, recording the similarities between the novel and the musical genre and presenting proposals to work regional Amazonian literary texts in the Linguistics and Literature classes. It has been found that both genres are pedagogical resources to help students better understand texts that read about Amazonian Literature.
Keywords: Hatoum. Samba-Plot. Amazônidas. Literary text.
Introdução
Com este trabalho, buscou-se elaborar um projeto de pesquisa pelo qual se possa guiar o profissional/pesquisador na investigação e na implantação de proposta de trabalhar nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura textos relacionados aos samba-enredo e obras de escritores da Amazônia sobre a cultura e da literatura regionais amazônicos.
Uma das premissas da proposta de trabalhar a obra literária “Órfãos do Eldorado”, do escritor amazonense Milton Hatoum com a poesia do Samba-Enredo da Unidos de Padre Miguel, “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin” é acreditar que tanto a narrativa (prosa) e os versos são recursos de conhecimentos sobre mensagens reais ou fictícias da Amazônia e do Brasil que são inseridos na linguagem literária.
Literatura na Amazônia: Um olhar Amazônidas, da vida, história, costumes e cultura nortista
A autora Carneiro (2010), em sua obra: “O instinto de Nacionalidade: Um Olhar regionalista”, afirma que a Literatura é um sistema que se compõe de unidades organizadas responsáveis por uma certa finalidade. Para Bezerra (2015), a discussão das práticas artísticas na/da Amazônia, defende que: 1) devemos entender que as produções culturais na região amazônica não estão apenas ligadas à ideia de uma cultura letrada, das belas letras, das belas artes, buscando sempre elementos universalizantes, mas que as culturas amazônicas.
Resumidamente, as ideias dos autores estão ligadas a uma nova leitura e estudo da Amazônia voltado para uma visão de valorizar o ser social. Uma produção artística que retratem não só as diversidades amazônicas, do rio Amazonas e florestas, mas, que retratem as populações caboclas, ribeirinhas, povos indígenas entre outros. Muitas vezes, as barreiras sociais, econômicas, a ausência do poder público, a busca de ideais e sonhos são parados em “arames farpados”.
Os textos regionais possuem narrativas ou acontecimentos sociais de determinada região, criando identidade cultural através dos fatos ocorridos com pessoas da comunidade, em tempo cronológico que vem sendo repassado ou recriados, através da oralidade, por pessoas que ouviram ou são autoras dos relatos, que servem para compreender os fatos, épocas, cultura e sociedade, assim os acontecimentos de uma sociedade, são refletidas nas manifestações artísticas e literárias, além de servir como base para o estudo do passado dos povos, relaciona-se também à contemporaneidade em análise da evolução social no decorrer do tempo. (BRASIL ESCOLA, 2019).
Semelhanças entre o Romance: “Órfãos do Eldorado” e do Gênero Musical-Samba-Enredo: “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin” na exploração dos versos e nas prosas
A obra Órfãos do Eldorado, de Hatoum descreve e narra a sua terra natal (Amazonas) e de seus moradores, não apenas a exaltação ao local, e sim, de valorizar o ser social na tentativa de compreender a trajetória histórica da formação de um povo através da Literatura e da História.
O autor busca em sua narrativa literária um olhar de amor a Região Norte, especificamente o Estado do Amazonas, valorizando a identidade cultural, literária, oral e de memória do homem Amazônidas. Em relação ao gênero musical, a escritora Elsa Maria Nitsche Ortiz (1998, p.05-06), sobre o artigo “O sujeito do samba-enredo”, descreve a trajetória dos profissionais e dos compositores das Escolas de Sambas na construção literária e poética da letra do samba-enredo:
O samba-enredo é o resultado de um trabalho coletivo. O próprio tema, decidido após votação entre os membros mais influentes da escola, é dado a público, e os compositores devem submeter suas obras, algum tempo depois, a um júri popular, formado por elementos da agremiação, que escolherá o que julgar melhor, o que mostrar maior compatibilidade entre a música e o desenvolvimento do tema.
Em 2017, o autor Alexandre Neiva da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) publicou um artigo: “Literatura dá samba”, defendendo a ideia que o samba-enredo pode ser trabalhado no contexto disciplinar das aulas de Língua Portuguesa e Literatura. Para o autor, as considerações sobre a fala e a escrita incluem a dificuldade de operar com os fenômenos fônicos da língua.
Em tratando do romance, a autora Angela Maranhão Gandier (2009), afirma que o autor manaura recorreu ao mito do Eldorado, não com o propósito de transformá-lo no tema central da novela, mas com a ideia de perspectivá-lo como um elemento narrativo que possui ressonâncias universalizantes, próprias dos mitos e de suas implicações no imaginário social. Além disso, ele submete a narrativa à moldura de criação de outras lendas nativas da região amazônica.
Conforme exposto no trecho a seguir:
Florita foi atrás de mim e começou a traduzir o que a mulher falava em língua indígena; traduzia umas frases e ficava em silêncio, desconfiada. Duvidava das palavras que traduzia. Ou da voz. Dizia que tinha se afastado do marido porque ele vivia caçando e andando por aí, deixando-a sozinha na Aldeia. Até o dia em que foi atraída por um ser encantado […] (HATOUM, 2008, p.07).
No contexto literário a obra “Órfãos do Eldorado” e do Enredo Tupi-Parintintin” se assemelham em muitos pontos: expressão dos conteúdos, da ficção, imaginação e subjetivismo. Abaixo destaca-se uma passagem que mostra a essa similaridade:
No caso de “Órfãos do Eldorado”, as orações em negrito caracterizam a linguagem metafórica do romance. Apesar, da obra ter vestígios históricos e da descrição do paisagismo dos cenários (Manaus, cidades ribeirinhas do Amazonas e Belém), a prosa é marcada por parágrafos com metáfora. Da mesma forma, a letra do samba-enredo deixa claro a proposta dos compositores enriquecerem os versos e refrão para a compreensão.
Outro ponto de similaridade entre o romance e o samba-enredo está na visão dos seus autores exaltarem as cidades no enfoque regionalista. No romance, a capital Manaus é exaltada por Hatoum-“ Os fazendeiros só pensavam exportar carne para Manaus”. Por outro lado, o samba-enredo imprimi em seus versos que a Cidade de Parintins é o novo Eldorado, que é conhecido por sediar o Festival Folclórico de Parintins-“ No festival de canto e dança ancestral Tupi”. (Verso do Samba-enredo).
Textos Literários Regionais Amazônicos nas aulas de Linguística e Literatura
Pode-se dizer, que a narrativa de Hatoum e o Samba-Enredo criam recursos pedagógicos fundamentais para traduzirem literalmente a vida social da Amazônia em um contexto imaginário e histórico. Cabe a cada educador construir a sua metodologia nas aulas. Apesar, do romance de Hatoum ser uma obra pós-modernismo, o professor pode utilizá-la para socializar com os escolares através do romantismo, por exemplo, é possível utilizar os textos da obra ou versos do samba para explicar as características das fases românticas da Literatura.
Para Silva (2012), o aluno poderá aprender na aula de Literatura com a valorização da cultura brasileira e compreender os arranjos estilísticos e linguísticos necessários à composição do romance ou do poema musicado. Os conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o escolar são fundamentais para análise dos conteúdos temáticos, estrutura composicional e estilo do romance de Hatoum e do Samba-Enredo da UPM.
O pesquisador Alexandre Neiva (2017), em seu artigo: “Literatura dá samba” deixa claro que uma letra de samba-enredo, mesmo de uma estrutura simples, pode oferecer boas oportunidades de análise da estruturação linguística, seja do ponto de vista da seleção do vocabulário, da organização dos termos na oração, seja dos efeitos fônicos ou semânticos pretendidos.
Enfatizar histórias que vão ao encontro do homem desconhecido e com a realidade se caracterizam com as narrativas das lendas e mitos amazônicos fascina o imaginário dos alunos, eles crescem ouvindo contos de caráter heroico. As escolas não devem utilizar a leitura com enfoque de tratar aspectos linguísticos e gramaticais, mas incentivar a leitura por prazer. (BRASIL ESCOLA, 2019).
O primeiro passo para os escolares interagirem com a obra literária ou a poesia musical (Samba-Enredo) é fazer a leitura de ambos gêneros. O segundo momento, é construir uma análise mais detalhada dos gêneros. Um exemplo, que pode ser utilizado pelo professor, é apresentar o Samba-Enredo e um trecho da novela na sala de aula utilizando o Datashow e caixa de som com a finalidade de ouvir e interpretar as ideias dos autores ou escritores sobre os temas trabalhados. Essa sequência permite a valorização dos autores e suas publicações.
Outra atividade importante como proposta aos alunos é o uso da intertextualidade. Para compreender o Samba-Enredo, é necessário conhecer o romance de Milton Hatoum para fazer a semelhança. Neste caso, o professor deve fazer um enfoque discursivo, levando o aluno lê o romance, e em seguida interagir com a música. Na literatura, o educador deve elaborar as questões que levem o processo de interação entre os textos. Exemplos: Quais as ideias que lhe vem à mente quando ouve as expressões “Órfãos do Eldorado” e “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin”?
Considerações Finais
O projeto de pesquisa mostrou a necessidade urgente de aumentar as possibilidades dos escolares por meio da ampliação de sua capacidade de ler, compreender, interpretar coerentemente e valorizar a importância do Gênero Narrativo (Romance) e do Gênero Musical (Samba-Enredo) com as temáticas voltada para a diversidade Linguístico-Social, Cultural e Literária Amazônidas. O Gênero Narrativo: o romance “Órfãos do Eldorado” do escritor Milton Hatoum e o gênero musical: Samba-Enredo da Unidos de Padre Miguel, “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin” são propostas para ajudar os alunos compreenderem melhor textos que leem sobre a Literatura Amazônidas.
Referências Bibliográficas
BEZERRA, José Denis. “Literatura amazônica para quê? ” Cultura, Linguagens e Interfaces Contemporânea-CLIC. 27 a 30 de setembro. Belém. 2015.
BRASIL ESCOLA. Literatura Amazônica: Seus mitos e suas lendas – Características dos mitos e lendas amazônicos na produção literária regional e sua aplicabilidade no ambiente escolar como incentivo à produção oral e escrita. 2019.
CARNEIRO, Jéssica de Souza. O Instinto de Nacionalidade em Órfãos do Eldorado: Um olhar regionalista. Tucunduba, 2010.
HATOUM, Milton. Órfãos do Eldorado. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
NEIVA, Alexandre. Literatura dá Samba. Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Cadernos do CNLF, Vol. XIV, Nº 4, t. 3. 2017.
ORTIZ, Elsa Maria Nitsche. O sujeito do samba-enredo. Linguagem & Ensino, Vol. 1, No. 2, 1998 (115-132).
SILVA, Walleska Bernardino. Projeto Iniciação Cientifica Lupa na Língua-Gêneros Discursivos-UCA-Por que samba enredo? Brasília, 2012.
* Graduando em Licenciatura Plena em História pela Universidade Vale do Acaraú – UVA, Especialista em História da Amazônia pelo Instituto Brasileiro de Pós-graduação e Extensão-IBPEX, Especialista em Mídias da Educação Universidade Federal do Amapá-UNIFAP e Graduando em Licenciatura Plena em Matemática pela Universidade Federal do Amapá-UNIFAP. <ney.v.m@bol.com.br >.
