André Ferretti*
Precisamos falar sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima que tem chance de ser sediada no Brasil no ano que vem: a COP25. Precisamos falar mais. Precisamos falar sobre a Conferência que tem grande possibilidade de ser realizada em Foz do Iguaçu, a terceira cidade que mais recebe turistas no País e um dos mais belos cenários naturais do mundo. Receber a COP traz ao Brasil e ao Paraná oportunidades que não podem ser ignoradas.
Sim. Organizar um evento global como esse envolve custos. Algo entre R$ 400 milhões e R$ 600 milhões. Contudo, talvez seja o melhor momento para mostrarmos para o mundo que o Brasil está sim preocupado com o meio ambiente e com a questão climática. Afinal, uma COP reúne cerca de 40 mil pessoas, entre diplomatas, cientistas, empresários, ONGs e pessoas interessadas dos mais diversos países.
Se isso ocorrer, será a oportunidade de o Brasil, de uma vez por todas, liderar as discussões globais de sustentabilidade. Além disso, dar o recado para o País inteiro e para outras nações que podemos e seremos o maior produtor mundial de alimentos com o grande diferencial da sustentabilidade, promovendo uma agricultura de baixo carbono. Como anfitrião da COP, o Brasil terá de mostrar que realmente fará a diferença e investirá nessa estratégia. De forma tímida, isso já ocorre nos nossos campos. Temos chances de dar mais vazão ao Plano ABC, que financia produções de baixo carbono e já tem recursos previstos no Plano Safra.
O Paraná e o novo executivo estadual podem surfar nesta onda, chamando a atenção do mundo. É um dos maiores produtores de grãos do Brasil. Nos anos 70 e 80, era conhecido internacionalmente pela excelência em práticas agrícolas sustentáveis, como cultivo mínimo e plantio direto. O estado tem tudo para ser o líder nacional da agricultura de baixo carbono, usando inclusive recursos federais do Plano Safra.
Embora Salvador e Rio de Janeiro estejam se mobilizando para receber a COP25, Foz do Iguaçu é a melhor opção. Além de estar preparada para receber grandes públicos, com rede hoteleira consolidada e visitors bureau estabelecido, a cidade da tríplice fronteira pode envolver os “vizinhos” Paraguai e Argentina na organização e tem grande chance de ter apoio financeiro da Itaipu Binacional.
Ao mesmo tempo, a COP25 no Brasil exigirá decisão importante do Governo Federal – não apenas sinalizar se receberemos ou não o evento. Normalmente, um dos ministros do país-sede é quem preside a Conferência. Esse representante terá o desafio de conduzir os países na negociação para finalizar as regras do Acordo de Paris, pois, a partir de 2020, os países terão de começar a implementar suas medidas para reduzir a emissão se gases de efeito estufa. Para isso, o ministro deve entender do tema e as pastas mais alinhadas com a pauta seriam Relações Exteriores, Meio Ambiente ou Ciência e Tecnologia.
Se o Brasil optar por não realizar a COP25, corre o risco de transparecer que não será a liderança em sustentabilidade global que todos esperam. O relógio está girando. Temos poucas semanas para definir isso tudo. A COP24 será realizada na Polônia no próximo mês e, lá, os diplomatas brasileiros terão de confirmar a realização da próxima Conferência no Brasil, sinalizando a cidade-sede. Torcemos que este comunicado venha leve o nome da cidade das cataratas.
**André Ferretti é gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza