ESTÁGIO SUPERVISIONADO: problematizações acerca da gestão escolar e do grêmio estudantil
Jacqueline Rodrigues Guedes[1]
Aline Mendes Sabino[2]
Vilma Aparecida de Souza[3]
RESUMO
O presente artigo é resultado das reflexões realizadas durante as atividades do Estágio Supervisionado no âmbito escolar, no eixo da gestão educacional. Em relação aos procedimentos metodológicos, utilizaram-se a observação participante e a entrevista coletiva com alunos por meio de roda de conversa. O objetivo deste artigo é problematizar a experiência vivenciada pelo grupo de estagiárias durante o Estágio Supervisionado em Gestão Escolar, sobretudo no que tange ao Grêmio Estudantil. Avalia-se que essa experiência vivenciada ao longo do Estágio Supervisionado em Gestão Educacional pode elucidar parte de algumas inquietações sobre a gestão educacional e seu distanciamento e aproximação do movimento de democratização da escola. Nesse percurso, a questão dos mecanismos de participação e tomada de decisão, como o Grêmio Estudantil, merecem ser repensados enquanto espaços de protagonismo político. Não se pode negar que o tempo de Estágio foi exíguo para que alguns aspectos fossem esgotados, não sendo possível discuti-los completamente nessas páginas. No entanto, a pretensão nunca foi encerrar a discussão, mas sim trazer elementos para novas reflexões, olhares e investigações, contribuindo com pesquisas futuras no âmbito da gestão educacional e na perspectiva democrática.
Palavras-chave: Gestão Escolar. Estágio Supervisionado. Grêmio Estudantil.
ABSTRACT
This article is the result of the reflections carried out during the activities of the Supervised Internship in the school context, in the educational management axis. Regarding methodological procedures, bibliographic review and observation were used. The objective of this article is to problematize the experience experienced by the group of trainees during the Supervised Internship in School Management, especially with regard to the Student Group. It is evaluated that this experience experienced during the supervised internship in Educational Management can elucidate part of some concerns about the educational management and its distance and approach to the democratization movement of the school. In this way, the question of mechanisms of participation and decision making, such as the Student Group, deserve to be rethought as spaces of political protagonism. It can not be denied that the time of Stage was too short for some aspects to be exhausted, and it is not possible to discuss them completely in these pages. However, the pretension was never to close the discussion, but rather to bring elements for new reflections, looks and investigations, contributing with future research in the field of educational management and in the democratic perspective.
Keywords: School management. Supervised internship. Student Guild.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo parte das reflexões realizadas durante as atividades do Estágio Supervisionado no âmbito escolar, no eixo da gestão educacional, no curso de Pedagogia. O objetivo deste artigo é problematizar a experiência vivenciada pelo grupo de estagiárias durante o Estágio Supervisionado em Gestão Escolar, sobretudo no que tange ao Grêmio Estudantil.
O Grêmio Estudantil constitui uma instância reconhecida para a participação legítima dos estudantes e um dos importantes mecanismos para implementar a gestão democrática na escola, considerando que esse espaço pode ser tomado como um lócus de aprendizado político e vivência democrática. Diante disso, deve-se discutir a forma como tal grupo vem se constituindo na realidade da escola pública, além de problematizar sua atuação na gestão escolar e as aproximações e os distanciamentos do processo de democratização.
Nesse sentido, a problemática do presente estudo emergiu da experiência durante o Estágio Supervisionado em Gestão Escolar realizado no 6º período do curso de Pedagogia. O presente trabalho divide-se em duas seções que se complementam acerca da problemática levantada. Na primeira discute-se o Estágio Supervisionado e sua contribuição no processo de formação de professores, com foco na Gestão Escolar como uma das frentes de atuação do pedagogo. Em seguida, aborda-se a experiência vivenciada por um grupo de estagiárias numa escola pública, também com foco na Gestão Escolar, mas relacionada ao Grêmio Estudantil.
2 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GESTÃO ESCOLAR E A IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
O Estágio Supervisionado é uma parte das atividades do eixo da práxis educativa que tem como princípio central a articulação teoria-prática. Há a finalidade básica de garantir aos estudantes do Curso de Pedagogia uma formação pedagógica que reconheça a escola pública como um lócus de investigação, acompanhamento e intervenção, a partir do compromisso assumido com o ensino público brasileiro.
Cumpre destacar que o Estágio Supervisionado se insere no currículo do curso de Pedagogia não como um componente disciplinar isolado, que se limita a mais uma atividade técnica e burocratizada; logo, ele deve ser reconhecido como elemento essencial do eixo da práxis educativa, parte de um todo na formação inicial do referido curso que articula ensino, pesquisa e extensão.
Diante disso, Pimenta e Lima (2010, p. 34) reconhecem o Estágio Supervisionado como uma atividade que deve ser marcada por “[…] uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade.” Ou seja, a imersão no cotidiano escolar durante o Estágio precisa ser conduzida pelo ‘olhar investigativo’, que permita a ampliação e análise do campo de estágio. Este, por sua vez, necessita ser visto como um contexto em que os estágios podem assumir o papel de pesquisadores a partir das situações vivenciadas e, assim, pensar em propostas e projetos que lhes permitam, ao mesmo tempo, compreender e problematizar a realidade observada.
De acordo com Souza e Nascimento (2012, p. 2):
[…] a respeito da relação entre estágio e pesquisa, torna-se de fundamental importância, pois busca elucidar questões que possivelmente interferem na formação dos graduandos como professores pesquisadores. Além do que, evidencia a importância dessa discussão para a formação docente, bem como para os professores formadores, principalmente os que atuam no lócus onde esse estudo foi realizado.
Destaca-se, porquanto, a relevância do Estágio Supervisionado como pesquisa, que, tendo como princípio a práxis, reconhece esse momento como espaço valioso de aprendizagem e de aproximação do futuro contexto profissional, possibilitando a reflexão e problematização desse contexto.
Nesses termos, salienta-se que o Estágio Supervisionado assume papel importante na formação docente e, por isso, deve ser realizado a partir de uma perspectiva que ultrapasse a dimensão burocrática que descaracteriza as experiências dinâmicas e construtivas presentes nesse espaço da formação. Como afirma Freire (1996, p. 33), há de se cuidar para que o Estágio não seja implementado a partir de concepções e propostas que reduzam essa experiência educativa “[…] em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador.”
Ao considerar o eixo da práxis educativa, o Estágio Supervisionado assume também um movimento que articula as dimensões teórica e prática das ações humanas como expressões de uma unidade dialética; por isso não é mecânica ou instrumental. É um movimento em que a teoria depende da prática, uma vez que esta “[…] determina o horizonte do desenvolvimento e progresso do conhecimento.” (VÁSQUEZ, 1977 apud SANTOS, 2014, p. 84).
De fato, o Estágio Supervisionado não pode ser compreendido como um componente curricular isolado e que se relaciona somente com a dimensão da prática. É comum ouvir dizer que nessa disciplina se aprende a ‘prática’ ou se refere à ‘parte prática’ da formação – tais afirmações estão revestidas de equívocos e concepções limitadas de formação docente. Em contrapartida, o espaço do Estágio Supervisionado, compreendido como parte do eixo da práxis, deve ser vislumbrado como um movimento que envolve pesquisa, estudo, teorias e conceitos formulados e estudados em todos os campos do conhecimento. Assim, ele “[…] passa a ter função fundamental que não é apenas levar os conhecimentos teóricos ao campo da prática, mas compreendê-los, elaborá-los, pensando a realidade vivida pelo futuro professor.” (GUEDES, 2009, p. 9420).
Na Gestão Escolar, esse enfoque vai ao encontro ao que determinam as Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia (BRASIL, 2006). Institui-se o enfoque da gestão educacional, compreendendo a importância de um modelo de formação do pedagogo que contemple a instituição escolar em sua totalidade: Art. 5º O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a: […]
XIII – participar da gestão das instituições planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares; […]
Art. 6º A estrutura do curso de Pedagogia, respeitadas a diversidade nacional e a autonomia pedagógica das instituições, constituir-se-á de:
I – um núcleo de estudos básicos que, sem perder de vista a diversidade e a multiculturalidade da sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da literatura pertinente e de realidades educacionais, assim como por meio de reflexão e ações críticas, articulará: […]
- b) aplicação de princípios da gestão democrática em espaços escolares e não-escolares;[…]
Art. 8º Nos termos do projeto pedagógico da instituição, a integralização de estudos será efetivada por meio de: […]
II – práticas de docência e gestão educacional que ensejem aos licenciandos a observação e acompanhamento, a participação no planejamento, na execução e na avaliação de aprendizagens, do ensino ou de projetos pedagógicos, tanto em escolas como em outros ambientes educativos. (BRASIL, 2006, p. 3-5, grifo nosso).
A partir dessas diretrizes, o Estágio Supervisionado em Gestão Educacional, coaduna com o que propõem Libâneo e Pimenta (1999), ao defender que o curso de Pedagogia tem o compromisso com a formação de profissionais da educação capazes de atuar em vários campos educativos, para atender demandas socioeducativas decorrentes de novas realidades. Nessa direção, afirmam que “[…] a ação pedagógica não se resume a ações docentes, de modo que, se todo trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo trabalho pedagógico é trabalho docente” (p. 252).
Ao considerar tal panorama, a experiência vivenciada durante o Estágio Supervisionado em Gestão Educacional relatada neste artigo se constituiu na organização e no desenvolvimento de atividades teóricas e práticas, compreendendo 90 horas de trabalho. Parte-se do pressuposto de que o curso de Pedagogia tem como foco a formação do professor, tendo a docência como base, mas integra também a formação do pedagogo, sem denominação das habilitações e que precisa contemplar as atividades de planejamento, gestão e avaliação de estabelecimentos de ensino e de sistemas educativos escolares, bem como a organização e o desenvolvimento de programas não escolares.
3 METODOLOGIA
Essa pesquisa descritiva, qualitativa transversal utilizou como procedimentos metodológicos a observação participante durante a realização do Estágio Supervisionado em Gestão Educacional. As atividades do estágio foram realizadas em uma escola pública no município de Ituiutaba/MG, que oferece as três etapas da Educação Básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
O quadro de profissionais da escola é composto por um diretor, três vice-diretores, oito supervisores, uma secretária, 14 auxiliares de serviços gerais, seis auxiliares de biblioteca, quatro professores recuperadores, sete inspetores de alunos, um professor de laboratório de informática, oito auxiliares de secretaria, dois vigilantes e 149 professores graduados, sendo estes formados em diferentes áreas de conhecimento. Na instituição há 66 turmas, que são divididas em duas salas pré-escola, 26 salas de 1º ao 5º ano, 27 salas de 6º ao 9º ano e 11 salas de Ensino Médio.
A experiência vivenciada durante o Estágio Supervisionado em Gestão Educacional e relatada neste artigo foi constituída por meio de uma proposta de trabalho que abrangia atividades teóricas e práticas, compreendendo a carga horária de 90 horas. Para isso, utilizou-se um Plano de Trabalho que contemplava o estudo de referencial teórico acerca de temas como: Formação de Professores; Práxis; Estágio Supervisionado; Gestão Educacional; e Gestão Democrática. Tal estudo fomentava os debates e propostas de atuação no campo de Estágio, com o intuito de assegurar às estagiárias oportunidades diversificadas de vivência na educação básica, na organização e gestão do sistema de ensino.
Conforme o Plano de Trabalho, as orientações sobre o campo não prescindiam a caracterização da escola, para investigar as diferentes formas de gestão educacional na organização do trabalho pedagógico escolar, no planejamento, na execução e na avaliação de propostas pedagógicas da escola nos processos educativos. Nesse momento, definiu-se um roteiro de observação, no sentido de contribuir para o diagnóstico do estabelecimento de ensino e, principalmente, para a investigação e a análise do contexto escolar, sob a perspectiva do trabalho do gestor educacional.
De acordo com Minayo (2001, p. 60), a observação participante, eleita como procedimento metodológico durante a atividade do Estágio em Gestão Educacional:
[…] se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto. A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos pelo meio.
Por esse motivo, os estagiários devem estar dispostos a ficar sempre atentos nas situações que podem ocorrer no espaço escolar. Para isso, é importante que o pesquisador se preocupe com a construção de uma relação de confiança com a comunidade escolar para o êxito da investigação.
Nesse percurso de observação, o diário de campo foi utilizado como um instrumento de coleta de dados para o estágio em gestão, em que alunas registravam suas observações. Tal aspecto constituiu uma base de informações para as análises e reflexões interdisciplinares com as diversas áreas do conhecimento do currículo do curso.
Além do diário de campo, utilizou-se a técnica da entrevista coletiva com alguns alunos que faziam parte desse colegiado, para coleta de informações e percepções desses indivíduos acerca dessa instância de participação. Tal método foi feito em forma de ‘roda de conversa’, Para Minayo (2001):
A entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada (p. 58).
Dentre os vários itens presentes no roteiro de observação, um aspecto provocou a inquietação do grupo de estagiárias, trazendo à tona questionamentos e a necessidade de mais investigações. Ao analisar os mecanismos de participação da comunidade na gestão da escola, constatou-se a existência do Grêmio Estudantil como uma instância de participação dos alunos que é descrita nos resultados desse estudo.
4 RESULTADOS
O estudo realizado permitiu uma análise de como a instância do Grêmio Estudantil tem se constituído no campo de estágio investigado. A seguir problematizam-se sua atuação na gestão escolar e as aproximações e os distanciamentos do processo de democratização da escola.
Durante a observação, tanto no período matutino quanto no vespertino, foi possível presenciar a atuação dos supervisores pedagógicos com ações do Grêmio Estudantil. Em conversas informais com esses profissionais, notou-se a atuação dos alunos no Grêmio Estudantil por meio de atividades por eles realizadas e que movimentavam o dia a dia instituição. Nesse contexto, determinadas problemáticas passaram a nortear a investigação: Como é a atuação do Grêmio Estudantil? Quais as atividades desenvolvidas pelos alunos do Grêmio Estudantil? Qual a relação do Grêmio Estudantil com a gestão democrática da escola?
Diante das inquietações ora apresentadas, as estagiárias passaram a acompanhar as atividades e reuniões realizadas pelo Grêmio Estudantil. Realizou-se uma entrevista coletiva com alguns alunos que faziam parte desse colegiado, para coleta de informações e percepções desses indivíduos acerca dessa instância de participação. Tal método foi feito em forma de ‘roda de conversa’, tendo como pauta de discussão a concepção de Grêmio Estudantil, a natureza das atividades realizadas por esse grupo e os pontos positivos e negativos enfrentados pelos alunos nesse espaço.
Quando questionados sobre a finalidade do Grêmio Estudantil, os alunos demonstraram clareza acerca da importância desse mecanismo para a participação do corpo discente na escola como um canal de interlocução com a direção escolar.
O Grêmio é a voz dos alunos na instituição, uma ponte entre alunos e os gestores (ALUNO 1).
O Grêmio é importante, pois os alunos podem ter sua voz na instituição e fazer benefícios para eles mesmos com suas ações (ALUNO 2).
Para facilitar o contato entre os estudantes e o corpo docente, é relevante ter o grêmio (ALUNO 3).
Nos depoimentos supracitados, nota-se que os estudantes demonstraram conhecimento acerca da pretensão desse mecanismo de participação estudantil na escola. Destacam-se como algumas de suas principais finalidades a participação ativa de alunos na instituição (“dar voz aos alunos”) e a possibilidade de conquistar benefícios em prol do corpo discente.
O Grêmio Estudantil deve ser reconhecido como um espaço apropriado para a aprendizagem do protagonismo estudantil, um lócus que deve primar pelo desenvolvimento da consciência crítica e por dar voz e vez aos alunos, como um dos muitos mecanismos para implementar a gestão democrática na escola. Nessa direção Oliveira, Moraes e Dourado (2008, p. 13) afirmam que:
[…] o grêmio estudantil torna-se um mecanismo de participação dos estudantes nas discussões do cotidiano escolar e em seus processos decisórios, constituindo-se num laboratório de aprendizagem da função política da educação e do jogo democrático. Possibilita, ainda, que os estudantes aprendam a organizarem politicamente e a lutar pelos seus direitos.
Assim, é importante que o Grêmio Estudantil seja incentivado no interior das escolas públicas. Deve-se buscar meios de mobilizar os alunos para participarem desse espaço de formação e atuação, no sentido de promover a capacidade de mobilizar e questionar, preparando-os para a tomada de decisões e a participação política.
Segundo o relato dos alunos, o Grêmio Estudantil na escola foi fundado no ano de 2014, e já houve uma eleição em que concorreram duas chapas. A chapa atual venceu na última eleição, tendo como concorrente a gestão anterior que, de acordo com o depoimento dos educandos, não conseguiu se reeleger por não ter conseguido cumprir a proposta de trabalho.
Em relação ao apoio recebido da direção da escola para as ações do Grêmio Estudantil, os depoimentos apontam que:
Recebemos mais apoio financeiro para realizar projetos fora da escola do que aos projetos realizados dentro da escola (ALUNO 1)
Já fizeram algumas ações na escola, resgatando um projeto chamado Quest[4]. Realizamos também duas etapas de panfletagens no calçadão da cidade, para conscientização sobre um projeto de racionamento da falta de água (ALUNO 4).
Os depoimentos revelam que a atuação do Grêmio Estudantil tem maior ênfase em ações pedagógicas como o Quest e o projeto de racionamento de água. A campanha de conscientização sobre a água teve forte repercussão na mídia local, em que contou com a parceria da Superintendência de Água e Esgoto (SAE), que doou aos alunos os panfletos e adesivos de carros que foram distribuídos durante a atividade nas ruas da cidade. Vale ressaltar que atividades como essa são importantes e sinalizam o compromisso do Grêmio Estudantil da escola no engajamento com causas sociais e ecológicas, pauta importante e que precisa ser resgatada na agenda das ações estudantis, considerando um período de forte estiagem que trouxe grande mobilização civil em âmbito nacional.
A observação e o acompanhamento das ações do Grêmio Estudantil permitiram constatar o envolvimento dos alunos na participação de projetos pedagógicos da escola, sendo notório o interesse e compromisso com a participação e execução de tais propostas. Assim, essa aproximação com as ações do Grêmio Estudantil, revelou que a participação dos alunos nesse espaço apresenta fortes traços burocráticos, uma participação outorgada onde predomina uma atuação marcada pela execução de projetos pedagógicos, tarefas que muitas vezes foram planejadas e decididas em outras instâncias, muitas vezes não contando com a participação dos estudantes nas discussões e decisões (DIÁRIO DE CAMPO).
Percebe-se que na pauta das reuniões do Grêmio Estudantil predominam discussões acerca de projetos pedagógicos. Não se pode negar o avanço de tais ações, considerando a tradição política de nossa sociedade e da gestão escolar da escola pública brasileira, que sempre foi marcada pela anulação da participação estudantil no espaço escolar.
Tendo em vista a tradição política brasileira, calcada no autoritarismo e na centralização das decisões, o fato de o Grêmio Estudantil ser uma realidade na escola em questão já representa um grande avanço e merece ser valorizada na gestão escolar por incentivar esse canal de participação estudantil. A partir disso, a luta deve ser pelo fortalecimento desse espaço de participação estudantil, no sentido de se constituir como lócus de protagonismo e de participação política que contribua na luta:
[…] pela autonomia da unidade escolar, pela democratização da educação e, consequentemente, pela construção da gestão democrática, [ para isso] a escola precisa garantir a autonomia dos estudantes para se organizarem livremente através de grêmios estudantis participativos e críticos, que atuem de forma efetiva nos processos decisórios da instituição, possibilitando o desenvolvimento de uma verdadeira ação educativa. (OLIVEIRA; MORAES; DOURADO, 2008, p. 13).
Vale ressaltar que o Grêmio Estudantil foi instituído legalmente por meio da Lei n. 7.398/1985, que o reconhece como um direito dos alunos. Ele deve ser compreendido como “[…] órgão independente da direção da escola ou de qualquer outra instância de controle e tutela que possa ser reivindicada pela instituição” (VEIGA, 1988 apud OLIVEIRA; MORAES; DOURADO, 2008, p. 13).
Apesar de sua legalidade, o Grêmio Estudantil apresenta nos dias de hoje, vários desafios e impasses para constitui-se enquanto mecanismo. Enquanto estes estudantes, por meio de suas entidades estudantis, não tiverem a clareza do papel que cumprem dentro da comunidade escolar, estes desafios e impasses não serão superados.
Pescuma, 1990 (apud MOURA; SCORSOLINE; SANCTIS, 2006, p. 9) afirma que “[…] a organização dos alunos […] ainda é algo frágil, incipiente que, apesar de inúmeras tentativas de órgãos governamentais, ou por parte da estrutura escolar, ou mesmo dos próprios estudantes, não consegue concretizar-se de modo significativo”. Torna-se necessário, porquanto, refletir sobre a real atuação dos grêmios estudantis na realidade das escolas públicas, sendo essa uma preocupação que deve fazer parte da atuação do pedagogo na gestão educacional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo assim, a experiência vivenciada no Estágio em Gestão Educacional, a partir da problematização desse tema, contribuiu de maneira significativa na formação acadêmica enquanto futuras pedagogas. Há debates importantes para a busca de caminhos diferentes que contribuam com a gestão democrática da escola e a formação política dos alunos.
A experiência vivenciada durante o Estágio junto ao Grêmio Estudantil evidenciou que os alunos vislumbram o valor dessa instância dentro das unidades escolares e se comprometem com ela. Talvez pela falta de maturidade ou de orientação, pode-se reduzir tal grupo a um mecanismo burocrático e formal que se encerra em si mesmo, distanciando-se do espaço coletivo de discussões, em que os estudantes têm a oportunidade de expor suas opiniões a respeito da comunidade escolar, tanto nas questões administrativas como pedagógicas, participando ativamente na construção do processo educacional e aproximando-se de uma perspectiva democrática de gestão escolar.
Uma escola a caminho da gestão democrática precisa promover os canais de participação de todos os sujeitos que participam desse espaço. Nesse sentido, instâncias colegiadas como a Associação de Pais, Mestres e Funcionários, o Conselho Escolar, o Conselho de Classe e o Grêmio Estudantil são elementos essenciais para alcançar esse horizonte da democratização. Avalia-se que a experiência vivenciada ao longo do Estágio Supervisionado em Gestão Educacional pode elucidar parte das inquietações sobre a gestão educacional e seu distanciamento e aproximação do movimento de democratização da escola. Nesse percurso, os mecanismos de participação e tomada de decisão, como o Grêmio Estudantil, merecem ser repensados enquanto espaços de protagonismo político. Não se pode negar que o tempo de Estágio foi exíguo para que alguns aspectos fossem esgotados, não sendo possível discuti-los completamente nestas páginas. No entanto, a pretensão não foi encerrar a discussão, mas sim trazer elementos para novas reflexões, olhares e investigações, contribuindo para pesquisas futuras no âmbito da gestão educacional na perspectiva democrática.
REFERÊNCIAS
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: os saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
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LIBÂNEO, José Carlos; PIMENTA, Selma. Formação de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de mudança. Educação e Sociedade, ano XX, n. 68, p. 239-277, dez. 1999.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 18. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
MOURA, Mirian Ribeiro Leite; SCORSOLINE, Ailton Bueno; SANCTIS, Ricardo José Orsi. Grêmio Estudantil: desafios e impasses da construção da cidadania. In: SEMINÁRIOS NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS – HISTEDBR, 7., 2006, Campinas. Anais… Campinas: HISTDBR, 2006.
OLIVEIRA, João Ferreira; MORAES, Karine Nunes de; DOURADO, Luiz Fernandes.
Gestão Democrática: definições, princípios e mecanismos de participação. In: Escola de Gestores da Educação Básica. MEC, CD1, 2008. Disponível em: <http://escoladegestores.mec.gov.br/site/4-sala_politica_gestao_escolar/pdf/texto2_1.pdf> Acesso em: 15 fev. 2015.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2010.
SANTOS, Manoel Gonçalves dos. A relação teoria e prática na formação do pedagogo à luz do materialismo histórico-dialético. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Feira de Santana, 2014.
SOUZA, Lucimêre Rodrigues; NASCIMENTO, Maria Amélia Silva. Estágio Supervisionado como Espaço de Pesquisa na Formação dos Estudantes do Curso de Pedagogia. In: ENDIPE – ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICAS DE ENSINO UNICAMP, 16., 2012,Campinas. Anais… Campinas: UNICAMP, 2012.
[1] Pedagoga pela Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP) da Universidade Federal de Uberlândia.
[2] Pedagoga pela Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP) da Universidade Federal de Uberlândia.
[3] Doutora em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia. Atua principalmente nas seguintes áreas: Política e Gestão em Educação – Educação Especial e Inclusiva – Formação de professores – Prática de Ensino e Estágio Supervisionado.
[4] Show de talentos organizado pelos alunos na escola, em que cantam, dançam etc.
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