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Projeto integrado de práticas educativas: um olhar sobre a formação docente

PROJETO INTEGRADO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS: um olhar sobre a formação docente

Carla Borges Duarte Ferreira – Facip-UFU[1]

Vilma Aparecida de Souza – Facip-UFU[2]

Resumo

O presente trabalho faz parte das atividades da disciplina referente ao Projeto Integrado de Práticas Educativas (PIPE) V e tem como objetivo analisar o processo de formação docente nos cinco primeiros semestres do curso de Pedagogia, com foco específico na trajetória formativa ao longo dos PIPEs I, II, III, IV e V, a partir das concepções de discentes do referido curso. No tocante aos procedimentos metodológicos, foram utilizados questionários com perguntas abertas como técnica de investigação aplicada aos discentes concluintes dos PIPEs I, II, III, IV e V. Os resultados apontam encontros e desencontros, avanços e retrocessos, proporcionando um novo norte sobre a construção da identidade profissional. O PIPE tem a função de articular as atividades ligadas à formação profissional e, por meio dessa relação, assegurar a articulação entre teoria e prática, rumo à formação pedagógica pautada numa concepção crítica da docência.

Palavras-chave: Práticas Educativas. PIPE. Formação docente.

1.Introdução

 

O presente trabalho faz parte das atividades da disciplina referente ao Projeto Integrado de Práticas Educativas (PIPE) V e tem como objetivo analisar o processo de formação docente nos cinco primeiros semestres do curso de Pedagogia, com foco específico na trajetória formativa ao longo dos PIPEs I, II, III, IV e V, a partir das concepções de discentes do referido curso.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em Cursos de Licenciatura de Graduação Plena, instituídas pela Resolução CNE/CP n. 1/2002, orientam sobre a importância e a forma de abordagem da prática como componente curricular nos cursos de licenciaturas:

Art. 12. § 1º: A prática, na matriz curricular, não poderá ficar reduzida a um espaço isolado, que a restrinja ao estágio, desarticulado do restante do curso. § 2º A prática deverá estar presente desde o início do curso e permear toda a formação do professor. § 3º No interior das áreas ou das disciplinas que constituírem os componentes curriculares de formação, e não apenas nas disciplinas pedagógicas, todas terão a sua dimensão prática. (Res. CNE/CP n. 1, 2002, p. 5).

Como expresso no texto legal, orienta-se que a Prática no Currículo deve ser assegurada para além do Estágio Supervisionado, desde o início e ao longo do curso. Sobre a prática como componente curricular, o Parecer CNE/CP n. 2/2015 ratifica essa questão ao afirmar que tal componente se trata do:

[…] conjunto de atividades formativas que proporcionam experiências de aplicação de conhecimentos ou de desenvolvimento de procedimentos próprios ao exercício da docência […] as atividades da PCC podem ser desenvolvidas […] como núcleo ou como parte de disciplinas ou de outras atividades formativas. Isto inclui as disciplinas de caráter prático relacionadas à formação pedagógica, mas não aquelas relacionadas aos fundamentos técnico-científicos correspondentes a uma determinada área do conhecimento (BRASIL, 2015, p. 32).

A legislação entende que a prática pretende dimensionar conhecimentos práticos e teóricos no sentido de contribuir, em conjunto com os demais componentes curriculares, para superar a separação entre teoria e prática. Nesse rol, o Parecer CNE/CP n. 28/2001 elucida o que considera prática, teoria e a relação entre essas duas dimensões:

A prática não é uma cópia da teoria e nem esta é um reflexo daquela. A prática é o próprio modo como as coisas vão sendo feitas, cujo conteúdo é atravessado por uma teoria. Assim a realidade é um movimento constituído pela prática e pela teoria como momentos de um dever mais amplo, consistindo a prática no momento pelo qual se busca fazer algo, produzir alguma coisa e que a teoria procura conceituar, significar e com isto administrar o campo e o sentido desta atuação (BRASIL, 2001, p. 9).

Nesses termos, a articulação entre teoria e prática é compreendida a partir de uma relação que envolve diferentes maneiras na formação docente e nos modos de se fazer a prática. Sobre essa articulação como componente curricular, Silva (2016) assevera que:

[…] deve ser planejada desde a elaboração do Projeto Pedagógico do Curso e estar presente efetivamente desde o início da duração desse processo formativo e se estendendo ao longo do mesmo. Deve ainda estar articulada com o Estágio Supervisionado e com outras atividades de trabalho acadêmico, e, assim, não se limita a práticas dentro da instituição formadora, mas deve transcendê-la, transcender a sala de aula (p. 44).

Para atender aos pressupostos da legislação, os Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) das instituições formadoras devem contemplar atividades que garantam a prática como componente curricular, em consonância com a perspectiva já sinalizada. As disciplinas atinentes ao PIPE dizem respeito a uma configuração que a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) encontrou para cumprir a carga horária destinada à prática como componente curricular nos currículos dos cursos de licenciatura.

Nesse sentido, o PPP do curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas (FACIP) da UFU apresenta, no conjunto dos componentes curriculares, as disciplinas relacionadas aos PIPEs I, II, III, IV e V:

De acordo com o Projeto Institucional de Formação e Desenvolvimento do

Profissional da Educação da Universidade Federal de Uberlândia, o Projeto Integrado de Prática Educativa – PIPE – apresenta-se como essa possibilidade de articulação e deve ser tomada como um conjunto de atividades ligadas à formação profissional e voltadas para a compreensão de práticas educacionais distintas e de diferentes aspectos da cultura das instituições de Educação Básica (UFU, 2007, p. 43).

Ainda conforme o PPP do curso de Pedagogia, os PIPEs são propostos desde o primeiro semestre do curso, dando início ao eixo da práxis educativa, cujo objetivo é:

[…] oportunizar a prática dos alunos na realidade social, portanto em instituições escolares e não-escolares; suscitar momentos de reflexão avaliativa constantes sobre os efeitos da ação na prática pedagógica; gerar uma atitude científica e didática do aluno e do professor, contribuindo para que o processo de formação seja marcado pela experiência de pesquisa; ampliar a concepção de Educação; oportunizar a reconstrução dos saberes acadêmicos, possibilitando um questionamento e reflexão contínuos sobre a prática pedagógica, de um modo mais articulado; propiciar estudos e reflexões interdisciplinares com as diversas áreas do conhecimento que compõe o currículo do curso (UFU, 2007, p. 44).

Diante desse propósito, o eixo da práxis educativa tem início com o PIPE. Ele abrange os cinco primeiros semestres do curso, continua com os Estágios Supervisionados e se encerra com o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Nesse contexto, o presente trabalho justifica-se pela relevância em problematizar as experiências vivenciadas no PIPE, com o escopo de repensar as possibilidades para continuidade do percurso do eixo da práxis educativa. Em relação aos procedimentos metodológicos, foram utilizados questionários com perguntas abertas como técnica de investigação. Participaram da pesquisa cinco discentes que já concluíram as disciplinas referentes aos PIPEs I, II, III, IV e V.

O trabalho está estruturado em três partes: na primeira, argumenta-se a respeito da formação docente e do eixo da práxis; na segunda, discute-se o PIPE do curso de Pedagogia da FACIP/ UFU; e a terceira diz respeito à análise dos questionários aplicados aos discentes que concluíram os PIPEs I, II, III, IV e V.

  1. Formação docente e o eixo da práxis

 

Como destacado anteriormente, o curso de Pedagogia da FACIP/UFU apresenta “uma proposta político-pedagógica que vem ao encontro da libertação da opressão do homem em todos os seus sentidos, sejam políticos, éticos ou estéticos” (UFU, 2007, p. 20). Nesse entremeio, a educação é compreendida “como uma importante ação humana em um processo de construção/conscientização para uma sociedade menos excludente” (UFU, 2007, p. 30).    Nessa concepção de educação, o PPP do curso de Pedagogia da FACIP/UFU tem como objetivo:

[…] formar profissionais da educação, capazes de entender e contribuir, efetivamente, para a melhoria das condições em que se desenvolve a educação na realidade brasileira, comprometidos com um projeto de transformação social. […] Propõe-se, assim, a formação do pedagogo sustentado no tripé docência, gestão e pesquisa (UFU, 2007, p. 35).

Ademais, o PPP assume, como fio condutor, o eixo da práxis educativa ancorado pelo princípio da articulação entre teoria e prática, com vistas a garantir uma formação pedagógica alicerçada numa concepção crítica e ampla de docência. Sendo assim, o professor é reconhecido como um profissional “capaz de pensar os propósitos e as condições da educação e que, cotidianamente, lida com questões relacionadas ao significado da prática educativa, a seus objetivos e contextos” (UFU, 2007, p. 41).

 Segundo Correia e Carvalho (2012), o sentido da práxis no âmbito educacional concerne a um termo implicado no fazer humano, que envolve conhecimentos filosóficos e científicos impulsionados no contexto da prática concreta, num movimento que acontece por meio da articulação entre teoria e prática. Para os autores, “a práxis não promove a dicotomia entre consciência e matéria, teoria e prática, sujeito e objeto, mas os posiciona em contextos relacionais, interativos, interdependentes”, tendo como justificativa, para essa prática educativa, a “necessidade de educar seres humanos revolucionários” (CORREIA; CARVALHO, 2012, p. 76).

Sobre o conceito de práxis, Braga (2008) assevera que:

A práxis é vista como atividade real, objetiva ou material, que age e transforma o meio. A atividade material do homem transforma o mundo natural e social para fazer dele um mundo humano. A práxis é a ação exercida pelo homem sobre um meio natural, ação esta que o transforma realmente, objetivamente, concretamente e materialmente para sua satisfação humana (p.4340).

Ainda sobre o assunto, Vázquez (1977) explica que “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”; logo, a práxis é compreendida como atividade real, objetiva, material do homem, sendo superior à mera prática. Esta, por sua vez, é entendida como “[…] ato ou objeto que produz uma utilidade material, uma vantagem, um benefício […]” (VÁZQUEZ, 1977, p. 185), considerando que a práxis é a prática pensada e conscientemente orientada.

Para Freire (1987), a práxis educativa diz respeito à reflexão e à ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo, sendo assim definida: “constitui a razão nova da consciência oprimida e que a revolução, que inaugura o momento histórico desta razão, não pode encontrar viabilidade fora dos níveis de consciência oprimida” (FREIRE, 1987, p.53). A partir dessa perspectiva freireana, o PPP do curso de Pedagogia da FACIP/UFU visa iniciar com “uma concepção restrita de educação, identificando-a como uma importante ação humana em um processo de construção/conscientização para uma sociedade menos excludente” (UFU, 2007, p. 30).

Nesse sentido, o PPP evidencia o eixo da práxis educativa amparado pelo conceito de estimular a teoria e a prática, com o propósito de formar docentes que tenham pontos de vista críticos e globais, considerando uma formação pedagógica que ultrapasse o viés tecnicista e descontextualizado, mas que se ancore em uma perspectiva problematizadora de educação que alcance os aspectos sociais, históricos e pedagógicos que perpassam a prática educativa.

Na seção a seguir, abordar-se-á o PIPE do curso de Pedagogia da FACIP/UFU, diante da perspectiva do eixo da práxis e a partir das percepções de discentes que já cursaram as disciplinas relacionadas aos PIPEs.

  1. Projeto Integrado de Prática Educativa do curso de Pedagogia da FACIP/UFU

 

Nesta seção é analisado o processo de formação docente nos cinco primeiros semestres do curso de Pedagogia, com foco específico na trajetória formativa ao longo dos PIPEs I, II, III, IV e V, a partir das concepções de cinco discentes do referido curso. Para isso, foram utilizados questionários com perguntas abertas como técnica de investigação “composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.” (GIL, 1999, p. 128). As questões abordaram diferentes aspectos acerca da oferta e do desenvolvimento dos referidos PIPEs.

 Um dos questionamentos feitos às alunas foi sobre a importância da disciplina de PIPE na formação docente, respondido da seguinte forma:

O PIPE aproxima a teoria e a prática em um processo de suma importância para a formação de bons profissionais, pois a formação profissional do professor dentro do eixo da práxis está diante de grandes desafios a serem superados no cotidiano, como falta de tempo, cobrança do sistema, desvalorização da profissão (DISCENTE 1, 2018).

Os primeiros PIPEs me aproximaram das discussões teóricas que estava realizando durante o curso. Acredito que buscaram um contato inicial com o chão da escola, porém agora com um olhar mais reflexivo, buscando ver esse espaço não mais como alunos, mas como futuros professores, gestores etc. (DISCENTE 2, 2018).

 

Na minha experiência, o PIPE foi importante porque permitiu um contato inicial com a escola antes dos estágios supervisionados, o que possibilitava que nós já fizéssemos a articulação com outras disciplinas que estávamos cursando (DISCENTE 3, 2018).

A referida disciplina proporcionou-me ampliar a possibilidade de compreender a práxis pedagógica, visto que a formação inicial necessita proporcionar a atuação do discente para a prática. A maior dificuldade é assimilar e compreender a interferência dos aspectos sociais (financeiro, falta de política pública) para a atuação do docente (DISCENTE 4, 2018).

O objetivo do PIPE seria proporcionar o exercício da práxis educativa, ou seja, relação teoria e prática. Porém, apesar disso, não compreendi a importância da disciplina, pois, em minha opinião, nenhum dos PIPEs teve relação uns com os outros. A disciplina, a meu ver, é mal estruturada e acaba tornando o ensino fragmentado. Em cada um dos PIPEs fizemos coisas totalmente diferentes (DISCENTE 5, 2018).

Os depoimentos evidenciam que as disciplinas PIPE têm alcançado o objetivo proposto no PPP do curso de Pedagogia da FACIP/UFU, uma vez que as discentes mencionaram a importância de tais disciplinas para a articulação entre teoria e prática. Ademais, o projeto as aproxima da instituição escolar, conforme estabelecido no PPP do curso de Pedagogia, que afirma que o PIPE:

[…] tem como objetivo analisar a educação e a instituição escolar, o pensamento pedagógico, os sistemas educacionais e a profissão docente e do gestor educacional em seus processos de construção histórico-social. Além disso, discutir e refletir junto aos PIPEs sobre a experiência educativa dos alunos do curso, porque a concepção de formação presente nesse projeto parte dos saberes já construídos pela experiência vivida, na perspectiva de compreensão dos sujeitos como fazedores de história. (UFU, 2007, p.36).

Além disso, as discentes destacaram que o PIPE possibilitou a articulação com as demais disciplinas do curso, o que retrata a efetivação do eixo da práxis educativa. Vale destacar que a aluna 1 trouxe uma insatisfação com os PIPEs, afirmando que não consegue estabelecer uma relação de continuidade entre eles e, conforme avalia, foram mal estruturados, trazendo rupturas e descontinuidades.

Os questionários comprovam a relevância dos PIPEs para a formação docente. Os discentes envolvidos foram indagados sobre os pontos principais e as dificuldades que enfrentaram de cada PIPE:

Para mim, o PIPE I teve como objetivo resgatar nossas memórias enquanto estudantes da educação fundamental e infantil, me fez reviver momentos que lá vivi e que estão guardados no meu subconsciente. No início, achei que não poderia fazer esse exercício, mas foi gratificante! (DISCENTE 1, 2018).

O PIPE I foi o mais significativo dentre todos. A elaboração do memorial foi importantíssima para minha primeira reflexão e desconstrução sobre o que é ser professor. Me levou a descontruir a profissão docente a partir da análise de minhas experiências, proporcionou que eu pudesse refletir sobre qual profissional desejo ser. A escrita do memorial foi uma das dificuldades iniciais no curso, porém, a professora que ministrou a disciplina soube orientar a elaboração, facilitando o processo (DISCENTE 2, 2018).

Penso que a maior dificuldade do PIPE I é que ele é o que parece mais desarticulado das outras disciplinas. A construção do memorial é bastante válida, mas, nesse começo, o PIPE parece uma matéria solta e sem muito sentido (DISCENTE 3, 2018).

O olhar para a disciplina é para o memorial; porém, no processo vivenciado, não houve mediação para compreender a relação do memorial com a prática docente. A disciplina voltou-se para o olhar da disciplina de didática, e acredito que perdeu a essência do PIPE I (DISCENTE 4, 2018).

A construção do memorial foi algo importante, mas acredito que, por ser o primeiro PIPE, deveríamos ter uma explicação acerca do que significa essa disciplina para nossa formação, para compreender melhor qual o real significado de todas as atividades desenvolvidas (DISCENTE 5, 2018).

A ementa da disciplina de PIPE I tem como prioridade:

[…] a construção da identidade do profissional da educação: implicações na realidade. Espaço de introdução do aluno às linguagens de acesso às diferentes fontes de produção da pesquisa educacional: biblioteca, meios informatizados, leitura e produção de textos e artigos com diferentes abordagens. Discussão do profissional da educação frente aos desafios da realidade atual no campo da pesquisa educacional (FICHA DE DISCIPLINA PIPE I, p.2).

Em todas as opiniões dos discentes, compreende-se que a formação docente precisa de um cuidado especial, com o intuito de descobrir as concepções e os princípios envolvidos. Nesse ínterim, observou-se a prática educativa de alguns professores que provocaram marcas e estavam firmados em princípios tradicionais. Mencionam-se, assim, a influência e a reprodução do modelo tradicional de educação que prevaleceu em todo o trajeto de formação e deixou paradigmas que impossibilitam novos pontos de vista a respeito da prática educativa e que se aproximem de uma concepção de educação mais crítica e reflexiva. Destaca-se, pois, a necessidade dos professores em estar sempre numa formação continuada, criando novas estratégias de ensino com o propósito de romper com qualquer vínculo com a pedagogia tradicional.

Em relação ao PIPE II, cujo tema é “A escola como espaço de reflexão”, propõe-se analisar a escola e suas múltiplas dimensões; articular teoria e prática na área de gestão de processos educativos; e analisar variados instrumentos de trabalho e diferenciadas metodologias de planejamento da práxis pedagógica. Durante esse semestre se observou, participou, problematizou e questionou a prática vivenciada, com parâmetros voltados à aprendizagem interdisciplinar. Sobre esse projeto, as discentes dizem que:

No PIPE II, fomos a campo para entender a estrutura física e burocrática, diagnosticando assim a escola em suas múltiplas dimensões, analisando documentos como o PPP, o regimento e o currículo escolar. A escola em que eu fiz a pesquisa é aberta e, por isso, não tive nenhuma dificuldade na minha pesquisa (DISCENTE 1, 2018).

O ponto mais relevante do PIPE II foi o primeiro contato com a escola e seus documentos. A partir daquele momento, o espaço passou a ser visto com olhar diferente, não apenas de aluno, mas com olhar reflexivo de um futuro professor (DISCENTE 2, 2018).

Quando fiz o PIPE II, não encontrei grandes dificuldades. Talvez um ponto a ser destacado é que fizemos observações sobre a estrutura das escolas e foi um pouco difícil fazer uma análise dessas estruturas fora do senso comum, o que foi também muito bom para abrir nosso olhar para novas categorias de análise. Passamos a observar como os espaços escolares são pensados e estruturados (DISCENTE 3, 2018).

O PIPE II possui pouca carga horária, o que dificultou a exploração dos espaços exteriores das escolas. A vivência, mesmo com pouco tempo de teoria e prática, contribuíram significativamente para compreender a relação da escola com a sociedade (DISCENTE 4, 2018).

A maior dificuldade foi ter acesso a documentos históricos das escolas para a realização da pesquisa de campo. Além disso, a pesquisa era muito extensa, além de ter sido desnecessária, já que no próximo PIPE, não utilizamos as informações coletadas para nada. O trabalho foi simplesmente um requisito para obtenção de notas (DISCENTE 5, 2018).

De fato, o primeiro contato com a escola fez com que os discentes sentissem certa dificuldade, mas ele é fundamental para o entendimento do mecanismo do sistema escolar. Segundo a ementa da disciplina, o PIPE II pretende observar:

A escola como espaço de reflexão. Fontes de pesquisa em educação Caracterização do contexto e das relações de trabalho na escola; levantamento do ambiente educativo das escolas, mediante a elaboração de instrumentos de pesquisa e de categorias de análise que permitam ao futuro professor realizar um primeiro estudo de caracterização do seu contexto de trabalho: gestão e funcionamento das escolas de Educação Básica (FICHA DE DISCIPLINA PIPE II, P. 2).

No PIPE III, é normal e corriqueiro encontrar obstáculos que precisam ser vencidos para concluir a disciplina com um aproveitamento adequado, a exemplo da dificuldade em conseguir entrevistados para auxiliar na elaboração do primeiro texto científico. Observem-se testemunhos sobre as dificuldades individuais encontradas pelas discentes:

Teve como objetivo promover uma pesquisa para a obtenção de dados e também um conhecimento amplo no campo da escola. A pesquisa foi sobre a Progressão Continuada. Achei de grande valia ouvir vários docentes sobre esse tema, apesar das dificuldades encontradas para conseguir as entrevistas (DISCENTE 1, 2018).

O PIPE III também foi importante para minha formação. Estudar alguns temas sobre a profissão docente como a sua formação, a saúde docente, a gestão da escola foi importante para compreender como a docência é impactada por vários fatores. Nesse momento, outra dificuldade encontrada foi a elaboração de um artigo, algo que era novo até então e que foi muito difícil elaborar porque, até o momento, está escrita não havia sido abordada por nenhuma outra disciplina (DISCENTE 2, 2018).

A maior dificuldade do PIPE III é o momento de ir à escola, porque embora seja extremamente necessário, é complicado pela resistência das instituições e dos professores em nos receber e responder nossas perguntas. Mas também foi um PIPE muito intenso, pois conseguimos produzir um trabalho a partir de nossas observações e em articulação com outras disciplinas (DISCENTE 3, 2018).

O PIPE III voltou-se para a escrita científica, não houve articulação dos conteúdos e relação das informações com práticas docentes. A preocupação da disciplina de PIPE III foi em realizar a escrita científica, e não ocorreram mediações com o contexto e demandas que a escola possui. As contribuições foram para ter informações da parte política e burocrática dos documentos da escola (DISCENTE 4, 2018).

Nesse PIPE, a maior dificuldade foi conseguir respostas para um questionário que faria parte de um artigo construído na disciplina (DISCENTE 5, 2018).

A principal característica do PIPE III é o estudo sobre as “práticas educativas na Educação Básica, observando a caracterização dos principais aspectos da prática educativa, analisando documentos e ações organizadoras do trabalho escolar, além do projeto político pedagógico, regimento escolar, plano de gestão, plano de curso, proposta curricular, plano de aula, formação continuada” (FICHA DE PIPE III, p.2), entre outros aspectos da gestão escolar. Conclui-se que o PIPE III é, realmente, uma maratona de conhecimento e dificuldades a serem enfrentadas.

São notórias nos depoimentos as dificuldades enfrentadas com a construção de artigo científico. Isso traz à tona a carência de uma formação anterior que proporcione os conhecimentos necessários para a escrita acadêmica.

No PIPE IV, a ficha de disciplina apresenta a seguinte proposta:

[…] problematizAção da prática educativa. Pesquisa-ação. Imersão no contexto profissional, tendo como ponto de partida a problematização das práticas educativas realizadas na escola. Elaboração de projetos de trabalho com o estudo de referências teóricas que possibilitem a contribuição no espaço escolar (FICHA DE DISCIPLINA PIPE IV, p.2).

As atividades desenvolvidas no PIPE IV têm como foco a problematização da prática educativa a partir da postura investigativa, tendo a pesquisa como proposta de atuação. Diante disso, uma das ações do PIPE IV seria a elaboração de um projeto de trabalho para intervenção na realidade escolar.

Sobre as experiências vivenciadas no PIPE IV, as discentes apresentam os seguintes posicionamentos:

Foi proposta a criação de um projeto de intervenção que identificasse os problemas no contexto escolar a partir do diagnóstico feito no PIPE III (DISCENTE 1, 2018).

Este PIPE nos levou a não somente refletir e apontar as dificuldades e os problemas encontrados nas escolas, mas a pensar em uma solução ou, inicialmente, em alguma atividade que pudesse mudar o contexto. No entanto, foi nesse momento que houve uma das maiores dificuldades – pensar em uma intervenção (atividade) e implementá-la foi muito difícil, uma vez que agora não iríamos apenas refletir sobre a prática, mas realizaríamos uma atividade para modificar essa prática. A experiência não foi algo proveitoso, pois ainda me sentia bastante inexperiente e a escola não estava totalmente aberta à atividade (DISCENTE 2, 2018).

No caso da minha turma, o PIPE IV foi atípico devido à greve das universidades. Não consigo responder com propriedade (DISCENTE 3, 2018).

O PIPE IV foi comprometido devido à greve das universidades federais e ao cenário político de desgoverno (PEC 55). Foram ministradas poucas aulas, e realizamos o projeto de intervenção para aplicar no PIPE V, visto que seria a mesma professora a dar continuidade na disciplina (DISCENTE 4, 2018).

Deveríamos realizar uma atividade com o público de uma escola da cidade. Porém, isso não aconteceu devido ao não comparecimento das pessoas convidadas (DISCENTE 5, 2018).

Devido à greve docente nas instituições federais, o calendário acadêmico foi reestruturado, o que provocou um déficit no andamento do trabalho. Mesmo assim, os discentes elaboraram o projeto para dar continuidade no PIPE V. Dentre os depoimentos, vale destacar o da discente 2, que apresenta aspectos como a oportunidade de retomar as dificuldades e os problemas identificados nas escolas, pensando em uma proposta de ação para modificar a realidade problematizada.

Dando sequência às atividades do PIPE V, cujo tema diz respeito à relação entre escola e sociedade, a proposta de trabalho tem como foco a organização do Seminário da Prática Educativa. Com isso, visa-se socializar as dificuldades e ações propostas para a realidade da escola, apresentando projetos elaborados no PIPE IV.

Foi proposto um artigo que teve por objetivo fazer uma análise sobre as atividades realizadas no decorrer das disciplinas de Projeto Integrado de Pesquisas Educacionais (PIPE 1, 2, 3, e 4), da Universidade Federal de Uberlândia – Campus Pontal, e como a teoria dessa disciplina contribui para o eixo da práxis na formação docente do pedagogo (DISCENTE 1, 2018).

Em relação ao PIPE II, não vi muito significado no contexto da disciplina, mas a experiência na participação no evento foi algo proveitoso, por ser o primeiro que participei. Vi a disciplina apenas como o fechamento dos ciclos vivenciados pelos PIPEs (DISCENTE 2, 2018).

Para mim, a maior dificuldade do PIPE V foi a construção do trabalho final, pois pensar a práxis é complicado, e fazer isso retomando todos os PIPES, conseguindo “amarrar” tudo, não é fácil. Posso dizer que foi também o momento principal, pois nos leva a compreender o sentido da práxis e sua importância na formação de professores (DISCENTE 3, 2018).

No PIPE V, não houve pontos a destacar como desafiadores. A disciplina alcançou o objetivo proposto, que é o Seminário de Prática Educativa. Conseguimos aplicar a intervenção nos referidos espaços e apresentá-la em publicações do evento SEPEES de 2017 (DISCENTE 4, 2018).

A dificuldade foi compreender, porque tudo que deveríamos saber sobre o PIPE não foi explicado no PIPE 1, e sim no PIPE 5. Isso fez com que a disciplina se tornasse confusa, já que só tivemos uma explicação do que significa o PIPE. Como já havíamos passado por todos os outros PIPEs, muita coisa já havia dado errado, e isso nos impediu de refletir sobre os objetivos da disciplina (DISCENTE 5, 2018).

Ao analisar as respostas, nota-se que o PIPE V pretende socializar problemas e ações da realidade escolar e, para isso, organiza-se um seminário de prática educativa como ponto culminante. Um aspecto destacado nos depoimentos foi que, além desse evento, os discentes tiveram a oportunidade de retomar a trajetória percorrida ao longo dos PIPEs, ao refletirem sobre os desdobramentos de tais experiências na formação docente.

Como destacam as discentes, o PIPE V, por meio da reflexão e análise das vivências realizadas ao longo da trajetória de formação inicial construída em cinco períodos, permitiu repensar os rumos da futura participação ativa e reflexiva nos campos de estágio, dando continuidade ao eixo da práxis educativa.

De acordo com o Projeto Institucional de Formação e Desenvolvimento do Profissional da Educação da UFU, o PIPE se apresenta como uma possibilidade de articulação que deve ser tomada como um conjunto de atividades ligadas à formação profissional e voltadas para a compreensão de práticas educacionais distintas e de diferentes aspectos da cultura das instituições de Educação Básica. Diante disso, questiona-se: Será que as disciplinas PIPE conseguiram cumprir esse objetivo?

De fato, há convergências entre os sujeitos que responderam ao questionário sobre as práticas educativas, a exemplo da discente 1:

Sim. É nessa disciplina que as discussões teóricas ganham corpo prático. Em suma, entendemos que este trabalho foi de muita importância para nós, futuros professores ainda em formação. Através dele, conhecemos um pouco mais sobre a importância da formação profissional do docente e a práxis (DISCENTE 1, 2018).

A discente 2 afirma que: “Não, até porque a quantidade de tempo das disciplinas foi curta para abranger vários aspectos educacionais”. Por sua vez, 3 e 4 são unânimes em dizer que os PIPEs contemplam vários aspectos, mas, em algumas especificidades, não atingem o objetivo, por falta de tempo e/ou de estrutura das escolas de Ituiutaba, Minas Gerais.

Alguns PIPEs sim, outros, não, devido a circunstâncias externas à disciplina, como a greve, e penso que também devido à prática de alguns professores que não conseguiram atingir esse objetivo no modo como direcionaram a disciplina (DISCENTE 3, 2018).

Em partes, pois o PIPE não consegue abarcar o que precisamos para a formação docente mais ampla. O município de Ituiutaba possui limites para pesquisas e estágios, o que dificulta compreender os diversos aspectos que a escola possui (DISCENTE 4, 2018).

Os depoimentos destacam a contribuição dos PIPEs no que se refere à formação enquanto futuros pedagogos. Entretanto, faz-se necessário considerar, de forma mais crítica, as lacunas que fizeram parte dessas trajetórias – isso permite avaliar avanços e retrocessos vivenciados na primeira etapa do eixo da práxis.

Considerações finais

Ao verificar as trajetórias das discentes que prontamente se dispuseram a responder ao questionário sobre as disciplinas supracitadas, percebe-se que o PIPE possui a finalidade de argumentar sobre as ações relacionadas à formação profissional, isto é, promover a comunicação entre a teoria estudada no curso e as experiências a serem adquiridas em conformidade à prática. E conforme as propostas e as atividades produzidas, constata-se a importância da relação entre teoria e prática, uma vez que houve a oportunidade de compreender, de maneira lúcida, os conteúdos analisados, além da observação de várias práticas educativas.

A variedade de atividades propostas, como a escrita do memorial, as entrevistas realizadas com professores e as análises de documentos e espaços escolares, levou ao entendimento sobre as práticas educativas que precisam ser constituídas segundo uma perspectiva mais crítica sobre a escola, conseguindo examiná-las em diferentes áreas e possibilitando a criação de estratégias que contribuam com o desenvolvimento da educação. Como futuros docentes, é preciso acreditar e lutar para que as novas estratégias, que podem ser consideradas até utópicas, saiam do papel e se tornem realidade.

Essa retomada de experiências vivenciadas na primeira parte do eixo da práxis educativa leva a refletir sobre encontros e desencontros, avanços e retrocessos, proporcionando um novo norte sobre a construção da identidade profissional. Tal retrospectiva permitiu apontar obstáculos presentes no cotidiano e que podem afetar a prática pedagógica.

Destarte, o PIPE tem a função de articular as atividades ligadas à formação profissional e, por meio dessa relação, assegurar a articulação entre teoria e prática, rumo a uma formação pedagógica pautada numa concepção crítica da docência. Ela deve ultrapassar o viés meramente técnico, além de contemplar aspectos sociais, históricos e pedagógicos essenciais na formação do pedagogo.

 

 

Referências:

BRAGA, D. R. (2008). O conhecimento, a práxis e a formação humana na perspectiva sócio-histórica em sua relação com a educação e a formação de professores. In Anais do 7º Congresso Nacional de Educação EDUCERE (p. 4336-4347). Curitiba, PR. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/403_446.pdf>.

BRASIL. Resolução CNE/CP n. 1 de 18 de fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Portal MEC. Brasília, DF: MEC/CNE/CP, 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/

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[1] Doutora em Educação. Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia- FACIP – Faculdade de Ciências Integradas do Pontal.

[2] Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia.

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