Sensações e Movimentos: Uma Experiência no Estágio Supervisionado da Educação Infantil
Débora da Silva Araújo*
Fernanda Duarte Araújo Silva**
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma atividade de intervenção desenvolvida durante a disciplina de Estágio Supervisionado em Educação Infantil do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A escola estagiada era filantrópica, localizada na cidade de Ituiutaba-MG e atendia crianças na faixa etária de até cinco anos. Em linhas gerais percebemos que o estágio na Educação Infantil nos proporcionou uma aproximação com a realidade das instituições desta etapa, considerando as especificidades das infâncias. As intervenções possibilitaram um agir intencional que promovem reflexões que são pertinentes para o processo de formação docente.
Palavras-chave: Estágio, Educação Infantil, Sensorial, Movimento.
AbstractThe present work aims to present an intervention activity developed during the discipline of Supervised Internship in Child Education of the Pedagogy Course of the Pontal Integrated Sciences Faculty of the Federal University of Uberlândia (UFU). The internship school was philanthropic, located in the city of Ituiutaba-MG and attended to children in the age group of up to five years. In general terms we noticed that the stage in Early Childhood Education provided us with an approximation with the reality of the institutions of this stage, considering the specifics of childhood. The interventions made possible an intentional action that promote reflections that are pertinent to the teacher training process.
Key words: Stage, Early Childhood Education, Sensory, Movement.
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma atividade de intervenção desenvolvida durante a disciplina de Estágio Supervisionado em Educação Infantil do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A escola estagiada era filantrópica, localizada na cidade de Ituiutaba-MG, e atendia crianças na faixa etária de até cinco anos.
Acreditamos que a Educação Infantil, enquanto primeira etapa da Educação Básica, deve ser considerada como uma fase essencial, singular na vida do ser humano, um momento mágico, único de desenvolvimento e para tanto deve estar planejado, estruturado (ANGOTTI, 2010).
Durante as observações realizadas na escola, tivemos a oportunidade de perceber que a rotina das crianças, era mais voltada para o assistencialismo, muito pouco era trabalhado pensando as possibilidades de desenvolvimento integral das crianças. Nesta perspectiva, optamos por desenvolver atividades com as crianças que propiciassem o desenvolvimento de algumas capacidades, a partir do trabalho com diferentes linguagens.
Apresentamos nesse artigo algumas das políticas que devem orientar o trabalho na Educação Infantil, entre elas: a Constituição Federal de 1988, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI).
Educação Infantil: trabalhando os sentidos e o movimento
Sabemos que o atendimento em creches e pré-escolas é um direito social de todas as crianças, sendo este garantido e afirmado na Constituição de 1988. Desde então a Educação Infantil tem sido objeto de vários estudos e discussões e questões referentes ao trabalho pedagógico nessa etapa de ensino tem sido repensadas.
Em 1996 temos a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/96 que define a Educação Infantil como sendo a primeira etapa da Educação Básica e que tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Desta maneira, a criança passa a ser concebida como um ser íntegro, singular histórico e cultural, que através do cuidar e educar deverá ter a garantia de um desenvolvimento pleno e integral, ou seja, considerando o físico, emocional, afetivo, cognitivo/linguístico e social (ANGOTTI, 2010).
Em 1998 temos a divulgação do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) que destaca a função das instituições de Educação Infantil:
…devem favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador for esse ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação de conhecimentos acerca de si mesmas, dos outros e do meio em que vivem (BRASIL, 1998, p. 15).
Além disso, o RCNEI (1998, p. 15) afirma que,
O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo.
Em 2006 o Ministério da Educação e Cultura (MEC), publica um documento que servirá como Parâmetros Básicos de Infraestrutura para instituições de Educação Infantil, que destaca
Este trabalho, portanto, busca ampliar os diferentes olhares sobre o espaço, visando construir o ambiente físico destinado à Educação Infantil, promotor de aventuras, descobertas, criatividade desafios, aprendizagens, e que facilite a interação criança-criança, criança-adultos e deles com o meio ambiente. O espaço lúdico infantil deve ser dinâmico, vivo, “brincável”, explorável, transformável, e acessível para todos.
E nesta perspectiva, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) publicadas em 2009 destacam três princípios que devem ser respeitados na Educação Infantil, sendo eles: princípios éticos, políticos e estéticos, que em linhas gerais abordam que é preciso respeitar as singularidades de cada criança considerando o seu direito à cidadania, sem perder a ludicidade e a liberdade de expressão. E ainda apresentam que as práticas pedagógicas na Educação Infantil devem ocorrer por meio de dois eixos norteadores, que são as interações e as brincadeiras, garantindo experiências que,
…promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança (BRASIL, p. 2, 2009).
Sendo assim, o movimento e as experiências sensoriais são partes integrantes no desenvolvimento das crianças, e às vezes, deixa-se de usar estas linguagens para abordar outras que já são usuais no cotidiano escolar.
Precisamos então considerar a organização dos espaços, pois ao mesmo tempo em que podem influenciar o comportamento, facilitando certas atividades, também pode acabar obstruindo outras (CARVALHO; RUBIANO, 2010).
Acreditamos assim que a Educação Infantil se constitui como um espaço de ludicidade, que envolve várias linguagens, daí a importância de se ter um espaço programado para dar à criança oportunidade de se movimentar, de interagir com os objetos e com os outros bebês. Oferecendo situações desafiadoras, que possibilitem o desenvolvimento de suas capacidades.
Caminhos percorridos: uma experiência no berçário
Este trabalho foi desenvolvido em uma creche filantrópica da cidade de Ituiutaba-MG, nas turmas do berçário, as quais denominamos I e II. Tendo em vista, a diversidade de linguagens que podem ser trabalhadas na Educação Infantil, e a partir das observações realizadas neste estágio, que tinha uma carga horária de 80 horas, elaboramos algumas atividades de modo a enriquecer a rotina dos pequenos e propiciar o desenvolvimento de algumas habilidades.
A partir das observações realizadas, constatamos que a rotina das crianças era organizada de uma maneira que considerava mais o cuidar, do que o educar. Assim, percebemos também que não tinha um planejamento efetivo nas atividades a serem desenvolvidas pelas crianças, a maioria das brincadeiras eram livres, com pouca mediação e intervenção, apenas um olhar atento para as crianças não se machucarem fisicamente.
Desta maneira, planejamos uma intervenção que contemplasse a interação e o brincar, numa perspectiva de conhecimento, movimento e desenvolvimento sensorial. Sendo assim, as atividades foram separadas de acordo com a faixa etária de cada turma, para o berçário I (6-12 meses) organizamos intervenções sensoriais, que estimulassem também o movimento, a percepção; já para o berçário II (1 a 2 anos) planejamos atividades que contemplassem mais o movimento.
Inicialmente, elaboramos para a turma do berçário I, três cartazes sensoriais, que continham variações de texturas, com algodão, pedacinhos de esponja, textura elaborada com cola quente, pedaços de tecidos, cordões, e estes cartazes foram fixados na parede da sala, na parte inferior, de modo que possibilitasse o acesso autônomo das crianças até ele.
Foi interessante perceber a reação dos bebês ao tocar os materiais, pois muitos não gostavam de pegar os ursinhos de pelúcia, acreditamos que isso aconteceu a princípio por causa da textura. Mediamos a atividade, orientando as crianças sobre as possibilidades de exploração desse material. Alguns bebês queriam arrancar os materiais, então lhes ensinamos a passar a mão devagar, a sentir as texturas, até que eles explorassem sozinhos os materiais.
Na sequência desta intervenção, preparamos outra atividade para os bebês. Tendo em vista, que os cartazes tiveram que ser fixados na parede e eles queriam muito arrancá-lo, pensamos em um material que eles pudessem manusear livremente. Desta forma, utilizamos seis garrafas de refrigerantes transparentes, recicladas, com água colorida artificialmente com anilina, e vários glitters e cola glitter brilhantes, para estimular o campo visual deles.
Esta atividade foi mágica, no momento que eles pegaram as garrafas e viram que a água se mexia de acordo com o movimento que eles faziam, ficaram eufóricos. Foram diversas as reações, alguns colocavam as garrafas para rolar, outros tentavam abri-la (mas, lacramos com fita adesiva), já tinham outros que ficaram vidrados nos brilhos se mexendo, teve uns que até dormiram com a garrafa.
Considerando a idade das crianças do berçário II e seu desenvolvimento psicomotor, pensamos em trabalhar a partir do movimento. Assim, elaboramos uma atividade de movimento e destreza, sendo assim foi colado na altura das crianças uma fita adesiva, esticada, e as crianças deveriam pegar a bolinha no saquinho, e ir até a fita e grudar a bolinha.
As crianças se divertiram muito fazendo esta brincadeira, alguns colavam as bolinhas, enquanto outros as derrubava, um ajudava o outro a pegar as bolinhas. Avaliamos que as crianças acharam interessante as bolinhas ficarem grudadas, como se fosse uma “mágica”.
De acordo com a primeira atividade, de movimento e destreza, levamos um pedaço de não tecido, para que cada criança segurasse em uma ponta. Cortamos um buraco no meio, e eles tinham que juntos derrubar as bolinhas no buraco. Mas, no final da atividade eles mudaram o tecido de posição e começaram a correr atrás das bolinhas para jogarem elas, como se estivessem fazendo cestas. Foi interessante, observar a condução deles numa brincadeira imaginária. Cada criança emitia um barulho diferente na hora de jogar a bolinha.
Considerações finais
A aprendizagem permeou todo o processo de estágio supervisionado, desde a escolha da instituição até a finalização do relatório. Foi um intenso movimento de estudos e pesquisas. O trabalho de observar a realidade da escola foi essencial durante o estágio, pois foi partir dela que selecionamos as intervenções, a metodologia, considerando a realidade dos sujeitos envolvidos e os estudos desenvolvidos nas aulas teóricas de estágio.
O estágio na Educação Infantil nos proporcionou uma aproximação com a realidade das instituições desta etapa, considerando as especificidades das infâncias. As intervenções possibilitaram um agir intencional que promovem reflexões que são pertinentes para o processo de formação docente.
A oportunidade de trabalhar com movimentos e experiências sensoriais foi extremamente enriquecedora, além de refletirmos sobre as diferentes possibilidades de atividades, nos possibilitou ressignificar nossas concepções sobre a organização do trabalho pedagógico no berçário. Foi um movimento constante de vivenciar, refletir e ressignificar teorias e práticas.
Referências
ANGOTTI, Maristela (org). Educação Infantil: para que, para quem e por quê. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010. p.15-32.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 24 jun. 2015.
______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Disponível em:<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=9769-diretrizescurriculares-2012&category_slug=janeiro-2012-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 10 mar. 2016.
______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental,
(1998). Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, v. 3.
CARVALHO, M. I. C. de; RUBIANO, M. R. B. Organização do espaço em instituições pré-escolares. In: OLIVEIRA, Zilma Moraes Ramos de (org). Educação Infantil: muitos olhares. São Paulo: Cortez, 2010. p. 116-142.
*Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação (FACED/UFU).
**Doutora em Educação. Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia, Campus do Pontal.
Como citar esse artigo:
ARAUJO, Débora da Silva. SILVA, Fernanda Duarte Araújo. Sensações e Movimentos: uma experiência no Estágio Supervisionado da Educação Infantil. Revista Partes, São Paulo, 2018. p.1-6.