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Leitura da literatura infantil: algumas reflexões teóricas

LEITURA DA LITERATURA INFANTIL: ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS

Terezinha Salete Padilha

 

RESUMO: A leitura tem fundamental importância na vida de qualquer indivíduo. Para tornar-se um leitor proficiente e crítico, é relevante que se tenha como hábito o ato de ler. Nesta perspectiva, o processo de formação de leitores requer do mediador/professor estabelecer, de maneira adequada, a interação entre texto e leitor. Assim, este trabalho concentrou-se em reflexões sobre a leitura da literatura infantil,com base na literatura especializada sobre o tema. Partiu-se do conceito de literatura, fazendo uma incursão específica sobre a literatura infantil. E refletir sobre sua importância na formação leitora, trazendo considerações sobre tal processo.

PALAVRAS-CHAVES: Leitura; Literatura e literatura infantil.

 

RESUMEN: La lectura tiene fundamental importancia en la vida de cualquier individuo. Para convertirse en un lector proficiente y crítico, es relevante que se tenga como hábito el acto de leer. En esta perspectiva, el proceso de formación de lectores requiere del mediador / profesor establecer de manera adecuada la interacción entre el texto y el lector. Así, este trabajo se concentró en reflexiones sobre la lectura de la literatura infantil, con base en la literatura especializada sobre el tema. Se partió del concepto de literatura, haciendo una incursión específica sobre la literatura infantil. Y reflexionar sobre su importancia en la formación lectora, trayendo consideraciones sobre tal proceso.

PALABRAS CLAVES: Lectura; Literatura y literatura infantil.

 

1 Introdução

A leitura é o processo no qual o leitor realiza trabalho ativo de compreensão e de interpretação, a partir de objetivos e de seu conhecimento de mundo. Quando se trata da leitura da literatura, essa apresenta peculiaridades que possibilitam não apenas a ampliação do conhecimento leitor, mas das diversas culturas e de si mesmo. Por meio da leitura da literatura, é possível construir, criar e recriar a linguagem viva, pois a imaginação faz-nos ser personagens das histórias lidas e o pensamento transforma-se em liberdade de criação. (BARREIROS, s/d, p.1)

Ao iniciar esse processo, as crianças já têm contato com o mundo da leitura, mesmo não sendo alfabetizadas. Elas leem as cores, os objetos, a natureza, fazem uma leitura visual de tudo o que os envolve sua visão de mundo ao recriar o que está ao seu redor, ao escutar uma música, o canto do pássaro, no momento no qual está assistindo a um programa infantil na TV, e este chama atenção pelo colorido dos objetos e de como o apresentador (a) conduz o programa.Nessa perspectiva, compreendemos que leitura desempenha papel importante na vida de qualquer pessoa, em função disso, é preciso desenvolver o hábito de leitura. Este é um assunto presente em muitos estudos, especialmente, quando relacionados ao papel da escola nessa formação. Estudos, realizados no campo da educação, indicam que não são poucas as dificuldades dentre alunos, no que se refere à leitura e à interpretação de textos.

Dessa forma, a literatura infantil é o meio pelo qual as crianças definem-se como leitoras, os textos abordados referentes à literatura infantil vêm ao encontro dos interesses que a criança tem pela leitura. É nessa fase que inicia o processo de formação leitora, e cabe ao docente instigar o gosto que a criança tem e que prevalece em sua vida de leitora.

Neste artigo, buscamos refletir sobre a leitura da literatura infantil, visando discorrer sobre a visão de alguns autores que discutem o ensino da leitura da literatura, processo este que inicia desde os primeiros anos de escolarização, nos quais a criança amplia o contato com a leitura e a escrita. Refletimos sobre o conceito de literatura, fazendo uma incursão específica sobre a literatura infantil e a sua importância na formação leitora.

2 O que é Literatura?

Para Antonio Candido (1995), a principal função da literatura é a humanização, tornar o homem um ser humano, à medida que o texto literário funciona como meio de satisfazer a necessidade universal de ficção e fantasia. Literatura é tudo que representa vida. É arte, teoria e estudo; expressa imaginação, ficção, poesia. Conforme considerações de Komonsinki (2001), na obra “Literatura nos Cursos de Letras: um ensino centrado no leitor”, há alguns textos que são vistos como boas e más literaturas. Mas isso não significa que precisa ser exatamente um texto que esteja na mídia, ou que já algum tempo está nas prateleiras da biblioteca sem procura. Quem vai decidir se é boa ou má será o leitor, com base no que ele precisa entender.
A escola precisa estar preparada para trabalhar com qualquer tipo de texto com os alunos, ter conhecimento antes que esses sejam entregues aos alunos. E, dessa maneira, estaríamos preparados para poder debater em sala o que seria uma boa ou uma má literatura. A leitura precisa ser abordada independente de qual será o tipo de obra, um bom livro não se distingue pela condição social, pois desde um folhetim acaba por se constituir como leitura. Segundo Komosinski,

Não é raro ver-se a qualidade de um texto ser atribuída a partir de critérios morais; bom texto será aquele portador de uma boa mensagem, de um ensinamento, de um para muitos, sendo imperceptível condicionamento do leitor à moral vigente (KOMOSINSKI, 2001, p. 55).

3 O que é Literatura Infantil?
A literatura infantil brasileira teve seu início sob a égide de um dos mais destacados intelectuais: Monteiro Lobato. Se isso, por um lado, prestigiou o gênero no seu surgimento, por outro, fez com que, após Lobato, por muito tempo, a literatura infantil brasileira vivesse à sombra de seu nome. A obra do criador do Sitio do Pica-pau Amarelo, ambiente rural que abriga suas personagens, se dimensiona a partir de sua interação com o grupo social ou, mais explicitamente, sua atuação como agente formador e modificador da percepção do público.
A literatura infantil, segundo Ligia Cademartori (1986), não é um conceito difícil de compreender, o que se deve ao fato de que todo mundo já tem esse conhecimento ao relacionar a leitura com a criança. Logo, ao referir-se à palavra infantil, essa já se relaciona à criança e é por isso que a literatura infantil teve seu início, ao escrever textos direcionados a este público.
Segundo Cademartori, a principal questão relativa à literatura infantil diz respeito ao adjetivo que determina o público a que se destina. No entanto, deve-se observar que essa literatura, só como substantivo, não predetermina seu público (CADEMARTORI, 1986). Ou seja, a literatura infantil não está ligada diretamente a esse público, mas se direciona a qualquer grupo, desde que esteja interessado em uma literatura crítica que forma leitores assíduos.

4 A Leitura da Literatura na visão dos pesquisadores

Fanny Abramovich (1997), em sua obra, aponta contribuições e práticas necessárias com relação a todos os docentes que anseiam mudar o projeto pedagógico no que tange ao dia a dia em sala de aula. A obra é indicada para professores que buscam estar em contato com crianças e adolescentes e que estejam em desenvolvimento na formação leitora.

A autora aborda vários assuntos e destaca a importância da literatura infantil. Evidencia a importância para a formação leitora de qualquer criança com relação ao ouvir e olhar as histórias e as ilustrações, bem como com o humor aguçar o riso, gargalhadas com as peripécias vividas pelos personagens. A autora ainda trabalha com poesia para crianças, contos de fadas, desenvolvendo a avaliação crítica da leitura, dentre vários outros arcabouços que decorrem desses pontos.

A literatura infanto-juvenil foi incorporada na escola, e assim denota um entendimento propagador de que as crianças passaram a ler. Até poderia ser verdade, se esta leitura não fosse carregada da noção de dever e tarefa, mas sim se fosse visto como prazer de deleite, descoberta, liberdade e de encadeamento. No que diz respeito a tais relações com a leitura na escola, a autora discorre sobre o papel do professor diante do aluno, e ressalta que essa liberdade de escolha da obra lida depende do professor, pois ele deve estar mais preparado tendo que ler muito mais livros para acompanhar os alunos.

Ligia Cademartori (2009) ressalta que a literatura endereçada à criança apresenta um aspecto controvertido e rico para discussão. Segundo ela, existem temas infantis e não infantis. Ou seja, a questão pertinente reside no tratamento dado ao tema e não neste propriamente.

A autora realiza apontamentos acerca dos temas apresentados para crianças, e que durante determinado período o objetivo era limitado e colocado a serviço da formação de um futuro adulto. Isso se restringia à ideia daquele modelo de criança que obedecia, que era dócil, que vivia em um universo ficcional e que demonstrava respeito. A autora discorre acerca de uma literatura contemporânea e coloca como foco a idealização da infância, que explica boa parte dos temas, personagens e tramas presentes em significativa parte da produção literária contemporânea. A literatura expressa a idealização de certa etapa de vida, ou a transmissão de ideias para a formação de determinado tipo de sujeito. Percebe-se que tal posicionamento continua atual.
Coelho (1966) explica a importância que a moderna didática está atribuindo aos textos literários a função de instrumento de educação, e, segundo ela, a explicação está na natureza da poesia ou da literatura. Atividade esta que advêm do princípio humano e se constitui a partir da intuição, do imaginário, de sonhos que nos levam a viagens percorridas para mundos ficcionais. Esta atividade pertence mais à intuição do que à razão, segundo a pesquisadora mencionada.

Além disso, a relação do conhecimento pela razão e o conhecimento pela intuição, está na divisão clara de seus objetivos, o primeiro focaliza no uso da lógica e do raciocínio, e o segundo é subjetivo, contudo utiliza as forças enigmáticas como a intuição e a imaginação. A função poética, segundo Coelho, refere-se ao que provêm do conhecimento intuitivo e que permite descobrir as coisas e a sua inocência ou seu valor próprio, antes de serem determinadas e codificadas pelos homens. É desse modo que expressam fantasia, imaginação e sonhos por meio da poética e da literatura.

Para Menegassi (2010), a leitura não pode ser vista apenas como uma prática de consumo, mas sim como um ato que implica compreensão e conhecimentos prévios, de modo que o leitor vai constituindo-se bem antes do ato da leitura, com o conhecimento de mundo, adquirido com experiências vividas.

Outra obra a ser analisada é “Literatura. A formação do leitor”, das autoras Maria da Gloria Bordini e Vera Teixeira de Aguiar. Elas discorrem acerca de métodos utilizados para levar ao leitor a leitura e o papel da escola no ensino da literatura, e que permeiam a leitura e seleção de textos literários, com propostas de metodologias de abordagens textuais.

Segundo Maria Helena Martins (1994), a função do educador, mais que a de ensinar a ler, deveria ser a de criar condições para o educando realizar a sua própria leitura, conforme seus próprios interesses, fantasias, segundo as dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta. Assim, criar condições de leitura não implica em apenas alfabetizar ou propiciar acesso aos livros. Trata-se, antes disso, de dialogar com o leitor sobre a sua leitura, isto é, sobre o sentido que ele dá a um texto escrito, um quadro, uma paisagem, a sons, a imagens, as coisas, as ideias, a situações reais ou imaginárias. (ZILBERMAN, 1983).

Freire (1980) discorre acerca de conscientização explicando que quando ele escutou essa palavra pela primeira vez, percebeu a profundidade do seu significado e assim, segundo autor se convence de que a educação como prática da liberdade, é um ato de conhecimento, uma aproximação crítica da realidade. (FREIRE, 1980).

Em A importância do Ato de Ler, o autor defende que, mesmo sem ser alfabetizada, ou seja, mesmo sem conhecer ou dominar o código escrito, uma pessoa já é capaz de realizar leitura(s) do mundo em que está inserida. Na visão de Freire, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” (FREIRE, 2003, p.11).
Segundo o autor, a leitura é um processo constante em nossa vida. E aquela que temos do mundo que nos cerca, fruto de experiências e conhecimentos já adquiridos, vai muito além da leitura da palavra, da decodificação textual, pois a experiência que ela nos proporciona, leva-nos a conhecer outros mundos, desenvolvendo outros saberes. Neste entendimento, é fato que a leitura da literatura permite-nos vivenciar outras realidades e, dessa forma, acaba por nos proporcionar um conhecimento que sempre ficará em nossa memória. Este será relacionado a outros saberes em momentos posteriores, quando realizarmos novas leituras.

O trabalho realizado após a leitura do texto deve, também, ser visto com atenção pelo mediador, pois discussões sobre os assuntos abordados no texto esclarecem e ampliam a capacidade de reflexão do aluno. É importante levá-lo a desenvolver uma leitura com senso crítico, fazendo-o perceber que, o que se encontra nas entrelinhas, os não ditos, pode modificar o sentido do texto, pois toda escrita é traspassada por ideologias. Também, neste quesito, a aplicação das estratégias de leitura mostra-se pertinente, uma vez que sistematizam os procedimentos para a leitura, conduzindo o leitor aos explícitos e implícitos presentes no texto.

Vale ainda, salientar, uma vez mais que, na leitura em processo, o leitor aproxima-se dos sentidos, tendo como base seu conhecimento de mundo e as pistas encontradas na estrutura do texto. Neste processo, o leitor constrói-se, identifica-se e lança-se no texto, ora se aproximando, ora se afastando dos princípios e valores presentes no que é lido, realizando assim uma espécie de amálgama entre o novo e o antigo “conhecimento”, preenchendo e construindo as lacunas presentes ou deixadas, propositalmente, no texto, pelo autor.

 

5 Considerações Finais
Neste trabalho, tivemos como objetivo refletir sobre a leitura da literatura infantil, visando discorrer sobre algumas reflexões na visão de alguns autores elencados ao nosso trabalho, que visam à leitura da literatura como formação leitora das crianças, processo este que iniciam desde os primeiros anos iniciais, no qual a criança tem o contato com a leitura e a escrita. Nesse sentido, a escola e os professores devem criar o gosto pela leitura nos alunos, fornecendo a eles uma formação sólida e eficaz, tornando-os leitores proficientes. Não deixar que a leitura seja um processo obrigatório, deixar a leitura fluir em seu contexto, dar formas de como trabalhar com os alunos e que essa não caia na rotina, e que sempre ocorra de forma prazerosa. Dessa forma, entende-se que o trabalho com a leitura deve ser algo constante, pois a leitura não é somente decodificar os textos, é um trabalho mais amplo que ultrapassa a mera leitura de palavras. Também, para que o trabalho com a leitura possa ser eficaz, são necessárias condições para que o professor possa desempenhar suas funções.

Referências

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

AGUIAR, V. T. de; BORDINI, M. da Gloria. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Marcado Aberto, 1993.

CADEMARTORI, Ligia. O professor e a literatura: para pequenos, médios e grandes. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2009

CANDIDO, Antonio. Vários escritos – edição revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 47. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

KOMOSINSKI, Lionira Maria Giacomuzzi. Literatura nos cursos de letras: um ensino centrado no leitor. Erechim/RS: EdiFAPES,2001.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura?19.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

MENEGASSI, Renilson José. (Org.). Leitura, escrita e gramática no ensino fundamental. Maringá, Eduem, 2010.

 

Terezinha Salete Padilha é graduada em Letras/Italiano pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). E-mail:
teresalete@hotmail.com

 

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