Agricultura água

Podemos nos alimentar sem morrer de sede?

Araguaia

 

 

Julio Berdegué, Representante Regional da FAO, e Elizabeth Coble, consultora da FAO

 

A Cidade do Cabo está ficando sem água. Desde o dia 1 de fevereiro o limite de consumo por pessoa é de 50 litros por dia e, se não chover, estima-se que a partir de 11 de maio não sairá nenhuma gota de água de suas torneiras.

Mas este não é apenas um problema da Cidade do Cabo.

A escassez de água é um desafio mundial. Nos próximos trinta anos teremos que produzir 70% a mais de alimentos para alimentar a 9 bilhões de pessoas. E a disponibilidade de água doce será um problema chave. Porque sem água, não há comida. Simples assim. Então, podemos nos alimentar sem morrer de sede?

Nos últimos cem anos aumentamos a extração mundial de água doce oito vezes, chegando a 4000 km3 por ano, o equivalente a quase cinco vezes o lago Titicaca. Em nível mundial, deste mar imenso de água doce, 70% são usados para a produção de alimentos.

A região da América Latina e o Caribe é a que tem a maior disponibilidade de água doce, com quase um terço do volume do planeta e com apenas 9% da população. Na teoria, temos 24 mil metros cúbicos por pessoa, um mundo de água.

Entretanto, um terço da população regional vive em zonas áridas e semiáridas e, como muitas outras coisas, a água também é distribuída de forma desigual na América Latina e no Caribe. O consumo médio per capita na região é de 240 litros por dia, mas o consumo médio de uma família classe média alta no Peru, vivendo em San Isidro, é 25 vezes maior do que o de uma família pobre em Lurigancho.

Apesar do que foi mencionado, somos uma das regiões com maior potencial para aumentar significativamente a sua área agrícola irrigada. Na região, dois terços deste potencial encontram-se em quatro países: Argentina, Brasil, México e Peru. Na região, a irrigação poderia ser ampliada para uma área equivalente a 106 milhões de campos de futebol. Apenas um quinto dessa superfície é irrigada hoje. Este não é um fator menor: um hectare irrigado produz três vezes mais alimentos do que um que dependa da chuva.

Expandir a área irrigada é caro. E tem um lado escuro do ponto de vista ambiental e social. Felizmente, hoje existem variedades de plantas e animais que permitem produzir mais alimentos com menos água. Além disso, podemos usar a água de forma muito mais eficiente, se os sistemas de irrigação forem modernizados e forem adotadas técnicas que melhorem a qualidade do solo para que ele armazene mais água durante mais tempo.

Implementar estas medidas requer mais esforço: mais investimento público e privado, mais organização social, melhor governança da água, dos solos e dos sistemas alimentares. E políticas públicas que facilitem o que foi mencionado anteriormente.

Então, podemos nos alimentar sem morrer de sede? A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) é enfática a este respeito: sim, já que podemos produzir muito mais alimentos com muito menos água. Mas devemos começar hoje mesmo.

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