Educação Educação Formação Docente

A escrita do bilhete como propulsor de qualidade na alfabetização

A ESCRITA DO BILHETE COMO PROPULSOR DE QUALIDADE NA ALFABETIZAÇÃO

Raimundo Nonato Pereira dos Santos [[i]]

Valdicéia de Cássia da Silva Balbinot [[ii]]

Maria José de Brito [[iii]]

Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar a importância da escrita de bilhetes como propulsor de qualidade na alfabetização. É decorrente de pesquisas bibliográficas cujos autores encontram-se relacionados nas referências finais, bem como pesquisa de campo desenvolvida junto aos alunos do 1º ano do ensino fundamental I, de uma escola da rede pública municipal de Colorado do Oeste Rondônia, abrangendo 21 alunos. Os bilhetes são gêneros textuais de uso frequente que geralmente servem para dar instruções, relembrar atribuições, solicitar algo, relatar fatos pessoais entre outros. A construção da aprendizagem na alfabetização se efetiva por meio de práticas pedagógicas contextualizadas, abrangendo sequências didáticas devidamente planejadas.

Palavras Chave: PNAIC, Prática Pedagógica, Bilhete.

Summary: He purpose of this article is to analyze the importance of writing tickets as a driver of quality in literacy. It is a result of bibliographical research whose authors are related in the final references, as well as field research developed with the students of the first year of elementary school I, covering 23 students, from a public school in the western Colorado Rondônia. Tickets are frequently used textual genres that often serve to give instructions, recall assignments, request something, report personal facts among others. The construction of learning is effective through contextualized pedagogical practices, encompassing didactic sequences.

Keywords: PNAIC. Pedagogical Practice. Tickets.

Introdução

A Escola tem por missão educar para o futuro, proporcionando condições para que os alunos assumam com autonomia o protagonismo de sua própria formação integral avaliando, incorporando inovações e mudanças contemporâneas.

A pesquisa de campo foi realizada em uma escola da rede pública municipal de ensino de Colorado do Oeste Rondônia, no período de outubro a dezembro de 2017, abrangendo 21 alunos do 1º ano do ensino fundamental I, compreendidos na faixa etária de 5 a 6 anos de idade.

A escola em pesquisa tem como meta alfabetizar e letrar os educandos, para que possam compreender o mundo em que vivem através da alfabetização. Magda Soares (1998) enfatiza que se vive em sociedade grafocêntrica na qual há grande necessidade de ler e escrever. Não basta ler e escrever, também é necessário fazer leitura de linguagens e envolver-se com as práticas sociais de escrita.

Práticas sociais são vivenciadas na escola, nesse sentido, em ambiente lúdico é possível motivar novos aprendizados, articulado com a vivência de valores como: Curiosidade e criatividade.

As escolas precisam contar com infraestrutura física harmoniosa, materiais e equipamentos de boa qualidade, bem como quadro de profissional devidamente qualificado, capazes de empregar as habilidades e técnicas, em prol de novos ensinamentos.

Nesse sentido, a preocupação é saber quais conhecimentos a criança precisa adquirir, para se alfabetizar com base no sistema de escrita alfabética? Sabe-se que para escrever é preciso ter conhecimento textual. Identificar como cada gênero se organiza, e a quais fins se destinam.

A turma em pesquisa demonstrou-se participativa, bem como apresentou nível de alfabetização e letramento avançado. A escolha do gênero textual bilhete, contribuiu para o sucesso da experiência, pois viabilizou ações interdisciplinares, impulsionando ações e expectativas.

Alguns pressupostos teóricos da alfabetização e letramento

Na literatura atual sobre alfabetização e letramento, é consenso de que cabe ao professor “alfabetizar letrando”. No entanto, como isso acontece na prática, no contexto da sala de aula? É possível ensinar as especificidades do sistema alfabético por meio de práticas autênticas dos usos da leitura e da escrita? Quais são os aportes teóricos que poderão subsidiar tal proposta? Soares destaca que:

Se a alfabetização é uma parte constituinte da prática da leitura e da escrita, ela tem uma especificidade, que não pode ser desprezada. É a esse desprezo que chamo de “desinventar” a alfabetização. É abandonar, esquecer, desprezar a especificidade do processo de alfabetização. A alfabetização é algo que deveria ser ensinado de forma sistemática, ela não deve ficar diluída no processo de letramento. (SOARES, 2003, p. 1)

Para a autora a verdadeira proposta de educação integral, conduz a criança a aprender a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, com base em projeto pedagógico que harmoniza alfabetização e letramento.

A Secretaria de Educação Básica tem empenhado esforços para colocar em evidência as formações continuadas para professores alfabetizadores, nesse sentido o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PINAIC tem balizado significativas mudanças na forma de ensinar com reflexos positivos na aprendizagem dos alunos. É relevante que as experiências positivas sejam compartilhadas e disseminadas. Alfabetização vai além de aprender a ler e escrever, é mais que codificar e decodificar, alfabetizar deve ser entendido como a apropriação do sistema convencional de escrita.

Dias destaca que a tarefa do educador no processo de inserção ao mundo letrado, está atrelada a:

Nossa tarefa, como educadores, seria abordar os mais variados tipos de textos em sala de aula, analisando as semelhanças e diferenças, a estrutura textual de cada um, o vocabulário utilizado, buscando incentivar a leitura, a interpretação e a produção pelos próprios alunos dos mais variados portadores de textos existentes e utilizados em nossa sociedade. (DIAS, 2001, p. 25)

Como afirma Dias, cabe aos educadores promover atividades que envolva a diversidade textual, possibilitando aos alunos a construção do conhecimento sobre diferentes textos na sala de aula. Assim como os parâmetros curriculares nacionais o PNAIC, assegura que é positivo alfabetizar a partir de diferentes tipos de textos.

O rompimento da concepção de língua escrita como código para uma concepção da mesma como sistema de notação alfabética, realizado por meio de diversos estudos, entre eles, os de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986), trouxe avanços significativos para o fazer pedagógico. Atrelada a esta compreensão, veio também a de que é por meio da interação com os usos e funções da língua escrita que a aprendizagem ocorre. Assim, fica claro não mais haver sentido em se trabalhar com os alunos os textos “artificiais” encontrados em cartilhas. (BRASIL, 2012, p.7).

A formação continuada vem solidificando a necessidade dos professores alfabetizadores usarem diferentes gêneros textuais num trabalho em paralelo aos eixos do componente curricular, pois é por meios deles que os alunos vão gradativamente escrevendo de forma melhor elaborada.

Pesquisa de campo: Registro de atividade do gênero textual bilhete

A escolha do gênero textual bilhete, ocorreu devido ao trabalho que vem acontecendo através da formação continuada oferecida aos professores da rede municipal de ensino em Colorado do Oeste Rondônia, na qual a docente da escola em pesquisa está inserida.

O trabalho com gênero textual é campo de estudo que tem recebido atenção nos últimos anos, devido à percepção da relevância para o ensino de língua portuguesa e funcionalidade na vida cotidiana dos alunos. Nesse ínterim observe, Marcuschi:

[…] o estudo dos gêneros é uma área produtiva para o funcionamento da língua e para as atividades culturais e sociais. Em geral, os gêneros se desenvolvem de maneira dinâmica e novos surgem com o desmembramento de outros, como, a televisão, o rádio e a Internet. (MARCUSCHI, 2002, p. 19)

É essencial pensar no planejamento de ensino que contemple a educação infantil potencializando a vivência dos alunos, com espaço, atividades dinâmicas, proporcionando aprendizagem autônoma e lúdica. Nesse sentido, os trabalhos realizados com o gênero textual bilhete, foram realizados de acordo com as orientações aprendidas nas formações do PNAIC, como descrito a seguir.

Ao iniciar o trabalho a sala foi organizada em semicírculo. Os alunos foram informados que os bilhetes são gêneros textuais de uso frequente que geralmente servem para instruir, relembrar atribuições, solicitar algo, relatar fatos pessoais, entre outras finalidades.

Na sequência foi lhes contado a história do: “Coelho Mau” do Livro da Editora: Ática, Autora: Jeanne Willis, Ilustrador: Tony Ross. 2009. Que narra a história do filhote de coelho que fugiu de casa. Deixou para os seus pais uma carta dizendo: Queridos pais, fugi de casa para morar com os coelhos sinistros.

Em seguida passou a informar aos pais como estava sua vida e o que estava fazendo, contou sobre um acidente de moto, que estava usando piercing, que não era mais vegetariano, e assim por diante. E no fim da carta escreveu que era tudo mentira, porque queria mostrar que existem situações piores do que as notas no seu boletim. Esta história foi utilizada como referência que serviu como base na construção do bilhete.

Logo após os alunos analisaram alguns bilhetes, através dos vários tipos de bilhetes expostos na sala de aula, para apreciação e leitura dos mesmos. Destacou-se a finalidade para quais foram escritos.

O estudo dos gêneros textuais teve maior atenção a partir do trabalho com material concreto, por meio do qual passou-se para a exploração do gênero, destacando alguns pontos para que a turma compreendesse a estrutura do gênero.

Após ter contado a história e apresentado a estrutura do bilhete, foram feitas as análises. Exemplo: No bilhete lido: Quem escreveu? Para quem foi escrito? Qual o assunto do bilhete? Como se despediram? Essa atividade ocorreu de forma bem recíproca, em clima de ludicidade.

Na sequência propôs-se atividade escrita: Circulem as repostas com cores diferentes, vermelho para quem mandou. Verde para quem recebeu e amarelo o assunto principal do bilhete.

Após as discussões e socializações, definiram quem seriam os destinatários para os quais os alunos escreveriam seus bilhetes. Mediante o assessoramento e intervenções da professora todos os alunos conseguiram escrever, enviar seus bilhetes aos colegas da turma. Mediante acordo na sala todos leram os bilhetes que receberam.

Após a escrita, envio e socialização dos bilhetes, passou-se a elaboração de gráfico, feito na lousa pela professora de acordo com os apontamentos dos alunos, contabilizando assim quantos deles haviam escrito os bilhetes com a finalidade de avisar, emprestar algum objeto, convidar ou apenas para demonstrar carinho.

Posterior a construção do gráfico, nas aulas seguintes, com a proximidade do natal, a professora leu para a turma a “lenda do Papai Noel”, na sequência propôs-se dramatização com apresentação em sala do texto lido. Após a dramatização da lenda, lhes foi solicitado que escrevesse um bilhete para o Papai Noel. Os bilhetes foram envelopados, contendo as respectivas identificações e endereços os quais foram entregues aos pais na última reunião do ano.

 

Considerações finais

Conforme exposto na introdução deste artigo, buscou-se evidenciar questões relacionadas a escrita do bilhete como propulsor de qualidade na alfabetização. Procurou-se desvelar questões que orientaram o diálogo entre a proposta curricular, a vida cotidiana dos alunos e a prática pedagógica da professora.

Observou-se que apropriação do sistema de alfabetização e letramento está diretamente relacionada à compreensão e valorização da cultura escrita, leitura, produção de texto e, desenvolvimento da oralidade, considerando eixos fundamentais como: Compreensão e valorização da cultura escrita (letramento); apropriação do sistema de escrita (alfabetização); leitura e interpretação de textos; produção de textos escritos; e, desenvolvimento da fluência em oralidade.

As práticas pedagógicas, da professora em pesquisa, pautam-se na perspectiva do letramento, contemplando planejamento organizado e sistematizado abrangendo as capacidades do Sistema de Escrita. As ações do projeto contemplaram o foco da alfabetização, nos parâmetros dos conteúdos curriculares e ainda, possibilitou o conhecimento de vários tipos de bilhetes bem como suas aplicações.

De modo geral, os autores que fundamentam este artigo, asseguram que as formações continuadas para professores é o caminho mais sensato para que os docentes se mantenham em processo contínuo de atualização.

 

Referências bibliográficas

 

BRASIL. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Os diferentes textos em salas de alfabetização: ano 1: unidade 5 / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. — Brasília: MEC, SEB, 2012.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria – análise – didática. São Paulo: Moderna, 2009.

DIAS, Ana Maria Iorio. Ensino da linguagem no Currículo. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: Gêneros textuais & ensino. DIONÍSIO, Ângela Paiva e MACHADO, Anna Rachel e BEZERRA, Maria Auxiliadora organização). 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002.

RODRIGUES, William Costa et al. Metodologia científica. São Paulo: Avercamp, v. 90,2006.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

______. Letramento e Alfabetização: As Muitas Facetas. Universidade Federal de Minas Gerais, Centro de alfabetização, Leitura e Escrita, Revista Brasileira de Educação, outubro de 2003.

______. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 25, p. 5-17, jan/fev/mar/abr de 2004.

______. Alfabetização e letramento: caminhos e descaminhos. Pátio: revista pedagógica, Porto Alegra: RS, n. 29, p. 18-22, fev./abr. 2004.

WILLIS, Jeanne. Livro: Coelho Mau. Editora: Ática, Brasil -2009.

[[i]] Professor na rede municipal de Ensino. Pedagogo, Especialização em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar; Psicopedagogia Clínica e Institucional, Mestrando em Ciências da Educação (UDS), raimundononato209@gmail.com

[[ii]] Professora na rede municipal de Ensino. Licenciatura plena em Química; Licenciatura Plena em Pedagogia. Especialista em Mídias na Educação; Especialista em Alfabetização e Educação Infantil. Mestre em Ciências da Educação (UDS), valdiceia_balbinot@hotmail.com

[[iii]] Professora na rede municipal de Ensino. Graduada em Letras/Literatura pela Universidade Federal de Rondônia, pós-graduada em Gestão Educacional. britomaryy@hotmail.com

Deixe um comentário