As contribuições do Gestor Escolar na alfabetização com LIBRAS
Raimundo Nonato Pereira dos Santos [[i]]
Valdecira Aparecida da Silva Moreira[[ii]]
Valdicéia de Cássia da Silva Balbinot [[iii]]
Resumo: Este artigo tem como objetivo socializar o processo de inclusão de alunos surdos na prática educativa na Escola Estadual de Ensino Fundamental 16 de Junho, em Colorado do Oeste- Rondônia. Como metodologia de pesquisa, optou-se por realizar estudo de caso de uma aluna surda e pesquisa bibliográfica confrontando teorias e práticas. Os principais autores estudados foram: Gonçalves (2012); Sá (2002); Souza, (2010); Oliveira(2011); entre outros. Muito se tem falado em inclusão, no entanto a pergunta é: a inclusão realmente está se efetivando nas escolas brasileira, ou ela ocorre nos moldes do faz de conta?
Palavras chave: Gestor, Inclusão de alunos, Surdos, Prática de ensino.
Abstract: This article aims to socialize the process of inclusion of deaf students in the educational practice at the State School of Primary Education June 16, in Colorado do Oeste – Rondônia. As a research methodology, it was decided to carry out a case study of a deaf student and a bibliographical research comparing theories and practices. The main authors studied were: Gonçalves (2012); Sá (2002); Souza, (2010); Oliveira (2011); among others. Much has been said about inclusion, but the question is: is inclusion really taking place in Brazilian schools, or does it occur in the face of the bill?
Key words: Manager. Inclusion of Deaf students. Teaching practice.
1 Introdução
Apresenta-se a seguir ações educativas colocadas em prática junto a uma aluna, com ausência total de audição, estudante no ensino fundamental I, em uma escola pública municipal de Colorado do Oeste – Rondônia. Aborda-se as atribuições do Gestor Escolar no empenho de elevar qualidade de ensino na alfabetização com LIBRAS.
Vive-se época de aceleração do conhecimento. Em tempos de globalização e tecnologia, tornou-se possível realizar cirurgias por vídeo, mãos e pernas eletrônicas, provas ampliadas, ensino de LIBRAS nas escolas públicas, alunos surdos aprendendo nas escolas regulares.
Segundo Gonçalves (2012, p. 55) na luta pela qualidade de vida, surgiram vários dispositivos legais que normatizam e regulamentam o direito das pessoas com necessidades especiais à inclusão na rede regular de ensino no Brasil. A autora destaca a lei nº 10. 436 de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo decreto nº 5.626/05, dispõe sobre a obrigatoriedade da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) nos currículos dos cursos de formação de professores para o exercício do magistério em nível médio e superior e nos cursos de Fonoaudiologia. A autora cita:
A resolução nº 2, de 11 de setembro de 2001, do Conselho Nacional de Educação, que estabelece a obrigatoriedade dos sistemas de ensino de assegurar a acessibilidade aos alunos com necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas e a provisão de mobiliários, equipamentos e transportes escolares adaptados. Nesta direção segue a portaria nº 3.284/03, que prevê o interprete de Libras para alunos com deficiência auditiva e sala de apoio com equipamentos para escrita em Braille e lupas para ampliação de textos para alunos com deficiência visual. (GONÇALVES, 2012, p. 55)
Neste ínterim a autora cita a portaria nº 3.284/03, que assegura a presença do interprete de Libras para auxiliar alunos com deficiência auditiva e sala de apoio
para atender Alunos com necessidades Educativas Especiais (AEE), equipadas com ferramentas para escrita em Braille e lupas para ampliação de textos, colocadas à disposição de alunos com deficiência visual, bem como há disponível equipamentos e profissionais para atender outras deficiências como por exemplo a visual, física, entre outras.
Quando se fala em educação, ao comparar desempenho entre escolas, percebe-se que a excelência na qualidade de ensino, reside na tomada de decisões, e forma como os gestores a direcionam. Estudos e pesquisas, recentes no Brasil apontam para as ações afirmativas, nesse sentido, Souza, em Educação Superior a Distância afirma que: “A educação passa por processo cíclico de reflexão-ação-reflexão sobre crenças e ações em prática sistemática …”. Logo, verifica-se que hoje há necessidade de evidenciar bons resultados nas avaliações externas, com resultados positivos na vida do alunos, portanto não há espaço para educador e/ou educando passivo, há que se empenhar esforços para que todos possam avançar independentemente das limitações.
Paulo Freire, propôs a utilização da apreensão significativa da realidade como critério de estruturação do conteúdo a ser discutido para que o conhecimento possa ser construído pelo coletivo educador-educandos, porém para que haja comunicação há necessidade de interação, logo, para ensinar alunos surdos o professor necessita comunicar com todos os aprendentes.
O despertar da capacidade de solucionar problemas nasce de situações reais, vivenciadas, pelo educador no ato de planejar e ministrar as aulas, fortalecendo-o a comunicar-se adequadamente com os chamados alunos de “inclusão”, nesse sentido, a contribuição do gestor, no ato de valorizar as ações dos coordenadores do atendimento nas salas de inclusão, e apoio aos docentes é fundamental.
O papel do professor envolve avaliar a prática docente, avaliar o desempenho dos alunos da turma e propor novos caminhos, promotores de construção de conhecimentos, enfim, meios que auxiliem a sistematização da aprendizagem de modo a motivar a busca do conhecimento e inclusão social.
Cabe a equipe pedagógica e administrativa escolar, bem como à coordenação do atendimento aos AEE, proporcionar meios de apoio ao professor para que a comunicação junto ao aluno com dificuldade ocorra de forma natural, em especial na fase da alfabetização.
História da Educação dos surdos no Brasil
Segundo Oliveira, (2011) nos primórdios da educação inclusiva, os indivíduos “deficientes” eram colocados em asilos. A surdez, e a consequente mudez, eram confundidas com inferioridade de inteligência. Para Oliveira (2011)
Os primeiros educadores de surdos surgiram na Europa, no século XVI, criando diferentes metodologias de ensino, as quais se utilizavam da língua auditiva-oral nativa, língua de sinais, datilologia (representação manual do alfabeto) e outros códigos visuais, e podendo ou não associar estes diferentes meios de comunicação. A partir do século XVIII, a língua dos sinais passou a ser bastante difundida, atingindo grande êxito do ponto de vista qualitativo e quantitativo, e permitindo que os surdos conquistassem sua cidadania. Porém, devido aos avanços tecnológicos que facilitavam o aprendizado da fala pelo surdo, o oralismo começou a ganhar força a partir da segunda metade do século XIX, em detrimento da língua de sinais, que acabou sendo proibida. (OLIVEIRA, 2011, p.1)
Para o autor na década de 60, a língua dos sinais tornou ressurgir associada à forma oral, com o aparecimento de novas correntes, como a Comunicação Total e mais recentemente, o Bilinguismo, na qual defende-se que o surdo aproprie-se da língua de sinais como língua materna.
No Brasil, a legislação tratou de garantir a inclusão dos alunos surdos em todas as escolas, da educação infantil ao ensino universitário, entre as leis cita-se a Lei de nº 10.436/2002, a qual foi implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso e trouxe oportunidade aos surdos. A lei em epígrafe é de fundamental importância para os deficientes auditivos reivindicarem seus direitos frente a sociedade. Oferecendo a inclusão na forma da Lei, abre nova porta para a comunidade surda após a data de publicação e vigor. A respeito do tema em discussão Berthier, 1984, apud NASCIMENTO, 2006 escreve que:
Em seu artigo Nascimento defende que: segundo ela, um professor surdo da França, Berthier escreveu que: “Inicia a história na antiguidade, relatando as conhecidas atrocidades realizadas contra os surdos pelos espartanos, que condenavam a criança a sofrer a mesma morte reservada ao retardado ou ao deformado: “A infortunada criança era prontamente asfixiada ou tinha sua garganta cortada ou era lançada de um precipício para dentro das ondas. Era uma traição poupar uma criatura de quem a nação nada poderia esperar”. (BERTHIER, 1984, p.165 apud NASCIMENTO, 2006)
É inegável que houveram muitos avanços, porém enfatiza-se que há muitas barreiras a serem superadas, a fim de garantir verdadeiramente a inclusão das pessoas surdas. Há docentes que ainda não conseguem se comunicar com alunos surdos, pais que se envergonham por terem filhos que não ouvem, sociedade excludente, no entanto meio a luta por qualidade de vida, surgem profissionais dispostos a dedicarem tempo, e empenho para amenizar a situação, propor formação continuada para educadores, educandos, família e juntos propiciar ambiente de inclusão qualitativa.
Inclusão de aluna surda na Escola 16 de Junho em Colorado do Oeste Rondônia
A fim de proteger a identidade e evitar exposição desnecessária, nomear-se-á a aluna surda como Maria. A aluna foi matriculada na escola 16 de Junho, em Colorado do Oeste Rondônia, no ano de 2009, aos oito anos de idade, sem vivência escolar.
Maria não conhecia Linguagem de Sinais Braile (LIBRAS), por outro lado, a escola que funcionava desde 1986, nunca havia recebido aluno “surdo” portanto, encontrava-se totalmente despreparada para a função.
Frente ao ingresso da aluna Maria na instituição, a gestora reuniu a equipe de orientação, supervisão, professores e o Conselho Escolar para deliberarem sobre o assunto, após discussão ficou evidente a necessidade se preparar, para atender a todos os alunos com excelência, independente das limitações existentes. A gestora, solicitou empenho dos da escola, inclusive vigias, serventes e, merendeiras no intuito de que todos se empenhem em aprender Braile para atender a aluna de acordo com suas especificidades. Nesta ação, percebe-se o quanto a liderança do gestor faz a diferença! Os comandos dos gestores normalmente alinham as ações dos profissionais da escola.
Na sequência, em busca de caminhos para acolher Maria, a gestora da escola convidou a Coordenadora do AEE da Secretaria de Estado da Educação que propôs várias atividades pedagógicas para serem trabalhadas com a aluna e se propôs a procurar apoio médico para avaliar as possibilidades da aluna em relação ao uso de aparelho auditivo.
Os trabalhos em equipe avançaram: a equipe gestora e pedagógica conseguiu uma profissional voluntária para ensinar LIBRAS para os profissionais da escola e mãe da aluna Maria. As aulas foram realizadas em encontros semanais. A Secretaria de Educação colocou à disposição da escola uma profissional para ensinar LIBRAS. A Coordenadora do AEE da escola, na sequência de esforços para dar suporte para Maria, repassava as aprendizagens aos alunos da turma de Maria. As aulas aos alunos eram ministradas semanalmente, para que Maria se sentisse acolhida.
A orientadora realizou trabalho de linguagem labial. Muitas vezes Maria foi convidada a colocar as mãos nas cordas vocais das professoras para sentir a vibração dos sons, as quais pronunciavam as palavras de modo compassado para que ela pudesse ter compreensão.
Uma professora se prontificou a ensinar a arte do vagonite para Maria, como atividade extraclasse.
Os alunos da escola, orientados pela gestora e pela coordenadora do AEE, contagiaram a todos a tratar Maria com doçura, envolvendo-a ao máximo nas atividades escolares.
A profissional da Secretaria da Educação ao constatar que a família não tinha condições financeiras para bancar o tratamento médico da menor, organizou ações sociais de modo a conseguir angariar os recursos necessários para bancar transporte, alimentação e despesas médicas decorrentes do tratamento que seria realizado na capital.
Chegou o dia tão esperado mas, infelizmente o laudo médico apontou para a impossibilidade do tratamento ser realizado por meio de aparelho. A possível solução poderia vir por meio de cirurgia, no entanto, por Maria ser diabética os médicos não recomendaram tal procedimento.
De volta à escola Maria, continuou a ser ensinada por meio da linguagem labial e LIBRA.
Maria foi envolvida em todas as atividades inclusive na hora da verificação da leitura da turma Maria lia o texto, ela fazia questão de ser tratada como igual.
O tempo passou Maria foi incluída, consegui concluir com sucesso do 1º ao 5º ano, do ensino fundamental. Como a escola 16 de Junho, atende de 1º ao 5º ano, vencida esta etapa, Maria foi transferida para outra escola do município, sabe-se que continuou a receber os cuidados e atenção da equipe do AEE e profissionais da outra escola, continuando assim o processo inicial de inclusão.
Os profissionais da escola 16 de Junho, se lembram com amor de Maria e seus familiares. Foi um tempo de aprendizagens e reciprocidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Numa sociedade na qual os cursos e escolas são escolhidos pelas notas das avaliações externas, o foco acaba sendo a superação das médias, os altos índices do Ideb -Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, e assim por diante. Porém é necessário que a sociedade valorize as pessoas em primeiro lugar.
No mundo competitivo diplomas e certificados não são suficientes, mas sim uma aprendizagem sólida, o despertar de mudanças de comportamento e atitude, em época das chamadas “inclusão social”, faz se urgente e necessária, a capacidade de interação e ação social, nesse ínterim o papel do gestor escolar e equipe pedagógica é de suma importância, os princípios e crença do gestor faz a diferença entre inclusão de qualidade e vida digna.
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2002.
GONÇALVES, Isa Maria Carneiro, O Ensino Como Fenômeno De Múltiplas Faces:Interações De Ensino Do Professor Que Atende Estudantes Com Deficiência Na Escola Regular, Viña Del Mar – Chile-2012.
NASCIMENTO, Lilian Cristine Ribeiro. Um pouco mais da história da educação dos surdos, segundo Ferdinand Berthier 2006,
SÁ, Nídia Regina Limeira de, Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: INEP, 2002.
SOUZA, Amaralina Miranda de, FIORENTINI, Leda Maria Rangearo RODRIGUES Maria Alexandra Militão. Educação superior a distância: Comunidade de Trabalho e Aprendizagem em Rede (CTAR), organizadoras. Brasília: Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, Editora da Universidade de Brasília, 2010.
STROBEL, Karin – HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS, FLORIANÓPOLIS, 2009.
OLIVEIRA, Paulo Marcos Tujal de História da Educação dos surdos no Brasil, UFRJ-2011.
[[i]] Professor na rede municipal de Ensino Pedagogo, Especialização em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar; Psicopedagogia Clínica e Institucional , Mestrando em Ciências da Educação (UDS), raimundononato209@gmail.com
[[ii]] Professora na rede Estadual de Ensino Pedagoga, Especialista em Gestão Escolar; Métodos e Técnica em Ensino; Mídias na Educação; mestre em Ciências da Educação (UDS), valdeciracolorado@hotmail.com
[[iii]] Professora na rede municipal de Ensino Pedagoga, Especialista em Mídias na Educação; Mestre em Ciências da Educação (UDS), valdiceia_balbinot@hotmail.com