Johnny Notariano
Mês de dezembro. A atmosfera do Natal envolve todas as pessoas de uma maneira fácil de notar pela expressão no rosto. A alegria estampada; presentes; desejos a se realizar. Momentos mágicos de confraternização. Luzes coloridas e músicas alusivas completam a dinâmica do mês de dezembro.
Nem tudo é alegria, no fundo se percebe em muitos, a solidão; a tristeza camuflada e o desalento que assimila grandes mágoas. Para alguns a esperança, a certeza, para outros, a dúvida e a incerteza. É mesmo assim, ninguém é feliz completamente, sempre falta alguma coisa. Ricos não faltam bens; dinheiro; o pobre de acostumado que está com privações, nem reclama a falta que faz o dinheiro. É muito difícil a comparação porque se sabe que o dinheiro é conforto e não felicidade.
Será que o religioso independente da posição social ou financeira contempla também incertezas e desamor ao praticar a fé? Acredito que sim, hoje nesse mundo de crueldade, egoísmo e ganância o homem tem que acreditar em um poder supremo que oferece luz e esperança ao procurar respostas para o sofrimento.
Em um desses dias natalinos ao deixar o expediente na Universidade me deparei com um coral que executava uma canção \First of May\ seguida de outra \We Wish You a Merry Cristmas\. Parei, ouvi a melodia que me tocou o coração. A meu lado um professor amigo reparou que algumas lágrimas escorriam por meu rosto e comentou – Sua emotividade está a mil! – Eu comentei a mesma coisa ao ver que os olhos dele também marejavam de lágrimas.
É a realidade do mês de Natal, ninguém sabe o que acontece com o outro, apenas percebemos alguma coisa diferente e sem afirmar nada, sentimos mais, o individualismo que paira no ar emanado de pessoas que parecem insensíveis.
Mistura-se a alegria do Natal e a chegada do novo ano que se aproxima com euforia. Sonhos e mudanças para melhor; renovação e trabalho é o que pedem. Lá bem no fundo, um sentimento de perda pelo ano que se foi e apesar dos contratempos tem um espaço na alma para saudades do Ano Velho.
Vai passando e passando e passando, o tempo não para; como o vento que arrasta as folhas secas e caídas não volta no mesmo lugar, água que segue sem parar. Conhecemos pessoas que juntas caminham na mesma direção, mas com ideais diferentes. Sem que se perceba, pessoas que roubam um pouco de cada um de nós para si. Como a uma triagem ou filtro, as coisas boas são imitadas e as ruins descartadas, daí a importância dos bons exemplos e bons costumes. Muito dessas pessoas ficam em nós. Sofrem ; se alegram; sofrem decepções; lágrimas; amam; culpam-se e no final das contas, falta alguma coisa. O mais importante, o perdão, mas de uma maneira diferente, real; direta; sincera e honesta.
Engana-se quem acredita que devemos perdoar quem nos magoou. Reflitam. Alguém nos prejudicou no trabalho; na vida; no lar ou em qualquer outra situação. Então essa mágoa se transformou em ódio; desejo de vingança e o constrangimento que nos assola nos acompanha em todos os momentos. Faz-nos sofrer e leva grande parte de nossa vida embora. A pessoa que nos prejudicou de qualquer maneira; muitas vezes não se lembra mais, volta a se relacionar conosco como se não tivesse acontecido nada. Recebe-nos até como amigos, mas nós não a perdoamos. Sofremos. Essa pessoa que nos magoou é vista até com hipocrisia, pois voltou a nos considerar, gesto digno e humano; bonito, louvável, com características religiosas. Mas nós guardamos ressentimentos e com isso, sofremos. O que estaria faltando? O perdão, mas o perdão vindo de nós para nós mesmo. Nós precisamos nos perdoar por odiar as pessoas; por guardar ressentimentos; por julgar muitas vezes erroneamente o outro. Só assim a parte da vida que nos foi tirada com esses sentimentos, nos será devolvida e teremos novamente tempo para vivê-la. Voltaremos a ter paz no coração; saúde; felicidade e capacidade novamente de fazer o outro feliz.
O verdadeiro perdão é ver no adversário ou rival um amigo. Se nos dispomos a gerenciar nossas mágoas e a vida dos que nos magoam, nós não teremos tempo para gerenciar nossa vida e conseqüentemente não seremos felizes.
Esse novo ano que se aproxima, é apenas o final de uma jornada com uma pequena pausa para reflexão e começarmos outra; tudo na vida tem um novo começo para novas descobertas e valemo-nos do passado para nos servir da experiência e lembrar tudo com alegria e até saudades, sentimento nobre de quem é feliz. Deparamo-nos com questionamentos do tipo, – Há! Se eu tivesse perdoado antes, esse novo começo já teria acontecido há muito tempo. O que importa? O que é o tempo, se não aquilo que sentimos e vivemos no “Hic et nunc”. Voltar para que? Bem melhor continuar assim e tentar a felicidade. Ela está em muitas coisas que consideramos banais; nas rotinas triviais; nas coisas pequenas; nos detalhes descartados. Como diz a canção, \Não dá mais para voltar, o Barco está em alto mar\.
A felicidade não está nos carros importados; no doutorado conquistado; no dinheiro farto; viagens; bens materiais, essas coisas são frutos do nosso esforço; nosso trabalho e nossa sorte; são realizações técnicas e pessoais; são tributos que nos fornece condições para realizarmos muitos dos nossos desejos, mas jamais nos fornece condições para comprar a paz; harmonia e felicidade.
Quantas pessoas esperançosas; mas transbordantes de mágoas, amarguradas; sentimento inferior, que no mais íntimo corre atrás da serenidade do refrigério e da paz. Há sempre um novo começo. Chorar um amor que se foi; ilusões que não temos mais; lamentar amizades desfeitas; desejo não realizado, não se deve deixar se abater por sentimentos pequenos demais.
Quantos desejam ser uma pessoa influente; carismática com dons diversos e muito conhecimento, mas não encontra tempo para procurar dentro de si algum dom oculto a espera de ser explorado.
Deve-se descartar a frustração desmotivada e não se esquecer que todo ideal que nos acompanhou um dia será o ideal de alguém e o amor que vivemos ou deixamos de viver, renascerá em outros corações para a continuidade da vida.
Ano novo, sempre um novo começo. Sem uma bússola o caminho torna-se íngreme, difícil com grande possibilidade de se perder e não se chegar ao destino. Essa bússola é o perdão que damos a nós mesmos. Para os que crêem essa bússola também é DEUS, que nos guia e orienta em nossa jornada, sem O qual, tudo se torna muito difícil. Nos momentos de tribulação, coloque alguns acordes musicais na vida, experimente ouvi-los, a música só faz bem a alma, devolve-nos a esperança; desperta nossos afetos; alegria; lembra-nos de sorrir e de viver outra vez. Experimente colocar música na sua vida.
Quantos momentos jogados fora, quantas ofensas por pequenas coisas; quanta humilhação vinda de grandes tolos; quantos erros justificados por outros erros; quanta solidão em grupos de amigos; quanta tristeza por não ser lembrado; quanta vergonha por ter errado; quanto orgulho valorizado; quanta vida desperdiçada; quanta inércia quando precisamos ser dinâmicos; quanta decepção ao acreditar em mentiras. Perder não é ser derrotado, faz parte do jogo, ao reconhecer o vencedor nos tornamos campeões.
Parece uma bobagem, mas digna de ser lembrado. Certa vez um escritor e cientista famoso Alemão, foi entrevistado em um café na França. O escritor posicionado na mesa com um grande livro de consultas aberto respondia a entrevista. O jornalista não se conteve e perguntou sobre o livro aberto na mesa. Então o escritor respondeu. – É a Bíblia! O jornalista espantado falou, – Como pode ser a Bíblia, o senhor é uma personalidade reconhecida mundialmente como detentor de prêmios literários; PhD e já na idade do verdadeiro e reconhecido saber, lendo a Bíblia?! Respondeu então o cientista. – Realmente estou com quase sessenta anos de idade; consegui conquistar e realizar tudo que sonhei, mas depois do cinqüenta anos, o homem se torna decadente (no bom sentido), não interessa mais nenhum conhecimento e descobri uma resposta que nunca encontrei em lugar algum. – Descobri a Bíblia em tempo e percebi que se trata do Livro mais completo de todas as bibliotecas. – A Bíblia tem todas as matérias que estudei na Universidade. – Economia; matemática; medicina; saúde; artes; e música entre outras. – Pena que as pessoas quando descobrem é muito tarde, eu descobri em tempo. A Bíblia tem todas as respostas para todas as minhas perguntas, incluo o perdão, segredo para uma vida melhor. – Não precisa ser religioso para ler e saber que a Bíblia tem tudo o quanto uma pessoa precisa para viver melhor.
O que temos a fazer é nos despojar da roupa velha carregada de orgulho e trocar por outra nova em humildade; acreditar que nosso inimigo somos nós mesmos; que por direito todos somos iguais em dignidade; que há espaço digno para todos; que a vida é muito curta para nos tornarmos velhos rancorosos antes da hora; que o perdão existe como a um apelo para a reconciliação; amizade; solidariedade e amor.
O Natal está aí, o ano velho por terminar, vencemos o ano que passou, venceremos 2011.
Feliz Natal e Fé no Ano Novo,
Abraços Fraternos,
Johnny Notariano
notarian@usp.br