“MUITO PRAZER”
Nair Lúcia de Britto
Quando saí do Colégio de freiras ao concluir o Ginásio, eu e algumas colegas de turma fomos para um Colégio Misto para cursar o “Clássico”.
Sentiamo-nos um tanto deslocadas naquele ambiente descontraído onde, na hora do recreio, conversas e risadas rolavam soltas com sincera espontaneidade. Olhávamos com o rabo de olho, como se dizia, para os rapazes; e comentávamos, aos cochichos e risinhos abafados quem era o mais bonito ou mais simpático.
Lá um certo dia, na hora do recreio, alguém bateu no meu ombro e eu me voltei de pronto, para saber quem era. Era uma aluna do novo colégio e com um sorriso brejeiro me arrastou ao grupinho dela…
— Este é fulano (não lembro o nome) e quer muito te conhecer.
Ouem queria me conhecer estendeu-me a mão com um sorriso
largo. Para dizer a verdade, não me atraiu nem um pouco a sua figura, que transparecia uma aversiva audácia. Mas, por educação, retribuí o cumprimento apertando a sua mão áspera. No rosto dele uma expressão de vitória antecipada.
— Olá, muito prazer! – ele disse.
— Muito prazer – – respondi. Mas, juro, que foi por pura timidez que logo em seguida dei-lhe as costas, sem falar mais nada…
Meu grupo de ex-alunas do Colégio de freiras caiu na risada do meu embaraço e daquela virada brusca e intempestiva que eu dera, como se eu fosse um bicho do mato…
“Talvez, mas não quis ser mal educada”, eu me desculpava. Fato é que meu gesto engraçado ficou marcado e, volta e meia, minhas amigas me zoavam:
— Olha lá o “Muito Prazer”, quer falar com ele?
— Deus me livre! Vira essa boca pra lá…
Peraltices da adolescência de uma outra geração; peraltices que o tempo leva, como um rio que leva os galhos secos das árvores n’outra direção…
Os anos transcorrem, isso é imutável. Esse tempo bom que eu falo acabou, como tudo na vida um dia se acaba…
Mas não é que tem sempre um dia que essa vida doida um belo dia nos prepara uma presepada.
Foi assim… Eu estava tão distraída, regando as flores do meu jardim; o que me causava uma gostosa e agradável tranquilidade… quando ouvi uma voz um tanto rouca, bem em frente do meu portão.
Olhei instintivamente na direção da voz. O regador caiu do braço, quando vi um senhor da “melhor idade”, como dizem hoje. Não o reconheci, nem tampouco me simpatizava…
— Você não estudou no Colégio “tal”? – perguntou-me.
Foi aí que eu reconheci o tal “Muito Prazer”, personagem assim apelidado pelas amigas de Escola, que me zoavam…
— Sim, é verdade, respondi, amável.
— Veja só, o que o tempo faz! O tempo se encarregou de, finalmente, me fazer sentir vingado!
— Fiquei olhando, pasma, com aquela indelicadeza despropositada. Mas não disse nada…
Apenas fiquei pensando com meus botões, enquanto ele felizmente ia embora…
— Será que o “Muito Prazer” não tem espelho em casa?