Uncategorized

Por que tanta ansiedade?

 

*Aline Rodrigues

 

Aline Rodrigues é psicóloga, especialista em saúde mental, e missionária da Comunidade Canção Nova. Atua com Terapia Cognitiva Comportamental; no campo acadêmico, clínico e empresarial.

Para muitos, o dia começa bem cedo, às 5h da manhã, ou talvez um pouco mais tarde, às 6h, às 7h. Mas, o fato é que as atividades do dia a dia têm gerado um comportamento diferente de antigamente: a ansiedade!

Levantamos com pressa, agitados, preocupados, muitas vezes já repassando na cabeça as atividades que estão por vir. E, ao final do dia, fazemos a mesma coisa antes de dormir. Deitamos pensando em tudo o que foi feito, o que deixamos de fazer, mexemos no celular, planejamos o dia de amanhã e ainda queremos não apresentar nenhum sintoma físico e psíquico. Claro que se organizar mentalmente para as atividades é um exercício excelente! Porém desde que feito com equilíbrio, sem pressão e cobrança.

Diante desse cenário, será que o corpo e a mente suportam tudo isso por muito tempo, sem manifestar nenhuma reação? Não! Muitos brasileiros sofrem algum tipo de transtorno de ansiedade e nem percebem. Seja porque se tornou comum ser ansioso ou porque não se tem tempo nem mesmo de olhar para o que está acontecendo consigo.

Atualmente, na América Latina, o Brasil é considerado o país com maior taxa de pessoas com transtorno de ansiedade. Este dado foi apresentado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em fevereiro deste ano. De acordo com a OMS, 9,3% dos brasileiros vivem com algum tipo de transtorno de ansiedade. Líder no ranking, o Brasil se supera as taxas indicadas nos demais países da região, que tem o Paraguai em segundo lugar, com 7,6%, e em terceiro o Chile, com 6,5%.

Tudo isso porque o ser humano tem sido impulsionado a dar sempre uma resposta correta e imediata diante das pressões recebidas. Isso já começa cedo, com nossas crianças. Com frequência, ouvimos pais falando das necessidades de seus filhos e assumindo o seguinte discurso: “criança precisa fazer esporte, estudar e ter aula de língua estrangeira, se quiser ser alguém no futuro”. E assim, preenchem a agenda dos pequenos com responsabilidades que são saudáveis, mas que juntas e com cobrança de um ideal, se tornam nocivas. Desta forma, o ser humano vai sendo moldado para um mundo urgente, no qual as respostas precisam ser corretas e imediatas.

Você sabia que ansiedade, a grosso modo, é medo de algo que não existe, mas gera sensações reais? É como se olhasse para um gato deitado, dormindo, inofensivo e enxergasse um leão faminto pronto para atacar. A situação real é uma, mas a forma de ver o problema e as situações cotidianas da vida é outra.

Ao longo da vida, vamos construindo verdades sobre nós. No entanto, essas verdades podem ser saudáveis ou não. A questão é, quando essas ideias sobre si mesmo não são saudáveis, e ficam expostas a este mundo agitado, exigente, que espera uma resposta constantemente. Aí, o que existe de pior em nossos pensamentos vem para fora.

Por que tanta ansiedade? Porque nossos medos mais secretos vão sendo “cutucados” e, quando menos esperamos, nosso corpo reage com suor, calor, dor de barriga, dor de cabeça, taquicardia e tantas outras coisas. O medo do fracasso, de não conseguir, de não suportar, de ser abandonado, rejeitado, desamparado, humilhado, entre outras ideias, assaltam nossos pensamentos, gerando um comportamento ansioso.

O mundo de hoje é exigente, nos expõe muito e descarta o que não serve. Todo esse movimento exige uma resposta que muitas vezes não é real e, por medo, violentamos nosso corpo e nossa mente para conseguir dar conta.

Entretanto, se permitir ser humano, real, alguém que não é medido pelo que faz, mas pelo que é, é um caminho saudável para dominar esse mundo tão ansiogênico. Seja gente, e não um super herói!

*Aline Rodrigues é psicóloga, especialista em saúde mental, e missionária da Comunidade Canção Nova. Atua com Terapia Cognitiva Comportamental; no campo acadêmico, clínico e empresarial.

Deixe um comentário