POR QUE TANTA GENTE SE ARRISCA TANTO PARA VIVER NOS EUA?
em diálogo com o texto de Diego Casagrande (http://www.metrojornal.com.br/m/#/artigo/348881)
Por William Jorge Gerab
Uma das vantagens econômicas dos países mais desenvolvidos é a de que conseguem puxar para o seu território grande parte das riquezas produzidas nos países sobre os quais mantêm algum contato e/ou controle econômico. Conseguem isso por diversos motivos, dentre os quais as remessas de lucros e royalties das suas empresas nesses países; a chamada “troca desigual” – com a qual conseguem vantagem na balança comercial, pois mercadorias com alto grau de tecnologia têm custos menores (mesmo que se troque mercadorias iguais); as impagáveis dívidas dos países menos desenvolvidos são, talvez, as principais fontes de transferência de riquezas.
Estas e muitas outras formas de pauperizar os países chamados de “pobres”, “em desenvolvimento” ou “emergentes”, fazem com que as condições de vida da maioria das pessoas nesses países sejam cada vez piores, tornando indispensáveis os serviços públicos das áreas sociais (saúde, transporte, educação, moradia etc.), isso a ponto desses serviços funcionarem como verdadeiras complementações salariais da mencionada maioria da população.
Como nos países mais desenvolvidos, caso dos EUA, os salários devem cobrir todos esses serviços essenciais, evidentemente, precisam ser muito maiores do que os salários nos países mais pobres. Por isso, viver num desses países mais ricos (que existem em número muito menor do que os outros países), mesmo que seja só por um tempinho, é tão atraente para tanta gente dos países menos abastados.
É por isso tudo, também, que é contra os interesses das classes patronais e seus governos dos países mais desenvolvidos, que os assalariados e trabalhadores em geral dos países mais pobres melhorem suas condições de vida, pois isso faria cair o valor das riquezas, que lhes são transferidas. Isso acontecendo obrigaria os setores sociais dominantes dos países ricos a enfrentarem contradições e conflitos em seus próprios territórios, que, hoje, jogam pra cima dos países mais carentes.
Longe das “teorias de conspiração”, uma abordagem mais realista das desigualdades econômicas e políticas internacionais demonstra que o que move milhares de pessoas a arriscarem suas próprias vidas e, muitas, as de suas famílias, em empreitadas para tornarem-se refugiadas e/ou imigrantes, seja nas condições de clandestinidade, ilegalidade ou mesmo de legalidade faz parte, predominantemente, de uma luta por sobrevivência e liberdade, nada tendo a haver com “fuga irresponsável” ou qualquer outro julgamento desabonador.
Por William Jorge Gerab, em 26/03/2017.