por Eduardo Paulo Berardi Junior
Há quem tenha optado por viver sozinho e alguém então indaga: Mas o que que te deu que você vive sozinho? Alguma decepção? Medo? Ou ninguém está à altura de viver com você?
Que somos seres gregários não é preciso dizer… Se optamos por não ter um acompanhante para nossa vida, é uma coisa. Se ficamos isolados sem termos feito opção… aí a coisa é outra…
De certa forma há um utilitarismo observado nas relações… “afinal, quando a velhice chegar o que vai ser de mim? Quem vai cuidar de mim?”
O medo de percorrer a estrada sem parceria, pode ser apavorante. Assim, os outros são complementos do nosso percurso… uma necessidade e uma limitação humanas.
Socialmente, o solitário é alguém que não merece atenção: é chato, ou desonesto, explorador, violento e, principalmente, egoísta. Acaba ficando de lado porque ninguém o quer. Portanto, ao ficarmos sem ninguém todos ficam sabendo que não somos “bons” e isso nos custa o desamor … o desprezo e é simplesmente apavorante!!!
Mas, nem sempre viver com alguém é não estar só!
Se não pode falar o que passa por sua cabeça, se deve restringir-se a ouvir, a trabalhar para o outro, a depender desse outro, que vantagem existiria? Apenas para não dizerem que não tem ninguém? Fica-se mais seguro assim? Menos vulnerável frente aos demais?
E, se me recolho possuindo uma família numerosa? O que é isso?
“Está em depressão”! pronto, é fácil… tem depressão.
Não pode alguém ficar em silêncio, ou como se dizia, aliás bem apropriadamente, “falando com seus botões”?
Pois bem. O nome da coisa é introspecção… viajar para o fundo de si mesmo… à toa, sem rumo… buscando-se. Uma reclusão temporária e voluntária… um momento de isolamento… um pouco de silêncio para uma conversa a dois consigo. Um reencontro.
Cada vez mais necessário, esse isolamento, nos dias atuais, é uma reciclagem, um reajuste de controles, uma (re)tomada de posições. Surge quando lemos, ouvimos música, assistimos a um filme, um jogo, tomamos banho, ao deitarmos e antes de dormir… mas, sempre indispensável como parte de nossa sanidade.
Estar triste, pensativo, cabisbaixo pode ser sintoma de algum quadro mais preocupante, mas no mais das vezes é só a vontade de estar com seus botões, arrependendo-se do que fez ou deixou de fazer, estabelecendo metas que queira atingir… sonhando acordado e para isso é preciso ficar em silêncio, desligando-se dos outros em meio a eles… “o quê?… desculpe, estava viajando”… em seguida volta a estar ligado…o mesmo que ficar calado por algum tempo, por exemplo, ao se sentir agredido, ofendido…
Distanciar-se pode significar que tenha necessidade de fortalecer as próprias defesas para voltar a encarar o desafio… ou simplesmente estar digerindo um mal estar…
O maníaco-depressivo, ao contrário, é um doente… raramente escapa de seu quadro sintomatológico…
O solitário pode ser um tímido – alguém que supõe não merecer os outros, por exemplo, por entender que não foi querido pelos seus, que foi desprezado… Isso pode ser verdadeiro ou não, mas desde que o indivíduo acredite que é isso, aí os efeitos dessa ‘mentira”, dessa fantasia, tornam-se tão reais como se fosse verdade e provoca dor…
Alguém que se isola e está feliz com isso, pode simplesmente querer preservar sua intimidade em um mundo tão invasivo. Pode não se dispor a partilhar seu espaço pessoal – uma extensão de si mesmo – com outros, mesmo interagindo bem, trabalhando em grupo, convivendo em espaços comuns sem maiores dificuldades.
O humor pode ser o diferencial. Quem se isola, mas é capaz de alegria, pode estar bem. Quem se isola e sempre está triste, pode não estar bem.
De qualquer modo, mergulhar e ir buscar lá no fundo as riquezas deixadas ao longo da viagem é sempre sinal de sanidade quando isso faz com que o bom humor permaneça.
Obrigue-se a viajar para o interior, encontre-se com seus monstros, enfrente-os, saboreie as lembranças que te ajudaram a ser quem é, inspecione seus desejos escondidos sob alguma almofada, debaixo de um móvel, largado num canto empoeirado, mas sobretudo não se esqueça de si, de se dar ao direito de poder estar só e consigo sem sentir culpa alguma por fazer isso por dar-se a esse luxo!
Muitas vezes ‘fugimos’ sem nos apercebermos disso e de repente nos espantamos por termos estado ‘ausentes’. Isso só indica que não temos dado a devida atenção a essa necessidade de estar só e somos levados a viajar sem nem notar…
Quanto mais a vida gera ansiedade maior é a necessidade de viajar para si, conhecer-se e reconhecer-se, ou apenas, ficar só por um tempo… como se flutuasse no espaço, num vazio pleno, distante de tudo. Não se preocupe ao fazer isso. Isso é ser “normal”.