Janaina Silva Alves*
RESUMO: O artigo tem por finalidade levar a reflexão sobre a implantação da Polivalência de forma experimental na Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro (Ginásio Experimental Carioca Princesa Isabel), por meio de um relato favorável à aprendizagem na área de humanidades (Língua Portuguesa, História e Geografia), utilizando a Literatura como fio condutor na quebra de paradigmas, possibilitando a ampliação do “olhar” sobre o que se aprende/ensina na sala de aula.
Palavras chave: Polivalência, Interdisciplinaridade, Educação, Literatura.
Abstract: This article has as purpose to lead to reflection on the implementation of the versatility of a Trial in Municipal Education of Rio de Janeiro (Ginásio Experimental Carioca Princesa Isabel), through a report favorable to learning in the humanities area (Portuguese, History and Geography) using Literature as a common thread in breaking paradigms, allowing the improving of the “look” about what we are trying to teach/learn in the classroom.
1- Introdução:
Desde janeiro de 2011 foi instaurado nas escolas do Município do Rio de Janeiro em caráter experimental a polivalência, que significa a ampliação da carga horária do professor que, em uma mesma turma, deverá dominar o estudo das linguagens no núcleo de humanidades. Assim, este professor tem a responsabilidade de ministrar as disciplinas de Língua Portuguesa, História e Geografia. Tal proposta complexa pode ser entendida de forma muito simples, por meio do diálogo entre os conteúdos, baseado na interdisciplinaridade efetiva, isto é, a ser utilizada na prática e não mais apenas no discurso.
São as crianças que, sem falar nos ensinam as razões para viver. Elas não tem saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança, jamais será sábio. (ALVES, Rubem/2013)
Existe uma profunda dificuldade por parte dos professores em integrar os conteúdos, no entanto, quando isso acontece amplia-se o olhar do aluno. Esta possibilidade, antes rejeitada, é viabilizada pela polivalência, que cria uma nova perspectiva para o enriquecimento do processo de ensino aprendizagem, que tanto carece na prática de ensino.
Essa nova metodologia, facilitadora de diálogo entre as ciências, que significa juntar coisas aparentemente dissociadas, razão e emoção, real e imaginário, ciência e arte, ciência humanas e ciências da natureza (MORIN, 2001, p.95/96) pode possibilitar a compreensão como cada disciplina constrói e reconstrói cotidianamente o seu objeto de estudo.
“Os conhecimentos fragmentados só servem para usos técnicos. Não conseguem conjugar-se para alimentar um pensamento capaz de considerar a situação humana no âmago da vida, na terra, no mundo e de enfrentar os grandes desafios de nossa época”. (MORIN,2001-p.17)
Sabe-se que o objetivo primário na Educação Pública, especificamente no ensino fundamental, é de sanar as deficiências básicas dos jovens em relação à leitura e à escrita, fazê-los se reconhecerem como sujeitos autônomos, capazes, solidários, críticos, competentes, participativos e protagonistas de sua própria história.
Precisamos ter uma educação ligada com a vida, que é pra isso que a gente aprende, pra viver melhor, pra ter mais prazer, ter mais eficiência, poupar tempo, não se arriscar. (ALVES, Rubem http://www.youtube.com/watch?v=qjyNv42g2XU)
Portanto, priorizar o estudo do conteúdo em si se torna um discurso vazio para representação de nossa realidade, e para tal modificação, é necessário que o professor como o principal mediador desse processo, domine a competência em desenvolver a correlação dos mais variados recursos e direcionando o que deve ser ensinado e o que deve ser apreendido. O momento da aula tem de ser dinâmico, e coberto de sentido ao que o educando considera como importante para o seu aprimoramento.
os saberes que os educandos, sobretudo das classes populares, chegam a ela- os saberes socialmente construídos na prática comunitária-, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos e por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, estabelecendo uma intimidade entre os saberes curriculares fundamentais. (FREIRE, 2011, p.31)
2- Como reconhecer o universo Literário numa dimensão espaço temporal
Foi priorizado o estudo da crônica de Machado de Assis “Algumas regras para usuários de bonde”, cujo objetivo principal era o estímulo à leitura, à produção textual e à organização de ideias, propiciando o descortinar de uma nova realidade para os jovens, de modo que passem a se enxergar como sujeitos e escritores de sua própria história, apoiados, então pelos quatro pilares da educação: “aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a conhecer” (UNESCO-DELORS, 1994). Deste modo, o trabalho, de forma experimental propunha o início de uma nova história no legado da arte de aprender e educar.
O texto em estudo remete ao final do século XIX, quando a cidade do Rio de Janeiro ainda encontrava-se nos primórdios da urbanização, numa estrutura social, política e econômica muito complexa. Neste contexto, pode-se facilmente ressaltar os conhecimentos geográficos e históricos a partir da observação das transformações ocorridas desde 1883 até os dias atuais. Tal estratégia leva os alunos a uma viagem no tempo e no espaço, através da leitura e da exposição de diversas imagens do Rio Antigo, apresentadas de forma linear até os nossos dias.
Para alcance de tais objetivos, a sala de aula foi organizada em círculo, para que todos pudessem observar o professor e a si mesmos. Foram utilizadas a leitura coletiva e recursos midiáticos, além da inserção constante de conceitos referentes às disciplinas: Geografia, História e Língua Portuguesa.
Assim, conteúdos como variação da linguagem, dinâmica populacional e noção de historicidade foram absorvidos de forma mais prazerosa. Em uma breve análise, foi percebido que o tema trouxe para discussão e reflexão valores como Ética e Cidadania, motivando a participação e o total envolvimento dos alunos. Essa perspectiva estimula a curiosidade dos jovens, ao perceber o diálogo constante que existe entre os diferentes conteúdos. Impulsionando-os a pensar de forma diferenciada sobre tudo o que o cerca e principalmente sobre o mundo e compreender a dimensão espaço temporal da sociedade a qual ele se encontra inserido.
Pois o objetivo da educação não é de ensinar coisas, porque as coisas estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. É ensinar a pensar, criar na criança a curiosidade e a alegria de pensar. Porque a missão do professor não é dar respostas prontas, sim de provocar a inteligência, o espanto, ou seja, a curiosidade em aprender. (ALVES, Rubem/2013)
3- Conclusão
Como dizia magnificamente Durkheim, o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida. (Morin, 2001, p.47).
Este projeto é inovador, visto que se aventurou na arte de enfrentar o novo – uma grande dificuldade dos profissionais da educação é aceitar transformações – subverter a ordem das coisas, mudar o ângulo de visão, mesmo sabendo que estão praticamente sem saída, já que a educação urge e tem fome de mudança.
A transformação deve acontecer em todos os sentidos e direções e é necessário aceitar a realidade em que nossos alunos estão inseridos, enfrentá-la sem medos, sem amarras e, principalmente, com coragem de se permitir errar, pois transformar a nossa prática segundo Marx é admitir que “qualquer reforma do ensino e da educação deve antes de tudo, começar com a reforma dos educadores, ou seja, reformar os educadores significa reformar o pensamento..”.(apud.Simões, Mônica Nunes.2010,p.27) Pensa na urgência de uma “Práxis Revolucionária”, onde reformar o pensamento significa reaprender a pensar.
Referências Bibliográficas
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ALVES, Rubem. A escola ideal – o papel do professor. Enviado em 14/06/2011, vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=qjyNv42g2XU
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*Janaina Silva Alves é graduada em Geografia pela Universidade Federal Fluminense(UFF). Tem experiência na área de Educação, com ênfase no planejamento e coordenação de projetos interdisciplinares. Atualmente, é coordenadora de Geografia no Ginásio Experimental Carioca na Rede Municipal do Rio de Janeiro (SME), no qual também atua como professora polivalente de Humanidades.