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Imagem e Poder na campanha eleitoral 2016: uma análise da disputa pela prefeitura em São Paulo e Porto Alegre

 

Imagem e Poder na campanha eleitoral 2016: uma análise da disputa pela prefeitura em São Paulo e Porto Alegre

 

Deysi Cioccari[1]

Edson Rossi[2]

Deysi Cioccari – Doutoranda em Ciências Sociais pela PUC/SP. E-mail: deysicioccari@gmail.com

Resumo: O presente artigo pretende abordar como os jornais Zero Hora e Folha de S. Paulo representaram os candidatos à prefeitura de Porto Alegre e São Paulo, respectivamente, no ano de 2016. Analisamos as matérias nas editorias Política e Poder dos jornais referidos, desde 1 de junho de 2016 à 31 de setembro de 2016, véspera da votação de primeiro turno.  Buscamos entender a relação entre mídia, imagem e poder. Nossa hipótese é de que a mídia contribui decisivamente para a construção do personagem político.

Palavras-chave: Campanhas; Imagem; Comunicação; Poder; Espetáculo.

Abstract: This article aims to address how the newspapers Zero Hora and Folha de S. Paulo represented the candidates for mayor of Porto Alegre and São Paulo, respectively, in the year 2016. We have analyzed the news in editorial policy and power of the newspapers mentioned, from June 1, 2016 to September 31, 2016, the eve of the first round vote. We try to understand the relationship between media, image and power. Our hypothesis is that the media contributes decisively to the construction of political character.

Keywords: Campaigns; Image; Communication; Power; Show.

Edson Rossi – Mestre em Comunicação pela Cásper Líbero/ SP. Professor FIAM. E-mail: erossi.erossi@gmail.com

  1. Introdução

 

O objetivo deste trabalho é analisar a abordagem midiática nas eleições municipais de 2016. Nossa análise está focada nos municípios de Porto Alegre e São Paulo. Selecionamos as imagens fotográficas nos dois jornais mais lidos dessas duas cidades, respectivamente: Zero Hora e Folha de S. Paulo. Analisamos a editoria de Política dos dois jornais desde 1 de junho de 2016, período de pré-campanha, onde a divulgação de informações ainda é pouca sobre a disputa, até a véspera da votação do primeiro turno, 31 de setembro de 2016. Selecionamos no jornal Zero Hora, a coluna da jornalista Rosane de Oliveira. No jornal Folha de S. Paulo analisamos a editoria Poder. Buscamos entender a relação entre comunicação, política e poder e como a imprensa privilegiou temas em detrimento de outros. Nossa ideia é que a mídia contribui decisivamente para a construção da agenda política.

Um exemplo é a encenação política em que estamos inseridos pelas páginas de jornais, televisões e revistas todos os dias. Não raramente, esta é tão interiorizada por seus atores, auxiliados por seus assessores de imagem, que as fotos não são mais que fotos das aparências da comédia social e não têm, pois, nenhum valor de verdade, de crítica ou questionamento. A fotografia torna-se uma ferramenta desse sistema geral que objetiva o poder e o ter, e não algum tipo de saber. “As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida e fundem-se num curso comum, de forma que a unidade da vida não mais pode ser restabelecida. A especialização das imagens do mundo acaba numa imagem de si próprio. O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não vivo” (DEBORD, 1967, p. 8).

 

  1. O espetáculo (ou a falta dele) na campanha para prefeito em 2016

 

Para Debord, as artimanhas do espetáculo estão constantemente atuando na luta pela identificação de seus receptores com a sociedade de consumo. A alienação é o meio para esta constante identificação e o lucro é o fim primordial. Enquanto o capitalismo consegue lucros imensos, os públicos do espetáculo permanecem alienados. Debord salienta que o espetáculo induz o homem apenas a dizer “sim” e a não duvidar das informações que recebe. A consciência humana e a capacidade do homem de pensar ficam submissas a um conjunto de influências que recebem do espetáculo. O espetáculo desvincula o espectador de sua própria história, de suas origens e de seu modo de pensar e agir. O espetáculo, segundo o pensamento debordiano, tem sua estrutura baseada na aparência, mostrando somente “o que é bom”, que carece ser contemplado e o que vai despertar desejos de consumo no espectador. Ele imprime a aceitação passiva por parte do público e transmite um efeito de circularidade, não deixando margens para réplicas: “O espetáculo se apresenta como uma enorme positividade, indiscutível e inacessível. Não diz nada além de ‘o que aparece é bom, o que é bom aparece’” (DEBORD, 1997, pp. 16-17).

Para Debord, é através do espetáculo que se dá a construção das necessidades de consumo na sociedade. Pela lógica do pensamento do autor, cada vez que um novo produto é lançado no mercado pela indústria cultural, a necessidade de consumo deste produto é criada pela publicidade entre o público, o qual é passivo e acrítico – é assim que se dá a alienação.

O espetáculo é tratado pelo autor como um agente de manipulação social e conformismo político, chegando a ser comparado a uma permanente Guerra do Ópio, que tem como objetivos embriagar a consciência dos atores sociais e fazer com que eles se identifiquem com as mercadorias que estão sendo oferecidas pela indústria cultural e venham a consumi-las. Na medida em que o espetáculo é alienante, deixando o público refém da contemplação e atuando na criação de necessidades de consumo para esse público através da publicidade, ele será um agente da indústria cultural e terá totais vinculações com a obtenção de lucro por parte de seus idealizadores.

Na análise do jornal Zero Hora, conforme tabela abaixo, percebemos que o assunto “crise estadual” aparece com grande incidência em todos os meses analisados. O assunto das disputas municipais começa a ter destaque em agosto. Em setembro é o assunto mais abordado juntamente com a crise de segurança que vive o Estado do Rio Grande do Sul e os desdobramentos da operação Lava Jato.

                                                                                      Figura 1 :  Análise quantitativa do Jornal Zero Hora

 

                                                                                                                                  Fonte: Autores

  O Rio Grande do Sul sofreu, durante o ano de 2016, uma séria crise de segurança, culminando com o pedido de exoneração do secretário Wantuir Jacini, após a morte de uma mulher na frente da escola de seu filho, num bairro de classe média em Porto Alegre. De acordo com estatísticas do próprio governo do Rio Grande do Sul, o índice de homicídios em Porto Alegre é três vezes maior do que as mortes na capital paulista, em termos proporcionais à população. A crise no governo estadual foi a pauta do jornal mesmo durante a campanha eleitoral.  O enquadramento do jornal, negativo, sempre coloca o governo como culpado pelo caos instaurado no Estado. Um exemplo é a capa preta de 26 de agosto de 2016.  Vale lembrar que a coluna é feita pela jornalista Rosane Oliveira, portanto, de caráter opinativo. Na figura 2 percebemos o drama que vive o Estado: a capa toda em preto, com o governador do Estado no centro, alerta para o tema principal do jornal.

                                                                                                             Fonte: Jornal Zero Hora 26 de agosto de 2016

Tanto a Operação Lava Jato da Polícia Federal e o processo de Impeachment da presidente Dilma Rousseff também pautaram a agenda do jornal. Em junho, a Lava Jato obteve destaque em oito colunas, perdendo força conforme aumentava a proximidade com o processo de impeachment. Em julho, o jornal Zero hora volta a reforçar a falta de dinheiro nas campanhas.

Já no dia 1 de agosto, a coluna da jornalista Rosane de Oliveira publica as tratativas para fechar a coligação do PSOL, com a candidata Luciana Genro em destaque. Um dos raros momentos em que o jornal destaca a campanha eleitoral.

Em setembro a pauta do jornal segue a crise política que vive o estado:

                                                                                                                 Fonte: Jornal Zero Hora / 6 setembro 2016

Figura 2 :  Análise quantitativa do Jornal Folha de S. Paulo

Fonte: Autores

Percebemos, em nossa análise, que o assunto Disputa 2016 somente entra em pauta no jornal Folha de S. Paulo em julho e com um pouco mais de incidência em agosto. Em setembro, véspera das eleições, o assunto perde espaço na agenda midiática para a Operação Lava Jato e o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O jornal Folha de S. Paulo em 15 de junho já anunciava, através de editorial, que a campanha seria diferente.

                                                                                                            Fonte: Jornal Folha de S. Paulo / 15 junho 2016

Em agosto o jornal cria um caderno especial chamado “Eleições”. A partir daí nossa análise partiu também para esse caderno, mas continuamos analisando a editoria Poder. Somente a partir de 17 de agosto a Folha de S. Paulo inicia sua cobertura das eleições. Mesmo assim, no caderno específico, a cobertura política é nacional, e não apenas das eleições municipais em São Paulo.

Uma das primeiras imagens é a do candidato tucano João Doria comendo pastel. A legenda indica que essa era uma imagem que não deveria ter sido publicada. Durante a campanha, o empresário, que declarou ter um patrimônio de RS 180 milhões, fez cara feia ao comer pastel e beber um cafezinho nas ruas da cidade. Depois que o assunto viralizou na internet, a assessoria do tucano pediu que Doria não seja fotografado ou filmado enquanto come, para que respeitem esse “momento de privacidade”. A informação foi publicada na coluna Painel. Seja em função de um desejo de expressão do autor, existe sempre uma motivação para a criação de uma fotografia. A partir do momento em que o fotógrafo seleciona o assunto , essa motivação já terá influência na concepção e na construção da imagem final. (KOSSOY, 2009, p. 27).

                                                                                                    Fonte: Jornal Folha de S. Paulo / 20 agosto 2016

Em nossa análise percebemos que o jornal Folha de S. Paulo tratou com maior a tentativa do tucano João Doria Jr de se aproximar do eleitor participando de diversas atividades de rua deixando os outros candidatos em segundo plano.

 

Considerações finais

 

O estudo demonstrou que as eleições municipais, diante do agendamento preponderante na discussão da crise do sistema político brasileiro como um todo ficou relegada, não num segundo plano, mas num terceiro e quarto planos, como podemos observar. A agenda midiática, no que diz respeito a determinação de sobre o que pensar, direcionou o pensamento todo ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e aos desdobramentos da Operação Lava Jato, coordenada pelo Ministério Público e Polícia Federal brasileiros. Em São Paulo, o candidato João Doria Jr foi o candidato que mais retratado pelo jornal, não por sua agenda política, mas pelo poder de audiência que sua imagem gera ao tentar se enquadrar no jogo político. Schwartzenberg (1978) define como o jogo do poder se encontra: “a política, outrora, era ideias. Hoje, é de pessoas. Ou melhor, personagens”. Dessa forma, tudo se apaga, propostas, partidos e reais interesses e necessidades coletivas, para que brilhe apenas o ator principal: o candidato. Então, o poder se humaniza e ganha uma face. A imagem exerce a função de rótulo do poder, servindo de marca. E isso ajuda no processo de escolha, definindo o escolhido na hora do voto ou do apoio para suas decisões. Com o advento da televisão e da internet, a difusão da imagem ganhou grande audiência, não podendo a atuação na política ser feita sem a cobertura da mídia porque, primeiro, é impossível fazer política ou manter e ampliar o poder, sem o uso dos meios de comunicação; e segundo, a política e a arte têm como princípio a mercantilização, sendo este, talvez, o início da espetacularização na política como conhecemos hoje. O espetáculo tornou-se ponto chave para a conquista ou a manutenção do poder. A mídia absorve a política quando o espetáculo se torna o ensejo crescente da sociedade.

Referências Bibliográficas

 

DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro. Contraponto. 1997.

SCHWARTZENBERG, Roger-Gérard. O Estado espetáculo. São Paulo: Difel, 1978.

SOULAGES, François. Estética da fotografia. São Paulo: Editora Senac, 2010.

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. 2 ed. São Paulo, Martins Fontes, 1983.

…………………. O Capital. 3 ed., Vol. 1, Nova Cultural, São Paulo, 1988.

COMO PUBLICAR  :  CIOCCARI, D. O.   /   ROSSI, E. Imagem e Poder na campanha eleitoral 2016: uma análise da disputa pela prefeitura em São Paulo e Porto Alegre. P@rtes (São Paulo). Outubro de 2016.

 

[1] Doutoranda em Ciências Sociais pela PUC/SP. E-mail: deysicioccari@gmail.com

[2] Mestre em Comunicação pela Cásper Líbero/ SP. Professor FIAM. E-mail: erossi.erossi@gmail.com

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