Gostaria de compartilhar análise sobre a manutenção da candidatura Russomano. Por óbvio, ele torna-se um forte candidato. É conhecido, tem recall, forte penetração na periferia, com base militante via Igreja Universal, tem recursos financeiros e agora, com a absolvição no Supremo, pode-se apresentar como ficha limpa, apesar de suas histórias escabrosas. Mesmo sabendo que ele não é um candidato de chegada, caso mantenha o piso de 2012 (21%), dificilmente estará fora do segundo turno.
Como pontos débeis. A fragilidade de conteúdo programático e vinculação com fundamentalismo/oportunismo da Universal e PSC (que passará por mau momento em virtude das denúncias contra Feliciano). Mas ainda assim, há que levar em conta que SP tem tradição em eleger candidatos com o perfil dele, como Jânio Quadros e a base social do Maluf, que está por aí, meio órfã do populismo reacionário e corrupto.
Quem mais perde é a candidatura Marta, pelo cruzamento com a base social do Russomano, conforme confirmam as pesquisas. Em segundo, o Doria, que poderia comprar (o candidato tucano é o candidato do vende e compra tudo) esta base, ganhando penetração na periferia. Para Haddad a manutenção da candidatura é indiferente, uma vez que eram votos que já não iriam para o prefeito.
Neste quadro, quem mais pode oferecer uma resistência e polarização eleitoral é a candidatura Luiza Erundina.
Primeiro porque as eleições em SP apontam para uma entre candidatura populista de direita versus candidatura com forte componente progressista e popular, base programática e capacidade de realização.
Segundo, a polarização também se apresenta do ponto de vista de geopolítica das Igrejas e religiões, de um lado as Igrejas de Negócio e do ódio, que terão na candidatura Russomano um forte atrativo (Dória também vem comprando o apoio de alguns desses lideres religiosos – Malafaia, Rodovalho – mas deve perder fôlego), de outro, as Igrejas tradicionais, evangélicas ou católicas, que se incomodam com o ‘compra e vende” do mercado das religiões; notadamente os católicos, terão que apresentar uma reação, pois em caso de vitória de Russomano, poderá haver uma profunda alteração no mapa de religiões na cidade, com efeitos de médio e longo prazo.
Terceiro, por mais que haja iniciativas interessantes e positivas no governo Haddad, este, por limitações próprias de sua gestão, com alto índice de rejeição na periferia e pelo elevado desgaste do PT, dificilmente chegará ao segundo turno. E, mesmo se chegasse, em uma disputa com Russomano mal alcançaria 19% (assim como em disputa com os demais candidatos).
Neste cenário, a única opção ética, popular e progressista na cidade de São Paulo (seja em análises à esquerda, seja em relação ao centro político), que pode, inclusive, garantir a continuidade e melhoramento de boas políticas iniciadas no atual governo, é a candidatura de LUIZA ERUNDINA, que mesmo sem nenhum aparato (partidário, financeiro, de governos e mesmo de acesso à mídia) já desponta em sólido terceiro lugar na disputa, revelando base social consolidada e em crescimento.
Cabe agora, aos democratas, progressistas e pessoas que defendem a ética, a inversão de prioridades em favor dos mais excluídos, a diversidade e liberdade, aos que praticam o amor no lugar do ódio, independente de preferência partidária ou ideológica, perceberem que é chegado o momento de nos unirmos em defesa de uma São Paulo moderna e justa. E para além dos moradores de Sampa, pois essas eleições de SP, pela magnitude da cidade, indicarão por qual caminho o país irá trilhar nos próximos anos.
Célio Turino é historiador e coordenador de Relações Internacionais da RAiZ -Movimento Cidadanista. Foi secretário de Cidadania Cultura do Ministério da Cultura e idealizador do programas Pontos de Cultura e Cultura Viva