Gilda E. Kluppel
As panelinhas, na linguagem popular, representam grupos informais fechados, aqueles que se isolam dos demais. Não deixam um mínimo espaço para quem não pertence à turma, permitindo somente a entrada de pessoas escolhidas, segundo julgamentos pessoais e duvidosos. Faz parte da natureza humana reunir-se em grupos, desde o nosso tempo de escola buscamos por pessoas com mais afinidades.
Entretanto, essa postura, no ambiente de trabalho, envereda para um caminho tortuoso, caso as pessoas insistam em trocar ideias e informações apenas com os integrantes de suas panelinhas. Cercadas de segredos e estratégias, prevalecem os olhares suspeitos e o silêncio quando alguém “estranho” se aproxima do território dominado, acarretando mal-estar.
Atitude habitual entre os adolescentes, que precisam de autoafirmação das suas identidades, repete-se também nas organizações, pela necessidade de unir forças e ocultar deficiências, muitos buscam por proteção. Nesse caso, visam interesses comuns ao grupo, ao ocupar mais espaço nos diversos quadros da organização. Uma tentativa de compartilhar, entre seus pares, as vantagens decorrentes dessa ligação. Uma prática nada democrática, ao contrário segregativa e desestabilizadora das boas relações no trabalho. A formação de uma panelinha ocasiona, consequentemente, outras panelinhas que competem entre si.
A competição existe também dentro da própria panelinha, embora para os outros tentem demonstrar união, enaltecendo-se por meio de elogio mútuo. O fator desagregador entre os demais, vale também para o próprio grupo, afinal a disputa acirrada busca, por caminhos paralelos, obter uma fatia de poder. Diante dessa disputa qualquer um pode ser sacrificado, basta que o grupo sinta-se contrariado com a atitude do integrante ou vassalo que não correspondeu às expectativas do feudo.
O interesse da organização fica relegado a um segundo plano. Importa apenas a ideia da panela vencedora, capaz de transformá-la num panelaçoao se sobressair das outras. O etnocentrismo prevalece quando se valoriza somente os integrantes do próprio grupo. Restrita à visão maniqueísta, na qual o bem e o mal estão delineados pela simples opção de pertencer ou não a uma determinada panelinha.
Outro inconveniente é a falta de identidade, o grupo se fecha e manifesta a mesma avaliação sobre diversos assuntos, tornando o participante rígido e inflexível; logo, a pessoa já está rotulada pela opinião do grupo ao qual pertence. Ainda a respeito da unidade de pensamento, cabe lembrar a frase do jornalista americano Walter Lippman: “Quando todos pensam da mesma forma é porque ninguém está a pensar.”
Mas, quem de nós não participou de uma panelinha, às vezes sem perceber, já estava dentro e em pleno cozimento. A rotina diária do trabalho pode prejudicar uma maior interação com outras pessoas. Contudo, apesar da parte negativa, ainda prevalece, em alguns casos, a ideia da velha e nem tão boa panelinha para sobreviver.
Reparando bem, ao conviver apenas com o muito próximo, às vezes nem tão próximo quanto se imagina. O outro talvez seja mais próximo, mas perde-se esta oportunidade quando se fecha o olhar para os demais.