Educação Educação Povos Indígenas

Pesquisas Em Culturas Indígenas Numa Perspectiva Da Educação Matemática

Pesquisas Em Culturas Indígenas Numa Perspectiva Da Educação Matemática

Vanilda Alves da Silva*

José Luiz Magalhães de Freitas**

 

Resumo:

Visando aprofundar o estudo teórico sobre Pesquisas em Culturas Indígenas, analisamos alguns trabalhos, dentre eles a dissertação de Samuel Bello (1995), que aborda Educação Matemática numa perspectiva indígena Guarani-Kaiová, de Mariana Kawall Leal Ferreira (1992) uma abordagem antropológica da educação escolar indígena Xavante do Kulueno e os povos e xinguanos Suyá, Kayabi e Juruna do Parque Indígena do Xingu, e o de Margareth Araújo e Silva (1999), em Etnoecologia: o encontro interétnico por meio da educação socioambiental e suas reflexões sobre os povos indígenas Guarani M’bya.

Palavras-chave: Educação, Educação Matemática, Educação Indígena, Pesquisas em Culturas Indígenas.

Abstract: 

To deepen the theoretical study on Research for Indigenous Cultures, we analyze some work, including the dissertation Samuel Bello (1995), which addresses mathematics education in an indigenous perspective Guarani-Kaiová, Mariana Kawall Leal Ferreira (1992) an anthropological approach to education Xavante indigenous school of Kulueno and people and Xingu Suyá, Kayabi Juruna and the Xingu Indigenous Park, and the Margareth Araújo e Silva (1999), in Ethnoecology: finding interethnic through environmental education and their reflections on indigenous peoples Guarani M’bya.

Keywords: Education, Mathematics Education, Indigenous Education, Research in Indigenous Cultures.

 

INTRODUÇÃO

Este trabalho é um recorte de pesquisa de Silva (2006) e tem como foco aprofundar o estudo teórico sobre Pesquisas em Culturas Indígenas, e que foram analisados, dentre elas a dissertação de Samuel Bello (1995), que perpassa sobre a Educação Matemática com os indígenas Guarani-Kaiová no distrito do Panambi no estado de Mato Grosso do Sul, bem como a de Mariana Kawall Leal Ferreira (1992) que, por meio de uma abordagem antropológica da educação escolar indígena Xavante do Kulueno e os povos e xinguanos Suyá, Kayabi e Juruna do Parque Indígena do Xingu, ambos no estado do mato Grosso, mostrando que nessas escolas o tratamento dos conteúdos matemáticos não é diferente, o que é questionável, tendo em vista que os indígenas não dão a mesma importância para os números como os não-índios.

Analisou-se, também, o trabalho de Margareth Araújo e Silva (1999), em Etnoecologia e que objetivou o desenvolvimento de uma investigação sobre o encontro interétnico por meio da educação socioambiental e suas reflexões sobre os povos indígenas da Aldeia Tekoá Porá, Município de Aracruz no Estado do Espírito Santo, em específico com os Guarani M’bya.

 

Pesquisas em Culturas Indígenas: uma análise 

A seguir faremos uma análise dos trabalhos de Bello (1995), Ferreira (1992) e Silva (1999).

O trabalho de Bello (1995) refere-se a questões fundamentais sobre educação, principalmente Educação Matemática entre os povos de culturas distintas, neste caso, grupos indígenas Guarani-Kaiová. Em específico, a identificação e/ou reconhecimento às várias formas de explicar e conhecer a realidade (Etnomatemática) por parte desses grupos, e a melhor maneira de serem trabalhadas no contexto escolar, por meio de ações pedagógicas de natureza intercultural, que convidam a reflexão e consequentemente à retomada de alguns conceitos e posturas sobre educação, cultura e, inclusive, Matemática.

O método de investigação Etnográfico foi utilizado por Bello (1995), caracterizando uma pesquisa do tipo qualitativa. O trabalho de campo foi desenvolvido na Aldeia Panambizinho, localizada no Distrito do Panambi/MS, próximo a cidade de Dourados, no Estado de Mato Grosso do Sul, com os índios Guarani-Kaiová. Técnicas como a observação participante e a entrevista livre foram utilizadas no desenvolvimento dessa pesquisa. Os resultados revelaram modelos cognitivos, representações e formas de pensamento diferentes e pouco conhecidos, e que estão em relação direta com a história pessoal e cultural dos indivíduos, desse grupo pesquisado que participaram dessa experiência. Segundo o autor:

Noções e conceitos diferenciados sobre formas e medidas, um sistema de contagem próprio, habilidades cognitivas muito particulares na forma de operar com números são, apenas, alguns exemplos da interferência da cultura e da relação direta que esses modelos mantêm em suas atividades cotidianas. (BELLO, 1995, viii).

Esses modelos levaram a reflexões que apontaram para a reestruturação e a melhoria do ensino da Matemática para povos indígenas.

Um dos resultados encontrado por Bello nesse trabalho é que, para os indígenas, não é necessário saber contar mais que 6 (teiová) – sistema originário dos Kaiová – uma vez que é suficiente para o dia-a-dia da aldeia, apesar do contato com a sociedade não-índia e de lidarem com grandes números, isto não quer dizer que eles saibam e/ou dominem o sistema decimal de numeração. É comum operarem com tais números, porém, qualquer tipo de limite na resolução mental das operações parece residir muito mais na pouca familiaridade com números maiores do que com problemas conceituais. Ao final do trabalho o autor concluiu que:

Integrando as práticas (Etno)matemáticas, de grupos diferenciados, a ações pedagógicas que visem a apropriação de outras Etnomatemáticas, estar-se-á contribuindo para a busca de autonomia e o resgate da cidadania daqueles grupos que, na atualidade encontram-se numa situação de subordinação e marginalidade. (BELLO, 1995, p. viii).

Um outro trabalho é o de Ferreira (1992), no qual a autora buscou fazer uma abordagem antropológica da educação escolar indígena. Baseada em dados de campo colhidos entre 1978 e 1991 junto a índios Xavantes e a povos xinguanos, especialmente os Suyá, Kayabi e Juruna e a partir de 1989, esse trabalho teve como objetivo principal mostrar que o processo de educação escolar é interpretado por povos indígenas, de acordo com a interação que se dá entre sistemas culturais e os vários mecanismos do processo de inserção daqueles povos à sociedade nacional.

As questões teóricas centrais do trabalho vieram, basicamente, das problemáticas ligadas, entre a prática indigenista, a militância pró-índio e o exercício teórico de Antropologia. Confluem nesse esforço várias disciplinas em diálogo com a Antropologia: História, Pedagogia, Etnomatemática e Ciências da Cognição. Foram escolhidos caminhos para que fosse possível atacar o problema, a educação escolar indígena, de vários ângulos e, ao fazê-lo, aprofundar a compreensão de questões que a autora julgou centrais tanto pela relevância teórica quanto pela posição nos processos educacionais desenvolvidos em escolas indígenas: o olhar indígena sobre o passado e, principalmente, sobre o contato e a inserção à sociedade nacional; as relações entre mito e história, tal qual está contida e manifestada no discurso indígena; o confronto entre oralidade e escrita e seus desdobramentos; o entrelaçamento entre cultura e cognição em contextos etnográficos específicos.

A autora finaliza o trabalho concluindo que,

[…] os Xavantes Suya, Kayabi e Juruna, usando outros cálculos e valores que não os tradicionais da sociedade envolvente, podem resolver problemas aritméticos. As diferenças nas estratégias utilizadas não indicam limitações da mente destes povos ou falta de determinadas habilidades cognitivas, como amplamente conhecido no campo da Antropologia, mas não tanto no plano do senso comum e das políticas educacionais impostas de fora aos povos indígenas, sejam elas nacionais ou missionárias. (FERREIRA, 1992, p. 213).

Referente a análise do trabalho de Silva (1999) o grande desafio desse trabalho foi investigar esse tipo de contato, ou seja, o intercâmbio entre as diferentes etnias. Descrever as comunidades, seus níveis de organização, suas origens, os ecossistemas em que estão inseridas e o relacionamento entre elas, a fim de colaborar para uma compreensão recíproca e uma análise do contato das sociedades indígenas e não indígenas. Baseou em uma pesquisa participante com algumas técnicas metodológicas, como observações, descrições de narrações de pessoas, situações e transcrições de entrevistas, onde as abordagens foram coletadas in loco, as quais foram realizadas sob condições naturais ou de campo, explorando o meio no qual o fenômeno ocorreu, não se desenvolvendo sob condições experimentais planejadas ou de laboratório.

Foi observado, pela autora, que durante as entrevistas os vizinhos brancos dessa comunidade indígena apresentavam alguns sinais de estigmas em relação aos Guarani, entre eles indicaram a preguiça como responsável pela pobreza, outros fizeram referências ao álcool e a prostituição. Essa pesquisa constatou que, os visitantes de longe e turistas, sem contato corriqueiro com a comunidade indígena, respeitam e valorizam a presença dos índios e consideram sua cultura um marco referencial histórico importante. A autora percebeu visivelmente, durante a coleta de dados, que eles sentem-se mais respeitados dentro da aldeia e contam suas histórias aos visitantes esperando sensibilizá-los à causa indígena. Ela observou, ainda, que “[…] da mesma forma que os costumes dos brancos exigem dos índios compreensão e respeito, a mutualidade desse sentimento é o resultado da busca de uma maior compreensão para uma ação transformadora desse contato interétnico” (SILVA, 1999, p. 126).

Alguns aspectos detectados pela pesquisadora deste trabalho causaram preocupações. Um deles trata da discussão emergente quanto ao tratamento homogêneo dispensado aos índios Guarani e Tupinikim remanescentes, uma vez que se trata de etnias diferentes, com diferentes anseios, peculiaridades e imenso distanciamento sociocultural. O outro é em relação às intervenções externas tais como as missionárias, as governamentais, dentre outras, nestas aldeias que devem ser menos autoritárias e mais pautadas no respeito ao saber tradicional, isto é, utilizar uma política consciente que respeite o índio como sujeito de sua história não devendo ainda atrapalhar as decisões das comunidades indígenas.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos três trabalhos acima referidos permitiu identificar que, apesar de os indígenas pesquisados serem de etnias diferentes, possuem alguns problemas como, por exemplo, dificuldades nas lutas diárias, inclusive de sobrevivência, concernentes à integração e que parecem comuns. Destacam-se a de acesso à educação escolar, de aprendizagem Matemática e outras disciplinas, de impedir as intervenções nas aldeias e a interferência na cultura, e de combater o descaso pelas questões indígenas, de conquistar respeito e cidadania, processos de opressão, dentre outros. Essas dificuldades apontam para a necessidade de uma interpretação, pelo não índio, voltada à realidade indígena, para que se descubram caminhos e formas de se efetivarem medidas que contribuam nas lutas para a busca do desenvolvimento desses grupos e lhes assegurem o respeito e promova direitos humanos.

Merece destaque e causam preocupações questões quanto ao tratamento comum que dão as diferentes etnias, tendo em vista que possuem diferentes anseios, peculiaridades e imenso distanciamento sociocultural.

É evidente que com relação às intervenções externas tais como as missionárias, as governamentais, dentre outras, nestas aldeias faz-se necessário respeitar o saber tradicional, isto é, utilizar uma política consciente que entenda o índio como sujeito de sua história e que evite atrapalhar as decisões das comunidades indígenas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BELLO, Samuel E. López. Educação Matemática Indígena: um estudo etnomatemático com os índios Guarani – Kaiova do Mato Grosso do Sul. 1995. 149f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 1995.

 

FERREIRA, Mariana Kawall Leal. Da Origem dos Homens à Conquista da Escrita: Um estudo sobre Povos Indígenas e Educação Escolar no Brasil. 1992. 226f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.

SILVA, Margareth Araújo e. Comunidade Guarani: em busca de subsídios pra uma educação socioambiental. 1999. 150f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 1999.

SILVA, Vanilda Alves da. Noções de Contagem e Medidas utilizadas pelos Guarani na Reserva Indígena de Dourados: um estudo etnomatemático. 2006. 126f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,Campo Grande, MS, 2006.

O texto deve ser citado desta forma:

SILVA, Vanilda Alves da. e FREITAS, José Luiz Magalhães de. Pesquisas em Culturas Indígenas. Rev.P@RTES, mês. ano, vol., no., p. . ISSN 1678-8419.

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