SER MENINO E SER MENINA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Magale Teresinha da Rosa de Campos[1]
RESUMO: O presente artigo titulado “ser menino e ser menina na sociedade contemporânea”, tem como finalidade discutir a relação de gênero na infância, analisando como, meninos e meninas, percebem-se perante a sociedade. O objetivo principal é, Analisar a relação de gênero entre meninos e meninas de 4 e 5 anos na Educação Infantil”. A metodologia aplicada foi a observação com 25 crianças de 4 e 5 anos de uma escola da periferia de Rondonópolis-MT .
Palavras Chave: Gênero, identidade, infância, pós-modernidade.
ABSTRACT: This article entitled “being a boy and being a girl in today’s society”, aims to discuss gender relations in childhood, looking at how boys and girls are perceived in society. The main objective is to analyze gender relationship between boys and girls aged 4 and 5 years in kindergarten. “The methodology applied was the observation of 25 children aged 4 and 5 years of a school on the outskirts of Rondonópolis-MT.
Keywords: Gender, identity, childhood, postmodernity.
INTRODUÇÃO:
O presente artigo titulado “ser menino e ser menina na sociedade contemporânea”, tem como finalidade discutir a relação de gênero na infância, analisando como, meninos e meninas, percebem-se perante a sociedade atual.
Objetivo principal é;
- Analisar a relação de gênero entre meninos e meninas de 4 e 5 anos na Educação Infantil.
Objetivos Específicos é;
- Compreender o que é importante para as meninas e o que é importante para os meninos e;
- Perceber a relação que menino e menina estabelecem com a sociedade.
Pensando na herança que a sociedade contemporânea carrega, o desafio de ressignificar essas heranças, sem descartá-las, pois a modernidade tem uma grande contribuição para pensarmos a sociedade contemporânea ou pós-moderna, como alguns autores preferem referir-se a sociedade atual, sendo que sem ela os questionamentos que a pós-modernidade traz, não seria nem possível ser levantado.
Pensar hoje o que a modernidade nem se atrevia a questionar, só é possível porque percebeu-se na sociedade pós, essas questões eram centrais para ser pensada, a questão de gênero, etnia, raça, cultura, sem julgar o que é certo ou errado, mas sim o que define a identidade do sujeito pós-moderno não é tarefa fácil.
Estamos acostumados a analisar as sociedades através da cultura dominante, e quando se percebe que isso não é mais possível é um conflito, de identidade, de gênero, de raça, de etnia, compreendo que o pós-moderno venho para desestabilizar, repensar, reavaliar o que a sociedade moderna tinha como verdade.
Na sociedade pós-moderna não temos uma única verdade, mas sim múltiplas verdades, analisadas e compreendidas conforme o olhar dos sujeitos que ali esta inserida.
São com essas múltiplas verdades, que me desafio a escrever este artigo, que busco sustentação em autores como; Beck (2011), Bello (2011), Corsaro (2011), Felipe (2011) Guizzo (2011) Macedo (2011).
Pesquisar é arriscar-se no desconhecido, com a pretensão de encontrar subsídios para o desenvolvimento da pesquisa, os autores com quem dialoguei para construir a metodologia foram Paraíso; (2014) Meyer (2014) e Sales (2014), para encontrar subsídios para o desenvolvimento da pesquisa optei pela observação de um grupo de crianças de 4 e 5 anos, sendo 15 meninas e 10 meninos, de uma escola localizada na periferia de Rondonópolis.
INFÂNCIAS CONTEMPORÂNEAS
Início a minha escrita pensado as infâncias, da sociedade atual, compreendendo que as certezas que a modernidade trazia como absoluta, devem ser repensadas, ressignificadas, e essas infâncias devem ser analisadas através dos atravessamentos em vem sofrendo.
Concordo com Macedo (2013), que “ se há várias infâncias, também há diferentes maneiras de educá-las, entendê-las e tratá-las, sugerindo-nos a importância de problematizar com as crianças decidem relacionar-se com os outros seres humanos”(12). Em numa sociedade consumidora, com fortes traços do colonizador, não posso pensar somente nos papéis que meninos e meninas representam nessa sociedade, mas as influências dos lugares que estas infâncias estão inseridas.
Sendo que para Guizzo (2011) “nas instituições infantis as crianças aprendem não somente questões relacionados às diferentes linguagens[…], elas também aprendem maneiras de ser e de se comportar enquanto meninos e meninas”(p.30). A escola contribui para a formação de identidade das crianças, quando a professora fala, isso menina não faz, quando nas brincadeiras, dá boneca e panelinha para as meninas e carrinho e super-heróis para os meninos. Esses brinquedos que a sociedade disse ao longo dos séculos que é de menina, reforça a ideia da mulher, ser mãe, esposa, dona de casa, recatada. E os meninos deve demonstrar a sua coragem, e não podem nem pensar em brincar de boneca, pois isso é coisa de mulherzinha. São ideias que atravessaram os séculos e chegou à sociedade contemporânea, sendo que o grande desafio da sociedade atual é discutir abertamente “a questão das desigualdades de gênero e seus atravessamentos […] São as diferentes infâncias as que exibem, sem pudor, as dúvidas e emoções para mobilizar as crenças mais profundas do mundo adulto, por vez tão rigidamente estabelecida.” (MACEDO, 2011,p. 12). A modernidade homogeneizava e universalizava as infâncias sem pensar as sua necessidade e desejos.
Não posso analisar a infância como única, homogenia, mas sim com múltipla, heterogênea com as peculiaridades das infâncias contempla. O adulto (pais, professores) tem a preocupação em enquadrar, colocar a crianças nos padrões sociais que a sociedade adquiriu ao longo dos anos, ressalto que é herança do colonizador e de sociedade excludente, que sempre o exclui o que para ela não “serve”. Para Corsaro (2011), “na vida atual, as necessidades e os desejos das crianças são muitas vezes considerados como causa de preocupação por adultos, como problemas sociais ameaçadores que precisam ser resolvidos” (p.18). Muitos pais e professores estão preocupados em enquadrar, nivelar colocar todos na mesma forma, se você é menino você pode isso, e você é menina você pode aquilo. Essas heranças que vem assolando a nossa sociedade durante séculos, deve ser repensada.
Compreendendo que a infância que teve início na modernidade, como única e universal “e ainda se faz notar nas incertezas dos tempos pós […]. Essa presença pode ser percebida através das representações de infância que circulam. […] (BELLO, 2011, p.46), como o menino é mais forte e não chora e menina é mais frágil e chora, rosa é de menina, azul é de menino. E o grande desafio da sociedade contemporânea ou pós é compreender as múltiplas infâncias que nela estão inseridas. O conceito de gênero que me lanço a discutir, vai além dos papeis que meninos e meninas representam, mas pensar o que define ser menino e menina hoje, com tais atitudes.
A metodologia aplicada foi o observação que de acordo com Sales (2014) “ consiste em um importante procedimento” (p.117), sendo que através dela foi possível levantar informações que possibilitaram a pesquisa. A observação também é de acordo com Sales (2014) “um contato direto com os elementos culturais próprios ao contexto analisado” (117).
A observação realizada foi em uma escola do município de Rondonópolis-MT, com crianças da educação infantil entre 4 e 5 anos, sendo 15 meninas e 10 meninos.
Através das observações percebi que os meninos e as meninas da educação infantil, vão representando as suas concepções, sendo que as meninas estão buscando a sua identidade de gênero, e rompendo paradigmas, observando um grupo de crianças brincando percebo que as meninas, querem mostrar que não estão nesta sociedade pós simplesmente, para ser a mãe zelosa, a esposa ideal o que foi sempre idealizado para ela no decorrer do século.
Observando um grupo de crianças que estavam brincando um menino e três meninas, uma das meninas pegou um dos carrinhos do menino e ele disse para ela, você não pode brincar com o carrinho, o menino reforçando essa ideia isso é coisa de menino, mas a menina respondeu para ele, eu posso brincar sim porque mulher também tem carro. Com isso também faz pensar que o homem é pai e também pode brincar de boneca.
Mas também observei que os brinquedos e brincadeiras que as crianças desenvolvem livremente as meninas quase sempre optam por brincam de boneca e casinha e meninos de super-heróis, carrinhos, e, também, disputam entre si quem é o melhor super-herói ou quem tem o carrinho mais rápido das brincadeira. Fruto de uma geração que está em conflito, que pode ser isso, mas também pode ser aquilo. Posso brincar de carrinho e posso também brincar de boneca. Será que posso mesmo?
No decorrer da pesquisa observei um menino que não pintava as suas atividades de cor- de-rosa, e se algum colega (menino) pegasse a cor para pintar ele dizia mulherzinha. Mas nesta observação também analisei que quem trazia e buscava-o na escola era a mãe, com uma bicicleta cor-de-rosa, ele ia nela sem questionar. Mas a bicicleta é da mãe e a mãe é menina ai pode, a herança da sociedade moderna, continua assombrando a sociedade pós.
Mas também constatei em uma brincadeira livre no pátio da escola, tanto meninos como meninas, brincavam com vassoura, rodo e pá, cor-de-rosa, os meninos faziam bolo de brinquedo e distribuíam entre os colegas, sendo que as identidades de gênero se deslocam e não cabe mais nesta sociedade rotular isso é de menina ou de menino.
Compreendendo que as identidades de gênero dos sujeitos pós, transpassa os papéis que lhe foram narrados como certos, ser menino e menina é cada vez mais uma descoberta que deve ser construída, socialmente, culturalmente de acordo com concepções que o sujeito tem em relação a suas identidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A identidade de gênero vai se construindo através das relações sociais, históricas e culturais, que fazem parte da vida do sujeito. Mas na sociedade contemporânea ou pós essas relações de gêneros vão além da representação de papeis de ser menina e menino, também é estabelecida por todos que fazem parte do seu círculo social, pais, professores, amigos, colegas, familiares, e, hoje, no mundo globalizado em que vivemos, a identidade do sujeito é construída também, conforme o acesso a determinados meios de comunicação.
A identidade de gênero não é um papel, que deve ser exercido com pronto e acabado, mas sim construído socialmente, culturalmente, diariamente, através das relações que sujeito estabelece com o mundo.
Se hoje eu estou aqui, amanhã eu posso estar ali, sempre pensando que os papeis pré-estabelecidos não corresponde às múltiplas infâncias que existem na sociedade contemporânea ou pós-moderna.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELLO,Alexandre Toaldo. “As meninas são tuas princesinhas…Os meninos os teus reizinhos… E eu? Eu não sou nada!”Ind: FELIPE Jane, GUIZZO Bianca Salazar, BECK Dinah Quesada (org) Infância, Gênero e Sexualidade. Canoas. Ed. Ulbra, 2014, p.45-62.
CORSARO, Willian A. Sociologia da Infância. 2ªEd. Porto Alegre: Artmed, 2011.
FELIPE Jane, GUIZZO Bianca Salazar, BECK Dinah Quesada (org) Infância, Gênero e Sexualidade. Canoas. Ed. Ulbra, 2014.
_____________________________________.Infância, gênero e Sexualidade: Articulações Possíveis. Ind: FELIPE Jane, GUIZZO Bianca Salazar, BECK Dinah Quesada (org) Infância, Gênero e Sexualidade. Canoas. Ed. Ulbra, 2014, p. 17- 27.
MACEDO, Carmem Galet. Prefácio. Ind: FELIPE Jane, GUIZZO Bianca Salazar, BECK Dinah Quesada (org) Infância, Gênero e Sexualidade. Canoas. Ed. Ulbra, 2014, p. 09-12.
MEYER, Dagmar Estermann. PARAÍSO, Marlucy Alves.(org.) Metodologias de Pesquisas Pós-Críticas em Educação. 2ª ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014.
SALES. Shirlei Rezande. Etnografia+ Netnografia + Análise do Discurso: Articulações Metodologia para Pesquisar em Educação. Ind: MEYER, Dagmar Estermann. PARAÍSO, Marlucy Alves.(org.) Metodologias de Pesquisas Pós-Críticas em Educação. 2ª ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014, p.113- 134.
[1] Formada em Pedagogia, Especialista em Educação Especial e Atendimento Educacional Especializado, Mestranda em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco. E-mail: magalerosa@yahoo.com.br.
http://lattes.cnpq.br/1314275849248808