LIBERDADE NAS ESCOLAS: ANÁLISE DO LIVRO AVENTURA PEDAGÓGICA
Willian Rafael da Silva França[*]
Resumo: A História da Educação do Brasil mostra-se em um largo leque de opções tentadas a cada “regime”, ditadura e governo. Sempre pondo em questionamento a liberdade, o direito de cada cidadão ter uma educação que o leve a criticidade, o direito de ter uma educação voltada para os anseios da sociedade, a educação do Brasil ainda se mostra nas mãos do tecnicismo e, em parte, do tradicionalismo, que sempre levam a submissão do pensamento, do corpo e da vontade do estudante, sendo tratado neste artigo a liberdade que é um ponto principal, único e eficaz para conseguir a aprendizagem do educando.
Palavras-Chave: Liberdade, Educação, Democracia
Resumen: Historia de la Educación de Brasil se presenta en una amplia gama de opciones trataron cada “régimen”, la dictadura y el gobierno. Siempre poniendo en tela de juicio la libertad, el derecho de todos los ciudadanos a tener una educación que lleva a la crítica, el derecho de recibir una educación a los deseos de la sociedad, la educación en Brasil muestra todavía en manos de tecnicismo y, en parte, del tradicionalismo, que siempre conduce a la sumisión del pensamiento, el cuerpo y el estudiante será tratado en este artículo la libertad que es un punto importante, único y eficaz para conseguir el aprendizaje del estudiante.
Palabras clave: Libe
rtad; Educación; Democracia
Introdução
Uma das buscas incessantes do homem é a tão sonhada liberdade. Viajando pela literatura desde Tróia e as aventuras do Rei Artur até os acontecimentos históricos como a luta do escocês William Wallace pela resistência contra a dominação inglesa trazem o sonho da liberdade como o maior interesse da humanidade.
De todas as formas de busca que o homem tem pela liberdade, é de extrema importância salientar que a palavra liberdade traga neste artigo é o direito a discutir aquilo que é imposto a uma sociedade e seus indivíduos. Liberdade não é apenas o direito de ir e vir, é o direito de criticar, de ser ouvido e principalmente de ter o direito de fazer suas escolhas e responder de forma convicta por elas.
A busca democrática do Brasil nos faz passar por vários acontecimentos históricos que visavam uma liberdade ao modo de que produzisse em escolas uma consciência crítica em seus estudantes, possibilitando assim uma massa popular informada e capaz de uma criticidade em pesquisar os acontecimentos que permeia no dia-a-dia de uma sociedade. Com essa preocupação, o Brasil passou por vários pensadores que investiram seus esforços e teorias em uma escola libertária e socialista, todos de grande ênfase e sempre amparados pelo saudoso Paulo Freire. Mas a Pedagogia Libertária tem em seu corpo histórico a intercessão de vários outros grandes nomes exteriores, como o utilizado no livro Aventura Pedagógica, Makarenko.
Neste artigo será relatado a convivência em uma sala de aula de 5ª Série do Ensino Fundamental I no sistema de Ensino para Jovens e Adultos – EJA, da qual existem todos os tipos de cidadãos e o esforço dos professores para tentar educar esses indivíduos, dando ênfase ao objeto principal deste artigo que é a existência ou não da Liberdade descrita no livro supracitado.
Informações sobre a Escola
A escola Centro Educacional de Jovens e Adultos Marechal Rondon, localizada na Avenida Dom Bosco, nº 1767, Centro de Presidente Médici/RO, foi fundada no ano de 1982 com o intuito de educar jovens e adultos, usando o método “dois em um”, que não tiveram a oportunidade por algum motivo de fazer as séries necessárias para conclusão do ensino fundamental e ensino médio. Durante a gestão do Governador do Estado de Rondônia Ivo Narciso Cassol (2003-2009) foi considerada a “menina dos olhos do governador” (palavras da última diretora da escola). Durante alguns anos funcionou apenas com a educação no Ensino Médio, sendo responsável pelo Ensino Fundamental a Escola Estadual de Ensino Fundamental 15 de Novembro. A partir do ano de 2003, passou a funcionar com a educação do Ensino Fundamental e Médio. Com o fechamento do Ensino de Jovens e Adultos – EJA na Escola 15 de Novembro no ano de 2012, o CEEJA Marechal Rondon passou a ser o único a fornecer a educação do Ensino Fundamental e Médio para Jovens e Adultos na cidade. Chegou a “abrigar” em suas dependências a Universidade Federal de Rondônia (ainda Campus de Cacoal, hoje Campus de Presidente Médici) no período de agosto a dezembro de 2009, quando está ainda não possuía dependências na cidade.
O horário de funcionamento da escola é noturno, principalmente pelo motivo de seus educandos serem funcionários das várias atividades exercidas no munícipio e na área rural, com a educação de jovens e adultos do 5º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio com um total de 385 estudantes, e matutino-vespertino, com o ensino modular com um total de 80 estudantes. Existem na escola apena uma série dívida em classe que é o 1º ano do Ensino Médio “A” e “B”. Grande parte dos estudantes da escola são pessoas de baixa renda e possui um número restrito de quatro estudantes albergados. A escola possui uma estimativa de 40 estudantes por sala de aula, um laboratório, uma sala de reunião e dezenove salas para o pessoal administrativo, pessoal técnico, direção, depósitos e refeitório, somando-se assim trinta salas ao total. Cada sala de aula comporta trinta e cinco estudantes e apenas o primeiro e segundo ano do ensino médio possuem duas turmas (A e B). Ao modelo padronizado do Estado, as salas de aula possuem medida de 7mx6m, com ares-condicionados instalados, porem que não estão em funcionamento devido à falta de manutenção elétrica, que, segundo o diretor, será licitado ainda neste semestre de 2013 no valor aproximado de R$ 135.000,00 (cento e trinta e cinco mil reais). Não possui quadra e nem espaço de lazer, sendo opcional ao professor de Educação Física levar ou não seus estudantes a quadra municipal ou outros lugares onde possam lecionar. Possui um quadro de vinte e cinco professores e quinze profissionais técnicos e administrativos, contado com merendeiras, vigilantes e zeladores.
Devido a algumas portarias ordenadas pelo Estado, a escola resolveu optar pelo fechamento da cantina e restrição de celulares. O uso de uniforme é obrigatório a todos os estudantes, não entrando e nem permanecendo na escola os estudantes que não se apresentem uniformizados.
As dependências da escola estão em ótimo estado, assim como materiais de apoio ao estudante e ao professor (quadro de vidro, carteiras confortáveis e em ótimas condições e etc.) passando por uma pintura geral e pequenos reparos no ano de 2011, na gestão do atual governador Confúcio Moura, no valor de R$ 96.000,00 (noventa e seis mil reais), tendo este valor como parte do Programa de Apoio Financeiro – PROAFI, que é um programa do Governo do Estado de Rondônia. Além do PROAFI, a escola possui outras ajudas financeiras: Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, repassado pelo Governo Federal; Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE, repassado pelo Governo Federal; Programa de Suporte Financeiro a Projetos Escolares – PROFIPES, repassado pelo Governo do Estado de Rondônia.
Aulas e Professores observados
Foram observados dois componentes curriculares: português e matemática. Na aula de matemática a professora utiliza de atividades impressas para testar o conhecimento de seus estudantes. A explicação no quadro é rápida seguida das atividades já descritas antes. O planejamento de aula, segundo a professora, ocorre no horário oposto, ou seja, na parte matutina ou vespertina, do qual a professora sempre busca seguir a ordem exposta no livro didático. O convívio com os estudantes é autoritário, tendo a professora que só ocorre alcançando cada um o seu objetivo dentro da sala. Os estudantes se interagem bem, porém existe uma dificuldade devido a presença de um estudante com deficiência auditiva e vocal. A metodologia usada pela professora é através do livro didático, substituindo apenas as atividades contidas no livro, das quais ela pode observar o desenvolvimento do estudante em relação ao conteúdo aplicado. Esta observação do desenvolvimento do estudante ocorre individualmente, explicando quantas vezes forem necessárias o conteúdo educando por educando.
As aulas de português são diferentes das aulas de matemática, não apenas pela discrepância entre as duas disciplinas, mas também pela oralidade e didática de cada professora. O convívio com os estudantes também é diferente, se antes, na aula de matemática, havia um respeito obrigatório, rígido e sem muitas delongas na relação educando-professor, já na de português existe uma clareza na falta de afinidade entre professor e estudantes, que chegam a declarar em plena sala de aula a falta de vontade em ouvir as palavras do professor. O que sempre se mantém vivo na sala é a boa relação dos estudantes entre si, mas sempre com a dificuldade em se comunicar com o estudante deficiente. O planejamento da professora ocorre em horário oposto, comumente no turno vespertino, do qual o professor sempre buscar salientar em seus planos os objetivos necessários e utilitários para os estudantes. A professora utiliza o livro didático para orientar-se em relação a conteúdos, porém ela dispõe deste até mesmo pela falta de atualização em relação a última mudança gramatical. Por não gostar de usar recursos tecnológicos a professora continua com a tradicional aula no quadro, sem modificação e sem inovação, o que não deixa a professora fazer um trabalho que deve ser menosprezado, pelo contrário, a rigidez e a cobrança, assim como o acompanhamento do desenvolvimento do estudante é muito bom, tendo ela conseguido em uma sala da mais variada classes econômicas alcançar números invejosos na aprovação de estudantes.
Os estudantes convivem com estes dois professores de forma diferenciada, porém o tema estudado, liberdade, na forma descrita no texto, não se mostra eficiente em sala de aula. Os estudantes são tratados ao modo tradicional de ensino, sentados em suas cadeiras ouvindo o professor e obedecendo suas ordens. Não existe, segundo Antônio Carlos Gomes da Costa (1990) uma proposta pedagógica “diretiva, crítica e democrática” (grifos dos autores).
Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. […] A verdadeira escuta não diminui em mim, em nada, a capacidade de exercer o direito de discordar, de me opor, de me posicionar. Pelo contrário, é escutando bem que me preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das idéias (sic). […] (FREIRE, 2002, p. 75)
Na verdade, não é apenas a falta de diálogo (FREIRE, 2002) que se implícita dentro de sala, mas também a falta de rebeldia, de insubmissão, de crítica em relação ao modo em que os estudantes vão se alienando através de uma educação opressora (FREIRE, 1987) que o sistema educacional aplica.
Os direitos dos educandos nem sempre são respeitados, sua necessidade física se resume em uma hora semanal de atividades que, por falta de estrutura, não são tão eficientes. O modelo educacional que se segue em pleno século XXI busca separar a mente do corpo (FIGUEIREDO, 2009). Essa separação imposta pelo sistema educacional é uma forma de alienação que não tão obstante gera a visão de que o indivíduo deve se manter em total estado de obediência, tendo seus movimentos físicos reconhecidos como forma de ser delinquente.
Mesmo a sala de aula observada contendo em seu núcleo a maioria dos estudantes com maior idade penal, o modelo de ensino não deixa de ser alienante, pois estes indivíduos que estão buscando o conhecimento estão abertos a novas ideias, e em troca recebem um despejo de conteúdo (FREIRE, 1987). Como salienta Figueiredo (2009, p. 48), “desnecessário seria dizer que uma educação transformadora não se faz só com palavras revolucionárias, mas também com ações concretas e articuladas com compromisso político com aqueles que se educam”, os estudantes acima observados mostram-se incapazes de sequer buscar saber quais são os direitos que os rodeiam, mas são bem estruturados em relação aos seus deveres como estudante, deveres que nunca têm por ordem democrática sua decisão.
Liberdade no Sistema Educacional
Após serem feitas todas as observações essenciais para a produção deste artigo, é comum encontrar o sistema de ensino em um estado de autoritarismo. Mesmo a população não se rebaixando mais as regras insanas de uma classe opressora, ela deixa-se ser alienada pelo meio mais fácil de controlar e transformar as pessoas submissas que é através da escola.
Seguindo as palavras de Figueiredo (2009, p. 81), “[…] a escola pública tem por objetivo não a aprendizagem, o desenvolvimento das crianças das classes populares, mas sim prepara-las para a submissão às normas do processo produtivo industrial”, é possível ver que até mesmo o EJA está submetido a esta forma de ensino tecnicista que procura apenas fazer que as pessoas tenham um condicionamento operante e não uma capacidade crítica.
A liberdade do educando não passa a ser apenas uma utopia dos pensadores socialistas, pois o sistema é maior que uma unidade escolar no interior de um Estado. Os professores, como Freire salienta, não buscam uma atualização em relação aos meios de ensino, não inovam, apenas se submetem ao sistema e junto com ele, submetem os seus estudantes.
A liberdade contida no exemplo do livro de Antônio Carlos Gomes da Costa, Aventura Pedagógica, é um ponto fora de moda no Brasil. São poucas as escolas que buscam implantar nela uma democracia que direciona as decisões a todo o corpo escolar, ou seja, escola-comunidade-educando. Mas para se obter a liberdade, é possível ir além do pensamento de Antônio Carlos Gomes da Costa de uma pedagogia diretiva, crítica e democrática, pois, segundo Freire (2002, p. 56) “outra qualidade indispensável à autoridade em suas relações com a liberdade é a generosidade. Não há nada mais que inferiorize mais a tarefa formadora da autoridade do a mesquinhez com que se comporte”.
A liberdade, assim concebida, não se confunde nem com a ausência de normatividade nem com a sua imposição de cima para baixo. Sustentamos que a liberdade, mais do que condição, é produto da ação educativa. (COSTA, 1990, p. 79)
A condição para que se haja uma liberdade definitiva dentro do âmbito escolar é não o direito de ir e vir, e sim o direito de criticar, de ter acesso a informações e ser participativo nas regras que englobam o âmbito escolar. Este modelo de educação libertário é uma necessidade que envolve um sistema todo de mudanças para que se retirem dos seres a submissão as decisões de um pequeno grupo controlador e opressor.
O grande problema que se coloca ao educador ou à educadora de opção democrática é com trabalhar no sentido de fazer possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente pela liberdade. Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu nome. (FREIRE, 2002, p. 65)
Não é possível haver um professor “meio-termo”, é necessário um professor que tome seu partido e lute pelo seu ideal. A liberdade, mais que uma palavra, é uma busca que o educando deve ter para si e deve sempre estar incentivado a lutar pela mesma. O professor deve buscar mudança, deve questionar o que estão fazendo com seus educandos e com o futuro de uma nação inteira, é desta foram que Gadotti (1991, p. 56) busca explicar:
Quando digo que o pedagogo tem hoje a chance de repensar o seu estatuto, estou já formulando uma de suas funções na sociedade atual: repensar a sua educação (tarefa crítica), a sua formação, a formação recebida no curso e o próprio curso. Estamos num momento em que o educador brasileiro precisa, urgentemente, pensar na reconstrução da educação brasileira, passo a passo, com a reconstrução da própria sociedade brasileira. (Grifos dos autores).
Considerações Finais
Em resumo é fácil chegar a uma conclusão da falta de liberdade no sistema de ensino público. Em suma, os professores são apenas seres comandados por ordens de pessoas que jamais viram em sua frente, não conhecem sua história e nem seus princípios. Não tão obstante do educando, o educador é um ser que obedece aquilo que vem “de cima”, alienado por inverdades e condenado pela sua falta de pesquisa.
A liberdade expedida no livro Aventura Pedagógica é uma vitória muito grande para o autor, seguida de um exemplo para aqueles que de certa forma ainda sonham com uma educação libertária.
Os estudantes observados são de diversas classes sociais, tendo desde seguidores da classe média até albergados. São condenados por um sistema de ensino que busca alienar até mesmo aqueles que já alienaram, inclusive por ainda estarem tão atrasados no processo escolar do Ensino Fundamental e Médio.
Para uma modificação no sistema educacional é necessário mais que a rebeldia dos educandos e educadores, é necessária uma mudança de objetivos educacionais. Educar para um sistema econômico é alienar uma multidão de pessoas para favorecer poucas, daí vem a necessidade de um sistema de educação socialista, libertários e com ênfase à liberdade dentro do âmbito escolar, não só para o educando, mas para que o professor não seja taxado e perseguido por procurar meios mais eficientes de levar uma visão de mundo crítica aos seus educandos.
Referências
COSTA, A. C. G. Aventura Pedagógica: Caminhos e descaminhos de uma ação educativa. Columbus Cultural Editora. São Paulo, 1990.
FIGUEIREDO, M. X. B. A Corporeidade na Escola: Brincadeira, jogos e desenhos. 6ª ed. Editora Universitária – UFPeI. Pelotas/RS, 2009.
FREIRE, P. Ensinar é uma especificidade humana. In: _____. Pedagogia da Autonomia. 22. ed. São Paulo: EGA, 2002. Cap. 3, p. 56-90.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Editora Paz e Terra. São Paulo, 1974.
GADOTTI, M. Educação e Poder. Introdução À Pedagogia do Conflito. Editora Cortez. São Paulo, 1991.
* Professor formado em Licenciatura Plena em História, funcionário público da Secretaria Municipal de Ensino de Cacoal/RO, graduando em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal de Rondôna, UNIR. E-mail: wrafael_01@hotmail.com