Por Gilberto da Silva
James estava deitado durante muitas noites e dias naquele lugar fedido. Sofrido. James estava quase morto, não mais tinha força para enfrentar a janela. Encarar o Sol, a Lua, o vento. Vivia um sonho ou vários sonhos regados a qualquer tipo de droga que possuía.
James do amor vendido, do emprego perdido, da esperança viajada. James do medo vivido, do escuro maldito, do avião não decolado, das veias furadas, da pressão alta, do lirismo vadio. James do carnaval passado, do rock desvirtuado, do som alto na sala de estar.
Que mais poderia fazer? Nem dormir podia. Abrir os jornais jogados pela janela? Ler e sofrer mais: violência gratuita, desesperança, ódio, homofobia, heterofobia, xenofobia, museofobia, fronsofobia, versurfobia, rusmusofobia, nimitempofobia, arcafobia, ilenomofobia, paremusofobia, forlatrifobia, abcelofobia, amipartofobia, bulifobia, ilerogofobia, entefamafobia, todas as fobias do mundo imundo. Misturar vinho tinto com sangue.
Grafou um nome esquisito na parede e leu meia duzia de parágrafos de um livro velho. Tabletou jogos e quiz. Um cerveja gelada e engordurada caiu cem sua goela como gelo em campo seco e quente.
James saturado. Arredio. Gozando na sua fraqueza. Cadê seu amor para sofregar em duo? Celular, telefone, e-mail, redes sociais sem acesso, números não encontrados, mensagens deletadas. Ainda restava uma força para pedir: vem sentir ainda o que resta de pulso para pulsar, do coração para bater, de noites para tentar dormir.
Cadê?
Então, ligou sua vitrola retrô e colocou Lou Reed a cantar:
How do You Think It Feels
How do you think it feels
When you’re speeding and lonely
Come here baby
How do you think it feels
When all you can say is: If only
If only I had a little
If only I had some change
If only, if only, only
How do you think it feels
And when do you think it stops?
How do you think it feels
When you’ve been up for five days
Come down here mama
Hunting around always – ooh
‘Cause you’re afraid of sleeping
How do you think it feels
To feel like a wolf and foxy
How do you think it feels
To always make love by proxy?
How do you think it feels
And when do you think it stops?
When do you think it stops?
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