Crônicas Margarete Hülsendeger

Os riscos de ser mulher

OS RISCOS DE SER MULHER

Margarete Hülsendeger

As mulheres são um mundo de encanto e de silêncio… As mulheres são um mundo de silêncio e de segredo.

Paulina Chiziane

 

Margarete Hülsendeger é Física e Mestre em Educação em Ciências e Matemática/PUCRS. É mestra e doutoranda em Teoria Literária na PUC-RS

Definitivamente, ser mulher não é uma tarefa fácil.

Na juventude enfrenta-se, todos os meses, um conjunto de sintomas enlouquecedores chamado “transtorno pré-mestrual”, também conhecido pela sigla TPM. Além disso, enquanto a mulher é fértil, ela está em constante risco de engravidar (sim, porque ainda existem homens que se negam a usar preservativos e mulheres ingênuas que acreditam em príncipes encantados!), muitas vezes, em um momento indesejado.

Quando, enfim, se tudo der certo, ela decide ter um bebê, sofre durante noves meses os incômodos (náuseas, fome descontrolada, aumento de peso…) de transportar uma nova vida em seu corpo. No entanto, nada disso a prepara para o que acontece depois que o bebê nasce. A partir do momento do nascimento, um trabalho sem prazo para terminar a espera. Trabalho que envolve muito estresse, momentos de mau humor, ansiedade, acompanhados, algumas vezes, de uma vontade louca de abandonar tudo e seguir para a ilha deserta mais próxima.

Sim, ser mulher não é fácil. Mas sempre pode piorar.

Agora, uma pesquisa da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, realizada com 800 mulheres, com a idade média de 46 anos, durante 38 anos, anuncia que todos esses anos de preocupação, angústia e estresse podem ter um preço. Segundo os pesquisadores, mulheres de meia idade ansiosas, excessivamente preocupadas ou mal-humoradas correm um risco maior de desenvolver Alzheimer mais tarde na vida.

É isso mesmo! Sabe as noites que você ficou angustiada esperando o filho ou a filha voltar de uma festa? Ou o medo daquela viagem que o seu marido precisava fazer, mas você estava com um mau pressentimento? Ou, ainda, o estresse de não conseguir dar conta do trabalho e da família? Pois é, tudo isso agora pode virar contra você!

Uma das autoras do estudo, a pesquisadora Lena Johannsson, explica que, até o momento, a maioria das pesquisas sobre Alzheimer havia se dedicado a análise de fatores como a educação, tipo sanguíneo, traumatismo craniano, histórico familiar e genética. No entanto, depois dessa pesquisa o foco pode mudar, se concentrando no comportamento pessoal, no estilo de vida ou nas reações ao estresse. Os resultados desse estudo têm levado os pesquisadores suecos a acreditar que a maneira como as mulheres lidam com as questões da vida pode aumentar o risco de demência (sintoma característico do Alzheimer). Logo, pessoas mais neuróticas seriam mais vulneráveis ao estresse e, consequentemente, mais sujeitas a desenvolver Alzheimer.

A questão é que as mudanças de humor, por conta das flutuações hormonais, são uma constante na vida das mulheres. Além disso, a vida moderna, com seus diferentes tipos de preocupações e angústias, também ajuda no surgimento de tensões de ordem emocional, elevando os níveis de estresse até alturas inimagináveis. Assim, a liberdade conquistada com tanto esforço pelas mulheres está se transformando em uma espécie de armadilha que, se não for melhor gerenciada, será impossível de escapar.

De qualquer maneira, o fato permanece: a demência que acompanha o Alzheimer pode, no caso das mulheres, ser a consequência de uma vida cheia de preocupações e angústias mal administradas. Assim, para as mulheres que já chegaram ou ultrapassaram os 46 anos e encontram-se no grupo das estressadas, meu conselho é não desistir. Minha crença mais firme é que sempre há tempo para mudar. Para as que ainda estão longe, um lembrete importante: o tempo passa muito rápido e é preciso aprender, não só com os erros dos outros, mas principalmente com os nossos próprios erros.

Se esse aprendizado não acontecer, lamentavelmente, para nós mulheres, segundo os suecos, só existe um caminho: a loucura. E essa, com certeza, não é a “loucura boa”, como tomar banho de mar nua ou caminhar na chuva “sem lenço e sem documento”. A loucura com a qual teremos de lidar é aquela na qual as memórias vão se apagando a ponto de esquecermos até mesmo dos nossos próprios rostos.

 

HÜLSENDEGER, Margarete Jesusa Varela Centeno . OS RISCOS DE SER MULHER. REVISTA VIRTUAL PARTES, SÃO PAULO, 04 nov. 2014.

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