Muitos casamentos e namoros se acabam por causa desse sentimento que nasce dentro da gente sem que a gente queira e ficamos cegos pelo ciúme. Esta reportagem é uma homenagem e um alerta a todos que se amam de verdade e querem preservar uma união de amor. A psicóloga Yolanda Minguez Juan gentilmente cedeu-me uma entrevista, que resultou neste trabalho. Feliz Dia dos Namorados!
Reportagem: nair lúcia de britto
Quantas vezes nos surpreendemos com um ciúme repentino, desses que dói no fundo da alma e que nos descontrola. É difícil admitir até para nós mesmos que estamos com ciúmes, quanto mais para a pessoa amada. O que fazer? Será que esse sentimento é normal?
Esta reportagem entrevistou a psicóloga Yolanda Minguez De Juan para tirar todas as dúvidas em relação ao ciúme. Logo de início ela informou que o ciúme faz parte da natureza humana. É um sentimento bastante complexo, é verdade, mas perfeitamente normal. Não nascemos ciumentos, mas ao longo da nossa formação psíquica esse sentimento vai se desenvolvendo.
O ciúme apresenta-se sempre como uma resposta perante a uma situação que, perceptivelmente, represente a perda de alguém que nos é precioso ou que possa prejudicar a qualidade dessa relação de amor.
Pode se desenvolver a partir de um medo real ou imaginário, devido à falta de confiança no outro ou em si mesmo. Se for exagerado pode ter sido desencadeado por uma questão patológica.
O grau de intensidade do ciúme é variável. O ciúme considerado saudável apimenta e até fortalece a relação. Nesse caso, a pessoa esquece com facilidade um episódio, de pouca importância, que tenha provocado ciúmes. Não fica ruminando o acontecimento durante uma semana inteira e o motivo do ciúme é sempre um fato real; jamais imaginário. Quando o grau de ciúmes extrapola, a situação fica mais complicada.
PERFIL
O perfil do ciumento é o de uma pessoa de baixa autoestima. A pessoa a quem ama costuma ser a fonte de sua força, seu escudo e seu troféu.
O medo de perdê-la deixa-o frágil e inseguro. As características mais comuns que envolvem o ciúme são sentimentos de perda e de abandono. Receio de perder a admiração e o cuidado do parceiro (a) e de deixar de ser único e especial para os outros. As relações que motivam o ciúme se dá sempre em inter-relações (intrínsecas) relacionadas ao parceiro, familiares ou amigos.
Em geral o ciúme aparece quando uma terceira pessoa interfere numa relação a dois. Pode ser também um grupo, um animal de estimação, um curso ou a carreira do parceiro.
A ausência de autoestima faz com que o ciumento se sinta impotente e com medo de perder a confiança em si mesmo. Teme a derrota de, de repente, ser substituído por algo ou alguém que lhe roube a atenção do ser amado. A pessoa não se reconhece nesta situação e às vezes luta obsessivamente contra essa autoimagem.
CIÚME PATOLÓGICO
Os sinais de um ciúme patológico manifestam-se quando o ciumento(a) desconfia de que está sendo traído(a) sem nenhum motivo concreto. E acha que já não é mais tão importante para o parceiro(a) o quanto gostaria de ser. Então a pessoa passa a deixar seus próprios interesses de lado para supervisionar a vida do outro. Telefona-lhe inúmeras vezes por dia e se, por acaso não o encontra, fica se torturando com a possibilidade de uma traição. Ora o ciumento fica triste, ora com raiva.
Os sentimentos negativos somam-se. Nada o tranquiliza ou o convence de que seus ciúmes não tem razão de ser.
Outro exemplo comum de ciúme patológico, que acarreta sérios desentendimentos entre o casal, é aquele que certas esposas têm em relação à mãe dele; ou, desta, em relação à nora. Ciúmes que não tem nenhum fundamento porque são dois tipos de amor diferentes e que podem coexistir, perfeitamente.
Há várias psicopatologias que tem como comorbidades o ciúme, tais como o Delírio de Ciúme, Transtorno de Personalidade Borderlaine, Transtorno Bipolar entre outras. Podendo ser desencadeadas igualmente por doenças de origem psíquica, neurológica ou orgânica.
Pessoas que sofrem de Transtorno Obsessivo Compulsivo podem ser ciumentas, mas isto não ocorre necessariamente ao mesmo tempo.
TRATAMENTO
“Primeiramente o paciente precisa se conscientizar dos prejuízos que seus ciúmes estão causando à sua qualidade de vida e a de outras pessoas envolvidas”, diz a psicóloga. “O nível de intensidade, da frequência (desencadeantes) desses sentimentos irão determinar o tratamento psicoterápico. “
“Numa entrevista inicial, o psicólogo faz um levantamento do histórico de vida do paciente para que o profissional habilitado estabeleça a diferenciação entre o ciúme saudável e o patológico. Isto é fundamental para o tratamento ou a cura” , Yolanda enfatiza.
Nos casos mais leves, o ideal é fazer com que os parceiros conversem honestamente e exponham os motivos do seu descontentamento. É importante um falar e o outro escutar, alternadamente. Conduzi-los a uma reflexão sobre o que sentem um pelo outro e se questionarem sobre o que pode ser feito para melhorar a relação. Depois, juntos, chegarem a uma conclusão.
ORIGEM DO CIÚMES
“Segundo a linha da Psicanálise Tradicional (Freudiana) a origem do ciúme pode estar relacionada com o chamado Complexo de Édipo, não resolvido”, Yolanda explica. “No Complexo de Édipo (relação triangular primária), a criança, entre os quatro e os seis anos de idade, tende a se identificar com o progenitor do mesmo sexo e simultaneamente tem ciúme dele pela atração que exerce sobre o outro membro do casal.”
Na vida adulta, essas frustrações podem reaparecer sob forma de possessividade em relação ao parceiro ou mesmo uma paranoia (ciúme patológico). Neste tipo de paranoia a pessoa está convencida, sem nenhum motivo evidente (fidedigno ou real), da infidelidade do parceiro; e passa a procurar “evidências” da traição. Evidências, entre aspas, porque para o ciumento podem parecer verdadeiras; mas no ciúme patológico tais evidências raramente são reais. A linha divisória, entre a fantasia e a realidade, a crença e a certeza frequentemente torna-se vaga e imprecisa.
No ciúme patológico as dúvidas podem se transformar em ideias supervalorizadas ou delirantes. A partir daí a pessoa se vê compelida a verificar compulsivamente sobre suas dúvidas. Procura saber onde o parceiro está, com quem está; abre correspondências, ouve telefonemas; examina bolsos, carteiras, recibos, roupas íntimas etc.
Exige do companheiro uma confissão, e até contrata detetives. Enfim, está sempre em busca de algo que esclareça suas dúvidas; a fim de encontrar alívio para os seus conflitos.
Mas nada satisfaz o ciumento ou o tranquiliza.
CURA E RECONCILIAÇÃO DO CASAL
Algumas teorias consideram que casos mais graves podem ser curados através da psicoterapia que passa por um esforço de autoestima e da valorização da autoimagem. Porém outras teorias criticam a visão psicanalítica tradicional, como por exemplo a esquizo-análise.
Muitos casais têm brigas intensas por causa de ciúmes e acabam se separando. Daí porque, para salvar um casamento, vale à pena procurar a ajuda de um bom psicólogo.
Assessorados pelo terapeuta, uma boa conversa entre parceiros poderá resolver o problema e conduzi-los à reconciliação.
Psicóloga entrevistada:
YOLANDA MINGUEZ DE JUAN
Consultório: CLÍNICA ESPAÇO SAÚDE ALPHA
Calçada das Margaridas, 336 – 1. andar
Barueri/SP